sexta-feira, 30 de abril de 2021

Adeus (à) Vida V


 

Doce beijo,
Suave, delicado, certeiro.
No meio da noite, matreiro,
Chegas e já nada vejo.

Levas-me do corpo a vida,
Num voo nunca vivido,
É alívio: já não sofro,
Já nada me faz ferida.

Jazo, à morte rendida,
No leito onde muito sonhei,
Onde houve muita lágrima vertida,
Onde agora, morta, nada mais direi.

Não quero que a falta me sintas,
Pois não a sentirei,
Estarei longe, às tantas,
Em lugares que existirem, nunca pensei.

Parto sem mágoas,
Sem peso e sem dor,
Levo apenas as salgadas lágrimas
Que guardei por amor...


Cat.
2020.12.05

Adeus (à) Vida IV


 

Serena, calma e em mim
A noite aqui chegou:
Do meu leito s'aproximou
E entregou, ao meu ser, o fim.

Sou corpo frio, sim,
Em que o sangue parou,
Serei cinzas que o fogo queimou
Espalhadas na brisa de cheiro a jasmim.

Não sintas nada por mim:
A dor terminou
E eu... Eu, já não sou,
Pois as horas deixaram de ter fim.
Agora apenas um' Alma assim:
Livre e que voa o que nunca voou.


Cat.
2020.12.05

Adeus (à) Vida III




Cansado e carregado
De pesado desalento
O coração faz a vontade
E a Alma segue-lhe o exemplo.

O corpo inerte,
Sem respirar,
Sem vida, agora, permanece
Num eterno descansar.

Um último desejo
Quer ver concedido:
Ser cinza espalhada
Num campo qualquer,
E qual pássaro voando,
Livre finalmente,
Pertencer
Onde quiser.


Cat.
2020.12.04

 

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Adeus (à) Vida II


 

Ouve-me:
Quando o vento Sul
Não cheirar a mar,
Quando o orvalho
Deixar de molhar
E as nuvens negras
De chorar,
Não te apoquentes,
Sou eu a partir.

Dir-te-ei adeus
Com tempo, sem pressa,
Será todos os dias
A cada hora, minuto
Que passa
Na sua eterna pressa.

Deixará, para mim, de haver vida
Como o meu coração,
O corpo inerte, deitado,
Já sem sentir o que havia.
A Alma despedaçada,
Cortada,
Partida e pequena,
Será espalhada
Como de uma flor
As pétalas, no chão
Caída, perdida na erva...


Cat.

Adeus (à) Vida I


 

No dia em que me acordares
E os olhos eu não abrir,
Por favor, não chores,
Assim já deixei de sentir...

O ar passa livre por mim,
Sem obrigação de entrar
E de assim ter um fim:
Fazer-me a dor perdurar...

O sangue pára por fim,
De desenfreado correr,
O frio apodera-se de mim
Não há forma mais perfeita de morrer...

O corpo frio enrijece
Com o passar das horas,
E já nada m' entristece.


Cat.
2020.12.03

Avó


 

Há dias que não se esquecem.
Não importa o ano, muitas vezes as datas, com o tempo, se esvanecem.
Mas hoje, um dia 3 de Dezembro, há uns anos, marcou-me e jamais o esquecerei.
Lembro-me dos seus olhos azuis, diferentes dos meus e dos da minha mãe. É verdade que as cataratas, mais para o fim, não ajudavam a definir o azul, mas lembro de serem cor do céu em dia de Verão. Imensos e intensos.
Recordo o seu humor, numa malandrice escondida de quem já não tem pudor.
E o seu riso! Como era contagiante e sempre presente, mesmo quando a tosse teimava em levar a melhor.
Um dia pediu para passarmos a levar camisolas, que com a idade eram mais aconchegantes...
E recordo ainda mais as suas mãos, os dedos recolhidos, tolhidos pelas artroses de quem nunca teve tempo para as tratar.
Imagino a dor... Não só a de não se poder mexer um elemento básico do corpo, como a dor e frustração de não conseguir apertar um botão de uma blusa.
Mas o sorriso nunca a abandonou. E a gulodice. "Bolachas, mas só dois ou três pacotes que as irmãs malvadas roubam tudo. Eu sei quando vão comer-me as bolachas." E logo de seguida uma inconfidência sobre a incontinência de uma delas e a gargalhada como quem diz: cá se fazem, cá se pagam!
Nunca fomos íntimas. A relação degradada entre mãe e filha não mo permitiram. Mas havia um amor, um carinho inerente a quem é sangue do mesmo sangue, para quem se olha e vê parte de si. E eu era a "sua netinha". Aquela a quem deu 100 contos para o vestido de noiva. Sou um desastre: nunca casei... Acho que nunca se importou com tal.
Hoje faz anos que recebi a notícia da sua partida. E recordo os seus curtos cabelos quase todos brancos e a alegria que sempre tinha no rosto mesmo que não fosse o que o sentisse no seu coração.
Como é vívida a imagem do seu sorriso na minha memória!
Sim, há dias que nos marcam. Pela tristeza e pela alegria das recordações...


Cat.
2020.12.03

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Decadência


 

Há chuva lá fora. Cai num compasso incerto como que adivinhando os meus pensamentos.
Os dias têm corrido quase sempre iguais, num confinamento que não sendo obrigatório, não te dá vontade de sair. Ou de ter para onde ir.
O que me vale são os pensamentos.
Não. Mentira.
Não valem de nada.
Ando oca. Vazia. Sem conteúdo.
Não vejo.
Não sinto.
Não me incomoda.
Não me alegra.
Não nada.
Indiferente.
Um mero andar por andar. Dentro destas quatro paredes.
As conversas acabam por me cansar e deixo de as ouvir e, da minha boca, saiem apenas os habituais ruídos de conforto.
Cansaço? Não.
Desespero? Não.
Tristeza? Não.
Mas minto, agora que penso melhor nos meus dias.
Eu sinto. Há momentos em que sinto.
Sinto um Amor enorme por tudo que é simples: no sol, na chuva, na erva, no rir de uma criança na rua, nas pessoas, na forma como o Mundo é perfeito. Ou poderia ser, se todos amássemos assim: incondicional. Sem julgar. Sem condenar. Se fossemos empáticos.
Sim, eu penso.
No resto do tempo parece que não pertenço aqui e que há uma névoa ao meu redor que me impede de sentir mais do que Amor. Como se fosse preferível não sentir, não ver, não pensar excepto se for esse Amor.
Como que só me permitisse ver o que realmente importa, o que realmente é importante para o meu crescimento como pessoa.
O resto, o resto é uma nuvem que tudo tapa e me impede de ver, sentir ou pensar...
Talvez seja isto o início da (minha) decadência como ser humano...


Cat.
2020.11.25

Pés sem chão


 

Pés sem chão, flutuo pelos dias,
Sem tempo, sem noção.
São apenas horas que passam,
Entre o dia e a noite,
A luz e a escuridão.
Tal como o meu pensar,
Agora livre e feliz,
Ora triste, sem rumo e em vão.
Tempos estranhos estes
Em que os dias de Outono parecem de Verão.
E nós fechados, num cerco,
Que nos impede de viver plenamente,
De poder abraçar, beijar e dar a mão.
A vida está diferente.
As pessoas estão diferentes.
Tudo está em transformação.
Apesar de tudo, da (aparente) dormência,
Que nos tolda a visão,
Há a esperança,
Há a certeza na mudança,
De crenças,
De pensares,
De formas de olhar o outro e o Mundo.
Pés sem chão, flutuando acima do material,
Dando importância ao moral,
Ao olhar o outro como igual,
A sonhar com um Mundo
Perfeito, onde todos temos
Um papel principal...
Vejo tudo a desmoronar,
Vejo cada vez menos empatia,
Cada vez mais os egos e o egoísmo
A ganhar caminho.
E no entanto, cá dentro,
No meu ínfimo imo,
Há (quase) uma certeza
Que o futuro será
Belo e lindo.
Pés sem chão, flutuando,
A (querer) acreditar
Na última utopia...


Cat.

Insano entregar


 

Obedeço(te)
Sem questionar.
São as (tuas) vontades
Que imperam
Entre (estas) paredes.

Vergo(me)
Perante o (teu) dominar.
Servir(te) todos os prazeres,
E quais não importam
Pois (aqui) não há limites.

Pertenço(te)
Neste insano entregar.
Satisfazer(te) os devaneios,
Deixar(me) a luxúria penetrar,
Sem medos, sem receios,
Só pelo puro prazer
Que (nos) podemos dar...


Cat.
2020.11.04

terça-feira, 27 de abril de 2021

Olho(te)


 

Olho(te)
Submissa,
Esperando com ânsia
O teu querer(me).

Olho(te)
Com o desejo
Em crescendo,
Numa espera (quase)
Infinda.

Olho(te)
Suplicando,
Toma a (minha) pele,
O (meu) corpo,
O (meu) sexo humedecido
Que (te) espera.

Olho(te)
E, assim simples,
Já não me pertenço,
Já sou parte da (tua) luxúria,
Fazendo (meus) todos
Os (teus) devaneios...


Cat.
2020.11.02

Ela


 

Ela é delicada,
De lábios cereja,
Pele de cor alva,
Cheiro a flor de laranjeira.

Voz doce,
De palavras fluídas,
Sem esconder quem é,
Sem ter medo do que é.

Veste o que a Alma pede,
Muitas vezes decote,
Silhueta marcada sem pudor,
Passa e não há olhar que não siga o seu passar,
Elegante,
Compassado,
Sedutor.

Mas no olhar,
Traz a menina,
Doce, perdida,
Que dá vontade de abraçar,
De guardar e de cuidar.

E no momento seguinte,
Os dedos deslizam nos lábios,
Ou tocam o decote,
Ou os dedos brincam,
Mostrando o pescoço,
Com o cabelo.

Menina-mulher,
Anjo tentador,
Desejar amar-te,
Com ternura ou com loucura,
Mas sempre, sempre,
Com toda a luxúria.


Cat.
2020.10.30

XXXV


 

Viaja pelo meu corpo guiando-me as mãos com as palavras que me sussurras ao ouvido.
Pertenço-te. De todas as formas.


Cat.
2020.11.01

segunda-feira, 26 de abril de 2021

XXXI Verdade Irrefutável


 

Há sabores, odores, toques e vontades que se entranham em nós, uma constante presença, a cada movimento, a cada passo, em cada esquina, rua ou cama...
E tu és assim para mim, estás assim em mim: entranhado que mesmo não te tendo, (quase) te sinto.


Cat.
2020.11.01

Intocada


 

Pura, intocada,
É assim que espero
A tua chegada.
Ontem,
Hoje,
Amanhã.
Todos os dias.
Pura, apenas por ti tocada,
Apenas tua,
De corpo,
Pele, sangue
E Alma.
Não há entrega assim
Sempre ansiada,
Sempre intensa,
Sempre como se fosse
A primeira.
Descoberta a cada toque,
Desejada a cada beijo,
Docemente amada,
Luxuriamente tomada,
Domada.
Pura,
Que de inocente não tem nada...


Cat.
2020.10.28

Um em dois


 

O teu beijo
Perdura, doce e suave
Na minha pele,
Como uma veste que
Jamais se despe.

O teu toque
É parte de mim,
Deste corpo que,
Às vezes inerte,
Vagueia pelas memórias
Do que é receber-te.

O teu odor
Paira neste ar
Que a cada bater
Do coração inspiro,
É o que me faz viver,
É o que me faz vibrar.

Doce é o amar,
Carregado de ilusões
Que a cada dia nos faz sonhar,
Que a cada hora custa mais a passar
Até te voltar a rever,
Até voltarmos a ser um em dois...


Cat.
2020.10.28

sábado, 24 de abril de 2021

Desnuda


 

Espero(te) quase desnuda
Das vestes da vida,
Pronta, certa e segura,
Tanto da (tua) chegada, como da (tua) ida...

Mas espero(te)
Pois desejo (por ti)
Ser uma e outra vez,
De novo,
Sentir-me viva,
Assim possuída.


Cat.
2020.10.26

De dentro


 

Há no vento um estranho aconchego.
Um abraço que m' envolve a pele, que me trespassa a carne e chega à Alma.
Abraça-a sem medo do que é, só que vai ver ou sentir.
E ela, docemente, deixa-se ir. Deixa-se mostrar.
Não há nada que o vento não exponha, não traga cá para fora.
E o corpo cai, dormente no chão.
Há o húmido do orvalho na erva e nas flores o cheiro a um Outono quase a acabar.
Na terra onde as mãos se ficam há a ligação mais pura, mais simples e mais inocente de sempre.
Um ser que respira, vive e pulsa, no meio de um mundo perfeito de ciclos correndo entre a vida e a morte. Sem medos, sem receios, sem culpas. Apenas cumprindo o seu papel neste teatro que é a vida.
E o vento mostra o meu interior, o meu íntimo, o meu Eu mais sincero e verdadeiro.
Com todos os defeitos.
Com todos os erros.
Com todas as virtudes.
Com todos os sentimentos.
E eu senti-me, ali, deitada, com o sol no rosto, de alma lavada porque sou apenas e somente humana.
E, assim, como que fora do corpo, olhei-me e vi luz ao meu redor, não negrume. Vi cor e sorrisos, não dor e desesperos.
Vi que ser feliz vem de dentro e não do que os outros nos dão.


Cat.
2020.10.26

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Palavras, tantas


 

Doces palavras
Sussurradas ao vento.
Onde chegarão?
Não sei.
Importa? Também não.
Tenho-as aqui,
No peito,
A subir pela garganta,
Pelos lábios a sair,
Como quem canta.

Delicadas palavras
Soltas no tempo.
Imortais,
Intemporais,
Impossíveis de desdizer.
Importa? Nada.
Não há sentimento
Mais puro cá dentro,
Agora partilhado e dito.

Minhas palavras,
Sentir que é meu,
Exposto,
Dito sem desdém,
Sem medo,
O meu eu mais profundo,
A minha Alma,
À mostra,
Despida de pudor ou tormento.
Apenas Eu.
Apenas o meu Ser.
Apenas o meu Sentir.
Com virtudes e defeitos.

Palavras de Amor,
Palavras de dor,
Palavras de sentir
Palavras de (quase) inexistir.
Palavras de entrega,
Palavras de perda,
Palavras de vitórias
E palavras de (muitas) histórias.
As minhas.
As que fazem de mim o que sou.
As que me permitem ser o que sou.
Com tudo de bom ou não.
Mas sempre eu.

Palavras soltas
Ao vento ou numa folha branca,
Se a ti chegarem
E as quiseres ler,
Não me julgues,
Nem me me tentes compreender:
Sou apenas uma Alma perdida,
Num corpo de mulher,
A aprender como fazer
Entre o ser e o viver...

Cat.
2020.10.21

Renascer


 



O sangue corre,
Sincronizado e lento
A cada batimento
Deste coração que vive.

Vermelho carmim,
Cor carne, viva
Como a vida,
Cá dentro de mim.

Percorre este corpo,
Por esta pele
Branca tapado,
Como uma veste
Que nunca se destapa,
Que, apenas, às vezes,
Se rasga,
Fica dilacerada,
Ferida,
Marcada.

Mas o sangue corre
E como o tempo,
Tudo sara,
E a vida renasce
De cores vivas,
Rosa e carmim,
Nesta pele, carne e Alma
Dentro de mim.


Cat.
2020.10.20

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Turbilhão


 

Há um turbilhão
Dentro de mim,
Que quer sair-me
Boca fora.

Palavras, um milhão,
Que não e que sim,
Que sei vão trair-me
Apenas porque se vão embora.

Vão deixar de serem de mim
E passar a serem de quem as ler,
Em qualquer lugar
E a qualquer hora.

Pessoas que (não) conheço,
Que me dizem muito ou nada,
Que fazem (não) parte de mim
Que vão ter caminho aberto
Para por mim,
Pela minha mente e Alma,
Poderem seguir adentro.

Mas há um turbilhão
De palavras
Que dentro deste corpo
Já não aguento...

Adentre-se quem quiser,
Pois eu já não me escondo
E entenda quem puder
Pois eu já desisti, faz tempo.


Cat.
2020.10.20

Melhor de mim


 

A noite já vai longa no seu reinado e a lua brilha, envergonhada, por entre núvens quase transparentes.
Há orvalho no ar e nas folhas amarelo e vermelhas dos carvalhos que cintilam ao sabor da brisa e se deixam deslizar até morrerem no chão.
Há silêncio.
Um estranho silêncio. Sem ruídos longínquos de vozes ou passos na calçada, nem sequer de carros na estrada.
Há silêncio na noite, lá fora. Apesar das luzes e dos brilhos, há silêncio.
Aqui, o relógio marca o passar compassado dos segundos e dos minutos e das horas. Num ritmo cadenciado, certo, dormente, previsível.
Ao contrário do que eu sinto.
Eu sinto vida cá dentro. Como nunca senti.
Eu sinto esperança, como nunca senti.
Eu sinto que faço parte deste mundo, desta Terra, desta Vida.
Eu sinto um amor como nunca senti.
Um amor pelo outro. Um amor infinito por todos os seres.
Tudo me encanta. Tudo.
Tudo me fascina. Tudo.
Tudo o que é bom me surge na vida. E tudo que não é necessário é limpo, deixado para trás. Sem culpas, sem receios, sem mágoas.
É como se estivesse a aprender e, sobretudo a aceitar, ser feliz.
Porque eu mereço ser feliz.
Eu mereço. E é para isso que cá estou, para ser feliz.
Para sorrir. Para vibrar com paladares e cores e odores. Para abraçar e beijar e amar, como quero ser abraçada, beijada e amada. Para ter e dar amor. Mesmo que de outras pessoas. Para respeitar, ouvir e aprender. Para poder, também dar de mim, o melhor de mim.
É como diz a música: "Sei que o melhor de mim está para chegar".
Hoje. Amanhã. Depois. A cada dia melhor.
Porque não há que ter medo de ser feliz.
Não há que ter medo de Amar incondicionalmente. Sem reservas. É o nosso melhor.
E eu, eu quero dar e ser o melhor de mim. Sempre que me for permitido e possível.


Cat.
2020.10.15

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Vidas paralelas


 

Vidas paralelas.
Há vidas paralelas. Há quem seja duas pessoas. Há quem viva duas vidas. Há quem as viva de verdade, com todas as pessoas, em carne e osso; e as que as vivem apenas por mensagens e fotografias que excitam as mentes e despertam a líbido.
Nada contra. Jamais poderia julgar, muito menos condenar. Já vivi assim. Ambas.
Duas vidas. Uma cheia de vida, cor, sexo e, como se fossemos uma lâmpada cheia de luz, borboletas voando à nossa volta.
Mas tudo o resto é noite. É negro. É sem vida. Sem cor. Morto.
Mas há quem viva isto dentro de si.
Dentro do seu corpo. Da sua alma. Do seu coração.
Vidas sem vida. Rotineiras. Demasiado simples. Demasiado desbotadas. Demasiado mortas...
E há, porque há, a necessidade de mostrar que somos mais. Que temos mais. Que fazemos mais. Pessoalmente. Profissionalmente. Perante todos: amigos, família, conhecidos, chefes, e, até, desconhecidos. Mais, mais, mais...
No fundo, aparências.
No fundo falta de essência.
Algures na vida todos passamos por isto, faz parte.
O que é necessário é sair do registo.
Assumir que podemos ter menos cor. Mas, sem dúvida, teremos mais brilho. Um brilho genuíno, que vem de dentro.
Mas somos o que somos e o que escolhemos.
Vidas paralelas.
Sim, há vidas paralelas.
Carregadas de cores cinzas, coloridas de tons desbotados.


Cat.
2020.09.29

Tão mais fácil


 


Há na brisa uma mescla de Verão e Outono. Há o calor e as cores avermelhadas das folhas das videiras. As uvas são gentilmente debicadas por pardais e os gaios andam no chão.
Na água, as andorinhas bebericam, em pleno voo, sem medo de molharem as penas. E as flores continuam a serem beijadas por abelhas de uma qualquer colmeia vizinha.
Aqui, nesta cadeira, neste canto do jardim, sinto e vejo toda esta vida que não pára. Que se recicla. Que se adapta. Que vive apenas o dia.
Pergunto-me porque não posso eu fazer o mesmo: deixar ser, deixar fluir.
Deixar-me flutuar na água de fundo azul que oscila ao sabor do vento doce e quente.
Ficar ali, olhando o azul do céu com o azul da água por baixo.
Sentir o oscilar da vida e viver com isso.
Sentir o frio da água e a sua profundidade e não sentir medo.
Olhar o céu e saber que a noite chegará e mesmo assim, ali, deitada, oscilando ao sabor das situações, deixar-me estar, à espera do que virá e... Aceitar. Apenas aceitar.
Porque tenho que pensar e não apenas viver e aceitar o que vier?
Seria tão mais fácil...


Cat.
2020.09.14

terça-feira, 20 de abril de 2021

Duas. Frente a frente


 

Duas. Frente a frente.
Não em confronto, mais numa tentativa de se compreenderem. Uma à outra, ambas.
Duas. Frente a frente.
Diferentes em tanto e iguais em outro tanto.
Dores idênticas. Sorrisos iguais. Lágrimas pelas razões.
Apenas formas diferentes de olhar.
Apenas formas diferentes de lidar, de viver, de ultrapassar.
Duas. Frente a frente.
Questionando porque a outra não sente igual. E a outra desejando sentir como essa.
Deixar a dor.
Deixar o peso do passado.
Deixar as pessoas que já não nos trazem nada e, principalmente, a quem já nada temos para dar.
Deixar que as lágrimas de tristeza sejam apenas de alegria. Sejam pelo bem que se faz, que se recebe.
Que o amanhecer seja uma bênção e que a cada dia o sol brilhe e o sorriso ilumine o rosto, nem que seja apenas por um minuto.
Duas. Frente a frente.
Numa luta sem palavras, em que a forma de sentir, de olhar, de aprender ou não é que vence.
Numa tentativa de se equilibrarem e de se tornarem apenas numa. Uma única, sem dualidades, sem receios, sem medo de viver e de apenas ser.
A desejar conciliar a mente, o coração e a alma neste corpo que é só um.
Duas. Frente a frente.
Num espelho tão iguais e tão diferentes. E como só desejo conciliar-me e aprender a viver com ambas.
Talvez só o consiga criando uma terceira: a do equilíbrio e a que não se compara constantemente ao espelho à espera de resposta que nunca surgirá...


Cat.
2020.09.12

Olhar-te


 

Olhar-te,
Mergulhar nos teus
Olhos cor de mar,
Sentir-me protegida,
Amada,
Desejada.

Olhar-te,
No teu corpo me enroscar
E o mundo,
Ali, naquele instante,
Desaparecer.

Olhar-te,
Deitar a cabeça no teu peito
E sentir
O meu e o teu
Uníssono respirar.

Olhar-te,
Perceber que
Sem ti este
Mundo meu teria
Sentido algum.

Olhar-te,
Saber que te sou
Na mesma medida que me és:
Parte de mim.
Deste corpo em cada beijo,
Deste coração em cada abraço,
Desta Alma em cada momento
Que contigo passo.

Olhar-te
E dizer-te sem palavras
Que te amo,
Que te pertenço
Sem amarras,
Sem exigências
Por todo e
Qualquer tempo.


Cat.
2020.09.12

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Certezas






Não, não há um fio condutor nos dias que são percorridos por horas, por vezes, infindas.
São dias. Uns seguidos de outros. Uns bonitos, outros nem tanto. Todos diferentes.
Não, não há um caminho que traces e consigas seguir em linha recta.
Há sempre uma curva, uma pedra, um contratempo e quase nunca corre vomo planeado.
Então, para quê planear?
Então, para quê pensar no dia de hoje e no de amanhã?
No de ontem não vale mesmo nada: já tudo foi, aconteceu, passou é irreparável. Pode ser remediável, como um remendo na nossa peça de roupa preferida. Mas que não deixa de ser, de existir, de lá estar. A estragar.
Às vezes não estraga, às vezes torna-os, aos momentos e às horas, apenas únicas.
Não, não há um fio condutor.
Excepto a certeza de que as horas se seguem uma atrás da outra.
Excepto a certeza de que os eventos irão sempre existir e acontecer, planeados ou não.
Excepto a certeza de que não há certeza.
Não. Há sempre um fio condutor.
Olhar para trás e ver que, apesar de tudo, de todos o planos (in)concluídos, de todos os amores (in)correspondidos, de todos os medos e receios, a vida continua.
Sempre.
Dia após dia.
E que sempre, sempre, de alguma forma, a nossa dor se alívia.
Eu acho que é Amor.
Sim, o fio condutor é o Amor. Não os planos, os projectos, os desejos...
É o Amor. É o único sentimento que nos faz levantar depois de cair, perdoar depois de magoados, acreditar depois de enganados, aceitar depois de rejeitados. Há quem diga que há outros nomes para isto... Talvez. Mas sem Amor, o verdadeiro Amor por nós, como seres falhos que somos, não há próximo dia e toda e qualquer desventura ou alegria.
Sim, há um fio condutor que nos faz acreditar que vale a pena viver: o Amor. Em todas e qualquer uma das suas formas.


Cat.
2020.09.16

Juízo


 

Há dias em que o corpo se ressente, não aguenta e (quase) cai.
Sentes-te mal, desconfortável e só queres dormir. Um cansaço extremo que não sabes de onde surge, o que o originou.
Não, não é mental ou assintomático. É no corpo, com oscilações de capacidade física, de mobilidade, quase um estado febril.
Nada aparente para tal.
Nada que ingerisses ou um resfriado, pois nem de casa saíste.
Há dias em que o corpo reflecte o que já não consegues expressar. Em que o que sentes já extravasa a alma, o coração, a mente...
Há dias em que mais que desistir, tudo te obriga a parar. O corpo e a mente: pára de pensar, pára de conjecturar, pára de antecipar ou sofrer por erros cometidos pois só pioras.
Sim, há dias em que quase tens de parar.
Quase...
E há sempre um quase que te leva ao (quase) total quebrar do corpo.
Mas há que continuar. Com ou sem erros, com ou sem medos, com ou sem forças.
E se nada do escrito fizer sentido, perdoem-me: é porque já me afecta o juízo...


Cat.
2020.09.09

sábado, 17 de abril de 2021

Sentir


 

Sentir
A tua presença
E sorrir no rosto
E no corpo por inteiro,
Necessitado do teu abraço.

Sentir
O ar a fluir,
O teu perfume a inebriar
E a pele a arrepiar,
Necessitada de toque.

Sentir
O sabor da tua boca
Prolongadamente
Na minha,
Necessitada do teu ardor.

Sentir
A tua húmida língua
No corpo a percorrer
Recantos adormecidos,
Necessitados de (re)viverem.

Sentir
O teu corpo
No meu unido,
Num infindável acto
De entrega,
De querer,
De luxúria,
Necessitado do meu prazer.
E eu do teu,
No meu corpo
Suados,
Molhados,
Cansados,
Abraçados,
Sem necessidade alguma,
Pois assim
Somos plenos,
Perfeitos.

Cat.
2020.09.04

Palavras chegarão


 

Haverá um dia em que as palavras sairão de forma fluída, sem pressão, sem nelas pensar afincadamente.
Serão palavras de amor, de prazer, de gratidão, de sorrisos e de alegrias.
As palavras, as minhas palavras, são neste momento pensadas antes de escritas.
Não porque não tenho o que dizer ou sentimentos dignos de ficarem registados e, até, partilhados.
Eu tenho palavras e sentimentos. Muitos. Complexos. Dúbios. Difíceis de transcrever para a folha de papel (que hoje em dia é um qualquer gadget).
Tenho saudades da era do papel e da imensidão de possibilidades que o branco de uma simples folha dava. E da leveza e beleza das palavras que de mim saíam.
Palavras de esperança.
Palavras de crer.
Palavras carregadas de amor, de alegria de querer o tanto que havia para viver.
Hoje, ainda tenho esperança.
Hoje, ainda creio, acredito. Em mim, nas pessoas e Mundo.
Mas estão perdidos, num emaranhado sem fio condutor, sem um caminho certo para percorrer.
Sem uma folha branca de papel onde fluir levemente.
Há outras palavras, outras folhas, talvez cinzentas, onde o preto das letras se torna, por vezes, impercetível, incompreensível, impossível de escrever de forma coerente.
Pois há um rodopio, uma montanha russa de sentires que as palavras deixam de fazer sentido.
Talvez, no cinzento da folha, tenha apenas que carregar no preto de certas palavras: as palavras que realmente interessam. E vê-las, lê-las vezes sem conta, sem contextualizar e perceber que significado têm para mim. Separar, como se diz, o trigo do joio e, ficar apenas, com as que me fazem jus.
Sim, haverá um dia em que as palavras voltarão a sair de mim, numa clareza e certeza, como preto no branco.


Cat.
2020.08.28

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Palavras presas


 

As palavras ficam presas, agarradas à garganta, num nó que não se desfaz.
Como se não valesse a pena.
Como se não houvessem palavras. As palavras certas.
Um vai-e-vem sem (aparente) sentido. Mas aqui, cá dentro. Prontas a serem libertadas.
De forma confusa.
De forma inexplicável.
De forma pura e simplesmente sentida.
Aqui, cá dentro.
Do garganta que engole em seco, pelo nó que se aperta cada vez mais.
Aqui, cá dentro.
Da mente que não se ordena, que não se concisa e parece louca com pensamentos dispersos e (aparentemente) difusos e contrários.
Sim, há palavras.
Aqui, cá dentro.
Também do peito que se enche de um vazio que parece querer explodir de tanto sentir.
Aqui, cá dentro.
Nos olhos que se enchem de lágrimas, felizes e infelizes. De gratidão e revolta. De querer ser feliz e o medo de o ser.
Sim, há palavras.
Que não saem. Porque aqui, cá dentro do que sou, ainda não as compreendi...

Cat.
2020.08.26

Parada


 

E ela parou.
Ficou ali, sentada, inerte. Olhando.
Olhando o mundo que a rodeava.
Olhando as pessoas no compassado correr dos passos de quem tem onde chegar. Depressa, que o tempo urge.
Para elas, para essas pessoas.
Olhando o ondular do cabelo sob os ombros, tapando-lhe o rosto e fechando-lhe, inadvertidamente, os olhos. Num piscar demorado, lento, quase sem vontade de voltar a abri-los.
E não abriu.
Durante algum tempo ficou assim, sentada, inerte, de olhos fechados a sentir esse vento. E o sol do fim de tarde, quente e suave, como uma carícia no rosto.
E abraçou-se.
Sim, abraçou os joelhos dobrados junto ao peito, ficando fechada em si mesma.
Como uma concha. Como uma carapaça onde só se sente o que ela quer sentir. Onde não há lugar para os outros e as suas opiniões e os seus conselhos e lições de vida.
Ali, parada, sentada, inerte e fechada sobre si mesma, só existe ela.
Aquele ser que apenas deseja sentir paz. Uma Alma que luta contra a sua natureza porque é o melhor para ela.
Uma luta interna. Uma luta surda que às vezes se solta num grito de desespero. Uma luta que não se explica, pois nem ela sabe como.
Apenas um ser em transformação. Numa profunda transformação interior que não se sabe o resultado.
Mas há uma luta ali dentro, do peito e nos olhos que querem soltar as lágrimas presas a uma força quase inexistente.
Mudar não é fácil, mas é muitas vezes necessário.
É como nascer de novo, a cada dia, de um conflito constante entre o racional e o emocional.
Entre aprender que saber dizer que não aos outros é dizer sim a ela. À sua dignidade. À sua estima e ao valor que tem.
Eu sei. Eu sou ela.
Parada, sentada, inerte. Olhando e esperando que um dia esta dualidade em mim existente, se equilibre e eu, em vez de duas, dois extremos, me possa tornar apenas uma.
A que eu verdadeiramente sou.

Cat.
2020.08.03

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Voltar a sentir


 

Quero voltar a sentir.
A ser. A dar. A receber.
O corpo pede e ainda há a sede de (te) beber.
Sinto-te o perfume.
O odor do corpo, ali, deitado ao meu lado.
E há o desejo!
E há a vontade!
Eu quero beijar-te,
Abraçar-te,
Dar-me e receber-te,
Dentro de mim sentir-te.
Entregar-me-te.
Sentir as tuas mãos na minha pele.
Sentir a tua língua descobrir-me novos recantos.
Sentir no teu beijo todo o teu imenso desejo.
Quero em ti perder-me:
Os pensamentos,
Os actos controlados,
Os quereres exacerbados,
Exagerados,
Ilimitados,
Numa entrega sem consequências.
Ser tua,
Entregue ao teu querer,
Submissa à tua vontade.
Ser tua,
De corpo e alma nua,
De forma dura e crua,
De pele, carne, suor e prazer.
Sou tua,
Toma-me o corpo,
Faz-me estremecer,
Faz-me vibrar,
Faz-me sentir que sou,
Sem duvidar,
A tua Mulher.


Cat.
2020.07.30

Fechar os olhos


 

Fechar os olhos.
Sentir o vento brincar por entre os meus cabelos.
O sol, já na hora de dizer adeus ao dia e a mergulhar no mar, aquecendo-me o rosto.
Fechar os olhos.
Trazer à memória recordações de momentos em que o sorriso viveu nos meus lábios.
Pessoas e almas que fizeram de mim o que sou. Quem sou.
Fechar os olhos.
Sentir que apesar do que já há em mim, há muito mais para (re)viver.
Saber, neste momento, que ainda cabe tanto em mim!
Que ainda posso ser mais.
Melhor. Tão melhor do que sou.
Fechar os olhos e enquanto o dia dá lugar à noite, num ciclo infindável, também eu, na minha pequenez, no meu pequeno mundo, posso, a cada dia, crescer.
Fechar os olhos e saber, ser tão certo como o meu respirar.

Cat.
2020.06.30

quarta-feira, 14 de abril de 2021

No nosso amar


 

Sentir
O corpo estremecer
Com o toque da tua mão.
Sentir
A pele arrepiar
Com o toque dos teus lábios.
Sentir
O desejo a aumentar
Com a tua língua, em mim,
A deslizar.
Sentir
O querer(te)
Ter,
Pertencer,
Tua ser,
Nos teus braços, abraços, penetrar,
Deixar-me perder.
Sentir
No nosso amar
A plenitude de
Mulher ser!


Cat.
2020.07.04

Mergulhar de novo


 



Mergulhar.
Preciso voltar a mergulhar.
No teu corpo, impregnar-me do teu odor, voltar a sermos dois num só.
Entregar-me sem reservas, sem medos, sem arrependimentos ou vergonha.
Mergulhar.
Nas tuas mãos e ser fonte do teu prazer.
Na tua boca e seres fonte do meu prazer.
Unir o teu desejo à minha vontade e fazer nossa a palavra luxúria.
Mergulhar e ser mergulhada.
Inundar(te) e (por ti) ser inundada. De gotas do nosso suor, do líquido do nosso amar. Na pele, a escorrer.
Mergulhar, depois, nesse abraço que torna tudo mágico.
Mergulhar nesses teus olhos cor de mar e, de novo e outra vez, voltar em ti, a mergulhar...


Cat.
2020.06.30

terça-feira, 13 de abril de 2021

Algo único


 


A vida é algo único.

Por muito que tentemos, dá-nos sempre a volta e é um constante rodopio que nos deixa, muitas vezes, tontos e sem rumo ou sentido.
Há oito anos, neste mesmo dia do mês, escrevia textos de forma quase desesperada.
Textos de dor, de adeus, de querer salvar-me e o que não tinha salvação. Não tinha nada que me prendesse, me fizesse ficar, me acalmasse o vazio, cá dentro, do corpo e da alma.
Hoje vivo uma vida tão diferente, tão mais preenchida de tudo o que importa. Mas acima de tudo, cheia de um amor incondicional, único, presente, preocupado e altruísta. Um amor de conto de fadas, com o melhor companheiro que poderia ter.
A vida não é só rosas, também há espinhos. A nossa não é diferente, também temos momentos menos bons e já passamos por tanto juntos. E tudo isto nos fortaleceu, nos uniu e te tornou no que sempre desejei: no meu (im)perfeito companheiro e grande amor da minha vida.
É graças a ti que, apesar das ausências que jamais o deixarão de ser, que as lágrimas que me escorrem pela face, que a dor se apodera de mim e me esvazia do que sou, da pessoa por quem te apaixonaste, eu ainda não me afundei por completo.
Pela tua mão sempre presente.
Pelo teu amor incondicional.
Pela tua paciência quando choro sem conseguir explicar e, ainda assim, sem questionar, me abraças e me fazes querer sorrir e a viver voltar.

É engraçada a vida... E a mente da gente.
Há oito anos desesperava por me sentir desprezada. E chorava.
Hoje, também choro.
Porque há marcas demasiado profundas.

Mas, sobretudo, quero que saibas que, também e muitas vezes, choro porque te tenho a meu lado.
Amparando-me nos trambolhões da vida.
Abraçando-me quando quase me afogo.
Amando-me com todas as minhas fraquezas.
Porque sem ti, não há rumo, futuro ou o quer que seja.
Apesar de não to estar a conseguir mostrar como me preenches as horas, os vazios, os dias, o respirar e a minha vida.
Jamais deixarei de te amar, só para que saibas.


Cat.
2020.06.29

Instintiva


 

Há dias que passam a correr, lestos e fugazes como o vento.

Hoje não foi um desses dias.

Hoje houve tempo para me ouvir. Ou melhor, para digerir tudo o que tenho ouvido.

Sim, é pessoal. Sim, são decisões minhas.

Mas não é só a minha vida que conta.

Há a vida de outros. Que me acompanham. Que me sabem muitas vezes mais que eu. Que me amam como só eles.

Sempre demorei para tomar decisões, daquelas que nos reviram a vida e nos deixam de cabeça para baixo. Sempre demorei, sempre.

Há quem diga que é falta de coragem.

Há quem chame de indecisa.

Há quem não perceba que tenho o meu próprio sistema e, acima de tudo, o meu instinto. Sempre. Sempre foi este que me guiou. Sempre foi o que esteve sempre presente. E, na verdade, nunca falhou.

Eu não sei de onde vem o instinto, acho que do coração. Há quem diga que é a mente que processa de tal forma rápida toda a informação que a resposta é quase imediata. Instintiva.

Eu sou assim, instintiva. E nunca me falhou nas escolhas. Aliás, diziam-me outro dia que tudo sempre veio ter comigo: as pessoas certas, os empregos, as decisões, tudo no tempo certo.

Por que haveria eu de mudar a minha forma de sentir e pensar a vida?

Sei e considero sempre a opinião de quem tem interesse para mim, de quem me importa.

Mas no fundo, sou eu que estou a viver as situações, sou eu que as sinto na pele e na alma e quem melhor tem a percepção do seu todo.

Por vezes é preciso passar por momentos difíceis, por situações que magoam, mas no fundo e para mim, será um aprendizado. Na pior das hipóteses. Por muito que custe a quem está ao nosso lado.

Mas amar é isto: é aconselhar mas respeitar a decisão do outro. E depois é acompanhar, sem culpabilizar, o caminho escolhido.


Cat.
2020.06.16

segunda-feira, 12 de abril de 2021

À tona


 






Submersa. À tona da vida.
No limiar de quase desistir e deixar-me afundar.
Doce, suave, lentamente.
No limiar de querer resistir e unir força e fôlego e emergir.
Rápida, brusca, emergente.
Um limiar que me deixa neste limbo de me sentir perdida. De me sentir sem saber o que decidir.
Descansar.
Repousar.
Dormir e não sonhar ou delirar.
Mergulhada nesta minha estranha forma de ver, de sentir a vida e o que nela acontece. No que por ela passa.
Olhar para o lado e não ver. Não sentir. E sobretudo não analisar. Não tentar compreender.
Há momentos em que penso que deveria pensar menos e ser mais leviana na forma de viver e lidar com os outros e com certas situações.
Não pensar no que me ultrapassa. Porque não me diz respeito ou no que diz.
Na dor das perdas.
No coração dilacerado pelas ausências.
Nas feridas profundas marcadas na alma e no rosto cansado, abatido e enrugado dos sulcos vincados por tantas lágrimas vertidas...
À tona da vida. Submersa no salgado das minhas próprias lágrimas.


Cat.
2020.06.02

Agradecer


 

Por vezes pergunto-me como se agradece a alguém o tanto que nos dão.
Não falo de bens materiais, falo de algo muito diferente, muito mais fácil e no entanto tantas vezes raro.
Há pessoas que moram no nosso coração por variadíssimos motivos. Pela amizade, mesmo quando não estão fisicamente presentes. Pelo facto de sabermos que, em caso de necessidade, podemos recorrer a elas. Porque temos ideais idênticos ou diversos mas conseguimos sempre uma discussão saudável. Pela empatia que, sem se saber como, nos une como almas quase gémeas.
Há pessoas pelas quais sentimos uma gratidão imensa pelo que nos ensinaram, pelo que partilharam connosco, pelos seus sábios conselhos que, mesmo que não os tenhamos seguido, entendemos que era para nos proteger.
Pessoas que, ao longo do nosso caminho, nos educaram e passaram valores que fazem de nós melhores pessoas.
Talvez seja fácil responder: fazendo o mesmo por elas.
Sempre tentei fazê-lo, da melhor forma que sabia, imperfeitamente, mas a dar o melhor de mim.
Falar destas pessoas é fácil por muito que não pareça. Aparentemente só há coisas boas a recordar para agradecer.
Mas há um grupo de pessoas a quem não se consegue agradecer. A quem não basta retribuir da mesma forma. A quem, muitas vezes, nos custa mais do que aos outros.
O Amor que lhes temos é inato, inerente, corre-nos no sangue e enche-nos a Alma. Há, no entanto, uma espécie de amor/ódio que nos une.
Talvez não seja este o termo, não se pode odiar a quem amamos, embora a linha entre ambos os sentimentos seja, quase sempre, muito ténue.
Talvez seja pena ou raiva por darmos o nosso melhor e não nos ouvirem e vice-versa.
Talvez seja porque há toda uma vida em conjunto e as diferenças e divergências se vão acentuando ao longo do tempo.
Há zangas, afastamento, conversas banais ou conversa alguma.
Aquele silêncio que nos mói e dói cá dentro.
Mas há o Amor incondicional.
Mas há a ajuda imprescindível e única que nos podem dar.
Mas a presença sempre que necessária.
E há abraços silenciosos que só o sentido cair das lágrimas quebra. Ali, no meio de duas pessoas tão idênticas e tão diferentes. Que se amam incondicionalmente.
Que sofrem de igual forma com a dor do outro.
Que são capazes de largar tudo por nós, para nos verem realmente bem.
Como se agradece a um pai e a uma irmã que nunca me abandonam?
Que nunca me fecham a porta?
Que me amam incondicionalmente?
Como, como se agradece as palavras certas no nosso momento de desespero?
Jamais terei como te agradecer Pai.
Jamais terei como te agradecer minha irmã.
E eu amo-vos eterna e profundamente.
E jamais saberei como vos agradecer.

Cat.
2020.05.22

sábado, 10 de abril de 2021

Condimento


 

Amar(te)
É condimento
Na minha vida.
É alimento
Que obriga à minha vinda,
Uma, outra e outra vez.

Amar(te)
São gotas de orvalho
Numa pétala de flor,
Como lágrimas nos olhos
De te querer com tanto ardor.

Amar(te)
É sal do mar
Na pele seca do sol,
Como depois de me te dar,
Numa entrega cheia de fulgor.


Cat.
2020.05.20

Capazes de tudo



Achamos que somos capazes de tudo. Ou melhor, de ultrapassar tudo. Todas as dores, todas as perdas, todas as desilusões.

Mas não. Não conseguimos.

Ficam marcadas em nós, para sempre, mesmo que num cantinho escondido da nossa memória. São como as pequenas rugas no rosto, que se vão instalando, ao longo do tempo, subtilmente.

Quando damos por nós, há uma infinidade delas, gravadas na pele e no coração.

Achamos que somos capazes de ultrapassar tudo.

Mas na memória, no coração, essas rugas vão mais fundo, tornando-se sulcos por onde se sangra, cada vez mais fundos, cada vez mais transbordantes e o coração, a alma, a mente não aguenta mais. E chora. Lágrimas caiem no rosto pelas rugas do tempo, cada vez mais fundas também.

Achamos que ultrapassamos tudo.

Mas guardamos cá dentro. E a verdade é que, na maioria das vezes, não há quem compreenda essas lágrimas, pois são tão profundas e por vezes tão antigas que nem nós as explicámos por falta das palavras certas.

Eu tenho a sorte de ter ao meu lado quem, mesmo não as percebendo porque as debito sem sentido lógico, me ouve. Porque os sentimentos não são lógicos, são um aglomerado, muitas vezes um emaranhado e intrincado novelo com pontas e fios cruzados, sem nexo.

Mas mesmo assim, sem nexo, tem a coragem de ficar ao meu lado, de me tentar compreender, de me ajudar a perceber. De me dar a mão e me guiar no meio desta confusão que é o meu sentir.

E é nestes momentos, em que mais preciso de quem me dê a mão, que a tua presença é constante e o teu abraço mais forte e o teu amor mais se demonstra e me suporta.

Eu tenho a sorte de te ter comigo, de sentir que, contigo a meu lado, as minhas feridas, se vão fechando.

És tu que me dás alento.

És tu que eu quero ao meu lado. Até ao fim dos meus dias, fortalecendo os nossos laços com a coragem desse teu amor.

Porque em mim também há amor. Um amor que também não tem palavras suficientemente eloquentes para definir o que é amar-te.




Cat.
2020.05.22

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Saudades


 

Há saudades, é inevitável.

Saudades do corpo, do cheiro, do toque, de risos, de abraços... Uma infinidade de saudades neste momento.

Do sol, que brilha lá fora, num ameno morno típico de Primavera.

Do amarelo vivo dos narcisos, do vermelho das rosas, das pequeninas pétalas brancas das macieiras.

Do cheiro das frésias e da suavidade das tulipas.

Saudades do Mundo. Saudades de vida.

E as saudades podem tornar-nos amorfos, fazendo-nos definhar aos poucos, sem nos darmos conta. Lentamente como o passar dos dias: todos iguais mas a não deixarem de passar. Pior, a acumularem. Uns atrás dos outros. E o tempo passa e deixa marcas, umas menos profundas que outras. "Faz parte", dizemos nós.

Mas as saudades entranham-se mais que qualquer passar de tempo. Afundam no nosso coração e na nossa Alma mais profundamente que qualquer ruga no rosto. E estas, as rugas, são passíveis de serem amenizadas. As saudades, na maioria das vezes não.

Porque nem tudo o tempo cura.

E o tempo não cura a ausência de quem já nos fez feliz ou nos fez chorar. De quem nos acompanhou ao longo de anos, de quem fez dos nossos dias um dia diferente do anterior e do que veio depois.

A vida é um ciclo constante de vida e morte, de renascer e de voltar a cair.

Um ciclo que, cá dentro, do meu coração, se perdeu na dor das ausências. Um ciclo que ainda não passou desse momento que fala de ultrapassar. Um momento preso, num espaço cada vez maior de mim. Um espaço de vazio, de ausência e ao mesmo tempo, de saudades.

Porque há saudades que não se permitem esquecer.

Há saudades sim, é inevitável...


Cat.
2020.05.19

Tomara


 

Tomara que o vento
Leve de mim
Lembranças

Eternizadas no tempo
Em cores carmesim
De esperanças

Depressa,
Imediatamente,
Que eu não quero morrer
Desta dor que não tem fim...


Cat.
2020.05.22

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Dizer que te amo


 

A noite já reina e a lua vai-se mostrando timidamente por entre as nuvens.

Há um silêncio estranhamente familiar no ar. Há semanas que as noites passaram a dominar os dias nesta ausência de vida. De vida humana, porque os pássaros e as andorinhas esvoaçam por entre as árvores. Esta Primavera é atípica: não há ruído, não há a cores das flores excepto pela janela e o cheiro das laranjeiras em flor quase não se sente, pois até o vento se sente ausente.

Aqui dentro, há paredes com memórias e odores e vislumbres do que já foi.

É uma prisão, este confinamento que dura há dois meses.

É um tormento pois há uma mescla de sentimentos que não se explicam, não se aproximam e, no entanto, são constantes.

É um rodopiar entre o querer e o não querer.

É uma inconstância de querer manter as memórias e os momentos e de, ao mesmo tempo, desejar esquecê-los.

E por muito que abra a janela e respire o ar fresco lá de fora, o ar cá dentro sufoca-me, é difícil de respirar e paira sobre mim como a pressionar.

E no dentro de mim, no meu âmago, há vontade de gritar, de explodir, de expulsar a dor e de chorar por manter o que realmente vale a pena.

Sinto falta do lá fora. Mas, aqui confinada, sinto muito mais a falta de quem está ausente. Temporária ou eternamente.

Às vezes sinto que estou a enlouquecer, oscilando entre o bom e o mau.

Só tu, que me acompanhas os dias e partilhas o leito, as dores, as alegrias, as perdas, os risos e as lágrimas comigo, me dás alento para voltar a enfrentar mais um dia.

Estas semanas foram difíceis, com a lembrança de perdas e uma perda repentina que me vai doer eternamente.

Mas também foi o nosso melhor momento. Onde os laços que nos unem se apertaram, se fortaleceram e nos tornaram no melhor de nós. E eu tenho um orgulho imenso na pessoa que és, no companheiro que és. E dizer que te amo não é, jamais será, suficiente para te explicar e demonstrar o que sinto.


Cat.
2020.05.12

A ti Mãe...


A ti Mãe...

Entre o ontem e o amanhã há todas as memórias inesquecíveis. Todas as recordações. Todos os cheiros. Todos os sorrisos.

Entre o ontem e o amanhã há o constante te pensar. Nos conselhos que (não) segui. Nos caminhos que foram feitos em passo uníssono.

Entre o ontem e o amanhã há todas as batalhas que travamos. Todas as ideias contrárias. Todos os desgostos e desilusões.

Muitas vezes, entre o ontem e o amanhã, não havia diferença. Era o mesmo dia. Era o teu dia.

Como mãe e como celebração da vida. Em conjunto num único cenário de felicidade.

Entre o ontem e o amanhã já não há abraços, ou beijos, ou sequer o bater do teu coração. Já não há o que (me) eras.
E são dois dias que, juntos ou tão próximos, me fazem sentir, de forma tão mais profunda, a tua ausência.

Pudesse eu trocar o ontem e o amanhã por um momento contigo hoje.
Nem todos os dias foram fáceis.
Nem sempre nos ouvimos.
Nem sempre nos abraçámos ou beijámos ou rimos e brincámos.

E hoje, entre o ontem dia da Mãe e o amanhã dia do teu aniversário, há um vazio que me percorre.
Há um passar do tempo que se desfaz, como folhas perenes ou pétalas soltas da flor.

Há Primaveras que jamais terão a mesma cor.

Entre o ontem e o amanhã, há um hoje carregado de uma saudade que me deixa num estranho torpor...


Cat.
2020.05.04

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Ciclo


 

Há uma sensação de impotência quando olhámos a vida. Vida em todos os sentidos.

Como se fosse inevitável fugir a certas dores ou alegrias, à vida ou à morte.
E somos realmente impotentes, não depende de nós.

E há tantos caminhos que podemos seguir e tantas vezes esbarramos com as mesmas coisas, como se nos perseguissem, como se fossem inevitáveis.

Mas há em nós, no nosso âmago, uma força que nos move, que não nos deixa deixar ali, no nosso canto, com a vida suspensa de forma (quase) eterna.

É preciso viver.
É preciso amar, chorar, rir, odiar, provar, experimentar, beijar, abraçar, perder e ganhar.

A vida vida é um ciclo, como o passar das horas, dos dias; como a Primavera e o Inverno; como o céu agora azul, amanhã cinzento; como o mar agora quente e calmo, amanhã impiedoso e turbulento.

Fazemos escolhas, tomámos decisões, cumprimos o caminho a que nos propusemos, mas há sempre, a dado momento, essa sensação de impotência.

Momentos em que caímos no chão e Mundo e Vida não param...
Porque o ciclo não pára.
Porque nada pára.

Nem o céu de ser azul e cinzento, nem as árvores de crescer e morrer, nem o vento de ser doce ou devastador.

A vida é assim: um ciclo que apesar de repetido, é sempre diferente, é sempre impossível de controlar. E há tanto que pode, nesse entretanto, por nós passar...


Cat.
2020.05.01

O corpo quer ceder


 

O corpo quer ceder. Deixar de lutar, deixar de combater, deixar-se cair.
Há dias em que apetece deixar cair os braços e desistir.
Desistir da vida, das (des)ilusões, dos medos, dos sonhos, do sentir.
Mas o passar do tempo mostra-nos que não há possibilidade de suster o tempo, tal como a respiração. É momentâneo. E a qualquer momento, a dado momento, temos que nos erguer. Temos que caminhar, temos que avançar.
A vida é feita de muitas coisas, de muitas pessoas, de muitos momentos e de muitos sentires.
Mas há dias em que, só com muito esforço, só com uma força hercúlea o corpo avança.
Sim, há dias em que o coração está morto, emperdenido, negro e pesado. Morto. Quase morto.
Há dias em que a dor é em demasia.
Há dias em que a ausência é insuportável, indescritível, impossível de nos fazer querer viver.
Mas há que enxugar as lágrimas, cerrar os lábios e forçar a vida a acontecer.

Apesar da dor.
Apesar da (tua) ausência.
Apesar da falta de vida no (meu) coração.
E, com toda a força, (vou) tentar viver.
Tentar que as memórias se tornem menos pesadas, menos dolorosas.

Apesar de (quase) morta, o corpo vai lutar por viver e nunca (te) esquecer...


Cat.
2020.04

terça-feira, 6 de abril de 2021

Arde-me o peito


 

Arde-me o peito, queima.
A dor é mais que muita e o coração (quase) não aguenta.
É uma certeza de que foi o certo.
É uma certeza de que te queria, aqui, de mim perto.
As memórias vou guardá-las para sempre comigo. No melhor lugar do meu mundo, da minha Alma.
Temos tudo pelo certo. Pelo garantido. Pelo sempre do tempo, que achámos é infindo.
E a dada altura, a vida ou Deus ou o destino ou o raio que o parta, muda tudo.
E o tudo passa a nada.
Mentira! Passa a um vazio maior que o nada.
Um fim esperado (nada dura para sempre) mas que quando anunciado é como a morte.
Morte. Fim. Vazio. Ausência.
E arde-me o peito, queima.
Num fogo que não tem nada para queimar. Apenas o que fomos, o que sentimos, o que passamos.
E dói a perda.
E arde-me o peito, queima, da forma mais violenta.


Cat.
2020.04.23

Dias difícieis


 

Há dias menos fáceis, há dias difíceis e há dias que desejamos que nunca cheguem.
Hoje chegou um desses dias à minha vida. Desses que pensamos que nunca chegam. Desses que, bem no nosso íntimo, sabemos que chegarão, mais cedo ou mais tarde.
Dias em que as lágrimas caem a uma velocidade tão grande que acabam por secar.
Momentaneamente.
Porque há que ser forte.
Momentaneamente.
Porque há possibilidades, probabilidades e hipóteses que nos são colocadas à frente e, por muito que queiramos, temos que tomar decisões, fazer escolhas.
Definitivamente.
Para todo o sempre a decisão na nossa memória.
Definitivamente.
O receio de acertar e aceitar o melhor. Para mim e para todos.
Definitivamente.
Um analisar do pesar numa balança em que, queiramos ou não, acabamos por perder.
Indubitavelmente.
Decidir prolongar no tempo, por tempo indeterminado, o sofrer diário de uma não vida.
Indubitavelmente. Ou não.
Acabar, num repente e não deixar o coração sofrer mais.
Ilusoriamente.
O coração sofre sempre.
Desmesuradamente.
Porque a perda é insuportável.
Quer tomemos uma decisão ou deixemos que o tempo a tome por nós...


Cat.
2020.04.23