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terça-feira, 15 de março de 2022

Da minha boca

 



Da minha boca
Nada sai
Senão
Um silêncio,
Mórbido,
Moribundo.

Um silêncio
Negro,
Que grito,
Bem de dentro,
Do meu fundo.

Por entre os
Lábios meus,
Entre-abertos,
Há sons,
Palavras,
Pedidos, desejos,
Inaudíveis
Que esvoaçam,
Presos em asas
Que não solto.

Da minha boca,
Não sai nada
E,
No entanto,
Sai tudo
(O que não digo)...

Cat.
2021.07.01

domingo, 13 de março de 2022

Sem palavras


Ando sem palavras... Logo eu, a quem (quase) nunca faltaram.
É verdade que os dias ganharam nova vida, trazem-me vivências diferentes, aprendizagem e crescimento. O que torna tudo ainda mais estranho.
Ando sem palavras...
Estou numa fase que não compreendo. "Numa fase", seja isso lá o que for. Sei que, apesar de me sentir bem, de estar bem, grata e feliz, não me surgem palavras. "Feliz"... Sim. Não. Nem um meio termo é.
Ando sem palavras, é o que é.
Palavras difíceis de encontrar para expressar o que me vai na mente, o que guardo na memória e o que sinto no coração.
O coração, esse maldito que sente sem pedir autorização.
A mente, essa incessante pensadora de tanta coisa que não interessa.
A memória, essa ingrata que me faz recordar quem já não tenho comigo.
A memória, como uma cómoda cheia de gavetas, quase sempre fechadas. Algumas, a malvada, deixa-as semi-abertas, prontas a escancarar o que uma data, um cheiro ou um sabor despoletam.
Tenho, apesar do momento bom que passo, gavetas abertas, carregadas de recordações que me trazem saudade e dor e lágrimas fugindo dos olhos.
São gavetas que jamais se fecharão, eu sei... Não há chave que as encerre definitivamente e se atira ao mar para não haver possibilidade de as reabrir. São gavetas cheias. Transbordantes.
Se eu as quero fechar para sempre? Não!
Eu quero poder olhar para dentro delas e a Alma não se dilacerar. Olhar para tudo o que lá está e não sangrar de dor.
Há ausências que jamais se esquecerão, mas queria não sentir a ausência, a dor ao olhar a gaveta. Queria sentir o amor, os risos, os abraços, os passeios, os beijos e os momentos vividos.
Entre o final de Abril e o início de Maio, tenho duas gavetas que sempre se abrirão... E, infelizmente, sinto que muitas lágrimas ainda cairão.
É por isso que ando sem palavras... O que os olhos não vêem, o coração não sente, dizem. Mas é mentira.


Cat.
2021.05.01

sábado, 12 de março de 2022

Palavras na ponta dos dedos



Por vezes gostava de ter as palavras todas, na ponta dos dedos, para descrever o que sinto. E não tenho. Jamais terei.

Há palavras que nunca existirão, pois nunca serão as exactas para determinado sentimento.
E eu, eu tenho muitos sentimentos.
Sou uma imensidão. Talvez tão grande e, de certeza, tão profunda quanto o mar.
Sim, sou igual ao mar: na tempestade e na calmaria, no salgado das lágrimas, no que dá e no que recebe... E damos tanto e recebemos tanto. Tanto de bom, como de lixo que só nos faz atrasar nas experiências e no verdadeiro viver.
Mas como o mar, há que aprender a renovar-me a dada maré.
Há que fazer o que dita o coração e a minha natureza, a minha essência e à noite, sob a luz da lua e a proteção das estrelas, dormir um sono profundo e descansado. De Alma limpa e consciência tranquila.

É, por vezes gostava de ter as palavras todas na ponta dos dedos...
Hoje é um desses dias.


Cat.
2021-04.11


quarta-feira, 19 de maio de 2021

Um ano de solidão




É noite lá fora. Não sei se há lua ou estrelas ou nuvens. Sei que é noite, que já não há o canto dos pássaros ou o ruído dos poucos carros que por aqui passam. A rua estará deserta de gente. Porque está vazia e porque precisa de vida. Vida estranha neste último ano. Já lá vai um ano que a nossa liberdade está condicionada. Pela doença, pelas regras, pelo isolamento, pela solidão...
É noite cá dentro. De casa e em mim.
Hoje há noite em tudo o que me rodeia. Um negrume que não permite desvendar o futuro.
Mas o futuro nunca se desvenda. Nunca se adivinha. Nunca se sabe, é por si só um enigma, é verdade. Só que agora, neste momento nem nos permitimos a planear. É um viver cada dia, é um viver o amanhã só quando chegar, como se o futuro fosse algo ilusório, como se, de um momento para o outro, pudesse não chegar.
Na verdade não se vive o hoje, vive-se a (constante) ansiedade do amanhã. Ontem, hoje e amanhã. Sempre num desesperar pelo que está para chegar e nunca é amanhã.
Viver o presente com a incerteza do futuro imediato, presos em casa, afastados dos que amamos, das rotinas que são fundações basilares da nossa vida, não é viver... É ansiar que as horas passem na esperança de que após o adormecer e o acordar, o futuro seja diferente nesse novo dia.
É um ano deste viver que carregamos connosco.
É um ano a acumular ansiedade, incertezas, solidão. Tanta solidão...
É noite cá dentro e eu tenho saudades de sentir o vento, do cheiro das flores, das vozes das pessoas, de respirar livremente e... Do abraço do meu pai e da minha irmã. Dos abraços que tudo curam e fazem o futuro do amanhã melhor.


Cat.
2021.03.05

terça-feira, 18 de maio de 2021

Nada sai


 



É na garganta que sinto
As palavras presas,
Impedindo-me de falar
E de respirar.
É um nó que não desfaz,
Que vai acumulando
Tudo que quero dizer,
Num emaranhado
Que difícil de perceber.
É tanto e é nada.
Porque nada sai,
Tudo fica.
Chega a doer
De tanto que tenho
Cá dentro, preso,
Pronto para se desfazer,
Para desaparecer,
Para se esvanecer,
Pois não há ninguém para ouvir,
E é tanto e (na realidade) é nada.


Cat.
2021.02.27

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Dormência


 

A noite é de um normal Dezembro, com chuva que vem e se fica pelo céu, tornando as nuvens mais negras que o habitual.

... Comecei a escrever, no meu habitual e monótono registo e... Nada. Nada. Um vazio.
Não um vazio vulgar, acostumado e igual a tantos outros.
Não um vazio de palavras presas na garganta ou na ponta dos dedos.
Não.
Apenas um vazio diferente, como se não houvessem palavras para expressar o que sinto.
Não há urgência em tirar de mim o sentimento, não há urgência em transformar em frases tangíveis e compreensíveis. Apenas porque é impossível.
Não há desespero em mim, mas há um nervoso miudinho.
Há esperança na minha Alma, mas também uma certa ansiedade.
Não há angústia cá dentro, mas há um pensar o futuro.
Há amor no coração, transbordante e infinito e por tudo e todos. Mas também há uma não necessidade de o dizer ou demonstrar.
São tempos estranhos e já se demoram a desaparecer, a deixar-nos voltar a tentar viver o normal.
Talvez as palavras certas sejam esperança e medo.
É difícil descortinar os dias que nos esperam que, talvez, seja tão simples quanto isto: um misto de esperança e medo.
Medo não é. Tenho agora a certeza disso.
Há algo, cá dentro, bem no fundo do meu ser, que vê um futuro brilhante, cheio de luz, esperança e empatia. E tudo o que daí advém.
Sim, é isso que sinto no âmago do meu ser.
Este momento anormal é, para mim, uma espécie de dormência... Uma dormência superficial, pois há o que sinto tão forte dentro de mim, como uma certeza concretizada.
Eu sei... Não faz sentido.
Porque as palavras que tenho para dizer não são palavras, são sentimentos, é algo que só o sentir pode compreender...


Cat.
2020.12.15

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Palavras, tantas


 

Doces palavras
Sussurradas ao vento.
Onde chegarão?
Não sei.
Importa? Também não.
Tenho-as aqui,
No peito,
A subir pela garganta,
Pelos lábios a sair,
Como quem canta.

Delicadas palavras
Soltas no tempo.
Imortais,
Intemporais,
Impossíveis de desdizer.
Importa? Nada.
Não há sentimento
Mais puro cá dentro,
Agora partilhado e dito.

Minhas palavras,
Sentir que é meu,
Exposto,
Dito sem desdém,
Sem medo,
O meu eu mais profundo,
A minha Alma,
À mostra,
Despida de pudor ou tormento.
Apenas Eu.
Apenas o meu Ser.
Apenas o meu Sentir.
Com virtudes e defeitos.

Palavras de Amor,
Palavras de dor,
Palavras de sentir
Palavras de (quase) inexistir.
Palavras de entrega,
Palavras de perda,
Palavras de vitórias
E palavras de (muitas) histórias.
As minhas.
As que fazem de mim o que sou.
As que me permitem ser o que sou.
Com tudo de bom ou não.
Mas sempre eu.

Palavras soltas
Ao vento ou numa folha branca,
Se a ti chegarem
E as quiseres ler,
Não me julgues,
Nem me me tentes compreender:
Sou apenas uma Alma perdida,
Num corpo de mulher,
A aprender como fazer
Entre o ser e o viver...

Cat.
2020.10.21

Renascer


 



O sangue corre,
Sincronizado e lento
A cada batimento
Deste coração que vive.

Vermelho carmim,
Cor carne, viva
Como a vida,
Cá dentro de mim.

Percorre este corpo,
Por esta pele
Branca tapado,
Como uma veste
Que nunca se destapa,
Que, apenas, às vezes,
Se rasga,
Fica dilacerada,
Ferida,
Marcada.

Mas o sangue corre
E como o tempo,
Tudo sara,
E a vida renasce
De cores vivas,
Rosa e carmim,
Nesta pele, carne e Alma
Dentro de mim.


Cat.
2020.10.20

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Turbilhão


 

Há um turbilhão
Dentro de mim,
Que quer sair-me
Boca fora.

Palavras, um milhão,
Que não e que sim,
Que sei vão trair-me
Apenas porque se vão embora.

Vão deixar de serem de mim
E passar a serem de quem as ler,
Em qualquer lugar
E a qualquer hora.

Pessoas que (não) conheço,
Que me dizem muito ou nada,
Que fazem (não) parte de mim
Que vão ter caminho aberto
Para por mim,
Pela minha mente e Alma,
Poderem seguir adentro.

Mas há um turbilhão
De palavras
Que dentro deste corpo
Já não aguento...

Adentre-se quem quiser,
Pois eu já não me escondo
E entenda quem puder
Pois eu já desisti, faz tempo.


Cat.
2020.10.20

terça-feira, 20 de abril de 2021

Duas. Frente a frente


 

Duas. Frente a frente.
Não em confronto, mais numa tentativa de se compreenderem. Uma à outra, ambas.
Duas. Frente a frente.
Diferentes em tanto e iguais em outro tanto.
Dores idênticas. Sorrisos iguais. Lágrimas pelas razões.
Apenas formas diferentes de olhar.
Apenas formas diferentes de lidar, de viver, de ultrapassar.
Duas. Frente a frente.
Questionando porque a outra não sente igual. E a outra desejando sentir como essa.
Deixar a dor.
Deixar o peso do passado.
Deixar as pessoas que já não nos trazem nada e, principalmente, a quem já nada temos para dar.
Deixar que as lágrimas de tristeza sejam apenas de alegria. Sejam pelo bem que se faz, que se recebe.
Que o amanhecer seja uma bênção e que a cada dia o sol brilhe e o sorriso ilumine o rosto, nem que seja apenas por um minuto.
Duas. Frente a frente.
Numa luta sem palavras, em que a forma de sentir, de olhar, de aprender ou não é que vence.
Numa tentativa de se equilibrarem e de se tornarem apenas numa. Uma única, sem dualidades, sem receios, sem medo de viver e de apenas ser.
A desejar conciliar a mente, o coração e a alma neste corpo que é só um.
Duas. Frente a frente.
Num espelho tão iguais e tão diferentes. E como só desejo conciliar-me e aprender a viver com ambas.
Talvez só o consiga criando uma terceira: a do equilíbrio e a que não se compara constantemente ao espelho à espera de resposta que nunca surgirá...


Cat.
2020.09.12

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Juízo


 

Há dias em que o corpo se ressente, não aguenta e (quase) cai.
Sentes-te mal, desconfortável e só queres dormir. Um cansaço extremo que não sabes de onde surge, o que o originou.
Não, não é mental ou assintomático. É no corpo, com oscilações de capacidade física, de mobilidade, quase um estado febril.
Nada aparente para tal.
Nada que ingerisses ou um resfriado, pois nem de casa saíste.
Há dias em que o corpo reflecte o que já não consegues expressar. Em que o que sentes já extravasa a alma, o coração, a mente...
Há dias em que mais que desistir, tudo te obriga a parar. O corpo e a mente: pára de pensar, pára de conjecturar, pára de antecipar ou sofrer por erros cometidos pois só pioras.
Sim, há dias em que quase tens de parar.
Quase...
E há sempre um quase que te leva ao (quase) total quebrar do corpo.
Mas há que continuar. Com ou sem erros, com ou sem medos, com ou sem forças.
E se nada do escrito fizer sentido, perdoem-me: é porque já me afecta o juízo...


Cat.
2020.09.09

sábado, 17 de abril de 2021

Palavras chegarão


 

Haverá um dia em que as palavras sairão de forma fluída, sem pressão, sem nelas pensar afincadamente.
Serão palavras de amor, de prazer, de gratidão, de sorrisos e de alegrias.
As palavras, as minhas palavras, são neste momento pensadas antes de escritas.
Não porque não tenho o que dizer ou sentimentos dignos de ficarem registados e, até, partilhados.
Eu tenho palavras e sentimentos. Muitos. Complexos. Dúbios. Difíceis de transcrever para a folha de papel (que hoje em dia é um qualquer gadget).
Tenho saudades da era do papel e da imensidão de possibilidades que o branco de uma simples folha dava. E da leveza e beleza das palavras que de mim saíam.
Palavras de esperança.
Palavras de crer.
Palavras carregadas de amor, de alegria de querer o tanto que havia para viver.
Hoje, ainda tenho esperança.
Hoje, ainda creio, acredito. Em mim, nas pessoas e Mundo.
Mas estão perdidos, num emaranhado sem fio condutor, sem um caminho certo para percorrer.
Sem uma folha branca de papel onde fluir levemente.
Há outras palavras, outras folhas, talvez cinzentas, onde o preto das letras se torna, por vezes, impercetível, incompreensível, impossível de escrever de forma coerente.
Pois há um rodopio, uma montanha russa de sentires que as palavras deixam de fazer sentido.
Talvez, no cinzento da folha, tenha apenas que carregar no preto de certas palavras: as palavras que realmente interessam. E vê-las, lê-las vezes sem conta, sem contextualizar e perceber que significado têm para mim. Separar, como se diz, o trigo do joio e, ficar apenas, com as que me fazem jus.
Sim, haverá um dia em que as palavras voltarão a sair de mim, numa clareza e certeza, como preto no branco.


Cat.
2020.08.28

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Palavras presas


 

As palavras ficam presas, agarradas à garganta, num nó que não se desfaz.
Como se não valesse a pena.
Como se não houvessem palavras. As palavras certas.
Um vai-e-vem sem (aparente) sentido. Mas aqui, cá dentro. Prontas a serem libertadas.
De forma confusa.
De forma inexplicável.
De forma pura e simplesmente sentida.
Aqui, cá dentro.
Do garganta que engole em seco, pelo nó que se aperta cada vez mais.
Aqui, cá dentro.
Da mente que não se ordena, que não se concisa e parece louca com pensamentos dispersos e (aparentemente) difusos e contrários.
Sim, há palavras.
Aqui, cá dentro.
Também do peito que se enche de um vazio que parece querer explodir de tanto sentir.
Aqui, cá dentro.
Nos olhos que se enchem de lágrimas, felizes e infelizes. De gratidão e revolta. De querer ser feliz e o medo de o ser.
Sim, há palavras.
Que não saem. Porque aqui, cá dentro do que sou, ainda não as compreendi...

Cat.
2020.08.26

segunda-feira, 12 de abril de 2021

À tona


 






Submersa. À tona da vida.
No limiar de quase desistir e deixar-me afundar.
Doce, suave, lentamente.
No limiar de querer resistir e unir força e fôlego e emergir.
Rápida, brusca, emergente.
Um limiar que me deixa neste limbo de me sentir perdida. De me sentir sem saber o que decidir.
Descansar.
Repousar.
Dormir e não sonhar ou delirar.
Mergulhada nesta minha estranha forma de ver, de sentir a vida e o que nela acontece. No que por ela passa.
Olhar para o lado e não ver. Não sentir. E sobretudo não analisar. Não tentar compreender.
Há momentos em que penso que deveria pensar menos e ser mais leviana na forma de viver e lidar com os outros e com certas situações.
Não pensar no que me ultrapassa. Porque não me diz respeito ou no que diz.
Na dor das perdas.
No coração dilacerado pelas ausências.
Nas feridas profundas marcadas na alma e no rosto cansado, abatido e enrugado dos sulcos vincados por tantas lágrimas vertidas...
À tona da vida. Submersa no salgado das minhas próprias lágrimas.


Cat.
2020.06.02

terça-feira, 6 de abril de 2021

Arde-me o peito


 

Arde-me o peito, queima.
A dor é mais que muita e o coração (quase) não aguenta.
É uma certeza de que foi o certo.
É uma certeza de que te queria, aqui, de mim perto.
As memórias vou guardá-las para sempre comigo. No melhor lugar do meu mundo, da minha Alma.
Temos tudo pelo certo. Pelo garantido. Pelo sempre do tempo, que achámos é infindo.
E a dada altura, a vida ou Deus ou o destino ou o raio que o parta, muda tudo.
E o tudo passa a nada.
Mentira! Passa a um vazio maior que o nada.
Um fim esperado (nada dura para sempre) mas que quando anunciado é como a morte.
Morte. Fim. Vazio. Ausência.
E arde-me o peito, queima.
Num fogo que não tem nada para queimar. Apenas o que fomos, o que sentimos, o que passamos.
E dói a perda.
E arde-me o peito, queima, da forma mais violenta.


Cat.
2020.04.23

Dias difícieis


 

Há dias menos fáceis, há dias difíceis e há dias que desejamos que nunca cheguem.
Hoje chegou um desses dias à minha vida. Desses que pensamos que nunca chegam. Desses que, bem no nosso íntimo, sabemos que chegarão, mais cedo ou mais tarde.
Dias em que as lágrimas caem a uma velocidade tão grande que acabam por secar.
Momentaneamente.
Porque há que ser forte.
Momentaneamente.
Porque há possibilidades, probabilidades e hipóteses que nos são colocadas à frente e, por muito que queiramos, temos que tomar decisões, fazer escolhas.
Definitivamente.
Para todo o sempre a decisão na nossa memória.
Definitivamente.
O receio de acertar e aceitar o melhor. Para mim e para todos.
Definitivamente.
Um analisar do pesar numa balança em que, queiramos ou não, acabamos por perder.
Indubitavelmente.
Decidir prolongar no tempo, por tempo indeterminado, o sofrer diário de uma não vida.
Indubitavelmente. Ou não.
Acabar, num repente e não deixar o coração sofrer mais.
Ilusoriamente.
O coração sofre sempre.
Desmesuradamente.
Porque a perda é insuportável.
Quer tomemos uma decisão ou deixemos que o tempo a tome por nós...


Cat.
2020.04.23

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Silêncio em mim


 

Mergulho no silêncio. E espero, sem esperança, que o grito me saia da garganta.

Não que tenha algo para dizer, há silêncio em mim, esse onde mergulho.

Onde me perco e onde desejo não ficar.

Não há pior silêncio que o nosso silêncio.

Um silêncio que não é por falta de palavras. Que não é porque não queira soltá-las.

É porque, na maioria das vezes, senão sempre, não há quem as ouça.

Quem verdadeiramente ouça. Com o coração, sem conselhos e sem apontar dedos.

Simplesmente não há quem ouça. Ninguém quer ouvir o que vai dentro da Alma de quem quer que seja.

Ninguém quer partilhar esse peso. Ou alegria. Ou simples troca de ideias e pontos de vista.

Não há quem ouça. Há acenos de cabeça ou ruídos de conforto. Apenas para parecer que se ouve. E não houve uma única palavra que fosse ouvida.

Às vezes calo-me, no meio de uma frase, de uma história, de um pensamento e nada... Silêncio do outro lado.

Ou interrompem com um qualquer tema leviano, sem interesse mas que tem força para nos calar.

E assim faço. Calo-me e mergulho no meu silêncio. Um silêncio que grita cá dentro, dentro do meu próprio silêncio...


Cat.
2020.04.22

sábado, 3 de abril de 2021

Parar


 

Parar. Parar de pensar, de sentir, de preocupar.
Parar, apenas parar.
O aperto no peito que sufoca, impede o ar de entrar. Comprime e esmaga o respirar.
As lágrimas desejadas e que por magia, permanecem contidas.
O bater do coração que a todo custo tentas desacelerar.
E de repente, o corpo estremece, parece que fica vazio... Vazio em tudo. Da força, do peso, do lugar, sem sangue a correr.
E naqueles segundos o mundo parece parar. Desaparecer. Fugir. Evaporar.
E voltas a respirar.
E o medo de tudo e de nada volta a atacar.
E só queres gritar.
E só queres chorar.
E só queres que o respirar volte a normalizar.
Mas a mente, essa inimiga, não pára de pensar.
É pensar em tudo sem parar verdadeiramente em nada, num ciclo frenético de situações.
É um sofrer por antecipação que te ultrapassa, que é irracional.
E as lágrimas não caiem.
E o coração não desacelera.
E o peito aperta, comprime e esmaga.
E só queres que desapareça...
Que tudo pare. Até o ser...
Parar. Só queres parar.


Cat.
2020.02.05

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Gota numa janela


 

Tento escrever qualquer coisa, o que quer que seja e nada.

Não há palavras.

Não há memórias.

Não há sentires.

Nada.

Há uma mesa de café, pessoas reunidas a falar de uma qualquer banalidade do dia.

Ao fundo joga-se bilhar e há um casal que fala baixinho no meio de tanto ruído. Ela sorri enquanto ouve o que ele diz. Não são novos, não estão apaixonados, mas têm entre si aquela cumplicidade de quem se conhece, de quem ainda ouve com interesse o outro.

Lá fora chove. Numa cadência sem ritmo, cria uma melodia que me deixa ausente deste local.

As gotas na janela, escorrendo pelo vidro, fazem desenhos que parecem caminhos. Ora unindo-se a outras, ora afastando-se de novo. E neste (des)cruzar encontro um paralelismo, para mim evidente, com a vida.

Como se o caminho fosse apenas um. Num único sentido, sem possibilidade de voltar atrás. Por vezes rico, transbordante, carregado de vida e rápido. Ou solitário e parecendo parado no tempo. Unindo-se e separando-se de outras gotas, aumentando e diminuindo o frenesim de o percorrer.

A vida é uma janela carregada de gotas de chuva. E eu sou uma dessas gotas, às vezes parada, às vezes correndo. Às vezes num rumo cheio de curvas, isolada. Outras acompanhada e percorrendo o mesmo caminho.

Gota numa janela. Criando o seu percurso, deixando a sua marca, crescendo, perdendo e ganhando outras gotas pelo caminho.

Gota numa janela. Tão visível e, no entanto, tão transparente e insignificante...


Cat.
2020.01.17

quarta-feira, 31 de março de 2021

Abraço apenas


Há dias em que só queres um abraço.

Um abraço em que apoias a cabeça no peito e não há mais nada. Excepto aquele bater de coração para saberes que ainda há vida em ti.

Um abraço sem palavras, sem perguntas ou dúvidas. Apenas um abraço.

Um abraço que, apesar do silêncio, te acalma a angústia, te leva os medos. Apenas um abraço.

Um abraço que te faz respirar fundo e abrandar os frenesim da mente. Apenas um abraço.

Um abraço de carinho, de amor, de confiança em ti e no futuro. Um abraço renovador. Um abraço de alento... Apenas um abraço.

Há dias em não tens coragem de o pedir apesar da enorme necessidade. E há dias em que pedes. E há dias em que recebes. E há dias em que não. Em que pedir um abraço é sinal de fraqueza. É sinal de falta de amor próprio. É sinal de mendigar pois porque carinho e amor não se pede...

Pede. E não devia ser vergonha ou sinal de fraqueza. É uma necessidade de quem sente, de quem tem vida cá dentro, de quem não pode ser forte a toda a hora. De quem é humano e também quebra. Também precisa de um momento.

Há dias em que só queres um abraço. Apenas um abraço.


Cat.

2020.01.07