Mostrar mensagens com a etiqueta Silêncios. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Silêncios. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 30 de março de 2021

Vida em suspenso


 

Hoje parei e olhei(me) no espelho.
O rosto pálido, com marcas de cansaço, que o dia foi longo e difícil.
Mas olhei(me) para além do óbvio. Olhei(me) e vi as marcas de todos os dias que já vivi. Inclusive das horas em que apenas deixei que passassem por mim.
Sim, houve uma altura da minha vida em que os dias apenas passaram. Sem nada de relevante, sem qualquer marca que pudesse fazer deles algo diferente, que se destacasse. Não fui feliz nem infeliz. Apenas (sobre)vivi.
Não criei, não cresci, não mudei. Apenas (sobre)vivi.
Um estado de dormência contínuo apesar de acordada.
Uma inércia perante um passar de dias sempre iguais, sem mudanças.
Mas ninguém vive assim durante muito tempo e a dada altura, há a premente necessidade de olhar para (dentro) de nós. Um vazio. Um vácuo que quase se toca. Uma série de anos sem nada a destacar.
E, sem dúvida, a ruptura a chegar.
A ruptura da Alma, da nossa essência, do que perdemos, do que não vivemos.
Não somos uma parede que, apesar de de algumas rachadelas, se mantém firme, sem mostrar o passar do tempo. Nós somos folhas de papel, onde todos com que lidamos nos marcam com palavras. Folhas de papel em que o passar do tempo vai amarelecendo o branco. Como folhas de papel marcadas, pelo bom e pelo menos bom, na pele, no coração e na alma. Folhas de papel onde as nossas histórias, as nossas vivências, as nossas lágrimas e os nossos sorrisos podem ser lidos, tocados. Como um livro que se descobre.
No meu rosto já há marcas de choro, de riso, de sofrimento e de alegria.
Mas, felizmente, há espaço para muitas mais.
Para mais vida.
Para mais crescimento.
Para mais momentos que valham a pena.
Para mais pessoas a ensinar-me.
Para mais, muito mais. Porque ainda é cedo para parar e eu já estive de vida suspensa demasiado tempo.

Cat.
2020.01.06

segunda-feira, 29 de março de 2021

Talvez seja


 

Lá fora acontece aquele momento do dia em que o crepúsculo inicia mas a noite ainda rege o (meu) mundo. Ainda há luzes a bailar por entre os ramos das árvores despidas de folhas. Ainda não há sons de pessoas a passar na calçada, nem o som das conversas entre vizinhos no passeio da rua. Os sons são dos poucos pássaros aventureiros e destemidos que enfrentam as madrugadas de Inverno.

Aqui, dentro do meu quarto, não é diferente. Há uma vida latente, à espera que o tempo passe e se acorde para a vida se repetir na sua (im)previsível rotina.

Excepto eu.

Eu já acordei. Eu já respiro o amanhecer. Eu já despertei da tão abençoada letargia do dormir, do fechar os olhos e do não pensar. Do não ver. Do não sentir.

Às vezes penso que não sentir é uma bênção. Ser indiferente ao que me rodeia. Poder encolher os ombros como um simples "é a vida" e continuar a viver os dias de forma inabalável.

Mas não, cá dentro de mim, há coisas que não me são indiferentes. Há coisas que, apesar de não serem comigo, me abalam da mesma forma. Há coisas que vejo, por vezes até "banais" que me fazem pensar numa escala diferente, como que a pensar do que as pessoas são capazes de fazer. Há coisas que para mim são impensáveis e fico chocada, verdadeiramente chocada. E neste momento, neste preciso momento do choque, é que me apercebo que o Ser Humano é um animal que tem muito, mas mesmo muito, para aprender, para crescer, para, no fundo, se aperfeiçoar.

Talvez devesse fechar as olhos e o coração, fazer de conta que não vi e quem não vê é como quem não sabe...

Talvez seja empática em demasia.
Talvez seja expectativa em relação às pessoas em demasia.
Talvez eu me reja por um código demasiado exigente.
Talvez a minha consciência seja demasiado intransigente...
Não sei. Acho que nunca saberei. Sei apenas que me dói, a Alma e o coração, com tanta falta de amor.
Amor por nós, pelo próximo e pelos outros seres vivos.

Às vezes gostava de me manter, na exacta redundância, da dormência de (um qualquer) dormir.

Cat.
2020.01.04

sexta-feira, 26 de março de 2021

Pensamentos meus


 

Há dias em que me apetece isolar, deitar na cama, sentir o silêncio à minha volta e fechar-me.

Fechar-me por completo. Do mundo, dos sons, dos meus sentires e dos meus pensamentos.

Enrolar o corpo sobre mim mesma e apenas ficar assim, inerte, quase sem vida, não fosse o respirar controlado e obrigado. Sim, há dias em que até respirar me custa. Em que a vontade de o deixar de fazer é quase irresistível. E no entanto, tudo no peito parece que vai explodir. O coração acelerado, o peito cheio e a imensa vontade de gritar abafada na garganta...

Mas não, vou guardar tudo cá dentro. Fechar a sete, não, a mil chaves e engolir tudo.

Fechar-me e ao que sinto. Fechar a desilusão, a falta de empatia, a arrogância, a superioridade de uns para com os outros. Fechar-me para não sentir. Para não sofrer. Para aprender apenas a viver, um dia a seguir ao outro, horas infindáveis e minutos que param no tempo. Como a minha respiração, o meu grito contido e o bater do coração...

Cat.
2020.01.03

quarta-feira, 3 de março de 2021

Fosse minha


 

Lá fora a chuva cai num compasso escrito por notas de água, sem qualquer preocupação com o ritmo e a velocidade a que caiem na minha janela.
O vento acompanha-a, como guia numa viagem e abraça de forma desordenada e estontante as folhas das árvores por ela molhadas.
Cá dentro nada mais que essa paisagem, de verde igual ao de ontem, mas com esse movimento que me hipnotiza e me deixa, no sofá, de olhar vago, mergulhada nesse momento que parece parar.
Não penso em nada, a mente está vazia, sem qualquer pensar...
Mas os meus olhos acompanham o que vai acontecendo lá fora e, nesse emaranhado de chuva e vento, caiem, pelo rosto, lágrimas salgadas.
Não me perguntem porquê: não sei, não há motivo e não há razão lógica.
É uma sintonia.
É uma parceria.
É uma companhia.
É uma empatia.
É como se eu fosse um nada, despido de um irracional despojado de sentir. E, no entanto, sinto tanto como o Mundo que, lá fora, chora.
Choro por um aperto no peito que não é meu.
Choro porque a Alma não se acalma com tudo o que é meu.
É mais que este corpo que tem tudo o que sonhou. É como se eu fosse o Mundo que com ele sente o que nunca pensou: sentir as dores dos outros, sem as saber distinguir. São minhas, são tuas, são de todos os que se estão a redimir.
A chuva cai, o vento guia.
A minha Alma chora, como se toda essa dor fosse minha...


Cat.
2021.02.02

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Solidão

A imagem pode conter: céu, ar livre, água e natureza

A solidão é uma porta aberta: apanha-te desprevenida e quando dás conta, está confortavelmente instalada.
Queres que saia, que se vá, que te deixe tão rápido quanto o chegou e... Nada. Apenas o silêncio. O constante silêncio da solidão.
Nada mais adentra dentro de ti como a solidão.
Nada mais se apodera de ti como a solidão. Por muito que dela necessites. E todos necessitamos. Em algum momento somos nós que a procuramos, somos nós quem a desejamos e a convidamos a entrar. E aí é fácil gerir a estadia.
Mas não é dessa solidão que falo. É da outra. Daquela que sentes quando os outros te desiludem. Quando os outros não agem de igual forma perante a vida, a amizade e o relacionamento. Aquela solidão em que sentes que apenas uma das partes dá. Tudo. Uma e outra vez. Aquela solidão que aparece nas pequenas coisas que, para ti são óbvias, mas para os outros nem com desenhos a mexer. Quando pensas que é tão simples colocares-te no lugar do outro, que não imaginas não o fazer, que te é inconcebível não lhe vestires a pele. Não conseguires pensar nos motivos, razões e decisões. Mesmo que jamais as tomasses de igual modo.
Quando te preocupas e pensas no bem estar dos outros mais do que quem o deveria.
Quando conversas de forma justa e compreensiva.
Quando, argumentas sem causar danos ou dor - porque a verdade dói, mas não precisa de ser bruta.
A solidão não é só ausência de pessoas. A solidão é, muitas vezes, a ausência de empatia...
A solidão é sentires-te deslocada, diferente e pensares que deverias, com toda a certeza, ser um ser, como a maioria, banal.

Cat
2019.08.18

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Fugir(me) III


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas


É verdade que ando fugida.
É verdade que ando com um humor que nem eu sei descrever. Ora acutilante a roçar o azedo, ora apenas sarcástico.
As mudanças na vida estão a acontecer a um ritmo alucinante e as incertezas, o receio do que aí vem estão a dominar-me a mente mais do que o desejável.
As inseguranças nas minhas capacidades são mais que muitas.
E não sei porquê.
Sei que sou inteligente. Sim, sei e sem qualquer modéstia.
Sei que sou capaz de ultrapassar desconhecimento. Abençoada internet que facilita o acesso à informação.
Sei que tenho uma capacidade de compreensão e apreensão acima da média. Tenho provas disso em toda e qualquer tarefa a que me proponha.
Tenho provas disso quando prevejo situações e as evito antecipadamente.
Tenho tudo e, cá dentro, nesta mente que não pára, acho que não tenho nada.
Sinto que há mais pelo que falhar do que pelo acertar.
Sinto que... Sei lá o que sinto!
Sinto medo. Sim, um medo irracional de não cumprir, de falhar, de não corresponder às expectativas.
E o eu racional sabe que nunca aconteceu. Sabe que hei-de sempre suplantar-me e resolver tudo e qualquer coisa que esteja ao meu alcance.
E o eu emocional, como um bichinho na cabeça, está sempre com o "e se...?" em background, tipo mensagem subliminar a plantar dúvidas.
Às vezes penso que não sou normal. Que se sei não devia duvidar.
E há dias em que tento perceber o que me leva a pensar que falharei, se nunca falhei.
E a única certeza que acabo por ter é que a nossa mente é um complexo mundo, dividido entre o que sabemos e o sentimos. O racional e o emocional.
Enquanto andar perdida nesta estóica necessidade de (auto) compreensão andarei fugida dos outros, tentando encontrar a Mim.

Cat.
2019.06.26

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Talvez


Talvez um dia eu escreva sobre o que já vivi, em jeito de memórias, em jeito de biografia.Talvez. Mas hoje, só por hoje e neste agora, escrevo sobre o que sinto. Numa espécie de linha temporal, numa espécie de diário dos meus sentires. Dos meus altos e baixos. Um espelho que nada tem de imparcial, apenas uma descrição pessoal e carregada de tendência. A minha perspectiva do que vai acontecendo sem tirar conclusões, sem fazer análises profundas ou levianas.
Sem necessidade de apoio ou crítica, sem esperar sequer que pensem ou opinem e muito menos que daqui ensinamentos tirem.
Deixar a caneta fluir tanto quanto os pensamentos. Tanto quanto a minha volatilidade como ser sentinte que sou. Tanto quanto os meus sorrisos fáceis ou lágrimas sofridas. Tanto quanto a minha humilde humanidade permitir. A felicidade de uma alegria ou a dor de uma tristeza, o (des)amor ou a frustração de um revés.
Sentimentos exclusivos, que são só meus e que pretendo nunca esquecer.
Talvez um dia eu venha a escrever sobre as lições da (minha) vida.
Mas hoje quero apenas escrever sobre o conjugar do meu verbo sentir.

Cat.
2019.05.13

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Sem chão

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e sapatos

Caminho sem chão
Feito núvem negra,
Vazia de sensação,
Quase uma regra
De tanta repetição.
Cair, apenas cair,
E saber de antemão
Que não há palavra ou descrição
Com ou sem razão
Para traduzir,
Transmitir,
Este sentir,
Que parece ser em vão
Não importa qual a decisão.
Há que andar,
Para a frente caminhar,
Sem muito pensar,
Deixar os dias passar
Porque não agir,
Apenas seguir
E deixar-se ir,
Nem sempre é fugir,
Às vezes é apenas
A única solução.


Cat.
2019.05.03

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Demasiado, talvez...


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas sentadas, sala de estar, mesa e interiores

Há momentos em que, apesar da companhia, estou sozinha. Não há conversas. Não há troca de palavras, de ideias, de acontecimentos, de vivências.
Há solidão.
Há aquele silêncio que se impõe apesar do burburinho das vozes na televisão.
Há um não haver. Um nada que quase se consegue tocar de tão intensa a sua presença.
E olhas a sala e não estás sozinha. Não te falta companhia.
Mas há silêncio.
Há solidão.
E há a tristeza que te vai invadindo.
A tristeza de não haver nada para contar.
A tristeza de sentires que a tua vida, se calhar, não é vivida como deveria.
A tristeza de sentires que não consegues combater e o silêncio que vai crescendo entre nós...
Há dias em que este silêncio é bem-vindo.
Há outros em que só me agonia. Em que me deixa entregue a um pensar pequeno, em que tudo é pequeno na minha vida, em que, principalmente, eu sou pequena. Em que não consigo surpreender(te). Em que não consigo manter(te) o interesse. Em que não consigo requerer(te) a atenção. Em que não (te) sou suficiente.
Síndrome de Princesa, talvez.
Insegurança, talvez. Medo, talvez.
Apenas por (te) amar. Por (te) querer. Por nunca me cansar. Por nunca ser demais. Demasiado, talvez...

Cat.

2019.04.25

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Tudo

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas em pé e closeup

O dia já acordou há algumas horas e chora compulsivamente, de forma quase constante. O céu está negro, sombrio por culpa de núvens escuras e tristes.

Não há pássaros a cantar, anunciando a Primavera.

Não há o cheiro de flores no ar, nem de jasmim, nem de laranjeira.

Há a chuva que cai e tudo invade. Numa cadência sem ritmo. Num musical que ninguém pára para ouvir, que não encanta e que ninguém quer sentir. Os passos na calçada são rápidos, apressados, desviando-se dos aglomerados dessa água que cai, desses lagos miniatura que formam na rua. Guarda-chuvas coloridos escondem os rostos de quem por ali passa. Não há olhares contemplativos ou enternecidos ou de espanto para o rio. Os barcos são raros e seguem quase vazios, sem risos, sem fotógrafos de momentos, sem grande vida.

Há a chuva que cai e tudo invade.

Até o rio se rende e, no seu correr, fica inerte, deixando apenas as gotas da chuva marcar a sua passagem, em círculos de ritmos constantes.

E eu, deste lado da janela, compreendo esta regra: há situações que não vale a pena contestar, contra elas lutar. Às vezes é preferível deixar andar, deixar a tempestade passar e, ao seu ritmo, bailar, sem muitas ondas levantar e apenas esperar, porque tudo, tudo acaba por passar....

Cat.
2019.04.15

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Perdas


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas em pé, céu, nuvem e ar livre
Eu sei o que é passar pela perda de alguém. Sofrer, chorar, voltar a chorar, desesperar e chorar ainda mais. Até as lágrimas secarem.
Eu sei, eu sei como é.
É o mundo quase desabar. Fugir por debaixo dos pés. É perder o chão e nunca mais dar um passo firme.
Eu sei. Já perdi. Já sofri e acho que nunca mais regressei a mim, ao que era.
É um vazio que fica, aqui, bem no meio do peito. Que chega a doer, a sufocar, a sugar o ar e a transbordar de nada.
É uma dor que não se descreve porque tanto nos mata com a falta como nos esmaga de tão assoberbada.
E as saudades tudo menos indeléveis. São profundas e inesgotáveis como o amor que se sente.
E a certeza de que muito ficou por dizer, por fazer, por viver, por partilhar, por sorrir e chorar é, quase, arrependimento. Por não ter sido mais. Mais abraços, mais beijos, mais amo-te e mais, muito mais tempo apenas contemplando-te. Guardando em mim cada traço no rosto, cada cabelo desalinhado, cada respirar no meu ouvido no teu peito encostado.
Sim, eu sei o que é perder alguém. E também sei que a vida continua e nos atenua a dor. Devagar, bem mais devagar do que desejaríamos, mas atenua...

Cat.
2019.04.05

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Fugir

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas sentadas e ar livre

Hoje vou ler um livro.

Um qualquer, não importa o título, não importa o conteúdo, hoje vou ler um livro.

Um que me leve para outro lugar. Encantado ou maltratado. Brilhante, vibrante ou negro, sombrio.

Um livro que me dê vontade de não regressar à minha realidade. Que me envolva, me leve e não me devolva. Que me faça rir ou chorar, desde que desmedidamente.

Um livro que me ensine que não há limites para a imaginação ou para a dura verdade. Que me faça sonhar com o amor e a paixão e com a desilusão da perda e da dor.

Hoje vou ler um livro. Para não lidar comigo. Para não olhar para o que o dia traz. Para não pensar, não sentir e não chorar apenas por mim. Para que os meus dias sejam mais do este passar de horas, sem rumo, sem desejos ou ânsias. No fundo, sem futuro...

Cat.

2019.04.04

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Medo em mim

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e sapatos

Sim, há medo em mim.

Um medo, talvez irracional, mas há.

Medo de mudanças. Medo de falhar. Medo de não fazer a(s) escolha(s) certa(s). Medo. Há quem diga insegurança, mas não deixa de ser medo.

A vida é feita de opções, a cada dia, a cada momento e não há nada que possamos fazer para as evitar. Nada. Há que decidir, avançar ou recuar ou manter a posição. Mas há sempre uma decisão a tomar. E há sempre o mesmo medo. De não saber se rstamos a decidir bem.

E este medo aumenta com a idade. Ou com a maturidade. É proporcional à quantidade de compromissos que vamos assumindo na vida. Quando não há compromissos tudo é mais simples, tudo é de mais fácil resolução e menos, muito menos assustador. Havendo é tudo muito diferente. Tudo aumenta. Até o medo.

Sim, decidir não é fácil, em especial quando implica mudanças que nos afectam as rotinas, e sobretudo, as certezas.

Pois que abalar as nossas certezas e ter que nos adaptar é que assusta, mete medo.

A verdade é que a cada mudança, a cada nova decisão e a cada novo medo, eu vou conseguindo superar-me. Vou sendo capaz de me adaptar, de aceitar e, muitas vezes, de me surpreender.

Haverá então motivo para ter medo? Para eu sentir esse aperto no coração?

Talvez sim. Talvez o medo impeça o meu ego de se mostrar, exacerbado e implacável.

Talvez não. Talvez o medo impeça que eu viva de forma mais tranquila e acredite no que sou, no quanto valor tenho e na minha capacidade de adaptação.

Não sei. Só sei que há medo, há medo em mim.

Cat.
2019.03.26

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Dias assim

Nenhuma descrição de foto disponível.Demoramos uma vida para acreditar que somos bons, que temos valor, que há algo positivo no que somos, no que fazemos ou pensamos.

Demoramos um minuto a desabar essa crença, a perder a confiança, a desacreditar em nós. A colocar tudo em causa, a olhar para os defeitos e a dar-lhes mais importância do que às qualidades.

É verdade, num minuto tudo muda e basta uma palavra, principalmente se for de quem gostamos, para nesse instante nos sentirmos uma merda.

E é isto que me sinto agora, uma merda. Um nojo de pessoa. Uma inútil. Uma incompetente. Uma desleixada. Uma gigante merda.

Apesar de cá dentro, bem no fundo do meu ser eu saber que não o sou.

Mas é como me sinto. E hoje é dia de deixar as lágrimas correrem com toda a força e adormecer em auto-comiseração...

Porque há dias assim.

Cat.
2019.03.22

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

...

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas

Há dias em que me sinto folha perdida no chão: amarrotada, seca, sem cor, sem rumo, sem prazer ou dor. Apenas folha caída, sem vida para ser vivida...

Cat.
2019.02.19

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Simples



A noite avança ao ritmo a que já nos habituou para um dia de Inverno: antecipa-se na chegada e arrasta-se na partida. Passa pois, lenta e demoradamente.

Está frio lá fora e os pingos de chuva já não se fazem sentir no chão da calçada nem nos vidros da janela. Há uma pequena lembrança da sua presença nas ervas e nas folhas dos trevos, carregadas de bolhas de água de vários tamanhos, juntas mas não unidas, com as bordas pintadas de um branco cor de neve. As árvores ao longe agitam-se levemente, apenas o suficiente para fazerem as luzes das estradas bricarem, aparecendo e desaparecendo, ora aqui, ora acolá.

E eu vou-me perdendo nesse jogo de brilhos na noite escura, inebriada com a simplicidade de tal beleza.

Dou por mim a pensar que, às vezes, é tudo tão... Simplesmente belo. Sem confusão, sem ruídos que nos toldam as decisões, sem grandes desenvolvimentos ou consequências. Simplesmente belo.

Simples, como o baloiçar ao sabor do vento. Belo como as luzes que brincam por entre as folhas.

Simples, como o bater das ondas na areia. Belo como as cores das flores na Primavera.

Simples como o teu abraço no meu corpo. Belo como o teu olhar cor de mar me sorri e me alimenta de esperança quando os dias não são simples.

Simples como o teu calmo respirar no meu ouvido. Belo como o amor que nos tem, assim e sempre, unido...


Cat.
2018.12.21

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Gritar



Ahhhhhhhhhhhhhhh!

Gritar!
De boca bem aberta.
Até a garganta doer, até a saliva secar!
Expulsar o que me atormenta, o que não me deixa acalmar.
Só(mente) e apenas para a mente parar, deixar de pensar.

Sozinha.
Apenas eu e a minha companhia, os meus fantasmas do passado e do futuro.
Sem ouvinte, sem frases faladas, de apenas palavras balbuciadas sem sentido e sem razão.
Largadas neste ar que volto a respirar.

E chorar.
Compulsivamente.
Até os olhos fecharem de tantas lágrimas soltarem.
Purgar todas as dores, receios e anseios.
Lavar a alma nesse sal que vem de dentro, impuro, intenso e (sempre) libertador.

E (finalmente) poder descansar.
Dormir e sonhar com a esperança de que amanhã tudo irá melhorar.



Cat.
2018.12.15

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Temo II



Temo que o tempo não me chegue. Que se esgote, que se acabe, sem se fazer anunciar. E que eu não diga o que tenho cá dentro, o que possa estar a guardar.
Temo que não tenha dias suficientes. Que os momentos passem por entre os minutos incólumes e serenos. E que eu não viva o que ainda me falta viver.
Temo não sentir o suficiente. E que eu vagueie por esta gente sem provar todos os sentires.
E por isso não quero deixar de dizer. Não quero deixar de me levar ao extremo do sentir, do querer e viver.
Temo tanto que por vezes sei que sou demasiado.
E eu quero tanto não perder tempo, não ser apenas um ser que (sobre)vive.
Quero sentir: o sangue correr em mim, o coração descompassado e acelerado, os olhos encherem-se de lágrimas, os lábios de sorrisos e a pele arrepiar.
Temo... Temo que o marasmo do quotidiano jamais me abandone e me tolha a acção. Temo nunca conseguir deixar de viver apenas o seguro de uma vida certa a imaginar a liberdade de viver a (in)certeza de apenas viver o sentir, no corpo, na mente e na Alma.


Cat.
2018.12.05

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Desacreditar





Pergunto-me porque as pessoas não são sinceras. É por medo, seja ele qual for? Medo da culpa, da vergonha? Ou será apenas por oportunismo?
Pergunto-me que necessidade há de mentir e deixar no ar a dúvida. É por egoísmo, por inveja ou pura maldade?
Eu sei que ninguém é dono de toda a verdade. Ninguém é perfeito e às vezes as palavras saiem das bocas, por entre os lábios, mais depressa que o pensar. E muitas vezes instala a dúvida. Abala alicerces que achamos profundos, seguros, (quase) inabaláveis.
Porque ninguém é perfeito.
E devido a essa imperfeição estamos à espera do erro, da (suposta) falha.
É fácil uma palavra mais duvidosa deixar-nos a pensar, a duvidar.
E porquê? Porque estamos constantemente a ser bombardeados com o mal que se faz, com o apontar de erros, com a constante necessidade de mostrar que somos falhos.
Pergunto-me porque não são as pessoas sinceras.
O medo de falhar, de ser acusado, de ser apontado, de ser culpado é a causa. Então, há que atacar para ter a melhor defesa.
E há a maldade. Aqueles que não são felizes e não podem, não aguentam, não compreendem a (muitas vezes rara) felicidade de com quem privam. Maldade, pura e simples. Ou infelicidade. Ou incapacidade.
Continuo contudo a não perceber... Ou melhor, eu percebo, mas não consigo aceitar.
E é isto que, por defeito, me faz desacreditar.


Cat.
2018.10.31

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Silêncios XIV



A noite vai a meio do seu curso e reina com todo o seu esplendor.
Não há sons, tudo é silêncio. Um silêncio ensurdecedor, enorme, gigante.
Não há pessoas a passar na calçada ou pássaros a esvoaçar.
Não há folhas nas árvores a baloiçar ao sabor da brisa pois esta também está ausente.
É como se tudo parasse, ficasse imóvel, estagnado. Mas não, o tempo continua a passar sem se deter ou fazer caso desta inusitada paragem na vida.
O silêncio é tal que, aqui dentro deste quarto, do lado de dentro da janela, ouço o bater do meu coração.
Forte, ritmado, no peito. O único sinal de que ainda há vida aqui. Lá fora e em mim.
É que também eu estou suspensa na vida. Com a única certeza de que apenas o silêncio do futuro me espera.
E tudo em mim é silêncio. Mesmo de olhos abertos, a mente não se desperta, não se alimenta, não me fala da habitual forma inquieta. Dorme, mas também não descansa. Está em constante alerta, à espera da hora certa para despertar. Como o dia lá fora.
E o silêncio impera: na mente, no quarto e na noite.
Só o bater do coração me assegura que não, que ainda não estou morta...


Cat.
2018.10.22