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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Negro


 
 
 
Há dias que parecem noites, apesar do brilho do sol, são negros. Negros como breu, sem ponta de luz, sem um vislumbre que permita ver um pouco que seja. E que assim nos deixam o coração, negro, pisado, magoado. E um aperto na boca do estômago, que quase nos faz deitar fora as próprias vísceras. Acredito que se o fizesse seriam negras, de tão podre, estragada me sinto.

E as lágrimas que costumam cair sem necessidade de autorização, estão presas, ali, bem por trás do negro dos olhos. Não, não saiem. Não, não caiem. Não, não me vão aliviar esta dor. Não, não vão lavar e expurgar o dia de hoje.

Há pessoas assim, que por nunca se colocarem nos pés dos outros, nos deixam assim, negras.

Há pessoas que vivem num túnel mas ao contrário: lá longe não vêem nada, só o perto do umbigo é visível e logo o que é importante,válido e real. Perfeito até.

Há pessoas que só brilham quando os outros estão na escuridão. Por elas lá colocados ou não.

E há dias em que as palavras por essas pessoas proferidas são tão negras que nos trespassam, deixam marcas e nos matam por dentro, num misto de surpresa, incredulidade e revolta.

Dias em que quase sentimos o negro, o sujo das palavras e actos na pele, como se fosse preciso lavar e esfregar até nos livrarmos de tanta escuridão...

Hoje tudo é negro como a noite que já impera lá fora.
 
 
Cat.
2018.09.29

quarta-feira, 6 de junho de 2018

O teu abraço

Hoje só queria o teu abraço. Nada mais que o teu abraço e o tanto que implica.
O meu porto seguro. O meu lugar onde tudo que é menos bom não entra, onde só o que é realmente importante tem espaço.
Uma amostra do teu sentir por mim. Um demonstrar que me proteges, que me desejas nada mais que muito, nada menos que tudo para ti.
O serenar das ânsias corriqueiras que se me deparam no correr dos dias; o desaparecer dos medos e dos tão infundados receios de falhar. De não ser suficientemente boa. Para ti e para os outros, mas sobretudo, para mim mesma.
Sim, hoje só queria o teu abraço. E o tanto que implica.



Cat.
2018.06.06

segunda-feira, 4 de junho de 2018

A ti Mãe... IV

O dia há muito que se faz sentir, com uma luz desmaiada de um sol que parece não querer brilhar.

Os pássaros pouco se fazem sentir ao contrário do orvalho que é presença em todas as folhas de árvore, em cada erva que cresce e beija em cada flor cada uma das suas pétalas. Como se chorassem, inundadas de pequenas gotas de água como se de lágrimas se tratassem.

Tal como cá dentro, no meu coração.

Hoje cada gota de sangue é uma lágrima. Uma lágrima de saudade. Uma lágrima de perda. Uma lágrima que, mesmo ausente da face, não deixa de fazer sentir, a cada dia, a cada momento, no meu peito.

Sabes que penso em ti todos os dias?

Que me pergunto, se onde estás, me velas e, junto comigo, vives todas as minhas vitórias e todos os meus maus momentos?

Sabes que, ainda agora, é a ti que desejo contar cada passo importante da minha vida?

Que penso se me darias da tua aprovação e se terias orgulho em mim, no que me tornei?

Sabes que quando preciso de um abraço, de carinho, de um colo onde chorar e ficar aninhada é em ti que penso?

Porque não há como o colo de mãe. Não há como o teu colo minha mãe...

E hoje, eu só queria ter-te abraçado mais. Ter sorrido ou ter chorado mais, nos teus braços, no teu colo.

E chegará um dia em que as minhas lágrimas não precisarão mais de se revelarem, em que as datas se esvanecerão no correr dos dias e em que eu não precisarei de expurgar-me em palavras escritas. Mas não penses que nesse dia te esqueci. Não. Jamais. Apenas deixarei de recordar as datas tristes e passarei a lembrar-te quando para mim for importante.

Porque jamais morrerás em mim.

Porque eu sou parte do que restou de ti.

Porque tu sempre viverás em mim: no meu sangue, na minha Alma e no meu coração.





Cat.
2018.05.26


terça-feira, 15 de maio de 2018

Réstia

Sou réstia de raios de sol,
Num crepúsculo de Inverno.

Sou brisa no turbilhão
de folhas mortas,
caídas no chão.

Sou sombra num dia carregado de chuva
Que não acaba com a sede.

Sou água salgada de um mar
Que já não se atreve a invadir o rio...

Sou amostra do que já fui.
Mas ainda respiro,
Ainda sonho,
Ainda há vida em mim.
E amor,
Ainda há amor em mim;
De mim por ti.
Imensurável,
Infinito,
Inabalável...
Até ao meu último sopro,
Até ao meu último bater do coração.


2018.03.19

(Não) Legado


Tento escrever, todos os dias tento, mas nada sai... Um rodilho de palavras que rimam de forma fraca e forçada.
Como tudo em mim: fraco e, muitas vezes, forçado.
Sim, forçado...
O levantar, o trabalhar, o comer, o sorrir e o falar: forçado.
A vontade desapareceu de mim. Como se vivesse porque apenas respiro.
Como se estivesse perdida perante a inexistência de oportunidades, de desejos ou vontades.
Como se viver fosse quase uma obrigação, um martírio.
E quando olho vejo uma vida que me deveria fazer sentir feliz: um emprego que me permite viver acima da média, com capacidade de compra, com jantares em restaurantes da moda, roupa e calçado de marca, mas acima de tudo, um companheiro que me ama. Que mais posso desejar? Que falta na minha vida que não me permite ser verdadeiramente feliz? Porquê este vazio, esta falta de ânimo, esta tristeza profunda?
Sinto, nesta fase da minha vida, que quase não construí nada: uma carreira de verdadeiro valor, uma família que seja minha...
Como se tivesse falhado em todos os passos para se dizer que se viveu: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.


Parece idiota, mas é um legado que não deixo.
Eu morro e tudo morre comigo.
É como se eu nunca por aqui tivesse passado.
Não deixo nada verdadeiramente meu. 


Excepto o meu amor.
 

Um amor incondicional às minhas pessoas.
Um amor maior que eu.
Um amor que não se mede e que espero preencha, pelo menos, um pouquinho do coração de quem em mim habita.
 

E é tão pouco e insuficiente e parece que não vale a pena porque quando eu me for, não há nada palpável de mim.
 

E acho que tenho que deixar algo de mim. Uma espécie de recordação perpétua do meu ser e neste momento não há nada... Só dias de vida.
Acho que é a isto que se chama "crise de meia idade", só pode!
Até agora vivi muito bem com todas as minhas escolhas e não sei porque agora as questiono...
Acho que no fundo, não passo de uma simples mulher, que afinal se deixa pressionar pelas expectativas sociais, pelos sonhos que nos incutem.
 

Talvez se tivesse casado, se tivesse um filho, um jardim e uma árvore, não me sentisse tão vazia.
Ou talvez estivesse assim, igualmente perdida e a questionar a minha vida...



2018.02.13

Medo

É noite e não se vêem as estrelas brilhantes no céu.
Chove. Chove num qualquer típico mês de Dezembro. Cai, há horas, uma chuva constante e fria, como uma canção de embalar que nos entorpece os sentidos.
Chove e não há pessoas na rua. Não há sinal de vida activa. Não há sons que me digam que o dia está prestes a chegar.
 
Tudo está adormecido.
 
Não há cheiro a flores no ar e há muito que o cheiro a terra quente e molhada se foi. Não há jasmim no jardim, as folhas já não balançam ao sabor do vento nas árvores pois jazem no chão, esquecidas, sem cor e sem vida.
 
Tudo está adormecido.
 
Até aqui, dentro do meu quarto, dentro de mim.
Apesar dos olhos abertos, apesar de acordada, estou adormecida.
Adormecida, na esperança que o tempo que teima em passar, de repente, parasse e se suspendesse. E eu, dormente no sentir e no pensar, apenas aguardasse que o tempo voltasse a ter vontade de passar e de correr no seu normal passo e aí, só nesse momento, eu acordasse e regressasse ao que é o meu viver.
 
Mas o tempo não se compadece comigo. Não me obedece e passa sem complacência alguma e, sendo quase dia, prova que eu não há forma de suspender o seu passar.
E o tempo passa, depressa e indiferente ao meu querer. E eu queria que ele parasse, que não me trouxesse as mudanças que se avizinham.
Que me permitisse vivê-lo sempre da mesma maneira: tranquila e rotineira.
Mas não, o tempo não pára e a cada dia que passa o tempo para a mudança é mais escasso.
 
E a mudança assusta-me.
 
O inesperado, o incerto, a perda da aparente segurança assusta-me.
Eu não quero que o tempo pare, eu quero não ter medo do que me espera.
Eu quero ter força para acreditar e esperança para enfrentar o que o futuro me reserva.
 
Mas a mudança assusta-me.
 
E é este medo que me impede de ver o meu valor, de ver que, até hoje, nunca falhei a mim própria, nunca me corrompi e sempre me superei.
É o medo que me comanda hoje...
Amanhã tudo será diferente e o que será apenas com o tempo poderei saber. E cá dentro, bem no fundo de mim, bem no âmago do meu ser, sei que será melhor.
Eu sei sempre quando tenho de mudar, quando já não tenho nada a aprender ou a ensinar naquele lugar, com aquelas pessoas...
E há muito que o sei.
E há muito que devia ter impulsionado a minha mudança. E quando não o fazemos por iniciativa própria, é-nos imposta.
Há que Crescer, Evoluir, tornar-me melhor para e com os outros.
 
Mas isso assusta.
 
Saber que o que temos não nos chega, não nos preenche, não nos deixa Viver de forma plena e que temos que avançar, mudar e não se sabe bem como, assusta.
Principalmente quando há quem dependa de nós. Apesar de nos incentivarem, de nos acompanharem, de, acima de tudo e todos, em nós acreditarem e confiarem.
Decisões que nos viram a vida ao contrário, assustam.
E é o medo que me comanda hoje.
E eu queria que o tempo apenas parasse até que o medo me soltasse e abandonasse...


2017.12.15

Páginas


O dia já se deu por vencido e cedeu o seu lugar ao negro da noite.
Há vento a acompanhar a sua partida.
Um vento demasiadamente ameno para um qualquer dia de finais de Novembro.
Não há vontade de ceder às vitrines das lojas enfeitadas com as cores e adereços típicos de Natal. Não há espírito para nos perdermos no descontrolo das compras, das prendas e das lembranças (a)típicas habituais.
Nas ruas os passos não se apressam para regressar a casa, tudo é compassado e tudo acontece como todos os dias, num ritmo que nos entorpece os sentidos e em que hoje é igual ao ontem e será igual ao amanhã. Uma cadência que não se sente, que passa por nós sem fazer mossa, sem se fazer ver, ouvir ou sentir.
 
Um dia após o outro. Iguais, em nada divergentes, em tudo indiferentes.
 
Um virar de páginas vazias. Não aproveitadas. Perdidas. De nada escritas. De nada preenchidas, senão de fúteis banalidades.
 
E eu, aqui dentro de mim, sou tão mais que este vulgar passar de tempo. Carregada de sentimento. Imersa em vontades. Cheia de um milhão de pensamentos.
 
Plenamente confiante de que as minhas páginas não se perdem no branco do tempo corrido.
 
Aqui, dentro de mim, faço, a cada dia, o exercício de preencher o meu livro, a minha vida.
2017.11.22

Apenas livre






A noite ainda reina, se bem que apenas por mais uns minutos. As estrelas já não se mostram no céu, envergonhadas pela luz de um sol que começa, por detrás da colina, a brilhar.
Na roseira, as pétalas já gastas ganham um novo tom, mais vivo, mais forte, à custa das gotas do orvalho.
Os pássaros ainda não cantam, mantêm-se resguardado, suspensos nos ramos das árvores, à espera que a vida (re)comece.

Assim como eu.

Aqui, dentro destas quatro paredes; dentro desta carne, confinada.

Presa. Ao ritmo das horas e do correr dos dias, das obrigações e compromissos que me dominam a vida.
Presa. Ao respirar e ao correr do sangue, cadenciados, quase imperceptíveis, quase incontroláveis.
Presa, em ambos os sentidos, metafórica e literalmente.

Apenas livre por poder vaguear até onde o corpo puder.
Apenas livre nos momentos em que a mente, se ainda tiver força, se ainda tiver esperança, ainda quiser acreditar...

Aqui dentro a noite ainda se faz sentir, mesmo sem o habitual sonhar, mesmo sem o necessário dormir.
 
 
2017.08.16

Se os meus olhos falassem

Se os meus olhos falassem o que diriam?

Que as salgadas lágrimas que deles brotam são de dores ou alegrias?

De todos os momentos em que o sol, apesar de brilhar, não me aquecia o coração, não me chegava à alma.

De cada vez em que recordo a minha mãe e sei que o seu abraço era único e que sou privilegiada por ainda não ter esquecido o seu cheiro, o calor do seu corpo.

Naquele instante em que te olho, meu amor, e não resisto à felicidade que é tu me amares e como perfeita me veres e sentires.

Se os meus olhos falassem diriam que a cada dia há um sentir diverso, um ver diferente.

Há um sonho que morre e uma esperança que nasce.

Há lágrimas que quase me matam e outras que me renovam.

Se os meus olhos falassem diriam que eu simplesmente vivo!


2017.08.07

Tão simplesmente

 
Há dias em que me sinto pequena.
Uma mulher pequena, com uma alma pequena, a viver uma vida pequena.
 
Pequena na verdadeira essência da palavra.
Pequena de sentimentos, de vontades, de acções.
 
Em que sinto que não passo de alguém que sabe apenas sobreviver. Um dia de cada vez.
Em que a felicidade é efectivamente efémera e o dia a dia é cheio de pequenas e vazias situações que acabam por encher(me) de penas e dores.
Em que tudo me esgota.
Em que as forças de olhar o dia como algo novo não passa de uma mera ilusão.
 
E eu canso-me. Demasiadamente depressa.
E deixo de sonhar, de querer alcançar e invade-me esta sensação de (quase) desistir.
 
Não há sol que brilhe o suficiente.
Não há flor em que o perfume me inebrie o suficiente.
Nada é suficiente. Nada chega para inundar o vazio que se apodera do corpo, da alma e da mente.
 
Um passar de horas igual ao de ontem.
 
Isto tão somente.
 
Um mundo pequeno, de dias imensamente longos.
Uma vida pequena, sem grandes feitos, com a sensação de não deixar, legar, ensinar nada.
 
Isto tão simplesmente.
 
 
2017.08.06

Mundo

A noite já domina há muito as cores do céu e o sol já se perdeu, faz horas, por trás da linha do horizonte.

O silêncio domina a rua, agora vazia de gente, sem o cantar dos pássaros e o riso das crianças.

Aqui dentro não há silêncio que resista.

Aqui dentro do meu peito há um ardor que me queima.

Um aperto que me esmaga. A Alma.

Nos dias que correm, onde a informação voa de forma inimaginável penso: como é possível?

Como é possível que em pleno século XXI ainda há tanta fome, tanta xenofobia, tanto desprezo para com o Ser Humano, para com os animais?

É desolador ver as notícias.

É desolador saber o que se passa pelo Mundo.

É desolador de uma forma que me sufoca o respirar. De uma forma que não contenho as lágrimas. De uma forma que me sinto de tal forma impotente que me dói cá dentro, que me dilacera como uma faca.

E depois, olho para o "meu mundo" e vejo como sou uma mulher de sorte. Como as pessoas que me rodeiam são boas, simples e com um coração enorme.

Vejo que tenho tudo, que ainda posso olhar o Mundo e, no meio de tanta feiura, sentir que ainda há esperança. Que o céu azul ainda me faz sonhar, que o mar será eternamente salgado e igual às nossas lágrimas. Que ainda podemos mudar algo e que a maldade, o egoísmo e a falsidade serão, um dia, apenas uma lembrança de um sonho menos bom.



2017.07.25

Orgulho






Só queria que tivesses orgulho em mim.
Que quisesses espalhar aos 7 ventos que sou tua, que és meu, que mais ninguém te deixaria de peito cheio como eu.
Que quisesses mostrar ao Mundo como te aguço o intelecto, como te desperto o pensamento, como te faço, a cada dia ir mais além.

Além do evidente.
Além do imediato.
Do corriqueiro e do fácil...

Engano meu.
Engano meu imaginar que sou diferente das outras.
Que sou mais inteligente. Mais capaz intelectualmente. Mais humorada, mais sarcástica.

Não passo de uma mulher igual às outras: em que o encanto já passou, em que o inesperado se tornou expectável, em que o diferente se tornou banal...
E nas outras, que agora te despertam a atenção, vejo tanto de mim que já não vês aqui.

Um orgulho na diferença que se torna imperceptível, inexistente aos teus olhos.
Já não há em mim palavras que te despertem a atenção.



2017.06.16
 

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Hábito




O silêncio começa a ganhar terreno. A comandar o pensamento. A impor a sua existência.
Quando deres conta da sua presença, não haverá palavra que o vença.


Pergunto-me se ainda me olhas da mesma forma.
Se quando me pensas um sorriso invade o teu rosto, pergunto-me se os teus olhos brilham.
Pergunto-me se anseias regressar aos meus braços, ao meu beijo, ao meu te amar.
Se o dia só tem valor se a mim te entregares, pergunto-me se ainda te faço sonhar.


E por vezes pergunto-me se sentes a minha falta... Se não te falar quantas horas passarão até me sentires a falta... Há uma diferença entre nós: tu faltas-me a cada momento, eu sinto que te falto por obrigação. Por força do hábito.
Um dia chegará em que quando me sentires realmente a falta já não haverá tua que em mim possa morar...




2017.04.05

terça-feira, 14 de março de 2017

Equivalente a nada



É o vazio.
É o vazio que comanda as horas. Cheias ou mortas. Vivas ou desinteressantes.
O vazio que tudo ocupa, tudo preenche, tudo invade e domina.
Um grande pedaço de nada.
Uma imensidão de coisa nenhuma.
Mãos cheias de coisa alguma.
Um corpo, oco, sem conteúdo, sem pensar, sem sangue a correr, sem vontade de viver ou de morrer.
Nada. Vazio.
Apenas isso: alguém que apenas respira. Alguém que não sente, que apenas é.
Cheia de um tanto equivalente a nada.




10.01.2017

Calar-me



O dia passa e não deixa marcas do correr das horas ao contrário deste rio que muda a cada bater do relógio. A luz torna-o diferente a cada momento: ora brilhante, ora sombrio; ora transparente, ora profundo; sempre diferente. No entanto, sempre igual: correndo ao sabor da água e do vento.

Eu, olho-o e sinto que queria ser assim: deixar-me levar pelo tempo sem que o mesmo me marque profundo, cá dentro.

Deixar que o vazio me preencha e os sentimentos fujam.

Deixar que as palavras não fluam e desvaneçam. Assim, sem se mostrarem, sem se fazerem sentir, sem as fazer existir.
Calar-me.

Fechar a boca, cerrar os lábios, segurar o ar cá dentro e nada proferir.
Calar-me.

Fechar os olhos, cerrar o pensar, segurar o nada cá dentro e nada sentir.
Calar-me.
Cá fora e, sobretudo, cá dentro.

Deixar que os pensamentos se esvaziem e os sentimentos deixem de existir.
Deixar de chorar e sofrer pelo que não controlamos.
Deixar de pensar no que não alteramos.
Deixar de tentar ser mais do que somos: pequenos, impotentes. Marionetas da vida que corre e não depende de nós.

Calar-me.

Fechar-me num não viver que não deixa a vida fluir.
Desejos impossíveis de concretizar.

Sou demasiado pensante e para mim sentir é só se me fizer estremecer, se me amedrontar, se me ultrapassar o corpo, se me absorver por completo.

Que sentir demasiado intenso que não me deixa usufruir!
E só apetece gritar, romper, rasgar, a pele, a carne e de tudo, tudo me libertar...




10.01.2017

Às vezes



Às vezes pergunto-me porque choro. Porque escorrem grossas e salgadas lágrimas pela minha face.
Se é porque te amo e te sinto a afastar de mim. Cada vez mais longe, cada vez mais fechado em ti, cada vez menos conversador. Mais irritado, mais impaciente, menos compreensivo e tolerante com o meu sarcasmo outrora para ti delirante.

Como se eu fosse a causa da tua frustração.
Como se eu te impeça de viver ou prenda nesta relação.
Como se só de respirar eu mereça a tua reprovação.
O meu corpo já é alvo da tua negação, do teu não tesão. Os beijos já nem sequer fazem parte desta equação.
Se é porque tenho pena de mim.
Desta mulher que para ti já tudo foi e agora nada é.
De admitir que já não sou amada.
As lágrimas, essas escorrem, deste meu pensar, alheadas...



26.09.2016

Sabes-me dizer?



Como se volta a amar, sabes-me dizer?

A sentir o coração descompassado com o aproximar do nosso encontro.
Os olhos sorrirem mais que os lábios e brilharem mais que o sol ao ver-te.
A incontrolável sede de te beijar ininterrupta e loucamente.
O corpo querer-te o toque e a pele arrepiar-se descontroladamente.
O constante pensar-te.
O eterno desejar-te.
A ânsia de contigo estar, de mim apoderar-se.
E os sonhos concretizarem-se e novos surgirem.
Os abraços que tudo curam. As risadas que nos libertam. As horas felizes e as lágrimas partilhadas numa intensidade sentida por igual.
E em mim, nada mudou...
Como fazer para voltares a amar-me, sabes-me dizer?



26.09.2016

Talvez não valha a pena



Talvez não valha a pena.

O amor não é tudo e por si só não é suficiente para que se ultrapassem determinados momentos.
Momentos que não nos deixam ser o melhor de nós.
Momentos que não nos permitem ver o melhor do outro.

Talvez seja este o problema: não ver além do imediato. E o imediato toma conta do momento, depois das horas, depois dos dias e já não resta mais que isso. O que o imediato permite que se veja: as críticas, as falhas, as decepções, os defeitos.
E o amor, por muito maior que seja, perde-se com a esperança neste chorrilho de não momentos.
Não momentos... Quando não te vejo com o meu melhor olhar. Quando não te vejo no teu melhor ser.
E não, não és perfeito. Nem eu ou qualquer outro.

Mas no nosso melhor és o meu perfeito. Completo e que me completa.
Mas parece que o amor não é tudo. Por muito maior que seja...


24.09.2016

Já não há lágrimas




Já não há lágrimas.
Só este sentir que me enche o peito, me sufoca e quase me ultrapassa.
Um sentir que não consigo descrever.
Há quem lhe chame amor. Eu não sei como lhe chamar.
Sei apenas que é um querer-te em todos os sentidos.
Querer-te perto. Muito. Tanto.
Querer-te o abraço. Forte. Envolvente.
Querer-te o corpo, o toque, o beijo. Molhado. Ardente.
Querer-te sempre saber. O humor. O sentir. Os sonhos e vontades que te movem.
Querer-te, entendes?
Querer-te bem mais que a mim.
Querer-te melhor a cada dia.
Querer-te o sorriso a toda a hora.
Querer-te feliz. Fazer-te feliz.
Querer-te tanto a todo o tempo de forma constante.
Querer-te tanto a ponto de não haver espaço entre nós. Emocional ou físico.
Querer-te ao ponto de me fundir em ti. De sermos dois em um.
Querer-te de tal forma que me esqueço de mim. E vivo para ti.
Ao ponto de quase me perder. De mim. Dos meus sonhos e caminho. De apenas viver para ti.
E o sentir te começar a sufocar como a mim.
A prender-te a mim.
Há quem lhe chame amor. Tu chamarias possessão.
E não há amor que sobreviva a tamanha prisão.
E eu, tanto, tanto, tanto te querer, acabo por te perder...




24.09.2016

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Há quanto tempo...

Há quanto tempo não me lês?
Há quanto tempo não passas as portas do meu coração e me sentes de verdade?
Nem tu sabes, nem eu imagino.
Há palavras que são apenas tuas. Palavras conjugadas daquela forma que só nós reconhecemos e em que só nos revemos.
Palavras nossas, reflexo do nosso sentir que agora é apenas meu. Já não me reconheces os olhares, os sorrisos, os (imensos) sentires... Sou quaseuma desconhecida, uma estranha estranha. Desinteressante, monótona, repetitiva e enfadonha. Como se já não houvesse nada mais a descobrir e isso mantém-nos apenas perto. Não juntos, não unidos, não unificados, apenas e somente, perto. E afastados, longe um do outro.
E há tantas palavras que ainda vivem dentro de mim, prontas para o teu sinal de interesse. Preparadas e à espera que os teus olhos me vejam, que me anseies por descobrir de novo... Por me voltares a ler com a vontade de outros tempos.
Há quanto tempo não me lês?

21.Jul.2016