sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Silêncios XIV



A noite vai a meio do seu curso e reina com todo o seu esplendor.
Não há sons, tudo é silêncio. Um silêncio ensurdecedor, enorme, gigante.
Não há pessoas a passar na calçada ou pássaros a esvoaçar.
Não há folhas nas árvores a baloiçar ao sabor da brisa pois esta também está ausente.
É como se tudo parasse, ficasse imóvel, estagnado. Mas não, o tempo continua a passar sem se deter ou fazer caso desta inusitada paragem na vida.
O silêncio é tal que, aqui dentro deste quarto, do lado de dentro da janela, ouço o bater do meu coração.
Forte, ritmado, no peito. O único sinal de que ainda há vida aqui. Lá fora e em mim.
É que também eu estou suspensa na vida. Com a única certeza de que apenas o silêncio do futuro me espera.
E tudo em mim é silêncio. Mesmo de olhos abertos, a mente não se desperta, não se alimenta, não me fala da habitual forma inquieta. Dorme, mas também não descansa. Está em constante alerta, à espera da hora certa para despertar. Como o dia lá fora.
E o silêncio impera: na mente, no quarto e na noite.
Só o bater do coração me assegura que não, que ainda não estou morta...


Cat.
2018.10.22

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