segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Escrever

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Um dia vou escrever todos os sonhos que um dia sonhei, todas as aventuras que imaginei, todos os devaneios em que divaguei.

Vou contar todas as cenas por onde passeei, todas as cores que visualizei, todos os sabores com que a minha boca deliciei.

Guardar as minhas memórias, as passagens mais marcantes e as que passaram demasiado fácil.

Acontecimentos que me fizeram chorar, de dor ou alegria, de felicidade ou de saudade, de chegadas ou de partidas.

E de pessoas. Mas sobretudo de ti. Do quanto me fizeste feliz. Do quanto me fizeste rir. Do quanto me abraçaste e beijaste. Do quanto me amaste este corpo e esta Alma. Do quanto comigo partilhaste. Do quanto caminho percorremos e do quanto me apoiaste.

Um dia vou escrever(te) o quanto comigo viveste. Não vá, por qualquer motivo, esquecer(te).


Cat.
2019.04.24

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

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Dias
Ausentes de alegria,
Em que as lágrimas são a companhia,
Em que as saudades são agonia
E apenas há a tua ausência.

Dias
Demorados no seu passar,
Horas longas a arrastar
Um tormento de pesar,
Sem nada para apaziguar.

Dias
Vazios e imperfeitos no seu ser,
Incompletos no ter,
Carregados de sofrer,
Apenas num sobreviver.

Dias
Que ninguém quer sentir,
De onde se quer fugir,
Correndo, chorando, até cair,
Mas sem força para daí sair.

Dias
Sem ti são assim,
Uma demora sem fim,
Que só termina assim:
Quando o teu beijar,
O teu abraçar,
O teu respirar e o teu (me) amar,
Regressam para mim!

Cat.
2019.04.19

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Tudo

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O dia já acordou há algumas horas e chora compulsivamente, de forma quase constante. O céu está negro, sombrio por culpa de núvens escuras e tristes.

Não há pássaros a cantar, anunciando a Primavera.

Não há o cheiro de flores no ar, nem de jasmim, nem de laranjeira.

Há a chuva que cai e tudo invade. Numa cadência sem ritmo. Num musical que ninguém pára para ouvir, que não encanta e que ninguém quer sentir. Os passos na calçada são rápidos, apressados, desviando-se dos aglomerados dessa água que cai, desses lagos miniatura que formam na rua. Guarda-chuvas coloridos escondem os rostos de quem por ali passa. Não há olhares contemplativos ou enternecidos ou de espanto para o rio. Os barcos são raros e seguem quase vazios, sem risos, sem fotógrafos de momentos, sem grande vida.

Há a chuva que cai e tudo invade.

Até o rio se rende e, no seu correr, fica inerte, deixando apenas as gotas da chuva marcar a sua passagem, em círculos de ritmos constantes.

E eu, deste lado da janela, compreendo esta regra: há situações que não vale a pena contestar, contra elas lutar. Às vezes é preferível deixar andar, deixar a tempestade passar e, ao seu ritmo, bailar, sem muitas ondas levantar e apenas esperar, porque tudo, tudo acaba por passar....

Cat.
2019.04.15

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Rimas fáceis





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Rimas fáceis.

Sobre amor
Ou alegria,
Sobre lágrimas
Ou dor,
Rimas fáceis
É o que tem valor.

Sobre o rir
Ou o amar,
Sobre o sentir
Ou o amorfar,
Rimas fáceis
É o que está a dar.

Sobre a vida
Ou a morte,
Se é sentida
Ou fingida,
Se há vontade
Ou sorte,
Rimas fáceis
É o (des)norte.

Sobre o desejo
De um amor verdadeiro,
Sobre o anseio
De um amor por inteiro,
Ou sobre o devaneio
Do corpo carnal,
Rimas fáceis
Porque nunca fica(m) mal.

Rimas fáceis
A ditar o que é normal,
A transcender o banal
Numa ilusão de fenomenal.

Rimas fáceis
A chegar todo o lado,
Num escrever martelado,
E por todos imitado!

Cat.
2019.04.23

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Perdas


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Eu sei o que é passar pela perda de alguém. Sofrer, chorar, voltar a chorar, desesperar e chorar ainda mais. Até as lágrimas secarem.
Eu sei, eu sei como é.
É o mundo quase desabar. Fugir por debaixo dos pés. É perder o chão e nunca mais dar um passo firme.
Eu sei. Já perdi. Já sofri e acho que nunca mais regressei a mim, ao que era.
É um vazio que fica, aqui, bem no meio do peito. Que chega a doer, a sufocar, a sugar o ar e a transbordar de nada.
É uma dor que não se descreve porque tanto nos mata com a falta como nos esmaga de tão assoberbada.
E as saudades tudo menos indeléveis. São profundas e inesgotáveis como o amor que se sente.
E a certeza de que muito ficou por dizer, por fazer, por viver, por partilhar, por sorrir e chorar é, quase, arrependimento. Por não ter sido mais. Mais abraços, mais beijos, mais amo-te e mais, muito mais tempo apenas contemplando-te. Guardando em mim cada traço no rosto, cada cabelo desalinhado, cada respirar no meu ouvido no teu peito encostado.
Sim, eu sei o que é perder alguém. E também sei que a vida continua e nos atenua a dor. Devagar, bem mais devagar do que desejaríamos, mas atenua...

Cat.
2019.04.05

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Fugir

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Hoje vou ler um livro.

Um qualquer, não importa o título, não importa o conteúdo, hoje vou ler um livro.

Um que me leve para outro lugar. Encantado ou maltratado. Brilhante, vibrante ou negro, sombrio.

Um livro que me dê vontade de não regressar à minha realidade. Que me envolva, me leve e não me devolva. Que me faça rir ou chorar, desde que desmedidamente.

Um livro que me ensine que não há limites para a imaginação ou para a dura verdade. Que me faça sonhar com o amor e a paixão e com a desilusão da perda e da dor.

Hoje vou ler um livro. Para não lidar comigo. Para não olhar para o que o dia traz. Para não pensar, não sentir e não chorar apenas por mim. Para que os meus dias sejam mais do este passar de horas, sem rumo, sem desejos ou ânsias. No fundo, sem futuro...

Cat.

2019.04.04

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Dizer

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Dizer que te amo.

Hoje e sempre. A cada momento, a cada dia, todos os dias da nossa vida. Todos os dias da vida que contigo terei.

Dizer que te amo.

Porque não quero que esqueças. Não quero que, por algum motivo, por um acaso ou por alguma palavra ou atitude menos positiva, possas pensar que já não te amo.

Amo-te. Não deixes de acreditar nisto.

Amo-te. Todos os dias. Com todas as tuas virtudes e todos os teus defeitos. Na tua perfeita (im)perfeição.

Amo-te e vou dizer-to todos os dias. Todos os dias da nossa vida.

Cat.
20219.03.28

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Medo em mim

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Sim, há medo em mim.

Um medo, talvez irracional, mas há.

Medo de mudanças. Medo de falhar. Medo de não fazer a(s) escolha(s) certa(s). Medo. Há quem diga insegurança, mas não deixa de ser medo.

A vida é feita de opções, a cada dia, a cada momento e não há nada que possamos fazer para as evitar. Nada. Há que decidir, avançar ou recuar ou manter a posição. Mas há sempre uma decisão a tomar. E há sempre o mesmo medo. De não saber se rstamos a decidir bem.

E este medo aumenta com a idade. Ou com a maturidade. É proporcional à quantidade de compromissos que vamos assumindo na vida. Quando não há compromissos tudo é mais simples, tudo é de mais fácil resolução e menos, muito menos assustador. Havendo é tudo muito diferente. Tudo aumenta. Até o medo.

Sim, decidir não é fácil, em especial quando implica mudanças que nos afectam as rotinas, e sobretudo, as certezas.

Pois que abalar as nossas certezas e ter que nos adaptar é que assusta, mete medo.

A verdade é que a cada mudança, a cada nova decisão e a cada novo medo, eu vou conseguindo superar-me. Vou sendo capaz de me adaptar, de aceitar e, muitas vezes, de me surpreender.

Haverá então motivo para ter medo? Para eu sentir esse aperto no coração?

Talvez sim. Talvez o medo impeça o meu ego de se mostrar, exacerbado e implacável.

Talvez não. Talvez o medo impeça que eu viva de forma mais tranquila e acredite no que sou, no quanto valor tenho e na minha capacidade de adaptação.

Não sei. Só sei que há medo, há medo em mim.

Cat.
2019.03.26

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Dias assim

Nenhuma descrição de foto disponível.Demoramos uma vida para acreditar que somos bons, que temos valor, que há algo positivo no que somos, no que fazemos ou pensamos.

Demoramos um minuto a desabar essa crença, a perder a confiança, a desacreditar em nós. A colocar tudo em causa, a olhar para os defeitos e a dar-lhes mais importância do que às qualidades.

É verdade, num minuto tudo muda e basta uma palavra, principalmente se for de quem gostamos, para nesse instante nos sentirmos uma merda.

E é isto que me sinto agora, uma merda. Um nojo de pessoa. Uma inútil. Uma incompetente. Uma desleixada. Uma gigante merda.

Apesar de cá dentro, bem no fundo do meu ser eu saber que não o sou.

Mas é como me sinto. E hoje é dia de deixar as lágrimas correrem com toda a força e adormecer em auto-comiseração...

Porque há dias assim.

Cat.
2019.03.22

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Ele(s) IX

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Ela.

Até amanhã. Ou depois de amanhã ou na próxima semana. Mas até breve, muito breve.

Sabes que te gosto. Que nos gosto assim, sem a obrigatoriedade de um compromisso, excepto o que temos para com a vontade de estarmos juntos.

E eu gosto de quando estamos juntos.

Gosto de falar sobre tudo, sem qualquer receio de condenação da tua parte, sem que tenha que esconder algum pensamento mais leviano ou o meu (tremendo) humor negro.

Gosto de, ao teu lado, me poder libertar, de Alma e corpo. De ser apenas o que sinto. De me entregar sem disfarces de menina bem comportada ou de uma mulher obrigada a cumprir. Até posso ser tudo isso, mas porque nos apetece dar asas à imaginação e no sexo (quase) não há limites. Pelo menos entre nós. E isso é porque eu não te lavo as meias e as cuecas e de cozinhar todos os dias para ti! Isso seria o compromisso de um relacionamento e, como em todos os relacionamentos o dia-a-dia, a rotina iria acabar com toda esta ligação que temos. Com todo o tesão, com o frenesim dos encontros que podem ser cancelados em cima da hora porque apesar dos milhares de mensagens trocadas, de sabermos do dia de cada um, não há como olhar-te nos olhos e vibrar com as emoções. Da constante expectativa de te sentir as mãos na pele, o sexo dentro de mim, o culminar do êxtase nesta nossa entrega sem filtros. Das nossas conversas, profundas ou banais, antes do banho e de sair do quarto que nos testemunhou.

Se tenho medo de te perder? Tenho. Muito. Mas tenho medo de perder o que temos de tão especial, de perder o que nos faz gostar tanto desta forma de nos entregarmos.

E é sempre com o receio de que seja um adeus que te digo até amanhã, ou depois de amanhã...

Cat.
2019.03.23

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Ele(s) VIII

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Ele

Adeus.

Tenho que dizer adeus. Hoje e para sempre. Não há um futuro amanhã, pelo menos para nós. Não porque o sentimento não esteja cá: está e é muito forte, intenso e vibrante. Como tu na minha vida.

Há muito a mudar. Há demasiado em jogo. Para mim e para ti. Há o receio de não passar de uma paixão. Há o receio de que te tornes igual a todas as outras mulheres, que cercam, que controlam e fazem dramas com os ciúmes. Sabes que não sou teu. Esse era o contrato. Não fora daqui, destas paredes que nos protegem e que nos impedem de ver a vida lá fora. Aqui, tudo é fenomenal. Tu és tudo o que sempre quis. Tu consegues aliar tudo o que há de bom numa mulher: amiga, confidente e amante. Oh! E como és boa amante. Nunca uma mulher se entregou nos meus braços como tu. Nunca uma mulher me recebeu no seu corpo como tu. Nunca. E isso baralha-me: como te entregas desta forma e sem amor? Não há, pelo menos que se tenham cruzado comigo, mulheres que se entreguem de forma tão intensa ao simples prazer de ter prazer. Entendes? Há sempre um sentimento de amor ou paixão e a ilusão de que nos vão conquistar e que seremos delas para sempre. Mas tu não. Pois não? Não mesmo? Não há em ti nada que te faça entregar porque gostas de mim? É apenas pelo prazer que te dou? E não, não me sinto usado, apenas queria acreditar que serias minha para sempre. Não só de corpo, mas de tudo. Entendes, de tudo e para tudo.

E é por isso que tenho que dizer adeus. Porque te quero mais do apenas isto.

Cat.
2019.03.22

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Vivências

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As vivências.

Cada um com as suas. Cada um com a sua história. Cada um com o seu olhar sobre o mesmo acontecimento.

Depois as divergências.

Porque os sentires não são iguais. Porque a intensidade com que se vive não é idêntica. Porque a uns dói muito mais que a outros.

E por fim as mágoas.

Que ficam de algo que não foi compreendido no nosso âmago. Que nos vão ruminando a alma e a essência até nos doer no corpo. Que muitas vezes são difíceis de superar e de nos deixar recuperar.

Viver no passado não é bom. Reviver na memória eventos que não nos fizeram sorrir não nos permite olhar a vida e contemplar toda a sua beleza.

Viver com essa dor é ainda pior.

E nós, como seres pensantes que somos, agarramo-nos ao nosso próprio sofrimento e temos compaixão e pena de nós próprios.

Porque não é justo. Porque não merecemos. Porque nunca o fizemos a outrem. Porque respeitamos.

Mas nem sempre é propositado. Porque nos relacionamentos, sejam de que tipo forem, há pessoas como nós. Seres imperfeitos. Seres que falham. Mas sobretudo seres, que como nós, também sentem. À sua maneira. E, que como nós, muitas vezes não sabem como o outro sente, como o outro olha as coisas, como o outro vai sentir a nossa acção.

Agir sem errar não é humano. Tal como viver sem chorar e sem sorrir. Tal como crescer e evoluir.

Há que aceitar as falhas nos outros como aceitam as nossas.

Ilude-se quem pensa que nunca foi incorrecto, que nunca magoou, que sempre foi honesto. Algures, no caminho da nossa vida, também deixamos pessoas para trás, também deixamos cair palavras que atingem como pedras. Somos humanos, sim. Somos todos humanos. E nesta nossa humanidade temos que perdoar e encher o coração e alma de sorrisos e de amor.

Perdoar os outros e muitas vezes a nós.
Porque a culpa mata-nos tanto como a mágoa.


Cat.
2019.02.22

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

...

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Há dias em que me sinto folha perdida no chão: amarrotada, seca, sem cor, sem rumo, sem prazer ou dor. Apenas folha caída, sem vida para ser vivida...

Cat.
2019.02.19

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Memórias

A imagem pode conter: 1 pessoa, closeupPercorro,
Nos recônditos das memórias,
O sabor do teu beijo,
O odor da tua pele,
O salgado do teu sabor
Após o teu me amar.

Procuro,
Em cada momento vivido,
Guardar os pormenores
Do teu me olhar,
Do teu me falar,
Do teu me beijar,
Do teu deslizar de dedos na pele
Após o teu me amar.

Trago,
Em cada cerrar de pálpebra,
Em cada respirar,
Em cada suspiro murmurado,
Em cada batida do coração,
A certeza de que nos pertencemos,
De que embora dois, somos apenas um,
Unos,
Indivisos,
Ligados por um sentir que não é explicado,
Que se crava na pele, no corpo, na Alma,
Que chega quase a ser palpável.

Sei-o,
Desde o dia em que te vi,
Desde o primeiro olhar,
Desde o primeiro sorriso,
O primeiro toque,
O primeiro beijo,
A primeira entrega,
O primeiro orgasmo...

Cat.
2019.02.15

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Guarda-me em ti

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas a dormirem e interioresGuarda-me em ti,
Como um tesouro, uma pedra preciosa que nunca se quer perder;
Como uma flor, doce e delicada que nunca se quer quebrar.

Guarda-me em ti,
Com a ternura de um eterno abraço que nunca se quer largar;
Como um porto de abrigo onde posso sempre descansar da correria desta vida.

Guarda-me em ti,
Hoje e sempre,
Pois és o meu amor maior e é assim,
Desta mesma forma,
Que também eu te guardo,
Hoje e sempre,
Em mim.


Cat.
2019.01.24

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Inícios...

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Que importância tem o novo ano, o início de um novo ano?
Um ciclo que termina e outro que se inicia?
O balanço de um correr de horas transformado em meses?
Que importância realmente tem?
É um momento em que devemos agradecer todas as bênçãos recebidas e de esquecer as lágrimas e reveses da vida?
Um dia em que perdoamos a quem, de alguma forma, nos magoou o coração?
Não, nunca esquecemos, nem deixamos para trás. Às vezes nunca chegamos a perdoar.
Não, nunca se faz um balanço sincero e verdadeiramente profundo.
Não, nunca há ciclos pré-datados.
O início do ano não é menos que uma data universal de mudança no calendário e onde as pessoas fazem a sua lista de renovação de desejos.
No dia primeiro de Janeiro não somos diferentes do que éramos no último dia de Dezembro.
As mudanças são graduais, são lentas e também não têm hora marcada.
A esperança que ganhamos na entrada do Ano Novo deveria estar presente a cada dia da nossa vida. Assim como a gratidão, o perdão, a compreensão e afinidade.
Deveríamos fazer um reset neste dia e, com a experiência dos anteriores, começar de novo: deixar realmente o menos bom, o negativo, as dores, as vinganças, os egoísmos lá atrás.
Deveríamos limpar o coração e, nos dias desse novo ciclo, olharmos para os outros com mais carinho, mais amor, mais humanidade.
Se não neste dia, algum outro do ano...
Os meus desejos são que todos, em especial eu, possamos, a cada dia, sermos melhores seres humanos, que todos os nossos defeitos se atenuem e o nosso coração se cure de todos os males. E que, nas pequenas coisas da vida, vejamos mais motivos para sorrir que para amargurar. No início do ano, no nosso aniversário ou no dia em que uma gargalhada de uma criança nos faz, de novo, ter esperança!


Cat.
2019.01.03

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Regressos

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Há muito que não voltava aqui, ao meu lugar, ao meu canto, ao meu porto de abrigo.
Há muito que não actualizo o que vou sentindo. O meu diário quase parece um anuário, dada as ausências prolongadas.

A verdade é que a vida acaba por nos "engolir" nos seus caminhos (in)certos.
Não que seja mau. Não que seja bom. Apenas é. Assim, sem rodeios na certeza de que nada é certo. Nem o que pensamos garantido e muitas vezes o que nem imaginamos.

Sim, a vida é uma certa incerteza.
Onde o sentir é um tormento e, ao mesmo tempo, uma bênção.
Nunca sei.
Nunca saberei.
Apenas sinto. Demais. Demasiadamente.
Tão profundamente que me esqueço de mim, do que sou, do que pretendo, do que sonho e desejo.
E perco-me.
De mim. Do meu rumo. Do meu crescer.
E assim perdida, fico sem me perceber. Fico sem me (re)conhecer. Sem (me) escrever e e deixar sair todo o meu sentir. Com ou sem sentido. Mas meu. Apenas meu.

Hoje, sinto que me falta esta catarse, de me expurgar de tanto sentir, de tanto querer, de tanto amar, de tanto chorar e de tanto rir.

Cat.
2019.12.06

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Simples



A noite avança ao ritmo a que já nos habituou para um dia de Inverno: antecipa-se na chegada e arrasta-se na partida. Passa pois, lenta e demoradamente.

Está frio lá fora e os pingos de chuva já não se fazem sentir no chão da calçada nem nos vidros da janela. Há uma pequena lembrança da sua presença nas ervas e nas folhas dos trevos, carregadas de bolhas de água de vários tamanhos, juntas mas não unidas, com as bordas pintadas de um branco cor de neve. As árvores ao longe agitam-se levemente, apenas o suficiente para fazerem as luzes das estradas bricarem, aparecendo e desaparecendo, ora aqui, ora acolá.

E eu vou-me perdendo nesse jogo de brilhos na noite escura, inebriada com a simplicidade de tal beleza.

Dou por mim a pensar que, às vezes, é tudo tão... Simplesmente belo. Sem confusão, sem ruídos que nos toldam as decisões, sem grandes desenvolvimentos ou consequências. Simplesmente belo.

Simples, como o baloiçar ao sabor do vento. Belo como as luzes que brincam por entre as folhas.

Simples, como o bater das ondas na areia. Belo como as cores das flores na Primavera.

Simples como o teu abraço no meu corpo. Belo como o teu olhar cor de mar me sorri e me alimenta de esperança quando os dias não são simples.

Simples como o teu calmo respirar no meu ouvido. Belo como o amor que nos tem, assim e sempre, unido...


Cat.
2018.12.21

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Gritar



Ahhhhhhhhhhhhhhh!

Gritar!
De boca bem aberta.
Até a garganta doer, até a saliva secar!
Expulsar o que me atormenta, o que não me deixa acalmar.
Só(mente) e apenas para a mente parar, deixar de pensar.

Sozinha.
Apenas eu e a minha companhia, os meus fantasmas do passado e do futuro.
Sem ouvinte, sem frases faladas, de apenas palavras balbuciadas sem sentido e sem razão.
Largadas neste ar que volto a respirar.

E chorar.
Compulsivamente.
Até os olhos fecharem de tantas lágrimas soltarem.
Purgar todas as dores, receios e anseios.
Lavar a alma nesse sal que vem de dentro, impuro, intenso e (sempre) libertador.

E (finalmente) poder descansar.
Dormir e sonhar com a esperança de que amanhã tudo irá melhorar.



Cat.
2018.12.15

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Temo II



Temo que o tempo não me chegue. Que se esgote, que se acabe, sem se fazer anunciar. E que eu não diga o que tenho cá dentro, o que possa estar a guardar.
Temo que não tenha dias suficientes. Que os momentos passem por entre os minutos incólumes e serenos. E que eu não viva o que ainda me falta viver.
Temo não sentir o suficiente. E que eu vagueie por esta gente sem provar todos os sentires.
E por isso não quero deixar de dizer. Não quero deixar de me levar ao extremo do sentir, do querer e viver.
Temo tanto que por vezes sei que sou demasiado.
E eu quero tanto não perder tempo, não ser apenas um ser que (sobre)vive.
Quero sentir: o sangue correr em mim, o coração descompassado e acelerado, os olhos encherem-se de lágrimas, os lábios de sorrisos e a pele arrepiar.
Temo... Temo que o marasmo do quotidiano jamais me abandone e me tolha a acção. Temo nunca conseguir deixar de viver apenas o seguro de uma vida certa a imaginar a liberdade de viver a (in)certeza de apenas viver o sentir, no corpo, na mente e na Alma.


Cat.
2018.12.05

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Frio



O dia desperta lenta e melancolicamente. Não há pássaros a esvoaçar, nem a fazer-se ouvir. Não há pessoas na rua a fazerem o dia acordar. Há gotas de orvalho, grossas e geladas nas ervas. Uma camada branca, ténue e frágil, aqui e além, sinal da noite fria que se fez sentir.
Ao fundo, por detrás das árvores, uma luz que denuncia a chegada de um sol, fraco e longínquo.
Também eu, sou um correr de estações: ora quente, ora fria. Também eu, tenho dias, momentos em que viver é um passar de horas gelado, sombrio e pouco brilhante onde a luz, apesar de presente, não tem capacidade, poder, força, alento, para me iluminar. E tudo gela cá dentro, dentro do peito, no sentir e no amar.
E tudo fica em suspenso, gelando e, aos poucos, envelhecendo e morrendo, numa espécie de hibernar, dormente para, num dia, num determinado momento, tudo se alterar e voltar a querer brilhar, viver e amar.
Apetece ficar aqui, dentro deste quarto, nesta cama quente e acolhedora, enroscada no teu abraço, que me acalenta e o viver me alimenta.
Hoje vou viver ao sabor do teu respirar, do teu me querer, do teu me amar.
Hoje não há frio que em mim possa entrar...



Cat.
2018.12.01

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Desacreditar





Pergunto-me porque as pessoas não são sinceras. É por medo, seja ele qual for? Medo da culpa, da vergonha? Ou será apenas por oportunismo?
Pergunto-me que necessidade há de mentir e deixar no ar a dúvida. É por egoísmo, por inveja ou pura maldade?
Eu sei que ninguém é dono de toda a verdade. Ninguém é perfeito e às vezes as palavras saiem das bocas, por entre os lábios, mais depressa que o pensar. E muitas vezes instala a dúvida. Abala alicerces que achamos profundos, seguros, (quase) inabaláveis.
Porque ninguém é perfeito.
E devido a essa imperfeição estamos à espera do erro, da (suposta) falha.
É fácil uma palavra mais duvidosa deixar-nos a pensar, a duvidar.
E porquê? Porque estamos constantemente a ser bombardeados com o mal que se faz, com o apontar de erros, com a constante necessidade de mostrar que somos falhos.
Pergunto-me porque não são as pessoas sinceras.
O medo de falhar, de ser acusado, de ser apontado, de ser culpado é a causa. Então, há que atacar para ter a melhor defesa.
E há a maldade. Aqueles que não são felizes e não podem, não aguentam, não compreendem a (muitas vezes rara) felicidade de com quem privam. Maldade, pura e simples. Ou infelicidade. Ou incapacidade.
Continuo contudo a não perceber... Ou melhor, eu percebo, mas não consigo aceitar.
E é isto que, por defeito, me faz desacreditar.


Cat.
2018.10.31

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Silêncios XIV



A noite vai a meio do seu curso e reina com todo o seu esplendor.
Não há sons, tudo é silêncio. Um silêncio ensurdecedor, enorme, gigante.
Não há pessoas a passar na calçada ou pássaros a esvoaçar.
Não há folhas nas árvores a baloiçar ao sabor da brisa pois esta também está ausente.
É como se tudo parasse, ficasse imóvel, estagnado. Mas não, o tempo continua a passar sem se deter ou fazer caso desta inusitada paragem na vida.
O silêncio é tal que, aqui dentro deste quarto, do lado de dentro da janela, ouço o bater do meu coração.
Forte, ritmado, no peito. O único sinal de que ainda há vida aqui. Lá fora e em mim.
É que também eu estou suspensa na vida. Com a única certeza de que apenas o silêncio do futuro me espera.
E tudo em mim é silêncio. Mesmo de olhos abertos, a mente não se desperta, não se alimenta, não me fala da habitual forma inquieta. Dorme, mas também não descansa. Está em constante alerta, à espera da hora certa para despertar. Como o dia lá fora.
E o silêncio impera: na mente, no quarto e na noite.
Só o bater do coração me assegura que não, que ainda não estou morta...


Cat.
2018.10.22

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Somos instantes


 
 
 
Somos instantes...
Não sei quem o disse, mas decerto muitos já o disseram.
Agora digo eu: somos instantes.
Para tudo, para todos, em tudo e em todos os lugares, situações e pessoas.
Não passamos de instantes. Momentos que passam. Mais ou menos rápido.
Instantes em que o olhar que se cruza com outro faz magia ou não. E mesmo a magia dura um instante. Mais ou menos longo.
A verdade é que na vida tudo é passageiro. Um instante. Mais ou menos demorado.
Instantes que nos ficam ou não na memória. Mais ou menos gravados.
Tudo passa, passou ou passará. As dores, os sorrisos, as lágrimas e os (des) amores.
Imaginar que somos uma câmara fotográfica em constantes disparos. São tantos os instantes que vivemos que muitos nem são notáveis de reparo.
E como esses, também nós passamos despercebidos aos olhos e vida de tanta gente.
Também nós somos instantes. Mais ou menos importantes na vida de alguém.
Somos instantes, tão pequenos, tão insignificantes no contexto do que é o Mundo.
E tão importantes no que vemos com os nossos olhos, no que é o nosso mundo. E achamos que não somos só instantes, que vamos perdurar e para sempre durar, nem que seja na memória de alguém que nos é mais do que isso, um simples instante.
Mas somos, instantes que passam num instante. Hoje somos os maiores, amanhã não passamos de um mero instante...
 
Cat.
2018.10.17

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Domingo




É ao domingo que mais penso.

Durante a semana o correr do dia passa frenético e alucinante. Quando dou por mim já estou deitada, exausta e a adormecer no sofá, sem usufruir da vida.

É ao domingo que mais penso.

Acalmo o corpo, a mente e olho para mim. Para o que sou, o que fui e o que serei.

Olho para o que tenho, o que quero manter e o que quero largar.

Olho para as pessoas que me rodeiam e de como me sinto com elas e de como se sentirão comigo.

Olho para os que, a cada dia, se distanciam e que mantenho guardados em mim.

Sei que não sou perfeita, e estou longe de ser a amiga ideal ou a companheira ou a filha, irmã incansável e sempre presente.

Sou falha em muitas coisas, em muitos aspectos e em muitos actos. Concretizados ou por concretizar.

É ao domingo que mais penso.

Que posso sempre ser ainda melhor. Que posso julgar ainda menos.

Que posso, em cada situação, calçar os sapatos dos outros e ver com os seus olhos.

Que posso não guardar rancor ou mágoa por sair ferida de alguma situação.

Que posso sempre pedir por mais alguém que não só eu.

Eu sei que posso ser tão melhor. Mas às vezes é preciso olhar para nós e lutar por nós, pelos nossos sonhos, pelo que queremos. E isto não é egoísmo, é apenas vontade de ser feliz.

E hoje, ao contrário do dia lá fora, não choro e não me culpo por pensar em mim. Por querer mais e que melhor posso ter para mim.
 
 
Cat.
2018.09.30
 

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Negro


 
 
 
Há dias que parecem noites, apesar do brilho do sol, são negros. Negros como breu, sem ponta de luz, sem um vislumbre que permita ver um pouco que seja. E que assim nos deixam o coração, negro, pisado, magoado. E um aperto na boca do estômago, que quase nos faz deitar fora as próprias vísceras. Acredito que se o fizesse seriam negras, de tão podre, estragada me sinto.

E as lágrimas que costumam cair sem necessidade de autorização, estão presas, ali, bem por trás do negro dos olhos. Não, não saiem. Não, não caiem. Não, não me vão aliviar esta dor. Não, não vão lavar e expurgar o dia de hoje.

Há pessoas assim, que por nunca se colocarem nos pés dos outros, nos deixam assim, negras.

Há pessoas que vivem num túnel mas ao contrário: lá longe não vêem nada, só o perto do umbigo é visível e logo o que é importante,válido e real. Perfeito até.

Há pessoas que só brilham quando os outros estão na escuridão. Por elas lá colocados ou não.

E há dias em que as palavras por essas pessoas proferidas são tão negras que nos trespassam, deixam marcas e nos matam por dentro, num misto de surpresa, incredulidade e revolta.

Dias em que quase sentimos o negro, o sujo das palavras e actos na pele, como se fosse preciso lavar e esfregar até nos livrarmos de tanta escuridão...

Hoje tudo é negro como a noite que já impera lá fora.
 
 
Cat.
2018.09.29

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Consciencializar






Às vezes pergunto-me porque estou aqui, porque fico cá, porque me mantenho assim...

Não é uma resposta fácil, mas a pergunta também não.

Sinto-me, muitas e tantas vezes, presa num corpo que não se adequa ao meu sentir. Sou um tanto ou quanto imatura, fruto de ser mimada. Sim, sou uma mulher mimada e faço (uma espécie de) birra. Não lido bem com críticas, mas também não lido bem com elogios. E guardo as críticas com mais fervor que um elogio.

Acho que nunca chego. Nunca sou suficiente. E, da mesma forma com que me dou, fecho-me. Mas como gosto, como há sentires cá dentro não me contenho por muito tempo e volto a dar-me. Com tudo o que sou e que há cá dentro.

É que tenho tanto sentir dentro de mim que me ultrapassa e no entanto, muitas e tantas vezes não me apetece partilhar. Como se quisesse guardar tudo dentro de mim. E este guardar acaba por me sufocar.

Não gosto de coisas permanentes, logo não gosto de monotonia. Mas para mudar demoro demasiado tempo, penso e repenso e desespero no processo de tomar a decisão. Como se estivesse a maturar a ideia, a tomar consciência da mesma, a interiorizar as consequências.

Por isso, apesar da inconstância, não me estranhes os actos, a imprevisibilidade, a demora nas decisões.

Estou contigo por tudo o que me fazes sentir, por tudo o que sou contigo.

Estou aqui porque te amo, mesmo que por vezes não te pareça, mesmo que por vezes o meu silêncio impere.

Fico aqui porque és o meu porto de abrigo, mesmo que por vezes eu seja uma tempestade furiosa.

Mantenho-me assim porque é imenso o que contigo vivo, as recordações que juntos criámos e o quanto me fazes feliz.

Mesmo que disso duvides, não mesmo que às vezes eu pareça diferente, distante ou ausente.

Muitas e tantas vezes estou a consciencializar em mim o quanto não consigo viver sem ti...




Cat.
2018.09.23

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Tomara



Tempo de dormir, a noite já vai longa e a lua esconde-se por trás de nuvens.

Lá fora o vento canta a sua melodia por entre as folhas das árvores de forma suave e ritmada. Traz consigo o doce cheiro das belas-donas e eu fecho os olhos e consigo imaginá-las, com o seu pé longo brotando do solo, sem qualquer folha e a flor em forma de copo, com o seu cor-de-rosa forte no exterior e um risa pálido no interior.

- "São as flores do fim de Verão, significa que está quase a chegar a próxima estação" - dizia-me a minha mãe.

Sabia tudo sobre flores, desde as cores, os cheiros, o tempo de florescerem e ensinou-me isso e tantas outras coisas sobre tudo.

Tomara eu ter aprendido tudo o que me ensinou sobre a vida como aprendi sobre flores.

Tomara eu ser assim sábia.

Tomara eu ter dado mais atenção às palavras que me dirigia naquele tom condescendente que só as mães têm.

Tomara eu ser metade da mulher que ela foi pois a vida não foi meiga para com ela. Foi dura, cruel até, principalmente nos últimos anos. E não é assim que te quero recordar. Por isso, sempre que, em noites como esta, o cheiro das flores da época se fazem transportar pelo vento, eu fecho os olhos e vejo as flores em cores vibrantes e depois vejo-a, com os mais brilhantes olhos azuis, a fitarem-me e, num tom sério dizer-me: "eu amo-te minha filha, mesmo quando deres um passo em falso. E é por te amar assim tanto que vou sempre dizer-te quando errares."

Tempo de dormir e de lhe dizer que sou falha, mas que tento, todos os dias, ser mais igual a ela. Porque a nossa mãe é (quase sempre) perfeita.


Cat.
2018.09.09

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Nunca deliberado





É noite há já algum tempo e lá fora está uma típica noite de Verão: quente e com uma brisa agradável que serpenteia por entre os cabelos e a pele despida.

Há estrelas a brilhar no céu escuro e ouve-se o canto das cigarras, intenso e a quebrar o silêncio e formando uma melodia constante e repetitiva.

Aqui a brisa também percorre o quarto e faz da minha pele o seu leito de morte.

Não há estrelas, mas a luz do candeeiro é ténue e deixa sombras pouco definidas nas paredes. Enquanto as olho penso se também eu sou assim indefinida, se a minha passagem pela vida é uma sombra mal marcada, com contornos esbatidos e sem cor.

Penso em todas as pessoas que por mim passaram e nas que me marcaram e que ainda estão bem definidas na minha memória. Elas e o que com elas aprendi, o que com elas eu mudei, o que com elas eu vivi.

E pergunto-me se também eu estarei assim viva nas suas recordações. Se também eu tenho ou tive alguma importância nas suas vidas.

Pergunto-me se me pensam com o mesmo carinho que eu as penso. Independentemente do que vivemos juntos, se foi bom ou mau, se doeu ou fez sorrir... E sim, sofri muito com algumas destas pessoas, mas já lhes perdoei todos os actos, todas as palavras menos boas ou sinceras. Somos humanos e nem sempre fazemos com o objectivo de magoar. Pelo menos é nisto que acredito: que ninguém é mau por natureza. Magoamos outros na maior parte das vezes para nos defendermos, por sobrevivência e eu aceito e perdoo. Mais cedo ou mais tarde, mas perdoo, quando a dor já não é tão intensa, quando já sou mais racional que emocional.

E pergunto-me se serei diferente dos outros ou se, pelo contrário, sou igual e que pensam em mim como alguém por quem nutrem carinho e sobretudo, se já me perdoaram todo o mal ou dor ou sofrimento que, inadvertidamente, lhes possa ter causado. Porque nunca foi deliberado...



Cat.
2018.08/31

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Dias de férias





O dia nasceu não há muito tempo e lá fora o sol já se faz sentir com o seu quente típico de um dia de Verão.

Há toalhas espalhadas pelo areal e corpos de cor de canela de pele brilhante, como que beijadas pelo sol.

A água do mar está serena, formando pequenas ondas de espuma apenas quando morrem na areia.

O mar, este, não cheira como o mar do meu norte, carregado de aroma e sabor a sal. Aqui é de águas mornas e azuis esverdeadas e há quem mergulhe e se deixe invadir por toda esta imensidão.

E se revigore. E renasça. E retempere forças para mais um período de luta.

Nas férias tudo parece diferente: as preocupações ficam em casa, as birras das crianças são mais toleradas, há sorrisos nos rostos das pessoas, uma espécie de leveza.

Como se o mar, mesmo sem ondas, levasse tudo que não interessa com ele, para longe, para muito longe.

Pelo menos nestes dias de férias.

E eu mergulho de cabeça. Sem pudor de sentir na pele esta água, deslizando pelo corpo e a ela me entrego, sem qualquer pudor, na esperança de, também eu, me poder renovar.

Pelo menos nestes dias de férias...



Cat.
2018/08/29

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Prometi




Prometi escrever-te todos os dias, mas os dias passaram a ter outras prioridades.

Não que sejam conscientes ou que não te escreva de forma deliberada. Não, não é isso. Ou é. Talvez seja. Talvez eu sinta que já não há mais palavras para ti. Já não há nada que já não te tenha dito anteriormente.

Talvez.

Os dias correm na sua acelerada pressa e já não há tempo para te escrever, sabes? E o que ia dizer hoje posso sempre dizer amanhã. Ou depois de amanhã. Ou depois de depois de amanhã. E depois já não tem importância e já não há o que dizer, entendes?

Porque a dado momento, dizer que te amo parece insuficiente ou banal.

Porque a dada altura as palavras soam a rotina e não é isso que se quer.

Prometi escrever-te todos os dias, mas não há vontade.

Há apenas a necessidade de, por uns raros segundos, olhar-te nos olhos e deixar o silêncio falar nessa sua imensa intensidade e que tu ouças e percebas na mesma medida, o quanto eu tenho dentro de mim para ti. Que me ouças o sentir...

E que me abraces. Me acolhas no teu peito e me deixes respirar na segurança deste meu porto de abrigo.

Prometi escrever-te todos os dias, mas hoje não há sons que saiam de mim, não há articulação de palavras ou construção de frases. Há apenas e somente o que os meus olhos dizem e o que daí quiseres sentir...



Cat.
2018.08.28

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Diário



Nunca tive um diário. Nunca guardei memórias escritas do que já fui. Acho que nunca tive muita coisa para contar. Ou só teria memórias menos boas para guardar...
Lembro-me que escrevi pela primeira vez quando me apaixonei, também, pela primeira vez. Não, quando amei pela primeira vez. Um amor proibido. Mais que proibido era quase indecente. Eu uma jovem, ele com o dobro da minha idade. Eu mais velha quatro anos que a sua filha, ele mais novo dois que o meu pai. Um amor que não se conta às amigas e muito menos à família. E tinha necessidade de colocar por escrito muito do que sentia. O amor, as dúvidas, as certezas e o medo. Escrevia sobretudo sobre o medo: de ser descoberta, de não ser compreendida, de não ser verdadeiramente, ou pelo menos, tão amada como amava.
Sinto que deveria ter escrito sobre o quanto fui amada.
Sinto que deveria ter perpetuado esses momentos de forma quase eterna.
Mas eu não sabia nada da vida e não percebia que era, não uma diversão para ele, mas mais um tormento. Hoje relembro as imensas vezes em que me convidou para viver com ele, as inúmeras vezes que, depois de me amar, me olhava de forma apaixonada e dizia baixinho "não posso fazer isto, ainda tens tanta vida à tua frente". E eu fingia que dormia para não ter que me decidir por ele. E eu jamais decidiria por ele.
Encontrei há dias as seis ou sete páginas que dediquei a esta tão importante parte da minha vida...
Não há fotografias, nem mensagens, nem emails, Facebook ou Instagram que me traga à lembrança estas memórias. Só umas míseras páginas que falam apenas dos meus receios.
O que foi bom, está guardado dentro de mim, hoje, com um olhar tão diferente do que senti. Tão mais apaziguador, tão mais adulto e crescido.
Devia ter feito um diário de todos os beijos, de todos os toques de mão por baixo da mesa, de todos os olhares que me faziam sentir uma princesa.
Apenas para olhar para o que já passou por mim e relembrar que nem tudo foram medos, receios, dúvidas, (in)certezas ou espinhos.
Há muito mais rosas que espinhos.
Há muitos mais risos que lágrimas.
Há muito mais amor que dor em mim! Muito mais!



Cat.
18/08/2018