Tenho dias em que me sinto assim, perdida neste emaranhado espaço-temporal sem sentido.
Talvez o tenha, mas sinto que perco, a dada altura, o fio à meada. Como um nó sobreposto noutro nó e noutro e noutro noutro...
Hoje sinto-me assim.
Hoje é um desses dias.
Custou levantar, a vontade de sair do quente da cama era quase nula. Na minha cabeça apenas surgia a pergunta: para quê? Para ires para o sofá, ver as horas passarem no ecrã da tv, num filme que não acrescenta nada ao que és? Não te iludas: não irás passar a ferro a roupa amontoada no quarto que não usas; nem tampouco arrumar a loiça da máquina ou tratar da roupa. Vais vegetar, deixando mais um dia passar sem nada fazer.
E assim foi. É verdade. Tudo aconteceu como descrito: horas vazias, cheia de nada, num dia feio de Inverno, cinzento, sem luz. E sem pessoas, sem pássaros, só o cinzento de quase chuva, acompanhada de vento.
Hoje sinto-me assoberbada com tudo na vida.
Hoje já senti medo pelo futuro. Já senti ingratidão. Já senti desânimo e vontade de desistir. Já senti a mente vazia de tudo.
De cada vez que senti estas emoções, tentei contrariar. Tentei mudar o chip e focar na esperança, na fé (seja lá o que for), no aceitar o que vier e em agradecer e acreditar que o dia de amanhã será melhor. Bem melhor.
Eu sei que há retorno para as nossas acções e pensamentos.
Eu acredito que o futuro vai ser melhor.
Eu sei que algo está para chegar e que tudo vai mudar e a vida será bela, cheia de luz.
Eu sei. Eu sinto.
Mas hoje, hoje preciso de mais que um acreditar.
Hoje preciso chorar e os meus receios libertar. Não é isto que quero sentir. Não, definitivamente não é o que quero. Mas é o que sinto e a luta hoje parece impossível de vencer.
Choro. Limpo a Alma enquanto debito o que sinto, nestas palavras que só para mim fazem sentido.
Choro. Peço que as lágrimas salgadas levem esta angústia do peito, esta inércia do corpo e o vazio da mente.
Estou cansada deste momento da vida. Hoje, hoje estou cansada.
Choro e quero adormecer para acordar com outro alento.
Choro pois preciso de força cá dentro.
Eu sei qual é o caminho, está ali, à minha frente, só que perdido nos nós da vida e da mente.
Hoje, estou assim, perdida na vida.
Cat.
2021.02.10