Lá fora acontece aquele momento do dia em que o crepúsculo inicia mas a noite ainda rege o (meu) mundo. Ainda há luzes a bailar por entre os ramos das árvores despidas de folhas. Ainda não há sons de pessoas a passar na calçada, nem o som das conversas entre vizinhos no passeio da rua. Os sons são dos poucos pássaros aventureiros e destemidos que enfrentam as madrugadas de Inverno.
Aqui, dentro do meu quarto, não é diferente. Há uma vida latente, à espera que o tempo passe e se acorde para a vida se repetir na sua (im)previsível rotina.
Excepto eu.
Eu já acordei. Eu já respiro o amanhecer. Eu já despertei da tão abençoada letargia do dormir, do fechar os olhos e do não pensar. Do não ver. Do não sentir.
Às vezes penso que não sentir é uma bênção. Ser indiferente ao que me rodeia. Poder encolher os ombros como um simples "é a vida" e continuar a viver os dias de forma inabalável.
Mas não, cá dentro de mim, há coisas que não me são indiferentes. Há coisas que, apesar de não serem comigo, me abalam da mesma forma. Há coisas que vejo, por vezes até "banais" que me fazem pensar numa escala diferente, como que a pensar do que as pessoas são capazes de fazer. Há coisas que para mim são impensáveis e fico chocada, verdadeiramente chocada. E neste momento, neste preciso momento do choque, é que me apercebo que o Ser Humano é um animal que tem muito, mas mesmo muito, para aprender, para crescer, para, no fundo, se aperfeiçoar.
Talvez devesse fechar as olhos e o coração, fazer de conta que não vi e quem não vê é como quem não sabe...
Talvez seja empática em demasia.
Talvez seja expectativa em relação às pessoas em demasia.
Talvez eu me reja por um código demasiado exigente.
Talvez a minha consciência seja demasiado intransigente...
Não sei. Acho que nunca saberei. Sei apenas que me dói, a Alma e o coração, com tanta falta de amor.
Amor por nós, pelo próximo e pelos outros seres vivos.
Às vezes gostava de me manter, na exacta redundância, da dormência de (um qualquer) dormir.
Cat.
2020.01.04
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