Há chuva lá fora. Cai num compasso incerto como que adivinhando os meus pensamentos.
Os dias têm corrido quase sempre iguais, num confinamento que não sendo obrigatório, não te dá vontade de sair. Ou de ter para onde ir.
O que me vale são os pensamentos.
Não. Mentira.
Não valem de nada.
Ando oca. Vazia. Sem conteúdo.
Não vejo.
Não sinto.
Não me incomoda.
Não me alegra.
Não nada.
Indiferente.
Um mero andar por andar. Dentro destas quatro paredes.
As conversas acabam por me cansar e deixo de as ouvir e, da minha boca, saiem apenas os habituais ruídos de conforto.
Cansaço? Não.
Desespero? Não.
Tristeza? Não.
Mas minto, agora que penso melhor nos meus dias.
Eu sinto. Há momentos em que sinto.
Sinto um Amor enorme por tudo que é simples: no sol, na chuva, na erva, no rir de uma criança na rua, nas pessoas, na forma como o Mundo é perfeito. Ou poderia ser, se todos amássemos assim: incondicional. Sem julgar. Sem condenar. Se fossemos empáticos.
Sim, eu penso.
No resto do tempo parece que não pertenço aqui e que há uma névoa ao meu redor que me impede de sentir mais do que Amor. Como se fosse preferível não sentir, não ver, não pensar excepto se for esse Amor.
Como que só me permitisse ver o que realmente importa, o que realmente é importante para o meu crescimento como pessoa.
O resto, o resto é uma nuvem que tudo tapa e me impede de ver, sentir ou pensar...
Talvez seja isto o início da (minha) decadência como ser humano...
Cat.
2020.11.25
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