Por vezes pergunto-me como se agradece a alguém o tanto que nos dão.
Não falo de bens materiais, falo de algo muito diferente, muito mais fácil e no entanto tantas vezes raro.
Há pessoas que moram no nosso coração por variadíssimos motivos. Pela amizade, mesmo quando não estão fisicamente presentes. Pelo facto de sabermos que, em caso de necessidade, podemos recorrer a elas. Porque temos ideais idênticos ou diversos mas conseguimos sempre uma discussão saudável. Pela empatia que, sem se saber como, nos une como almas quase gémeas.
Há pessoas pelas quais sentimos uma gratidão imensa pelo que nos ensinaram, pelo que partilharam connosco, pelos seus sábios conselhos que, mesmo que não os tenhamos seguido, entendemos que era para nos proteger.
Pessoas que, ao longo do nosso caminho, nos educaram e passaram valores que fazem de nós melhores pessoas.
Talvez seja fácil responder: fazendo o mesmo por elas.
Sempre tentei fazê-lo, da melhor forma que sabia, imperfeitamente, mas a dar o melhor de mim.
Falar destas pessoas é fácil por muito que não pareça. Aparentemente só há coisas boas a recordar para agradecer.
Mas há um grupo de pessoas a quem não se consegue agradecer. A quem não basta retribuir da mesma forma. A quem, muitas vezes, nos custa mais do que aos outros.
O Amor que lhes temos é inato, inerente, corre-nos no sangue e enche-nos a Alma. Há, no entanto, uma espécie de amor/ódio que nos une.
Talvez não seja este o termo, não se pode odiar a quem amamos, embora a linha entre ambos os sentimentos seja, quase sempre, muito ténue.
Talvez seja pena ou raiva por darmos o nosso melhor e não nos ouvirem e vice-versa.
Talvez seja porque há toda uma vida em conjunto e as diferenças e divergências se vão acentuando ao longo do tempo.
Há zangas, afastamento, conversas banais ou conversa alguma.
Aquele silêncio que nos mói e dói cá dentro.
Mas há o Amor incondicional.
Mas há a ajuda imprescindível e única que nos podem dar.
Mas a presença sempre que necessária.
E há abraços silenciosos que só o sentido cair das lágrimas quebra. Ali, no meio de duas pessoas tão idênticas e tão diferentes. Que se amam incondicionalmente.
Que sofrem de igual forma com a dor do outro.
Que são capazes de largar tudo por nós, para nos verem realmente bem.
Como se agradece a um pai e a uma irmã que nunca me abandonam?
Que nunca me fecham a porta?
Que me amam incondicionalmente?
Como, como se agradece as palavras certas no nosso momento de desespero?
Jamais terei como te agradecer Pai.
Jamais terei como te agradecer minha irmã.
E eu amo-vos eterna e profundamente.
E jamais saberei como vos agradecer.
Cat.
2020.05.22
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