quinta-feira, 17 de março de 2022

Carregado de tudo

 



Estou há tempos a tentar colocar por palavras algo que não consigo.
Está entalado. Preso. Sufocado.
Há uma ponta, ali, à espreita e eu bem puxo por ela, mas...
Nada. Zero.
Uma ponta seguida de um nó. Enorme. Na garganta. Nos dedos. No cérebro.
Nada. Zero.
Uma vontade enorme de me libertar, de explodir, extravasar e o quê? Nada! Zero!
E o peito vai-se enchendo de palavras não ditas e o coração vai ficando aperto, cada vez mais apertado e o peito cheio... É um sufoco. Só quero gritar. E abro a boca e pronto: nada, zero sons.
Um grito surdo. Inaudível. Cheio de um nada carregado de tanto. E as lágrimas acompanham. E bato no peito para me esvaziar disto tudo que há cá dentro e que não me sai em palavras. Disto que me atormenta, que me enche e me mata, aos poucos, desta forma tão lenta...
E grito. Grito este grito surdo. Inaudível. Feito de nada, carregado de tudo.


Cat.
2021.08.20

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