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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Folhas que caem


 

A tarde avança, num místico nevoeiro e chuva miudinha, como num normal dia de Inverno.
A verdade é que não é um dia normal, há muito que não há dias normais.
Lá fora só se ouve a chuva e os pássaros. As folhas cor de mel das árvores encurraladas em cantos, amontoadas pela água que as empurra.
Aqui dentro, nada de normal se passa, estamos como as folhas: encurralados, obrigados a estar confinados, presos nas nossas próprias casas.
Nos poucos momentos em que saímos, não voamos como os pássaros, não sentimos o cheiro à terra molhada, nem o perfume das pessoas que passam.
Não, não é um dia de Inverno normal.
É um momento, já demasiado longo, em que a vida (quase) está em suspenso.
Pior, vive-se no medo, na incerteza do futuro, na dúvida do que vemos e ouvimos, na dualidade de querer ser livre e querer ser responsável.
Hoje sinto que são páginas do livro da minha vida que estou a queimar... A perder e a deixar de viver e de alguma coisa realizar.
Como folhas que caem no ar e morrem amontoadas, num canto qualquer.


Cat.
2021.01.26

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Caminhos a fazer


 



Há caminhos a fazer.
Há muito para aprender, crescer e ser.
Há, em cada experiência, um evoluir, muitas vezes regredir, mas é assim, com estes passos, ora para a frente, ora para trás, que nos fazem.
E não, não há passos que possam ser desfeitos.
Há, é sempre a possibilidade de não os voltar a percorrer.
E quando me olho, no espelho da verdade, vejo que carrego muita bagagem.
Muitas dores, tristezas e lágrimas, culpa.
Carrego o que devia deixar no passado.
Prendem-se, sugam-me e sufocam tudo que há em mim.
Não sou perfeita.
Há que o aceitar.
E há que perceber que, ao longo dos anos, vamos sendo muitos "eus". Os que realmente somos e os que nos impõem.
No espelho da verdade vou ver-me na realidade, no fundo do meu ser, do meu peito, do meu coração... Da minha Alma. E sei que qualquer erro que cometi, foi sem maldade.
Há que me perdoar e aceitar.
E vou, a partir daí, viver livre, leve e segura de que o futuro só pode ser melhor!


Cat.
2021.01.22

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Perdida nos dias






Perdida nos dias,
Sem rumo,
Sem alento,
Horas perdidas como fumo,
Levado pelo vento.

Há na noite
Uma esperança,
Vã, quase imperceptível,
Que avança
E, às vezes, quase visível.

Não sei o que me move,
É uma força indescritível,
De acreditar que há
Mais para além da vida.

Um sentimento de falta,
Um sentimento de impotência,
Ao mesmo tempo esperança,
Como que uma crença.

Dúbias palavras,
Contraditórias até,
Mas assim é minh'Alma,
Que não sabe quem é.

Procuro cá dentro,
Em mim,
Procuro cá fora,
Em tudo e no mar sem fim.

Espero caminhar,
Nas horas dos dias que passam,
Com alguém a iluminar,
Cada meu passo dado,
Com amor infinito.


Cat.
2021.01.19

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Avó


 

Há dias que não se esquecem.
Não importa o ano, muitas vezes as datas, com o tempo, se esvanecem.
Mas hoje, um dia 3 de Dezembro, há uns anos, marcou-me e jamais o esquecerei.
Lembro-me dos seus olhos azuis, diferentes dos meus e dos da minha mãe. É verdade que as cataratas, mais para o fim, não ajudavam a definir o azul, mas lembro de serem cor do céu em dia de Verão. Imensos e intensos.
Recordo o seu humor, numa malandrice escondida de quem já não tem pudor.
E o seu riso! Como era contagiante e sempre presente, mesmo quando a tosse teimava em levar a melhor.
Um dia pediu para passarmos a levar camisolas, que com a idade eram mais aconchegantes...
E recordo ainda mais as suas mãos, os dedos recolhidos, tolhidos pelas artroses de quem nunca teve tempo para as tratar.
Imagino a dor... Não só a de não se poder mexer um elemento básico do corpo, como a dor e frustração de não conseguir apertar um botão de uma blusa.
Mas o sorriso nunca a abandonou. E a gulodice. "Bolachas, mas só dois ou três pacotes que as irmãs malvadas roubam tudo. Eu sei quando vão comer-me as bolachas." E logo de seguida uma inconfidência sobre a incontinência de uma delas e a gargalhada como quem diz: cá se fazem, cá se pagam!
Nunca fomos íntimas. A relação degradada entre mãe e filha não mo permitiram. Mas havia um amor, um carinho inerente a quem é sangue do mesmo sangue, para quem se olha e vê parte de si. E eu era a "sua netinha". Aquela a quem deu 100 contos para o vestido de noiva. Sou um desastre: nunca casei... Acho que nunca se importou com tal.
Hoje faz anos que recebi a notícia da sua partida. E recordo os seus curtos cabelos quase todos brancos e a alegria que sempre tinha no rosto mesmo que não fosse o que o sentisse no seu coração.
Como é vívida a imagem do seu sorriso na minha memória!
Sim, há dias que nos marcam. Pela tristeza e pela alegria das recordações...


Cat.
2020.12.03

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Decadência


 

Há chuva lá fora. Cai num compasso incerto como que adivinhando os meus pensamentos.
Os dias têm corrido quase sempre iguais, num confinamento que não sendo obrigatório, não te dá vontade de sair. Ou de ter para onde ir.
O que me vale são os pensamentos.
Não. Mentira.
Não valem de nada.
Ando oca. Vazia. Sem conteúdo.
Não vejo.
Não sinto.
Não me incomoda.
Não me alegra.
Não nada.
Indiferente.
Um mero andar por andar. Dentro destas quatro paredes.
As conversas acabam por me cansar e deixo de as ouvir e, da minha boca, saiem apenas os habituais ruídos de conforto.
Cansaço? Não.
Desespero? Não.
Tristeza? Não.
Mas minto, agora que penso melhor nos meus dias.
Eu sinto. Há momentos em que sinto.
Sinto um Amor enorme por tudo que é simples: no sol, na chuva, na erva, no rir de uma criança na rua, nas pessoas, na forma como o Mundo é perfeito. Ou poderia ser, se todos amássemos assim: incondicional. Sem julgar. Sem condenar. Se fossemos empáticos.
Sim, eu penso.
No resto do tempo parece que não pertenço aqui e que há uma névoa ao meu redor que me impede de sentir mais do que Amor. Como se fosse preferível não sentir, não ver, não pensar excepto se for esse Amor.
Como que só me permitisse ver o que realmente importa, o que realmente é importante para o meu crescimento como pessoa.
O resto, o resto é uma nuvem que tudo tapa e me impede de ver, sentir ou pensar...
Talvez seja isto o início da (minha) decadência como ser humano...


Cat.
2020.11.25

Pés sem chão


 

Pés sem chão, flutuo pelos dias,
Sem tempo, sem noção.
São apenas horas que passam,
Entre o dia e a noite,
A luz e a escuridão.
Tal como o meu pensar,
Agora livre e feliz,
Ora triste, sem rumo e em vão.
Tempos estranhos estes
Em que os dias de Outono parecem de Verão.
E nós fechados, num cerco,
Que nos impede de viver plenamente,
De poder abraçar, beijar e dar a mão.
A vida está diferente.
As pessoas estão diferentes.
Tudo está em transformação.
Apesar de tudo, da (aparente) dormência,
Que nos tolda a visão,
Há a esperança,
Há a certeza na mudança,
De crenças,
De pensares,
De formas de olhar o outro e o Mundo.
Pés sem chão, flutuando acima do material,
Dando importância ao moral,
Ao olhar o outro como igual,
A sonhar com um Mundo
Perfeito, onde todos temos
Um papel principal...
Vejo tudo a desmoronar,
Vejo cada vez menos empatia,
Cada vez mais os egos e o egoísmo
A ganhar caminho.
E no entanto, cá dentro,
No meu ínfimo imo,
Há (quase) uma certeza
Que o futuro será
Belo e lindo.
Pés sem chão, flutuando,
A (querer) acreditar
Na última utopia...


Cat.

sábado, 24 de abril de 2021

De dentro


 

Há no vento um estranho aconchego.
Um abraço que m' envolve a pele, que me trespassa a carne e chega à Alma.
Abraça-a sem medo do que é, só que vai ver ou sentir.
E ela, docemente, deixa-se ir. Deixa-se mostrar.
Não há nada que o vento não exponha, não traga cá para fora.
E o corpo cai, dormente no chão.
Há o húmido do orvalho na erva e nas flores o cheiro a um Outono quase a acabar.
Na terra onde as mãos se ficam há a ligação mais pura, mais simples e mais inocente de sempre.
Um ser que respira, vive e pulsa, no meio de um mundo perfeito de ciclos correndo entre a vida e a morte. Sem medos, sem receios, sem culpas. Apenas cumprindo o seu papel neste teatro que é a vida.
E o vento mostra o meu interior, o meu íntimo, o meu Eu mais sincero e verdadeiro.
Com todos os defeitos.
Com todos os erros.
Com todas as virtudes.
Com todos os sentimentos.
E eu senti-me, ali, deitada, com o sol no rosto, de alma lavada porque sou apenas e somente humana.
E, assim, como que fora do corpo, olhei-me e vi luz ao meu redor, não negrume. Vi cor e sorrisos, não dor e desesperos.
Vi que ser feliz vem de dentro e não do que os outros nos dão.


Cat.
2020.10.26

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Melhor de mim


 

A noite já vai longa no seu reinado e a lua brilha, envergonhada, por entre núvens quase transparentes.
Há orvalho no ar e nas folhas amarelo e vermelhas dos carvalhos que cintilam ao sabor da brisa e se deixam deslizar até morrerem no chão.
Há silêncio.
Um estranho silêncio. Sem ruídos longínquos de vozes ou passos na calçada, nem sequer de carros na estrada.
Há silêncio na noite, lá fora. Apesar das luzes e dos brilhos, há silêncio.
Aqui, o relógio marca o passar compassado dos segundos e dos minutos e das horas. Num ritmo cadenciado, certo, dormente, previsível.
Ao contrário do que eu sinto.
Eu sinto vida cá dentro. Como nunca senti.
Eu sinto esperança, como nunca senti.
Eu sinto que faço parte deste mundo, desta Terra, desta Vida.
Eu sinto um amor como nunca senti.
Um amor pelo outro. Um amor infinito por todos os seres.
Tudo me encanta. Tudo.
Tudo me fascina. Tudo.
Tudo o que é bom me surge na vida. E tudo que não é necessário é limpo, deixado para trás. Sem culpas, sem receios, sem mágoas.
É como se estivesse a aprender e, sobretudo a aceitar, ser feliz.
Porque eu mereço ser feliz.
Eu mereço. E é para isso que cá estou, para ser feliz.
Para sorrir. Para vibrar com paladares e cores e odores. Para abraçar e beijar e amar, como quero ser abraçada, beijada e amada. Para ter e dar amor. Mesmo que de outras pessoas. Para respeitar, ouvir e aprender. Para poder, também dar de mim, o melhor de mim.
É como diz a música: "Sei que o melhor de mim está para chegar".
Hoje. Amanhã. Depois. A cada dia melhor.
Porque não há que ter medo de ser feliz.
Não há que ter medo de Amar incondicionalmente. Sem reservas. É o nosso melhor.
E eu, eu quero dar e ser o melhor de mim. Sempre que me for permitido e possível.


Cat.
2020.10.15

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Vidas paralelas


 

Vidas paralelas.
Há vidas paralelas. Há quem seja duas pessoas. Há quem viva duas vidas. Há quem as viva de verdade, com todas as pessoas, em carne e osso; e as que as vivem apenas por mensagens e fotografias que excitam as mentes e despertam a líbido.
Nada contra. Jamais poderia julgar, muito menos condenar. Já vivi assim. Ambas.
Duas vidas. Uma cheia de vida, cor, sexo e, como se fossemos uma lâmpada cheia de luz, borboletas voando à nossa volta.
Mas tudo o resto é noite. É negro. É sem vida. Sem cor. Morto.
Mas há quem viva isto dentro de si.
Dentro do seu corpo. Da sua alma. Do seu coração.
Vidas sem vida. Rotineiras. Demasiado simples. Demasiado desbotadas. Demasiado mortas...
E há, porque há, a necessidade de mostrar que somos mais. Que temos mais. Que fazemos mais. Pessoalmente. Profissionalmente. Perante todos: amigos, família, conhecidos, chefes, e, até, desconhecidos. Mais, mais, mais...
No fundo, aparências.
No fundo falta de essência.
Algures na vida todos passamos por isto, faz parte.
O que é necessário é sair do registo.
Assumir que podemos ter menos cor. Mas, sem dúvida, teremos mais brilho. Um brilho genuíno, que vem de dentro.
Mas somos o que somos e o que escolhemos.
Vidas paralelas.
Sim, há vidas paralelas.
Carregadas de cores cinzas, coloridas de tons desbotados.


Cat.
2020.09.29

Tão mais fácil


 


Há na brisa uma mescla de Verão e Outono. Há o calor e as cores avermelhadas das folhas das videiras. As uvas são gentilmente debicadas por pardais e os gaios andam no chão.
Na água, as andorinhas bebericam, em pleno voo, sem medo de molharem as penas. E as flores continuam a serem beijadas por abelhas de uma qualquer colmeia vizinha.
Aqui, nesta cadeira, neste canto do jardim, sinto e vejo toda esta vida que não pára. Que se recicla. Que se adapta. Que vive apenas o dia.
Pergunto-me porque não posso eu fazer o mesmo: deixar ser, deixar fluir.
Deixar-me flutuar na água de fundo azul que oscila ao sabor do vento doce e quente.
Ficar ali, olhando o azul do céu com o azul da água por baixo.
Sentir o oscilar da vida e viver com isso.
Sentir o frio da água e a sua profundidade e não sentir medo.
Olhar o céu e saber que a noite chegará e mesmo assim, ali, deitada, oscilando ao sabor das situações, deixar-me estar, à espera do que virá e... Aceitar. Apenas aceitar.
Porque tenho que pensar e não apenas viver e aceitar o que vier?
Seria tão mais fácil...


Cat.
2020.09.14

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Certezas






Não, não há um fio condutor nos dias que são percorridos por horas, por vezes, infindas.
São dias. Uns seguidos de outros. Uns bonitos, outros nem tanto. Todos diferentes.
Não, não há um caminho que traces e consigas seguir em linha recta.
Há sempre uma curva, uma pedra, um contratempo e quase nunca corre vomo planeado.
Então, para quê planear?
Então, para quê pensar no dia de hoje e no de amanhã?
No de ontem não vale mesmo nada: já tudo foi, aconteceu, passou é irreparável. Pode ser remediável, como um remendo na nossa peça de roupa preferida. Mas que não deixa de ser, de existir, de lá estar. A estragar.
Às vezes não estraga, às vezes torna-os, aos momentos e às horas, apenas únicas.
Não, não há um fio condutor.
Excepto a certeza de que as horas se seguem uma atrás da outra.
Excepto a certeza de que os eventos irão sempre existir e acontecer, planeados ou não.
Excepto a certeza de que não há certeza.
Não. Há sempre um fio condutor.
Olhar para trás e ver que, apesar de tudo, de todos o planos (in)concluídos, de todos os amores (in)correspondidos, de todos os medos e receios, a vida continua.
Sempre.
Dia após dia.
E que sempre, sempre, de alguma forma, a nossa dor se alívia.
Eu acho que é Amor.
Sim, o fio condutor é o Amor. Não os planos, os projectos, os desejos...
É o Amor. É o único sentimento que nos faz levantar depois de cair, perdoar depois de magoados, acreditar depois de enganados, aceitar depois de rejeitados. Há quem diga que há outros nomes para isto... Talvez. Mas sem Amor, o verdadeiro Amor por nós, como seres falhos que somos, não há próximo dia e toda e qualquer desventura ou alegria.
Sim, há um fio condutor que nos faz acreditar que vale a pena viver: o Amor. Em todas e qualquer uma das suas formas.


Cat.
2020.09.16

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Parada


 

E ela parou.
Ficou ali, sentada, inerte. Olhando.
Olhando o mundo que a rodeava.
Olhando as pessoas no compassado correr dos passos de quem tem onde chegar. Depressa, que o tempo urge.
Para elas, para essas pessoas.
Olhando o ondular do cabelo sob os ombros, tapando-lhe o rosto e fechando-lhe, inadvertidamente, os olhos. Num piscar demorado, lento, quase sem vontade de voltar a abri-los.
E não abriu.
Durante algum tempo ficou assim, sentada, inerte, de olhos fechados a sentir esse vento. E o sol do fim de tarde, quente e suave, como uma carícia no rosto.
E abraçou-se.
Sim, abraçou os joelhos dobrados junto ao peito, ficando fechada em si mesma.
Como uma concha. Como uma carapaça onde só se sente o que ela quer sentir. Onde não há lugar para os outros e as suas opiniões e os seus conselhos e lições de vida.
Ali, parada, sentada, inerte e fechada sobre si mesma, só existe ela.
Aquele ser que apenas deseja sentir paz. Uma Alma que luta contra a sua natureza porque é o melhor para ela.
Uma luta interna. Uma luta surda que às vezes se solta num grito de desespero. Uma luta que não se explica, pois nem ela sabe como.
Apenas um ser em transformação. Numa profunda transformação interior que não se sabe o resultado.
Mas há uma luta ali dentro, do peito e nos olhos que querem soltar as lágrimas presas a uma força quase inexistente.
Mudar não é fácil, mas é muitas vezes necessário.
É como nascer de novo, a cada dia, de um conflito constante entre o racional e o emocional.
Entre aprender que saber dizer que não aos outros é dizer sim a ela. À sua dignidade. À sua estima e ao valor que tem.
Eu sei. Eu sou ela.
Parada, sentada, inerte. Olhando e esperando que um dia esta dualidade em mim existente, se equilibre e eu, em vez de duas, dois extremos, me possa tornar apenas uma.
A que eu verdadeiramente sou.

Cat.
2020.08.03

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Fechar os olhos


 

Fechar os olhos.
Sentir o vento brincar por entre os meus cabelos.
O sol, já na hora de dizer adeus ao dia e a mergulhar no mar, aquecendo-me o rosto.
Fechar os olhos.
Trazer à memória recordações de momentos em que o sorriso viveu nos meus lábios.
Pessoas e almas que fizeram de mim o que sou. Quem sou.
Fechar os olhos.
Sentir que apesar do que já há em mim, há muito mais para (re)viver.
Saber, neste momento, que ainda cabe tanto em mim!
Que ainda posso ser mais.
Melhor. Tão melhor do que sou.
Fechar os olhos e enquanto o dia dá lugar à noite, num ciclo infindável, também eu, na minha pequenez, no meu pequeno mundo, posso, a cada dia, crescer.
Fechar os olhos e saber, ser tão certo como o meu respirar.

Cat.
2020.06.30

terça-feira, 13 de abril de 2021

Algo único


 


A vida é algo único.

Por muito que tentemos, dá-nos sempre a volta e é um constante rodopio que nos deixa, muitas vezes, tontos e sem rumo ou sentido.
Há oito anos, neste mesmo dia do mês, escrevia textos de forma quase desesperada.
Textos de dor, de adeus, de querer salvar-me e o que não tinha salvação. Não tinha nada que me prendesse, me fizesse ficar, me acalmasse o vazio, cá dentro, do corpo e da alma.
Hoje vivo uma vida tão diferente, tão mais preenchida de tudo o que importa. Mas acima de tudo, cheia de um amor incondicional, único, presente, preocupado e altruísta. Um amor de conto de fadas, com o melhor companheiro que poderia ter.
A vida não é só rosas, também há espinhos. A nossa não é diferente, também temos momentos menos bons e já passamos por tanto juntos. E tudo isto nos fortaleceu, nos uniu e te tornou no que sempre desejei: no meu (im)perfeito companheiro e grande amor da minha vida.
É graças a ti que, apesar das ausências que jamais o deixarão de ser, que as lágrimas que me escorrem pela face, que a dor se apodera de mim e me esvazia do que sou, da pessoa por quem te apaixonaste, eu ainda não me afundei por completo.
Pela tua mão sempre presente.
Pelo teu amor incondicional.
Pela tua paciência quando choro sem conseguir explicar e, ainda assim, sem questionar, me abraças e me fazes querer sorrir e a viver voltar.

É engraçada a vida... E a mente da gente.
Há oito anos desesperava por me sentir desprezada. E chorava.
Hoje, também choro.
Porque há marcas demasiado profundas.

Mas, sobretudo, quero que saibas que, também e muitas vezes, choro porque te tenho a meu lado.
Amparando-me nos trambolhões da vida.
Abraçando-me quando quase me afogo.
Amando-me com todas as minhas fraquezas.
Porque sem ti, não há rumo, futuro ou o quer que seja.
Apesar de não to estar a conseguir mostrar como me preenches as horas, os vazios, os dias, o respirar e a minha vida.
Jamais deixarei de te amar, só para que saibas.


Cat.
2020.06.29

Instintiva


 

Há dias que passam a correr, lestos e fugazes como o vento.

Hoje não foi um desses dias.

Hoje houve tempo para me ouvir. Ou melhor, para digerir tudo o que tenho ouvido.

Sim, é pessoal. Sim, são decisões minhas.

Mas não é só a minha vida que conta.

Há a vida de outros. Que me acompanham. Que me sabem muitas vezes mais que eu. Que me amam como só eles.

Sempre demorei para tomar decisões, daquelas que nos reviram a vida e nos deixam de cabeça para baixo. Sempre demorei, sempre.

Há quem diga que é falta de coragem.

Há quem chame de indecisa.

Há quem não perceba que tenho o meu próprio sistema e, acima de tudo, o meu instinto. Sempre. Sempre foi este que me guiou. Sempre foi o que esteve sempre presente. E, na verdade, nunca falhou.

Eu não sei de onde vem o instinto, acho que do coração. Há quem diga que é a mente que processa de tal forma rápida toda a informação que a resposta é quase imediata. Instintiva.

Eu sou assim, instintiva. E nunca me falhou nas escolhas. Aliás, diziam-me outro dia que tudo sempre veio ter comigo: as pessoas certas, os empregos, as decisões, tudo no tempo certo.

Por que haveria eu de mudar a minha forma de sentir e pensar a vida?

Sei e considero sempre a opinião de quem tem interesse para mim, de quem me importa.

Mas no fundo, sou eu que estou a viver as situações, sou eu que as sinto na pele e na alma e quem melhor tem a percepção do seu todo.

Por vezes é preciso passar por momentos difíceis, por situações que magoam, mas no fundo e para mim, será um aprendizado. Na pior das hipóteses. Por muito que custe a quem está ao nosso lado.

Mas amar é isto: é aconselhar mas respeitar a decisão do outro. E depois é acompanhar, sem culpabilizar, o caminho escolhido.


Cat.
2020.06.16

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Agradecer


 

Por vezes pergunto-me como se agradece a alguém o tanto que nos dão.
Não falo de bens materiais, falo de algo muito diferente, muito mais fácil e no entanto tantas vezes raro.
Há pessoas que moram no nosso coração por variadíssimos motivos. Pela amizade, mesmo quando não estão fisicamente presentes. Pelo facto de sabermos que, em caso de necessidade, podemos recorrer a elas. Porque temos ideais idênticos ou diversos mas conseguimos sempre uma discussão saudável. Pela empatia que, sem se saber como, nos une como almas quase gémeas.
Há pessoas pelas quais sentimos uma gratidão imensa pelo que nos ensinaram, pelo que partilharam connosco, pelos seus sábios conselhos que, mesmo que não os tenhamos seguido, entendemos que era para nos proteger.
Pessoas que, ao longo do nosso caminho, nos educaram e passaram valores que fazem de nós melhores pessoas.
Talvez seja fácil responder: fazendo o mesmo por elas.
Sempre tentei fazê-lo, da melhor forma que sabia, imperfeitamente, mas a dar o melhor de mim.
Falar destas pessoas é fácil por muito que não pareça. Aparentemente só há coisas boas a recordar para agradecer.
Mas há um grupo de pessoas a quem não se consegue agradecer. A quem não basta retribuir da mesma forma. A quem, muitas vezes, nos custa mais do que aos outros.
O Amor que lhes temos é inato, inerente, corre-nos no sangue e enche-nos a Alma. Há, no entanto, uma espécie de amor/ódio que nos une.
Talvez não seja este o termo, não se pode odiar a quem amamos, embora a linha entre ambos os sentimentos seja, quase sempre, muito ténue.
Talvez seja pena ou raiva por darmos o nosso melhor e não nos ouvirem e vice-versa.
Talvez seja porque há toda uma vida em conjunto e as diferenças e divergências se vão acentuando ao longo do tempo.
Há zangas, afastamento, conversas banais ou conversa alguma.
Aquele silêncio que nos mói e dói cá dentro.
Mas há o Amor incondicional.
Mas há a ajuda imprescindível e única que nos podem dar.
Mas a presença sempre que necessária.
E há abraços silenciosos que só o sentido cair das lágrimas quebra. Ali, no meio de duas pessoas tão idênticas e tão diferentes. Que se amam incondicionalmente.
Que sofrem de igual forma com a dor do outro.
Que são capazes de largar tudo por nós, para nos verem realmente bem.
Como se agradece a um pai e a uma irmã que nunca me abandonam?
Que nunca me fecham a porta?
Que me amam incondicionalmente?
Como, como se agradece as palavras certas no nosso momento de desespero?
Jamais terei como te agradecer Pai.
Jamais terei como te agradecer minha irmã.
E eu amo-vos eterna e profundamente.
E jamais saberei como vos agradecer.

Cat.
2020.05.22

sábado, 10 de abril de 2021

Capazes de tudo



Achamos que somos capazes de tudo. Ou melhor, de ultrapassar tudo. Todas as dores, todas as perdas, todas as desilusões.

Mas não. Não conseguimos.

Ficam marcadas em nós, para sempre, mesmo que num cantinho escondido da nossa memória. São como as pequenas rugas no rosto, que se vão instalando, ao longo do tempo, subtilmente.

Quando damos por nós, há uma infinidade delas, gravadas na pele e no coração.

Achamos que somos capazes de ultrapassar tudo.

Mas na memória, no coração, essas rugas vão mais fundo, tornando-se sulcos por onde se sangra, cada vez mais fundos, cada vez mais transbordantes e o coração, a alma, a mente não aguenta mais. E chora. Lágrimas caiem no rosto pelas rugas do tempo, cada vez mais fundas também.

Achamos que ultrapassamos tudo.

Mas guardamos cá dentro. E a verdade é que, na maioria das vezes, não há quem compreenda essas lágrimas, pois são tão profundas e por vezes tão antigas que nem nós as explicámos por falta das palavras certas.

Eu tenho a sorte de ter ao meu lado quem, mesmo não as percebendo porque as debito sem sentido lógico, me ouve. Porque os sentimentos não são lógicos, são um aglomerado, muitas vezes um emaranhado e intrincado novelo com pontas e fios cruzados, sem nexo.

Mas mesmo assim, sem nexo, tem a coragem de ficar ao meu lado, de me tentar compreender, de me ajudar a perceber. De me dar a mão e me guiar no meio desta confusão que é o meu sentir.

E é nestes momentos, em que mais preciso de quem me dê a mão, que a tua presença é constante e o teu abraço mais forte e o teu amor mais se demonstra e me suporta.

Eu tenho a sorte de te ter comigo, de sentir que, contigo a meu lado, as minhas feridas, se vão fechando.

És tu que me dás alento.

És tu que eu quero ao meu lado. Até ao fim dos meus dias, fortalecendo os nossos laços com a coragem desse teu amor.

Porque em mim também há amor. Um amor que também não tem palavras suficientemente eloquentes para definir o que é amar-te.




Cat.
2020.05.22

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Saudades


 

Há saudades, é inevitável.

Saudades do corpo, do cheiro, do toque, de risos, de abraços... Uma infinidade de saudades neste momento.

Do sol, que brilha lá fora, num ameno morno típico de Primavera.

Do amarelo vivo dos narcisos, do vermelho das rosas, das pequeninas pétalas brancas das macieiras.

Do cheiro das frésias e da suavidade das tulipas.

Saudades do Mundo. Saudades de vida.

E as saudades podem tornar-nos amorfos, fazendo-nos definhar aos poucos, sem nos darmos conta. Lentamente como o passar dos dias: todos iguais mas a não deixarem de passar. Pior, a acumularem. Uns atrás dos outros. E o tempo passa e deixa marcas, umas menos profundas que outras. "Faz parte", dizemos nós.

Mas as saudades entranham-se mais que qualquer passar de tempo. Afundam no nosso coração e na nossa Alma mais profundamente que qualquer ruga no rosto. E estas, as rugas, são passíveis de serem amenizadas. As saudades, na maioria das vezes não.

Porque nem tudo o tempo cura.

E o tempo não cura a ausência de quem já nos fez feliz ou nos fez chorar. De quem nos acompanhou ao longo de anos, de quem fez dos nossos dias um dia diferente do anterior e do que veio depois.

A vida é um ciclo constante de vida e morte, de renascer e de voltar a cair.

Um ciclo que, cá dentro, do meu coração, se perdeu na dor das ausências. Um ciclo que ainda não passou desse momento que fala de ultrapassar. Um momento preso, num espaço cada vez maior de mim. Um espaço de vazio, de ausência e ao mesmo tempo, de saudades.

Porque há saudades que não se permitem esquecer.

Há saudades sim, é inevitável...


Cat.
2020.05.19

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Dizer que te amo


 

A noite já reina e a lua vai-se mostrando timidamente por entre as nuvens.

Há um silêncio estranhamente familiar no ar. Há semanas que as noites passaram a dominar os dias nesta ausência de vida. De vida humana, porque os pássaros e as andorinhas esvoaçam por entre as árvores. Esta Primavera é atípica: não há ruído, não há a cores das flores excepto pela janela e o cheiro das laranjeiras em flor quase não se sente, pois até o vento se sente ausente.

Aqui dentro, há paredes com memórias e odores e vislumbres do que já foi.

É uma prisão, este confinamento que dura há dois meses.

É um tormento pois há uma mescla de sentimentos que não se explicam, não se aproximam e, no entanto, são constantes.

É um rodopiar entre o querer e o não querer.

É uma inconstância de querer manter as memórias e os momentos e de, ao mesmo tempo, desejar esquecê-los.

E por muito que abra a janela e respire o ar fresco lá de fora, o ar cá dentro sufoca-me, é difícil de respirar e paira sobre mim como a pressionar.

E no dentro de mim, no meu âmago, há vontade de gritar, de explodir, de expulsar a dor e de chorar por manter o que realmente vale a pena.

Sinto falta do lá fora. Mas, aqui confinada, sinto muito mais a falta de quem está ausente. Temporária ou eternamente.

Às vezes sinto que estou a enlouquecer, oscilando entre o bom e o mau.

Só tu, que me acompanhas os dias e partilhas o leito, as dores, as alegrias, as perdas, os risos e as lágrimas comigo, me dás alento para voltar a enfrentar mais um dia.

Estas semanas foram difíceis, com a lembrança de perdas e uma perda repentina que me vai doer eternamente.

Mas também foi o nosso melhor momento. Onde os laços que nos unem se apertaram, se fortaleceram e nos tornaram no melhor de nós. E eu tenho um orgulho imenso na pessoa que és, no companheiro que és. E dizer que te amo não é, jamais será, suficiente para te explicar e demonstrar o que sinto.


Cat.
2020.05.12

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Ciclo


 

Há uma sensação de impotência quando olhámos a vida. Vida em todos os sentidos.

Como se fosse inevitável fugir a certas dores ou alegrias, à vida ou à morte.
E somos realmente impotentes, não depende de nós.

E há tantos caminhos que podemos seguir e tantas vezes esbarramos com as mesmas coisas, como se nos perseguissem, como se fossem inevitáveis.

Mas há em nós, no nosso âmago, uma força que nos move, que não nos deixa deixar ali, no nosso canto, com a vida suspensa de forma (quase) eterna.

É preciso viver.
É preciso amar, chorar, rir, odiar, provar, experimentar, beijar, abraçar, perder e ganhar.

A vida vida é um ciclo, como o passar das horas, dos dias; como a Primavera e o Inverno; como o céu agora azul, amanhã cinzento; como o mar agora quente e calmo, amanhã impiedoso e turbulento.

Fazemos escolhas, tomámos decisões, cumprimos o caminho a que nos propusemos, mas há sempre, a dado momento, essa sensação de impotência.

Momentos em que caímos no chão e Mundo e Vida não param...
Porque o ciclo não pára.
Porque nada pára.

Nem o céu de ser azul e cinzento, nem as árvores de crescer e morrer, nem o vento de ser doce ou devastador.

A vida é assim: um ciclo que apesar de repetido, é sempre diferente, é sempre impossível de controlar. E há tanto que pode, nesse entretanto, por nós passar...


Cat.
2020.05.01