quarta-feira, 19 de maio de 2021

(Novos) Começos


 



A vida nunca é como idealizamos. Raramente corre como planeado e raras são as vezes em que nada falhe.
A verdade é que quase sempre vamos (re)fazendo a vida conforme nos é permitido.
Há (quase) sempre um imprevisto, um elemento, uma variável que não conseguimos controlar.
E é frustrante. Mesmo muito frustrante.
As desilusões com as (grandes) expectativas que fazemos sobre um acontecimento para o qual trabalhamos são devastadoras para a nossa mente. Fazem cair por terra todos os esforços, todos os sonhos... Fazem tábua rasa, polida e infértil ao ponto de nos questionarmos se vale a pena o esforço de sonhar.
Sim, sonhar parece, perante as vicissitudes da vida, um esforço vão.
No entanto, a vida gira, como os ponteiros de um relógio mudando as horas, como o sol dá vida à lua, como a maré dos rios varia num constante e sempre diferente ritmo.
A vida é um mistério pois ninguém sabe o futuro.
A vida é cruel por não nos permitir construir esse (in)certo futuro.
Estes dias têm sido quase assim. Uma (des)ilusão.
Criei expectativas, altas, demasiado altas e caí por terra.
Destruída.
De coração partido.
De culpa por ter acreditado.
De vergonha por ter sido rejeitada.
A rejeição, seja a que nível for, é destruidora, a nossa auto-estima é abalada, a nossa crença em nós, no que somos é abalada.
A rejeição é um tremor de terra que, não só abana, como abre brechas, mais ou menos profundas nos alicerces de quem somos.
E eu caí por terra. Destruída. Verdadeiramente desiludida.
Mas algo dentro de nós, raramente, nos deixa cair numa letargia de comiseração. Levantamos o corpo, a cabeça e voltamos a acreditar.
Quase sempre noutro sonho.
Eu, esta semana, deixei de sonhar. Sonhar no sentido de planear.
Deixei nas mãos do tempo, dos dias e de algo cá dentro, que não sei o que chamar, e deixar acontecer. Como se... Como se tivesse a certeza que o deveria fazer, que tudo se iria compor, que "as coisas" iriam acontecer. Mais cedo ou mais tarde. E isso cá dentro deu-me ânimo. Confiança em mim. E vivi estes dias, não à espera, mas vivendo o meu ser mais verdadeiro, vivendo-me, sorrindo e chorando com algo que me fizesse sentir. Vivi sem expectativas. Verdadeiramente deixando acontecer.
E aconteceu!
E fui invadida por um sentimento de felicidade! Verdadeira felicidade. Por mim, pelo que sou, pelo que mereço.
Pode parecer estranho, uma parvoíce, uma estupidez, mas a desilusão foi perfeita para o meu futuro. E acredito que serei mais feliz no que não planeei do que no idealizei e sonhei.
"Já não era para ser" ou "é porque algo melhor vem aí" deixaram de ser frases cliché, usadas para nos fazerem sentir bem: às vezes é pura verdade! Basta deixar de tentar controlar e viver com o que nos aparece à frente.
O destino, o fado, o futuro são coisas que não controlamos. Podemos ajudar fazendo por nós, crescendo intelectual e moralmente, mas não se controla o que está escrito para nós...


Cat.
2021.03.27

Luz dentro de mim






É noite, novamente a lua domina o céu negro. Há no ar o cheiro a orvalho e das primeiras flores da Primavera que se anuncia.
A vida tem sido um emaranhado estranho. Ainda mais estranho que o habitual.
Falam que são tempos difíceis, que há que ter esperança e acreditar que tudo vai correr bem.
A verdade é que não correm. Há muito que não correm bem. Há muito que a esperança se vai esbatendo com o passar dos dias, das semanas e meses. Há muito que tenho dias em que sinto que tudo vai desmoronar, principalmente eu.
Eu.
Eu, que nem sei o que significa "ser eu".
Há muito que me sinto perdida de mim, há demasiado tempo. E no entanto, sempre que me perco, reencontro-me.
Mergulho no meu eu mais profundo, mais verdadeiro, mais real e mais simples e puro.
Descubro muitas falhas, muitas imperfeições e, devagar, muito devagar, vou aceitando que não sou perfeita... Longe de o ser.
Descubro muitas coisas boas também.
Acabo por chorar tanto pelo que tenho de bom, como pelo de menos bom.
É bom mergulhar em nós e olharmos para o que somos, para o que sentimos, para o que acreditamos e aceitar o que vemos. E não é fácil olhar ao espelho de nós.
Esta introspecção tão profunda está a mudar-me.
Já não tento controlar tudo à minha volta: descobri que não controlo.
Olho para os dias que vivi até agora e, não sei porquê, tudo faz sentido. Tudo surge na hora certa. Tudo acontece pela ordem certa. Há situações que só se sabem gerir depois de passar por uma outra que nos preparou.
Olho e vejo que sempre fui privilegiada: sempre tudo vem ter comigo. Principalmente as pessoas que preciso naquele momento. Como se me guiassem e olhassem por mim.
E a cada meu desmoronar, aceito o que vier, acredito que será pelo meu melhor, confio no futuro e que tudo será como tem de ser. E tem sido muito mais positivo que menos bom.
É noite, mas hoje há brilho e uma luz dentro de mim.


Cat.
2021.03.07

Um ano de solidão




É noite lá fora. Não sei se há lua ou estrelas ou nuvens. Sei que é noite, que já não há o canto dos pássaros ou o ruído dos poucos carros que por aqui passam. A rua estará deserta de gente. Porque está vazia e porque precisa de vida. Vida estranha neste último ano. Já lá vai um ano que a nossa liberdade está condicionada. Pela doença, pelas regras, pelo isolamento, pela solidão...
É noite cá dentro. De casa e em mim.
Hoje há noite em tudo o que me rodeia. Um negrume que não permite desvendar o futuro.
Mas o futuro nunca se desvenda. Nunca se adivinha. Nunca se sabe, é por si só um enigma, é verdade. Só que agora, neste momento nem nos permitimos a planear. É um viver cada dia, é um viver o amanhã só quando chegar, como se o futuro fosse algo ilusório, como se, de um momento para o outro, pudesse não chegar.
Na verdade não se vive o hoje, vive-se a (constante) ansiedade do amanhã. Ontem, hoje e amanhã. Sempre num desesperar pelo que está para chegar e nunca é amanhã.
Viver o presente com a incerteza do futuro imediato, presos em casa, afastados dos que amamos, das rotinas que são fundações basilares da nossa vida, não é viver... É ansiar que as horas passem na esperança de que após o adormecer e o acordar, o futuro seja diferente nesse novo dia.
É um ano deste viver que carregamos connosco.
É um ano a acumular ansiedade, incertezas, solidão. Tanta solidão...
É noite cá dentro e eu tenho saudades de sentir o vento, do cheiro das flores, das vozes das pessoas, de respirar livremente e... Do abraço do meu pai e da minha irmã. Dos abraços que tudo curam e fazem o futuro do amanhã melhor.


Cat.
2021.03.05

terça-feira, 18 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XXXIV


 


Sei que não escaparei
Ao dia em que estes
Meus olhos fecharei
E a Alma largará as suas vestes.

De frente não olharei
Para quem me vem buscar,
Sei quem é, conheço o seu passar,
Não precisa que a venham anunciar.

Calma, sem receio, ficarei
Nessa hora que não tem par,
Não desejo cá ficar,
Neste corpo de matéria ímpar.

Deixarei que o coração pare,
Que deixe o sangue de bombear,
Que se acabe o respirar
E os olhos, para sempre, fechar.

Voa, Alma, voa,
Regressa ao teu verdadeiro lar,
Onde o verbo que reina é o amar.


Cat.
2021.03.02

Medo(s)

 




A noite já domina, a rua está silenciosa, não há passos na calçada. Só o frio e o orvalho de um dia de Inverno.
Tal como cá dentro, dentro de mim.
Hoje estou fria, analítica, crítica na e da verdade.
Hoje perguntaram-me porque não aplico a empatia que sinto pelos outros em mim. Que é raro encontrar alguém que racionalize de forma tão precisa o que sente e o que é como pessoa. Que tenho um auto-conhecimento como poucos. E com isso chega a auto-crítica.
A verdade é que desconstruo tudo o que sinto, tudo o que vejo, todas as atitudes, minhas e dos outros.
Sim, analiso.
Mas tenho sempre a capacidade de me colocar no lugar do outro e, com isso, perceber certas atitudes, comportamentos e reacções.
Gostava de o fazer comigo. Mas não consigo.
Há sempre um sentimento de culpa, ou de frustração, ou de arrependimento, ou de medo.
Tenho deixado o medo ser o guia de muitos aspectos da minha vida.
E o medo é uma imensidão de coisas e gigante como as ondas do mar em dia de tempestade.
Engole-me. Tolda-me o pensar. Faz-me não avançar. E eu preciso de avançar. Preciso de ser mais. De conseguir mais. De não tentar controlar para não sofrer ou desiludir(me).
É o momento de confiar. É o momento de arriscar. É o momento de crescer e de deixar o que me prende e me impede de voar.
Há muros, conceitos, medos que tenho de derrubar.
Eu tenho tanto para dar... Mas é por mim, pelo meu ser, que tenho de começar.
E sim, hoje estou fria, analítica, crítica na e da verdade. Sobre e para mim.


Cat.
2021.02.27

Nada sai


 



É na garganta que sinto
As palavras presas,
Impedindo-me de falar
E de respirar.
É um nó que não desfaz,
Que vai acumulando
Tudo que quero dizer,
Num emaranhado
Que difícil de perceber.
É tanto e é nada.
Porque nada sai,
Tudo fica.
Chega a doer
De tanto que tenho
Cá dentro, preso,
Pronto para se desfazer,
Para desaparecer,
Para se esvanecer,
Pois não há ninguém para ouvir,
E é tanto e (na realidade) é nada.


Cat.
2021.02.27

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Inundar-me






Despojo-me das vestes
Que me cobrem o corpo,
Com pressa,
Ânsia.
Não me controlo
Neste impulso carnal,
Pecado capital,
De luxúria carnal.
Desejo ter-te,
Ser-te,
Sentir-te a tocar-me
Onde só tu sabes
E iniciar este fogo
Dentro de mim,
No meu ventre,
No meu sexo só teu.
Possui-me,
Estou à espera
Dessa tua boca,
Desses teus dedos,
Desse sexo
Que me faz enlouquecer
De um inevitável prazer
E
Inundar-te de mim.


Cat.
2021.02.23

Adeus (à) Vida XXXIII

 




Segredos inconfessáveis
Fazem-me uma mera humana,
Pecados impensáveis
De quem ama.

Sentimentos voláteis,
Agora odeia e lágrima derrama,
Agora sonha impossíveis
Que enchem a Alma.

Parece-me tudo vivido,
Sem esperança de ser feliz,
Sem sentido,
Numa vida triste e vazia de quereres.

Flutuo, na água de um rio,
Que avança frio
E o corpo nele dança

Sem esperança, vazio,
E a vida aqui, por um fio,
E eu, não tenho medo, de pela Morte me deixar levar.


Cat.
2021.02.23

Adeus (à) Vida XXXII


 



Sou vento em dia de Outono,
No Verão, centeio cor de mel,
No Inverno, sou acre, sabor a fel,
Na Primavera, renasço, como flor num tronco.

Sou veloz como cada segundo,
Sou um minuto na imensidão do viver
Sou horas e dias de vida feita a correr,
Sou anos, caminhando, neste mundo.

Sou tudo e não sou nada,
Sou também mulher em água parada,
Como que morta, estagnada.

Sou ínfima centelha quase apagada,
Num teatro de gente mascarada,
Que, como eu, depressa estará enterrada.


Cat.
2021.02.22

sábado, 15 de maio de 2021

Ruborizo


 



Olhas-me
E o coração acelera,
Ruborizo como no primeiro dia,
Ainda não me tocaste e já me devoras.
Aguardo,
Gosto que dês o primeiro passo,
Que decidas como me vais querer,
Como me vais fazer vibrar de prazer.
Tocas-me
E a pele arrepia-se,
Num misto de ansiedade e de antecipação.
Deixo-me
Guiar pelas tuas mãos,
Pela minha língua no teu corpo
E os meus seios já te pertencem.
Pulsa o sexo de desejo,
Húmido,
Pronto para te receber.
Torturas-me,
Tocando-me,
Beijando-me
E provando-me...
E antes que me aperceba,
Já me perdi,
Por completo já te cedi
E já te lambuzas
No mel do meu prazer.
Pertenço-te e vou sempre pertencer.


Cat.
2021.02.20

Não importa


 




Não importa quanto tempo passa,
Não importam quantos foram os encontros,
Não faz diferença quantas vezes me (te) dei,
E muito menos,
Quanto prazer me deste.
A cada espera o coração dispara,
Bombeia o sangue carmim
De forma que ninguém espera,
Deixando a ansiedade tomar conta de mim.
Antecipo o toque,
O beijo da tua língua provando a minha,
Os dedos das tuas mãos
Despindo-me a pele,
Doce, vagarosamente,
Prolongando o meu desejo,
Torturando-me a vontade.
O sexo, já húmido, só de (te) imaginar.
A tua boca nos seios,
Os teus dedos dão-me a provar o meu sexo,
Ouvir palavras que, entre nós,
São de entrega:
Eu a tua serva, tu o meu dono,
Libertar-me, ser-me e pertencer-te,
Até, de prazer, quase desfalecer.
Não importa quando ou quanto,
Contigo, para mim,
É sempre (como) a primeira vez!


Cat.
2021.02.20

Adeus (à) Vida XXXI




Sei que chegará a hora
De um dia adeus dizer,
De esta vida de agora
Deixar de viver.
Vais chegar de mansinho,
Quase sem eu sentir,
Durante o sono, a dormir,
Para que não sinta dor?
Ou vais fazer-me sofrer,
Ter que olhar-te nos olhos
E nesse momento saber,
Que já não me permites viver?
E como será morrer?
O corpo inerte no leito,
Frio, duro, morto,
A Alma liberta, flutua
Como pássaro no ar planando,
Como folha na água, sem destino?
Não me importa como chegas,
Como me levas ou carregas,
Serei livre do tormento
Da carne que me prende,
Pois serei Alma pairando
No ar, no mar e na terra,
Ou nas águas do meu rio.


Cat.
2021.02.19

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XXX



Sobrevivo,
Numa existência mediana,
Quase sem sentido,
Nas horas que passam perdidas.
Há um abismo
À minha espera,
Como um oceano imenso,
Em que se mergulha sem medo.
Mas ainda não é hora
De submergir por inteiro,
Ainda há obra para ser feita,
E eu, à escolha não tenho direito.
Partirei quando chegares,
Quando decidires,
Quando a cabeça me empurrares
E eu mergulhando, deixarei os meus sentires.
Por agora apenas aguardo,
Que os dias passem rápido,
Não há força no meu espírito
E o corpo já pouco aguenta.
Mantenho-me à tona,
Com água pelo pescoço,
Quase sufoco com a dor que pesa e me puxa,
Mas ainda assim, luto, flutuo e sobrevivo
À tua espera.


Cat.
2021.02.18


 

Adeus (à) Vida XXIX






Num dia de Verão,
Num dia frio de Inverno
Ou quando as folhas cairão
Do céu, em fim de Outono,
Um dia ela virá,
No seu único terno:
Preto, escuro e sombrio,
E com ela me levará.
Deixarei tudo que amo,
Todos os sorrisos e lágrimas,
Todos os momentos que não viverei.
Será salvação da Alma
Em detrimento da matéria
Ou será apenas o fim
Que nada tem de eterna?
O corpo padece de dores,
A Alma sofre tormentas,
Mas nunca piores
Que tudo que o amor alimenta.
O amor pode ser belo
Ou a maior infelicidade,
Pode ser alegria
Ou uma desilusão sem medida.
Corre o sangue no corpo,
Vermelho carmim,
Pode o amor ser morto
E nunca ter um fim?
Quando ela chegar,
Serei corpo no chão,
Terra infértil, onde flores não nascerão
De tão envenenado o meu coração!


Cat.
2021.02.16


 

Tenho dias em que me sinto assim, perdida neste emaranhado espaço-temporal sem sentido.
Talvez o tenha, mas sinto que perco, a dada altura, o fio à meada. Como um nó sobreposto noutro nó e noutro e noutro noutro...
Hoje sinto-me assim.
Hoje é um desses dias.
Custou levantar, a vontade de sair do quente da cama era quase nula. Na minha cabeça apenas surgia a pergunta: para quê? Para ires para o sofá, ver as horas passarem no ecrã da tv, num filme que não acrescenta nada ao que és? Não te iludas: não irás passar a ferro a roupa amontoada no quarto que não usas; nem tampouco arrumar a loiça da máquina ou tratar da roupa. Vais vegetar, deixando mais um dia passar sem nada fazer.
E assim foi. É verdade. Tudo aconteceu como descrito: horas vazias, cheia de nada, num dia feio de Inverno, cinzento, sem luz. E sem pessoas, sem pássaros, só o cinzento de quase chuva, acompanhada de vento.
Hoje sinto-me assoberbada com tudo na vida.
Hoje já senti medo pelo futuro. Já senti ingratidão. Já senti desânimo e vontade de desistir. Já senti a mente vazia de tudo.
De cada vez que senti estas emoções, tentei contrariar. Tentei mudar o chip e focar na esperança, na fé (seja lá o que for), no aceitar o que vier e em agradecer e acreditar que o dia de amanhã será melhor. Bem melhor.
Eu sei que há retorno para as nossas acções e pensamentos.
Eu acredito que o futuro vai ser melhor.
Eu sei que algo está para chegar e que tudo vai mudar e a vida será bela, cheia de luz.
Eu sei. Eu sinto.
Mas hoje, hoje preciso de mais que um acreditar.
Hoje preciso chorar e os meus receios libertar. Não é isto que quero sentir. Não, definitivamente não é o que quero. Mas é o que sinto e a luta hoje parece impossível de vencer.
Choro. Limpo a Alma enquanto debito o que sinto, nestas palavras que só para mim fazem sentido.
Choro. Peço que as lágrimas salgadas levem esta angústia do peito, esta inércia do corpo e o vazio da mente.
Estou cansada deste momento da vida. Hoje, hoje estou cansada.
Choro e quero adormecer para acordar com outro alento.
Choro pois preciso de força cá dentro.
Eu sei qual é o caminho, está ali, à minha frente, só que perdido nos nós da vida e da mente.
Hoje, estou assim, perdida na vida.



Cat.
2021.02.10

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Escrever-te



Eu sei que fiquei de te escrever, de te dizer, de te dar a saber. Eu sei e tu sabes. E sei que relevas a minha falta de palavras.
Não há muito a contar pois os dias correm como sempre: o hoje igual ao e o amanhã idêntico ao hoje.
Horas que passam numa sequência sem significado diverso ao do correr do tempo.
Não há histórias. Não há conversas. Não há visitas ou saídas porque sim.
Há um tempo estranho, que deixa estranha a mim e aos outros. Somos todos estranhos.
Em todos os sentidos.
Não nos reconhecemos, descaracterizados que fomos, parecendo que saímos de uma linha de montagem.
Não nos sentamos como habitualmente ao pequeno almoço ou no café após almoço ou mesmo no nosso posto de trabalho.
Não conversamos sobre o que quer que seja.
Não nos damos e não recebemos.
Não, não, não. Um punhado de nãos que nos impedem de viver.
E ficamos estranhos, eu pelo menos fico, nesta ausência de rotinas substituídas por algo que me deixam mais ausente que presente.
Mais ausente da vida, lá fora na rua e cá dentro de portas e na Alma.
Não há muito a dizer, pois não há muito que se faça.
Mentira: faço o premente esforço de pensar e de me obrigar a acreditar que isto vai mudar.
Mas no fundo, penso que o que vai mudar são as pessoas.
Este afastamento tão real e prolongado está a criar brechas demasiado profundas na personalidade humana.
Deveria tornar-nos melhores, fazer-nos sentir quão preciosa é a liberdade de poder viver, andar, falar e respirar. Mas não... Estamos cada vez mais estranhos, cada vez mais fechados, em nós, nos nossos medos, nos nossos mundos cada vez mais pequenos.
Por isso não te escrevo: não há nada de novo neste novo modo de viver.


Cat.
2021.02.09


 

Adeus (à) Vida XXVIII


 

Será a morte fria,
Escura,
Doentia?
Será húmida,
Desconfortável,
Quase apodrecida?
Ou será morrer,
Como na água entrar:
Devagar,
O deixar-se ambientar,
Ir perdendo o calor,
Adormecer a dor,
Entorpecer o sentir,
E depois,
Num instante, mergulhar,
Fechar os olhos e,
Nunca, nunca mais voltar?


Cat.
2021.02.09

Adeus (à) Vida XXVII

 


Ir-me-ei quando assim tiver de ser:
Ninguém foge ao destino,
Desde o nascer ao morrer
Está traçado o caminho.
Não há forma de fugir,
Tudo gira e faz sentido,
É um deixar ir,
Libertar-se do que está ferido.
Deixar o que não presta,
O que só faz lágrimas salgadas
Descer pelo rosto e nada resta,
Que as dores, no peito encarceradas.
Quando o corpo estiver pronto,
Ou a Alma com a tarefa cumprida,
Peço que não me chorem a partida:
Sou centelha ínfima dentro de um corpo
Agora podre, inerte, morto,
Que volta para casa, que regressa à verdadeira vida!


Cat.
2021.02.09

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XXVI


 

Aiii morte que te alongas,
Há muito que espero a minha hora,
Já não há nada que me prenda
A esta vida (quase) sempre perdedora.
Já vivi o que para mim havia,
Já deixei o amor avisado:
Não chores na minha partida,
Pois se acabou o meu coração pesado.
Aiii morte que te demoras,
Eu quero deixar as lágrimas,
Aqui, na terra perdidas
Para outras Almas.
Sei que chegarás
Doce, serena, veloz,
A mim, sofrer não farás:
Já quase te conheço a voz.
Aiii morte porque não chegas
E me acabas com as tormentas,
Quero dormir de vez
Nessa única tua beleza!


Cat.
2021.02.04

Adeus (à) Vida XXV


 

Esvai-se a vida
Do corpo, inerte,
Morte rápida, ávida,
A de quem tem (essa) sorte.
Sai devagar a Alma,
Do corpo que agora jaz
Deitado numa cama
Deixado, abandonado, incapaz.
Já não há vermelho sangue
Correndo pelas veias,
O coração já não bate,
E a mente parou, sem memórias.
Mas a Alma, cujo corpo ficou para trás,
Vive e viverá
Nas lembranças de quem me traz
No pensamento, no coração e sempre me recordará.
Viverei eternamente,
Como flor seca entre folhas de um livro,
Que vive sem na verdade viver
E que não vive sem na verdade morrer...

Cat.
2021.02.08

Adeus (à) Vida XXIV


 

Não quero que me chores
No dia em que pararei de respirar:
Lembra-te que se foram as dores,
Com que esta vida decidiu me ofertar.
Sabes que não sou só corpo,
Matéria, sangue e osso,
Que depois de morto
Será pó, enfiado num fosso.
Sou Alma aprisionada
Que nesse dia, nessa hora,
Do físico será libertada
E daqui se irá embora.
Sou Alma com muitas vidas
Todas elas por escolha,
Fui avós, pais e filhas,
De tantos que não sei.
Não chores na minha partida:
Regresso a casa
Com a Alma inteira,
Com tudo o que amei e senti
Em todas as vidas que vivi!


Cat.
2021.02.04

terça-feira, 11 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XXIII

 



Haverá um dia
Em que este corpo meu,
Deixará de ter vida,
Estará morto, sob um véu.
Deixará de ser matéria,
Sangue e carne viva,
Passará a ser etérea
A essência que não se finda.
Serei pó, grãos de poeira,
Mas nunca te deixarei só:
A minh'Alma te acompanhará pela vida inteira.
Serei fantasma de mim própria,
Rondando a quem amo:
Invisível aos olhos, estarei morta,
Mas Alma estará mais que viva!


Cat.
2021.02.04

Adeus (à) Vida XXII


 

Trago no peito
Todas as dores do Mundo:
Não há dia em que me deite,
Sem chorar e secar o poço das lágrimas, até ao fundo.
É a imensidão de um mar,
Que me inunda o ser,
De uma água putrefacta no cheirar,
Suja, onde não há forma de ver.
Lavo, com lágrimas de sal,
Todo esse nojo que sinto,
Que não sendo meu, me faz mal,
Como se fosse por mim cumprido.
Sulco no rosto
A dor dos outros vivida,
Sinto o medo, a revolta, a tacanhez,
De forma tão veemente, que me suga a vida.
Tento, de alguma forma,
O limpar da podridão,
De todos os que são gente,
De modo a obter perdão.
Água podre e parada,
De lamentos e pecados cheia,
Peço que dela não sobre nada,
Depois do meu tormento,
Que não seja, que venha uma nova hora,
Para percebermos
Que a todos tocamos,
Que não somos, mas podemos,
A cada dia, ser mais perfeitos.


Cat.
2021.02.02

Adeus (à) Vida XXI


 

Quando eu me for,
Será porque chegou a hora,
Não será apenas por
Capricho dessa, Morte, senhora.
Serei uma Alma livre,
Que em mim sou eu quem manda,
Andarei por aí fora,
A olhar por quem ainda me ama.
Não gastes lágrimas comigo,
Vê-me antes de outra forma:
Sou pássaro que voa sem rumo,
Sou flor numa jarra.
Não penses que estarei morta,
Estarei sempre viva:
Nos cheiros da Primavera
E na chuva, de Inverno, fria,
Viverei em cada pormenor
De cada coisa viva!


Cat.
2021.02.02

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XX

 


Prometo que te vou amar
Por toda a eternidade,
Jamais me vou deixar
De relembrar esta verdade.
És vida que me enche o peito,
O sangue vermelho vivo,
És saudade quando me deito,
És ar que respiro.
Não haverá momento
Em que o teu cheiro,
O teu sabor, na boca
Não o sentirei:
És parte do que sinto,
Do meu corpo e Alma
E sem ti, de novo, morrerei.
Lembra-te apenas:
A eternidade pode ser efémera,
Durar o tempo de um beijo,
Um momento de pura entrega
E não uma vida inteira.
Mas nunca me perderás,
Jamais te esquecerei,
Permiti que em mim vivesses
E, durante os meus dias,
Aí permanecerás.


Cat.
2021.01.30

Deliciar


Vou entregar-me,
De corpo e alma
Dar-me,
Largar-me,
Deixar-me,
Afundar-me
Em ti como
Quem perde o norte,
Ou, se entrega à morte.
Vou mergulhar
Nas águas do teu amar,
Sem medo de me molhar,
Sem receio do teu me dominar,
Tomar,
Provar ou devorar.
Quero esse nosso inundar
De um no outro entrar,
De dois, em um unificar
E, assim, no teu néctar
Me deliciar.


Cat.
2021.01.30

Adeus (à) Vida XIX


 

Na hora do meu adeus,
Não quero lágrimas
Salgando rostos,
Morrendo nos lábios.
Quando fechar os olhos,
Azuis, cor de mar,
Lembra-te do meu sorrir
E do quanto fui capaz de amar.
Na hora do meu adeus,
Quero partir sossegada,
Fechar estes olhos meus
Depois de tudo perdoar.
Olha para essa partida
Como uma breve passagem,
Como o correr das estações
Em que a Primavera
Antecede sempre os Verões:
Logo passará o tempo,
A ausência e a saudade
E o cheiro das frésias e de outras flores,
Me trarão à tua memória,
Como que vivendo eternamente de verdade!


Cat.
2021.01.30

sábado, 8 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XVIII


 

Deixar-me ir
No baloiço doce
E suave dessa água
Que me deixa deserta.
Não há nada
Além do silêncio,
Absoluto e mágico
Num tempo que,
Como eu, flutua
Ao sabor das ondas
Desse rio.
A calmaria toma-me
Por completo
E a mente
Consegue, finalmente,
Deixar de pensar,
De imaginar,
E a Alma de sofrer
E de dor, quase sangrar.
É assim, nessa água,
Que me perco de mim
E me liberto de ti...


Cat.
2021.01.30

Adeus (à) Vida XVII


Corpo dormente,
Inerte,
Não mente:
É a quase morte.

Deixar o corpo
No leito,
Assim, morto,
Sem o bater do peito.

Largar a Alma,
Deixá-la ir,
Com toda a calma
Porque é hora de partir.

Vê-la desaparecer,
Num céu de cor incerta,
Atrás de uma nuvem qualquer
Mas sem a dor que aperta.

É levada pelo vento,
Arrastada sem destino:
É certo que é chegado o momento,
De para casa, refazer o caminho.


Cat.
2021.01.28

Sei que me esperas


 

Sei que me esperas,
No local habitual,
Sem olhares indiscretos,
Sem quem nos possa condenar.
Sei que anseias
Pelo momento em que
Os teus olhos
Encontrarão os meus
E a minha silhueta far-te-á,
Ainda mais,
Desejar poder tocar-me.
Chegarei dona de mim,
Segura da luxúria.
Chegarei quase despida,
De transparência atrevida.
Não te iludas:
Por muito que me possuas,
Por muito que seja tua,
És tu quem se rende,
És tu que depende
Da minha vontade
E da possibilidade,
De comigo,
Poderes de prazer
Quase morrer!


Cat.
2021.01.26

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Folhas que caem


 

A tarde avança, num místico nevoeiro e chuva miudinha, como num normal dia de Inverno.
A verdade é que não é um dia normal, há muito que não há dias normais.
Lá fora só se ouve a chuva e os pássaros. As folhas cor de mel das árvores encurraladas em cantos, amontoadas pela água que as empurra.
Aqui dentro, nada de normal se passa, estamos como as folhas: encurralados, obrigados a estar confinados, presos nas nossas próprias casas.
Nos poucos momentos em que saímos, não voamos como os pássaros, não sentimos o cheiro à terra molhada, nem o perfume das pessoas que passam.
Não, não é um dia de Inverno normal.
É um momento, já demasiado longo, em que a vida (quase) está em suspenso.
Pior, vive-se no medo, na incerteza do futuro, na dúvida do que vemos e ouvimos, na dualidade de querer ser livre e querer ser responsável.
Hoje sinto que são páginas do livro da minha vida que estou a queimar... A perder e a deixar de viver e de alguma coisa realizar.
Como folhas que caem no ar e morrem amontoadas, num canto qualquer.


Cat.
2021.01.26

Shhhhhh!


 

Shhhhhh!
Não quebres o silêncio,
A magia do momento
De te rever.
Shhhhhh!
Não percas tempo
Com palavras que
Há muito conheço:
Aproveita essa boca e
Enche-a da minha.
Preciso do (nosso) sabor,
Do teu corpo o (nosso) calor,
Do teu desejo o (nosso) ardor.
Dá-te-me com todo o teu vigor.
Toma-me como se fosse a primeira vez,
Ou a última, pois tanto me faz.
Shhhhhh!
Cala-te e prova-me
De forma intensa,
Sem pudores,
Quero contigo vibrar,
Dar-me,
Ser-te,
Receber-te
E, louca e insana,
Perder-me no (nosso) prazer!


Cat.
2021.01.25

Adeus (à) Vida XVI


 

À média luz partirei.
Dir-te-ei um adeus trémulo
Como a hora em que irei:
Frágil, quase apagada,
Numa chama já sem brilho.
A voz quase inaudível,
Como se a partida já fosse,
Como se, de um fantasma,
Se tratasse.
Um adeus cheio de sentir:
Carregado de alívio por partir,
Pelo facto de deixar, para trás a dor,
E ter a certeza que o corpo frio,
Não sofre mais, seja pelo que for.
Não sofrerei,
Será um regresso a casa,
Onde a Alma se acalma
E vive no seu esplendor.
Dar-te-ei um beijo,
Como quem jamais diz adeus
E deixar-te-ei o meu odor:
A fresca, acabada de colher,
Rosa flor.


Cat.
2021.01.25

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XV


Fecharei os olhos
E nada mais verei.
Levarei os teus, cor de mar,
E a lembrança do teu abraço,
Das tuas mãos entrelaçadas
Nas minhas,
Outrora carregadas de vida,
Agora frias, geladas.
Fecharei os olhos
E nada mais sentirei.
Levarei comigo risos,
Abraços e beijos;
Deixarei, junto com o corpo,
Despojado de vida,
Todas as dores,
Todas as tormentas
E a vida não vivida.
Fecharei os olhos
Mas não morrerei.
Sei que algo mais me espera
E enquanto a carne descansa na terra,
Sei que, esta Alma minha,
Viverá de forma etérea,
Na tua memória
E na outra vida, na eterna.
Os olhos fecharei,
Um dia,
Mas até lá, o melhor que souber,
Esta vida viverei.

Cat.
2021.01.25

Caminhos a fazer


 



Há caminhos a fazer.
Há muito para aprender, crescer e ser.
Há, em cada experiência, um evoluir, muitas vezes regredir, mas é assim, com estes passos, ora para a frente, ora para trás, que nos fazem.
E não, não há passos que possam ser desfeitos.
Há, é sempre a possibilidade de não os voltar a percorrer.
E quando me olho, no espelho da verdade, vejo que carrego muita bagagem.
Muitas dores, tristezas e lágrimas, culpa.
Carrego o que devia deixar no passado.
Prendem-se, sugam-me e sufocam tudo que há em mim.
Não sou perfeita.
Há que o aceitar.
E há que perceber que, ao longo dos anos, vamos sendo muitos "eus". Os que realmente somos e os que nos impõem.
No espelho da verdade vou ver-me na realidade, no fundo do meu ser, do meu peito, do meu coração... Da minha Alma. E sei que qualquer erro que cometi, foi sem maldade.
Há que me perdoar e aceitar.
E vou, a partir daí, viver livre, leve e segura de que o futuro só pode ser melhor!


Cat.
2021.01.22

Meu peito


Há chuva e frio
Neste dia que quase
Acaba.
O vento, vadio,
Faz barulho, passa
E traz um turbilhão
De palavras que
São sensação
Da tua presença,
No odor que me abraça
E relembra que
O amor não passa.
Fica na memória,
Marcada como lembrança,
Que traz de volta a
Esperança,
Envolta em novo desejo,
Dos teus lábios na minha
Boca, o teu corpo no
Meu peito.


Cat.
2021.01.21

quarta-feira, 5 de maio de 2021

O Vento


 

O vento, portador
De odores e contador
De histórias banais,
Sem felicidade ou dor,
Traz-me nada.
Não há notícias de ti,
Não há palavras ou cheiros,
Só um remoinho
Sem nexo ou sentido,
Virando e revirando
Tudo que não me importa.
Não me importa saber
Dos outros, são
Vidas que me são nada,
Pois não as vivo e
Não as sinto.
Mas neste correr de
Tempo (quase) morto,
Há uma esperança em
Mim que me dá
Alento, e desta forma não
Rebento, não expludo de tanto
Sentimento.
Solto eu o que há
Em mim, bem cá
Dentro, deste amor
Imenso que é viver-te no
Peito, com a tua memória
Presente, como o sabor do teu
Beijo.
Leva, ó vento, o meu amor
Contigo, fá-lo chegar ao
Destino, para que eu não passe de um
Momento...


Cat.
2021.01.21

Perdida nos dias






Perdida nos dias,
Sem rumo,
Sem alento,
Horas perdidas como fumo,
Levado pelo vento.

Há na noite
Uma esperança,
Vã, quase imperceptível,
Que avança
E, às vezes, quase visível.

Não sei o que me move,
É uma força indescritível,
De acreditar que há
Mais para além da vida.

Um sentimento de falta,
Um sentimento de impotência,
Ao mesmo tempo esperança,
Como que uma crença.

Dúbias palavras,
Contraditórias até,
Mas assim é minh'Alma,
Que não sabe quem é.

Procuro cá dentro,
Em mim,
Procuro cá fora,
Em tudo e no mar sem fim.

Espero caminhar,
Nas horas dos dias que passam,
Com alguém a iluminar,
Cada meu passo dado,
Com amor infinito.


Cat.
2021.01.19

Adeus (à) Vida XIV


Espero sem medo,
Que o tempo passe,
Perdida no enredo
Das horas quase paradas.
De hora a hora,
De dia em dia,
O meu tempo já não demora,
Chegará a meu guia.
Não te percas comigo,
Na ausência da minha presença,
Na falta do meu riso,
Agarra-te à minha lembrança
E continua,
Pois assim é a vida.
Eu,
Eu estarei noutra via,
Numa realidade paralela,
Cuidando e guiando-te
A cada dia.
Jamais te abandonarei,
Mas vive com paixão,
Jamais te deixarei,
Viverei,
Com as tuas vitórias,
Com o teu crescimento,
Até chegar a hora de
Te transformares, no meu,
Mesmo elemento.


Cat.
2021.01.19

terça-feira, 4 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XIII


 

O cansaço
Acabará por vencer.
O corpo, sem esforço,
Acabará por ceder.
A Alma, solta do peso,
Voará com todo o seu saber.
Liberta das dores
Com todas as lágrimas já caídas,
Salgando, tantas vezes, as faces,
Está certa de que tem fechadas as feridas.
Não me sintam a falta,
Não irei para longe,
Olharei por todos,
Pois a vida, não morre,
Passa a ser, apenas, de outra forma vivida.
Amarei de igual forma,
Talvez mais ainda:
O Amor tornará,
Da minh'Alma,
Da minha outra vida,
A minha rotina.
Não partirei,
Estarei sempre a teu lado,
E em todos os momentos
Guiarei os teus passos.


Cat.
2021.01.13

Adeus (à) Vida XII


O dia há-de chegar,
Devagar,
E nada há a lamentar:
Será a tormenta a terminar.
As minhas culpas,
Nas dores durante
A vida sentidas,
Acabarei de expiar.
Não quero que me chorem,
Não há razão para tal:
A Alma estará pronta,
Limpa e sem mágoa,
Liberta do peso da carne d'uma mortal.
Voarei,
Com a habitual pressa
De quem deseja,
Chegar a casa depressa.
Não quero que me chorem:
Há luz na minha Alma,
Porque há coisas que não morrem,
Que não desaparecem,
Desvanecem deste mundo,
Docemente, com calma.


Cat.

2021.01.12

Adeus (à) Vida XI

 


Ao partir
Quero ver-me nos
Teus olhos cor de
Mar.
Como um veleiro,
Ao sabor do vento,
Do tempo e sem
Receio.
Quero cerrar os olhos,
Lentamente,
Como se não houvesse tempo,
Hora para partir.
E quando o veleiro
Levar a minha Alma,
Sei que me vou libertar,
Como o sal na tua lágrima.
Mas não me chores demais,
Não quero lágrimas em ondas:
Não quero que seques o mar
Desses olhos teus,
Onde me verei,
Para sempre,
A navegar.


Cat.
2021.01.12

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Adeus (à) Vida X

 


Nada tem fim,
Pois tudo se transforma.
Basta olhar para mim
E ver como sou agora.

Há um início,
Tudo o resto é recomeço
Um mero indício
De que tudo é esforço.

Prender o ar e não respirar um dia
Ou outra qualquer forma para ficar sem vida,
Mas apenas o corpo morreria
E de nada valeria a minha partida.

Estoica, feita heroína,
Ficarei e aprenderei
Com vivências nesta inda e vinda,
De fins e recomeços viverei.

Mas quando chegar o dia
Em que o corpo, cansado,
Perder a vida,
Será a liberdade para esta Alma sofrida...


Cat.
2020.12.16

Dormência


 

A noite é de um normal Dezembro, com chuva que vem e se fica pelo céu, tornando as nuvens mais negras que o habitual.

... Comecei a escrever, no meu habitual e monótono registo e... Nada. Nada. Um vazio.
Não um vazio vulgar, acostumado e igual a tantos outros.
Não um vazio de palavras presas na garganta ou na ponta dos dedos.
Não.
Apenas um vazio diferente, como se não houvessem palavras para expressar o que sinto.
Não há urgência em tirar de mim o sentimento, não há urgência em transformar em frases tangíveis e compreensíveis. Apenas porque é impossível.
Não há desespero em mim, mas há um nervoso miudinho.
Há esperança na minha Alma, mas também uma certa ansiedade.
Não há angústia cá dentro, mas há um pensar o futuro.
Há amor no coração, transbordante e infinito e por tudo e todos. Mas também há uma não necessidade de o dizer ou demonstrar.
São tempos estranhos e já se demoram a desaparecer, a deixar-nos voltar a tentar viver o normal.
Talvez as palavras certas sejam esperança e medo.
É difícil descortinar os dias que nos esperam que, talvez, seja tão simples quanto isto: um misto de esperança e medo.
Medo não é. Tenho agora a certeza disso.
Há algo, cá dentro, bem no fundo do meu ser, que vê um futuro brilhante, cheio de luz, esperança e empatia. E tudo o que daí advém.
Sim, é isso que sinto no âmago do meu ser.
Este momento anormal é, para mim, uma espécie de dormência... Uma dormência superficial, pois há o que sinto tão forte dentro de mim, como uma certeza concretizada.
Eu sei... Não faz sentido.
Porque as palavras que tenho para dizer não são palavras, são sentimentos, é algo que só o sentir pode compreender...


Cat.
2020.12.15

Adeus (à) Vida IX


 

Voar,
Sair, a pairar pelo céu
Negro da noite, cor de breu
Sem saber onde parar.

Ir,
Deixar o corpo inerte,
Com as lágrimas que já não verte,
Por acabar o sentir.

Deixar dançar
Ao sabor do vento
A Alma que ainda sinto
Como poeira no ar.

Subir,
Partir e ao mesmo tempo ficar,
Num estado que não sei explicar,
O corpo morto, sem ar
Ou sangue do coração a correr,
E a Alma, presente, a ver,
Toda a dor, como pó, a desvanecer,
No ar a diluir...



Cat.
2020.12.15

sábado, 1 de maio de 2021

Adeus (à) Vida VIII


 

A névoa chegou,
Num compasso lento
Como quem tem tempo,
E ali ficou.

Ali se demorou,
Olhando-me o corpo quente,
Olhando-me de frente,
Como quem sempre esperou.

Percebi que a hora se aproximou
E num de repente,
Sem medo e bem perto, mesmo rente,
Chorei e o corpo parou.

Caída no frio chão,
Sem corpo para viver,
A névoa a minh' Alma levou.


Cat.
2020.12.12

Adeus (à) Vida VII


 

Um dia virá
Em que os olhos não abrirei,
Para ti a olhar não voltarei,
Mas será um até já.

Breve passagem por cá,
Em que feridas abri e fechei,
Muitas na Alma guardei,
Mas não as levarei, comigo, para lá.

Do outro lado do céu
Voo sem medo ou receio:
O que vem é bem melhor
De tudo o que já veio.

Não me chores a partida,
À tua espera estarei
Acima deste mundo e desta vida,
Se é que o merecerei...


Cat.
2020.12.10

Adeus (à) Vida VI





Voei.
O corpo abandonei
E voei.

Fechei.
Os olhos não mais abrirei
Porque os fechei.

A dor
Que na alma sentia
Já não queima, já não há por.

O amor,
Que era o bater o Coração fazia,
Já não arde, já não há fulgor.

O ar,
Que era o que viver me fazia,
Fica cá fora, do corpo, já não há como entrar.

Voei.
De corpo e alma vazia morri,
Deitada,
No leito de amargura vivida
E olhando para o que fui, sorri:
Sou, agora, livre de tudo e por aí voei!


Cat.

2020.12.08

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Adeus (à) Vida V


 

Doce beijo,
Suave, delicado, certeiro.
No meio da noite, matreiro,
Chegas e já nada vejo.

Levas-me do corpo a vida,
Num voo nunca vivido,
É alívio: já não sofro,
Já nada me faz ferida.

Jazo, à morte rendida,
No leito onde muito sonhei,
Onde houve muita lágrima vertida,
Onde agora, morta, nada mais direi.

Não quero que a falta me sintas,
Pois não a sentirei,
Estarei longe, às tantas,
Em lugares que existirem, nunca pensei.

Parto sem mágoas,
Sem peso e sem dor,
Levo apenas as salgadas lágrimas
Que guardei por amor...


Cat.
2020.12.05

Adeus (à) Vida IV


 

Serena, calma e em mim
A noite aqui chegou:
Do meu leito s'aproximou
E entregou, ao meu ser, o fim.

Sou corpo frio, sim,
Em que o sangue parou,
Serei cinzas que o fogo queimou
Espalhadas na brisa de cheiro a jasmim.

Não sintas nada por mim:
A dor terminou
E eu... Eu, já não sou,
Pois as horas deixaram de ter fim.
Agora apenas um' Alma assim:
Livre e que voa o que nunca voou.


Cat.
2020.12.05