Coisas minhas... Provavelmente sem sentido.
Hoje li o "Postal do dia", de Luís Osório, de há quatro dias. Um "Postal do dia" sobre um caso mediático e de difícil abordagem: o da menina esquecida no carro.
Um "Postal do dia" carregado de algo que parece ser cada vez mais raro, a empatia.
Não vou divagar ou exprimir os meus pensamentos sobre o assunto: não teria palavras para tal. Há situações que não consigo sequer imaginar, quanto mais verbalizar o que me poderão fazer sentir.
Não vou enaltecer ou criticar quem comentou: são reflexo da vida que experienciaram e da forma que encontraram para lidar com as suas experiências e emoções.
Não. Mas li comentários que me fizeram pensar. Comentários de pessoas que perderam entes queridos e, apesar de dizerem que não acreditam em Deus, o culpam.
Não, não vou dizer que Deus existe, eu nunca o vi e nunca me apareceu em sonhos.
Não, não vou dizer que Deus não existe pois há uma necessidade enorme de acreditar que algo superior interfere nas nossas vidas e somos abençoados ou castigados ou, melhor ainda, encontramos a explicação para o inexplicável. Entram o fatídico "tinha de ser", "está num lugar melhor ", terminando no "foi um milagre".
Chamam-lhe fé. E cada um tem a sua. À sua maneira, com ou sem Deus ou outro nome que lhe queiram dar.
Eu não sei o que tenho.
Eu não sei no que acredito.
Eu tenho tristezas, perdas e dores marcas na Alma que nunca fecharão por completo. Ausências. Saudades. Egoísmo por desejar que ainda cá estivessem.
Eu tenho "milagres" em situações do dia a dia, eu tenho "intuições" sobre o que dizer, sobre as pessoas, sobre situações, como se fosse guiada, como se me sussurrassem ao ouvido, como se, naquele preciso momento, me colocassem o raciocínio, as palavras no cérebro. Eu tenho "dejá vu", tantos e tão reais...
Eu não sei que nome lhes dar, eu uso palavras que já existem pois não sei explicar de outra forma. Não há outras palavras. E não são as correctas. Não são porque não é bem isso, é algo diferente.
Mas às vezes penso nisto, no contexto em que nasci, nas pessoas que conheci, no que me fez crescer. Principalmente, e usando uma expressão que não consigo expressar de outra forma, como ser humano.
Porque dizemos tanto que crescemos como seres humanos se não acreditarmos, mesmo que de forma camuflada, subconsciente, de que somos mais do que matéria e pó?
Penso nisto da fé, da vida, do Céu e do Inferno, desde muito nova. Penso na injustiça de um Deus que me fez nascer de pele branca e olhos azuis (e ser assediada ao ponto de querer esconder-me nos cantos das salas de aula, dos pátios da escola, de nunca usar decotes ou saias curtas...) numa sociedade de primeiro mundo, numa família onde, graças ao trabalho árduo dos meus pais, nunca me faltou nada material e, do outro lado do hemisfério, crianças como eu, mais novas que eu, bebés, inocentes, morriam com falta de alimento.
Que Deus permite algo tão díspare, tão antagónico ao que, numa sociedade Católica, é ensinado?
Pois, os milagres e os acontecimentos fatídicos...
Eu não sei tanta coisa, mas sei que, tem de haver, quero acreditar que há, mais do que um corpo e um cérebro.
Eu acredito que há uma Alma, com várias hipóteses de redenção, de aprendizagem, de crescimento e evolução.
Eu acredito, como na música do António Variações:
"Eu tenho um anjo, anjo da guarda
Que me protege de noite e de dia
Eu tenho um anjo, anjo da guarda
Que me protege de noite e de dia
Eu não o vejo, eu não o oiço
Mas sinto sempre a sua companhia
Eu tenho um guarda que é um anjo
Que me protege de noite e de dia
A toda a hora e em todo lado
Posso contar com a sua vigia
Não usa arma, não usa a força
Usa uma luz com que ilumina a minha vida
Ele não, não usa arma
Ele não, não usa a força
Usa uma luz com que ilumina
A minha vida (...) "
Mas isto sou eu, que não sei nada e não conheço palavras para explicar certas coisas que acontecem, que vivo e que sinto...
Eu sei no que quero acreditar e é isso que, na minha pequenina cabeça e pequeno mundinho, faz sentido: ser melhor. Melhor pessoa, melhor ser humano o que implica ser e aprender o que é melhor para mim. Ter amor próprio sem ego, ter consciência das qualidades e dos defeitos, aceitá-los e melhorar.
Olhar para os outros e pensar que não viveram o mesmo que eu, que não posso julgar pois não sei. Mas posso ouvir e tentar perceber. Mas posso mostrar outros caminhos, outras possibilidades porque vivi coisas diferentes e com isso, aprender com outros também.
Acredito, não, eu sei que se nos olharmos como iguais, como seres em crescimento, em aprendizagem e fossemos mais empáticos, o nosso mundo seria melhor.
2021.05.16
Sem comentários:
Enviar um comentário