domingo, 13 de março de 2022

Sem palavras


Ando sem palavras... Logo eu, a quem (quase) nunca faltaram.
É verdade que os dias ganharam nova vida, trazem-me vivências diferentes, aprendizagem e crescimento. O que torna tudo ainda mais estranho.
Ando sem palavras...
Estou numa fase que não compreendo. "Numa fase", seja isso lá o que for. Sei que, apesar de me sentir bem, de estar bem, grata e feliz, não me surgem palavras. "Feliz"... Sim. Não. Nem um meio termo é.
Ando sem palavras, é o que é.
Palavras difíceis de encontrar para expressar o que me vai na mente, o que guardo na memória e o que sinto no coração.
O coração, esse maldito que sente sem pedir autorização.
A mente, essa incessante pensadora de tanta coisa que não interessa.
A memória, essa ingrata que me faz recordar quem já não tenho comigo.
A memória, como uma cómoda cheia de gavetas, quase sempre fechadas. Algumas, a malvada, deixa-as semi-abertas, prontas a escancarar o que uma data, um cheiro ou um sabor despoletam.
Tenho, apesar do momento bom que passo, gavetas abertas, carregadas de recordações que me trazem saudade e dor e lágrimas fugindo dos olhos.
São gavetas que jamais se fecharão, eu sei... Não há chave que as encerre definitivamente e se atira ao mar para não haver possibilidade de as reabrir. São gavetas cheias. Transbordantes.
Se eu as quero fechar para sempre? Não!
Eu quero poder olhar para dentro delas e a Alma não se dilacerar. Olhar para tudo o que lá está e não sangrar de dor.
Há ausências que jamais se esquecerão, mas queria não sentir a ausência, a dor ao olhar a gaveta. Queria sentir o amor, os risos, os abraços, os passeios, os beijos e os momentos vividos.
Entre o final de Abril e o início de Maio, tenho duas gavetas que sempre se abrirão... E, infelizmente, sinto que muitas lágrimas ainda cairão.
É por isso que ando sem palavras... O que os olhos não vêem, o coração não sente, dizem. Mas é mentira.


Cat.
2021.05.01

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