quarta-feira, 31 de março de 2021

Abraço apenas


Há dias em que só queres um abraço.

Um abraço em que apoias a cabeça no peito e não há mais nada. Excepto aquele bater de coração para saberes que ainda há vida em ti.

Um abraço sem palavras, sem perguntas ou dúvidas. Apenas um abraço.

Um abraço que, apesar do silêncio, te acalma a angústia, te leva os medos. Apenas um abraço.

Um abraço que te faz respirar fundo e abrandar os frenesim da mente. Apenas um abraço.

Um abraço de carinho, de amor, de confiança em ti e no futuro. Um abraço renovador. Um abraço de alento... Apenas um abraço.

Há dias em não tens coragem de o pedir apesar da enorme necessidade. E há dias em que pedes. E há dias em que recebes. E há dias em que não. Em que pedir um abraço é sinal de fraqueza. É sinal de falta de amor próprio. É sinal de mendigar pois porque carinho e amor não se pede...

Pede. E não devia ser vergonha ou sinal de fraqueza. É uma necessidade de quem sente, de quem tem vida cá dentro, de quem não pode ser forte a toda a hora. De quem é humano e também quebra. Também precisa de um momento.

Há dias em que só queres um abraço. Apenas um abraço.


Cat.

2020.01.07
 

Verdadeiramente viver


 

É nos intervalos da vida
Que a minha mente
De pensamentos
É invadida.
É nesses momentos
Em que a noite é igual ao dia
Que penso nos intensos
Teres e sentires que havia.
Nestes intervalos,
Em que os minutos passam
Devagar pelas horas,
Em que o ar que respiro,
Rarefeito, me lembra do que eras.
Viver intensamente,
Amar profundamente,
Dar-se sem freios,
E que pensámos serem para sempre,
É ilusão,
Pois tudo tem um senão:
A eternidade é apenas um momento.
E entre o viver da felicidade,
Há os intervalos da vida,
Em que viver é uma dor profunda
Em que o tempo passa,
Mas não impune.
É assim, nestes lapsos de dias,
Que mais tempo passamos
A remoer para depois renascer,
Em vez de verdadeiramente viver...


Cat.
2021.01.31

terça-feira, 30 de março de 2021

Vida em suspenso


 

Hoje parei e olhei(me) no espelho.
O rosto pálido, com marcas de cansaço, que o dia foi longo e difícil.
Mas olhei(me) para além do óbvio. Olhei(me) e vi as marcas de todos os dias que já vivi. Inclusive das horas em que apenas deixei que passassem por mim.
Sim, houve uma altura da minha vida em que os dias apenas passaram. Sem nada de relevante, sem qualquer marca que pudesse fazer deles algo diferente, que se destacasse. Não fui feliz nem infeliz. Apenas (sobre)vivi.
Não criei, não cresci, não mudei. Apenas (sobre)vivi.
Um estado de dormência contínuo apesar de acordada.
Uma inércia perante um passar de dias sempre iguais, sem mudanças.
Mas ninguém vive assim durante muito tempo e a dada altura, há a premente necessidade de olhar para (dentro) de nós. Um vazio. Um vácuo que quase se toca. Uma série de anos sem nada a destacar.
E, sem dúvida, a ruptura a chegar.
A ruptura da Alma, da nossa essência, do que perdemos, do que não vivemos.
Não somos uma parede que, apesar de de algumas rachadelas, se mantém firme, sem mostrar o passar do tempo. Nós somos folhas de papel, onde todos com que lidamos nos marcam com palavras. Folhas de papel em que o passar do tempo vai amarelecendo o branco. Como folhas de papel marcadas, pelo bom e pelo menos bom, na pele, no coração e na alma. Folhas de papel onde as nossas histórias, as nossas vivências, as nossas lágrimas e os nossos sorrisos podem ser lidos, tocados. Como um livro que se descobre.
No meu rosto já há marcas de choro, de riso, de sofrimento e de alegria.
Mas, felizmente, há espaço para muitas mais.
Para mais vida.
Para mais crescimento.
Para mais momentos que valham a pena.
Para mais pessoas a ensinar-me.
Para mais, muito mais. Porque ainda é cedo para parar e eu já estive de vida suspensa demasiado tempo.

Cat.
2020.01.06

Ele(s) X

 


Ela:
É no quente do leito que mais sinto a tua falta: há um frio quando deito a cabeça na tua almofada.
Fica apenas o teu cheiro.
Não posso mais que não seja desejar este momento eternizar, num recanto da memória e aí, para sempre o guardar ou acrescentar uma nova história.
Gosto de pensar que és meu, mesmo quando aqui não estás. Que me pensas no meio do dia e que anseias por uma nova vinda.
Sei que tens um mundo lá fora, para além desta cama e que nunca imaginei que me abalasse tanto cá dentro.
Era uma brincadeira, uma picardia e o desejo do corpo que, a cada mensagem recebida, a cada atrevida fotografia, tremia.
O desejo do pecado, do proibido, que dizem e concordo, é o mais desejado.
Esqueceram foi de avisar que a intimidade é que importa: além do corpo e do toque, a mente em sintonia.
E agora aqui deitada, mesmo no quente, sinto a cama fria...

Ele:
Acabo de fechar a porta onde ficas deitada, na cama onde acabei de te sentir toda minha.
Tenho vontade de voltar para trás e de ao teu lado, me deitar, deixar ficar e adormecer.
O êxtase em que me deixas por em ti poder entrar, leva-me as forças e deixo de pensar: só por ti anseio, por te poder tocar, sentir, penetrar e o teu sabor sentir no paladar.
És um pecado em todos os sentidos.
És o desejo tornado realidade e não imaginas o quanto te anseio.
Mas o que me retém à porta e impede de ir embora, é a minha vontade de te ter sempre minha. O teu sorriso não me abandona, o teu humor é a representação do que mais me encanta.
Mas o que me detém à porta e impede de entrar, de regressar, é a tua independência, o teu de mim não precisar.
O que te passa pela cabeça quando viro costas? Pensas em mim como eu em ti? Querer-me-às pertencer como eu pertenço a ti?
Apanhaste-me mulher, no meio do jogo em que me sentia rei, acabei por perder e se não me voltares a querer, a minha vida perde sentido, eu sei.
Mas sigo caminho e deixo-te no leito, não onde apenas te possui, mas onde o corpo e a alma amei.


Cat.
2021.01.30

segunda-feira, 29 de março de 2021

Talvez seja


 

Lá fora acontece aquele momento do dia em que o crepúsculo inicia mas a noite ainda rege o (meu) mundo. Ainda há luzes a bailar por entre os ramos das árvores despidas de folhas. Ainda não há sons de pessoas a passar na calçada, nem o som das conversas entre vizinhos no passeio da rua. Os sons são dos poucos pássaros aventureiros e destemidos que enfrentam as madrugadas de Inverno.

Aqui, dentro do meu quarto, não é diferente. Há uma vida latente, à espera que o tempo passe e se acorde para a vida se repetir na sua (im)previsível rotina.

Excepto eu.

Eu já acordei. Eu já respiro o amanhecer. Eu já despertei da tão abençoada letargia do dormir, do fechar os olhos e do não pensar. Do não ver. Do não sentir.

Às vezes penso que não sentir é uma bênção. Ser indiferente ao que me rodeia. Poder encolher os ombros como um simples "é a vida" e continuar a viver os dias de forma inabalável.

Mas não, cá dentro de mim, há coisas que não me são indiferentes. Há coisas que, apesar de não serem comigo, me abalam da mesma forma. Há coisas que vejo, por vezes até "banais" que me fazem pensar numa escala diferente, como que a pensar do que as pessoas são capazes de fazer. Há coisas que para mim são impensáveis e fico chocada, verdadeiramente chocada. E neste momento, neste preciso momento do choque, é que me apercebo que o Ser Humano é um animal que tem muito, mas mesmo muito, para aprender, para crescer, para, no fundo, se aperfeiçoar.

Talvez devesse fechar as olhos e o coração, fazer de conta que não vi e quem não vê é como quem não sabe...

Talvez seja empática em demasia.
Talvez seja expectativa em relação às pessoas em demasia.
Talvez eu me reja por um código demasiado exigente.
Talvez a minha consciência seja demasiado intransigente...
Não sei. Acho que nunca saberei. Sei apenas que me dói, a Alma e o coração, com tanta falta de amor.
Amor por nós, pelo próximo e pelos outros seres vivos.

Às vezes gostava de me manter, na exacta redundância, da dormência de (um qualquer) dormir.

Cat.
2020.01.04

Singelo


 


Singelo
O cair do dia,
Desvendando, docemente,
O que guardo comigo.
A noite a surgir,
Devagar, no seu compasso,
A ansiedade a subir
Como o desejo de (te) possuir.
Suave calor
Que do ar se esvai,
Aumenta o ardor
Nos sítios que são teus.
Não demores meu amor,
Aguardo-te com todo
O meu ser,
O meu amor,
O meu querer,
O meu te pertencer.
Assim, sem rodeios,
Singelo.


Cat.
2021.01.22

sábado, 27 de março de 2021

Só quem fica


 

Dizem que a morte é negra, sombria, pesada e fria. Dizem.
Talvez a morte seja o contrário.
Talvez a morte seja alívio.
Talvez seja a liberdade na sua mais pura forma.
Talvez seja deixar as dores do corpo, da alma e do coração para trás.
Talvez seja ver com clareza e com optimismo o largar das penas.
Talvez a morte não seja assim tão má.
Excepto para quem cá fica.
Para quem, eventualmente, possa chorar por nós.
Para quem se vai privar de nós e sentir a nossa falta.
Para quem, nos mais ínfimos detalhes se recorde de nós. Do nosso sorriso, do nosso abraço, do nosso cheiro, do nosso amor...
Para quem fica com a saudade, a ausência e o vazio.

Talvez, para esses, a morte seja negra, sombria, pesada e fria.
E só quem fica pode dizer o que é a morte...

Cat.
2020.01.03

sexta-feira, 26 de março de 2021

Pensamentos meus


 

Há dias em que me apetece isolar, deitar na cama, sentir o silêncio à minha volta e fechar-me.

Fechar-me por completo. Do mundo, dos sons, dos meus sentires e dos meus pensamentos.

Enrolar o corpo sobre mim mesma e apenas ficar assim, inerte, quase sem vida, não fosse o respirar controlado e obrigado. Sim, há dias em que até respirar me custa. Em que a vontade de o deixar de fazer é quase irresistível. E no entanto, tudo no peito parece que vai explodir. O coração acelerado, o peito cheio e a imensa vontade de gritar abafada na garganta...

Mas não, vou guardar tudo cá dentro. Fechar a sete, não, a mil chaves e engolir tudo.

Fechar-me e ao que sinto. Fechar a desilusão, a falta de empatia, a arrogância, a superioridade de uns para com os outros. Fechar-me para não sentir. Para não sofrer. Para aprender apenas a viver, um dia a seguir ao outro, horas infindáveis e minutos que param no tempo. Como a minha respiração, o meu grito contido e o bater do coração...

Cat.
2020.01.03

quinta-feira, 25 de março de 2021

Aqui...


O dia já vai quase no final da manhã e lá fora está o frio típico de um dia de Inverno, em que o sol não tem força para aquecer o corpo.
As poucas pessoas que passam na rua não têm pressa, não sentem o corropio de um qualquer dia de semana. Há um estranho silêncio a nada para um início de semana. Há uma estranha calmaria no passar do tempo, como se as horas aumentassem em minutos e houvesse tempo para se viver sem pressa. O Natal já passou e é quase véspera de ano novo. Talvez por isso, tudo pareça demasiado parado.
Aqui dentro, não é diferente. Tudo parece suspenso: o tempo, a vida, o pensamento...
Pensei em escrever sobre o Natal. Abandonei a ideia por falta de palavras. De palavras certeiras, concretas e indubitáveis. Porque o Natal é sentimento, é viver, é dar e receber muito do que não nos é possível tocar, materializar.
O Natal é uma época em que permitimos que as horas dos dias deuxem de nos impor compromissos e em que nos centramos na família, nos amigos, em quem nos aquece o coração.
Não há palavras para descrever tudo isto.
Muito menos, para descrever quem nos faz falta, quem não está presente.
O Natal é para ser vivido. É para esquecer o menos bom e pensar no que há de melhor. Em nós e nos outros.
E de parar para pensar que, estupidamente, não é preciso que seja Natal para agirmos assim, que deveria ser exactamente assim, todos os dias de todo o ano.
Talvez por isso seja uma época, junto com a transição de ano, em que se traçam novos objectivos, em que se esquecem as diferenças e se valorizam e fortificam as relações.
Em que o sentimento de amar e ser amado nos faça querer fazer mais por nós e pelos outros.
Em que a empatia nos faça sentir que todos somos humanos e, por inerência, falhos.
Em que perdoar, perdoar verdadeiramente, nos faça ser melhor. Por nós e pelos outros.
Aqui, não há resoluções de Ano Novo.
Aqui, há o cliché da certeza que o Natal deveria ser todo o ano. Por nós e pelos outros.
Talvez o Natal exista para nos fazer parar, pensar e crescer. Como pessoas, como seres humanos. Por nós e pelos outros.
Aqui... Aqui faltam as palavras mais acertadas para falar sobre o (meu) Natal.



Cat.
2019.12.30




terça-feira, 16 de março de 2021

Mulher


 

Há subtileza
No andar de uma mulher.
Há sedução
No olhar de uma mulher.
Há desejo
Na boca de uma mulher.

Mas numa Mulher
Também há quereres
Que vão além da imaginação.
Há barreiras que se transpõem
E não regresso possível.

É uma prisão,
Em que todos os sentidos se elevam
E em que a entrega louca,
Total,
Luxuriante,
é inevitável!


Cat.
2020.05.21

quarta-feira, 3 de março de 2021

Fosse minha


 

Lá fora a chuva cai num compasso escrito por notas de água, sem qualquer preocupação com o ritmo e a velocidade a que caiem na minha janela.
O vento acompanha-a, como guia numa viagem e abraça de forma desordenada e estontante as folhas das árvores por ela molhadas.
Cá dentro nada mais que essa paisagem, de verde igual ao de ontem, mas com esse movimento que me hipnotiza e me deixa, no sofá, de olhar vago, mergulhada nesse momento que parece parar.
Não penso em nada, a mente está vazia, sem qualquer pensar...
Mas os meus olhos acompanham o que vai acontecendo lá fora e, nesse emaranhado de chuva e vento, caiem, pelo rosto, lágrimas salgadas.
Não me perguntem porquê: não sei, não há motivo e não há razão lógica.
É uma sintonia.
É uma parceria.
É uma companhia.
É uma empatia.
É como se eu fosse um nada, despido de um irracional despojado de sentir. E, no entanto, sinto tanto como o Mundo que, lá fora, chora.
Choro por um aperto no peito que não é meu.
Choro porque a Alma não se acalma com tudo o que é meu.
É mais que este corpo que tem tudo o que sonhou. É como se eu fosse o Mundo que com ele sente o que nunca pensou: sentir as dores dos outros, sem as saber distinguir. São minhas, são tuas, são de todos os que se estão a redimir.
A chuva cai, o vento guia.
A minha Alma chora, como se toda essa dor fosse minha...


Cat.
2021.02.02