quarta-feira, 7 de abril de 2021

O corpo quer ceder


 

O corpo quer ceder. Deixar de lutar, deixar de combater, deixar-se cair.
Há dias em que apetece deixar cair os braços e desistir.
Desistir da vida, das (des)ilusões, dos medos, dos sonhos, do sentir.
Mas o passar do tempo mostra-nos que não há possibilidade de suster o tempo, tal como a respiração. É momentâneo. E a qualquer momento, a dado momento, temos que nos erguer. Temos que caminhar, temos que avançar.
A vida é feita de muitas coisas, de muitas pessoas, de muitos momentos e de muitos sentires.
Mas há dias em que, só com muito esforço, só com uma força hercúlea o corpo avança.
Sim, há dias em que o coração está morto, emperdenido, negro e pesado. Morto. Quase morto.
Há dias em que a dor é em demasia.
Há dias em que a ausência é insuportável, indescritível, impossível de nos fazer querer viver.
Mas há que enxugar as lágrimas, cerrar os lábios e forçar a vida a acontecer.

Apesar da dor.
Apesar da (tua) ausência.
Apesar da falta de vida no (meu) coração.
E, com toda a força, (vou) tentar viver.
Tentar que as memórias se tornem menos pesadas, menos dolorosas.

Apesar de (quase) morta, o corpo vai lutar por viver e nunca (te) esquecer...


Cat.
2020.04

terça-feira, 6 de abril de 2021

Arde-me o peito


 

Arde-me o peito, queima.
A dor é mais que muita e o coração (quase) não aguenta.
É uma certeza de que foi o certo.
É uma certeza de que te queria, aqui, de mim perto.
As memórias vou guardá-las para sempre comigo. No melhor lugar do meu mundo, da minha Alma.
Temos tudo pelo certo. Pelo garantido. Pelo sempre do tempo, que achámos é infindo.
E a dada altura, a vida ou Deus ou o destino ou o raio que o parta, muda tudo.
E o tudo passa a nada.
Mentira! Passa a um vazio maior que o nada.
Um fim esperado (nada dura para sempre) mas que quando anunciado é como a morte.
Morte. Fim. Vazio. Ausência.
E arde-me o peito, queima.
Num fogo que não tem nada para queimar. Apenas o que fomos, o que sentimos, o que passamos.
E dói a perda.
E arde-me o peito, queima, da forma mais violenta.


Cat.
2020.04.23

Dias difícieis


 

Há dias menos fáceis, há dias difíceis e há dias que desejamos que nunca cheguem.
Hoje chegou um desses dias à minha vida. Desses que pensamos que nunca chegam. Desses que, bem no nosso íntimo, sabemos que chegarão, mais cedo ou mais tarde.
Dias em que as lágrimas caem a uma velocidade tão grande que acabam por secar.
Momentaneamente.
Porque há que ser forte.
Momentaneamente.
Porque há possibilidades, probabilidades e hipóteses que nos são colocadas à frente e, por muito que queiramos, temos que tomar decisões, fazer escolhas.
Definitivamente.
Para todo o sempre a decisão na nossa memória.
Definitivamente.
O receio de acertar e aceitar o melhor. Para mim e para todos.
Definitivamente.
Um analisar do pesar numa balança em que, queiramos ou não, acabamos por perder.
Indubitavelmente.
Decidir prolongar no tempo, por tempo indeterminado, o sofrer diário de uma não vida.
Indubitavelmente. Ou não.
Acabar, num repente e não deixar o coração sofrer mais.
Ilusoriamente.
O coração sofre sempre.
Desmesuradamente.
Porque a perda é insuportável.
Quer tomemos uma decisão ou deixemos que o tempo a tome por nós...


Cat.
2020.04.23

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Silêncio em mim


 

Mergulho no silêncio. E espero, sem esperança, que o grito me saia da garganta.

Não que tenha algo para dizer, há silêncio em mim, esse onde mergulho.

Onde me perco e onde desejo não ficar.

Não há pior silêncio que o nosso silêncio.

Um silêncio que não é por falta de palavras. Que não é porque não queira soltá-las.

É porque, na maioria das vezes, senão sempre, não há quem as ouça.

Quem verdadeiramente ouça. Com o coração, sem conselhos e sem apontar dedos.

Simplesmente não há quem ouça. Ninguém quer ouvir o que vai dentro da Alma de quem quer que seja.

Ninguém quer partilhar esse peso. Ou alegria. Ou simples troca de ideias e pontos de vista.

Não há quem ouça. Há acenos de cabeça ou ruídos de conforto. Apenas para parecer que se ouve. E não houve uma única palavra que fosse ouvida.

Às vezes calo-me, no meio de uma frase, de uma história, de um pensamento e nada... Silêncio do outro lado.

Ou interrompem com um qualquer tema leviano, sem interesse mas que tem força para nos calar.

E assim faço. Calo-me e mergulho no meu silêncio. Um silêncio que grita cá dentro, dentro do meu próprio silêncio...


Cat.
2020.04.22