terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Entregar(me)

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e interiores

Saber que me queres,
Assim,
Sem subterfúgios vulgares.
A mim,
Sem o cliché dos mesmos lugares,
Num sem fim
De toques e suaves deslizares.

Sentir,
Que o desejo te invade,
Num deixar ir
Que o agora já é tarde,
E eu quero-te a invadir
O meu corpo não pela metade,
Inteiro, no teu ir e vir.

Perder,
A razão, o pensar.
Ser apenas prazer,
Neste tão nosso, nos entregar.

Cat.
2019.09.26

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Caminhar


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e pessoas sentadas

Caminhar.
Segura de que o dia vai, a dado momento, terminar.
E aí, descansar.
Deixar para trás a rigidez do corpo e do formatado pensar.
Desligar. Se possível for.
Permitir fluir, sem obrigar, sem orientar e apenas ser. Apenas deixar voar, vaguear.
Até adormecer. E aí não mais recordar, não mais sentir e suspender o viver.
Até acordar. E voltar a ter que caminhar.
E esperar que o hoje seja melhor que o anterior. Que o amanhã tenha mais para me dar, para (me) permitir, para sonhar e acreditar. Para que eu tenha vontade de (realmente) caminhar...

Cat.
2019.09.16

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Surpreendentes


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas
As pessoas são surpreendentes. Pelo bom ou mau lado. Mas ainda assim surpreendentes.

Ou talvez seja eu que assim ache.

Neste meu mundo de sonho ou ilusões, como habitualmente me dizem. Apesar de nada saberem de mim, das minhas dores, das minhas cicatrizes ou feridas abertas.

Mas sim, eu ainda me surpreendo com as pessoas.

Hoje, confirmei uma vez mais, que as pessoas que se mostram frias e, sobretudo, fazem questão de o mostrar e, grande parte das vezes, de o afirmar, são as mais quebradas por dentro. São as que, apesar da resmunguice, da doença que as assola, da falta de tempo e, muitas vezes, de dinheiro, mais fazem pelos outros. São as que mais se incomodam, preocupam pelos outros. Pelos que são indefesos e incapazes.

Pessoas que, para se defenderem de sentir (ainda mais do que o que sentem) verbalizam o que não são. Acho que com medo de se mostrarem verdadeiramente e de com isso serem usadas e voltarem a sofrer.

Pessoas que têm tanto para dar, tanto sentir, tanto carinho, empatia e até amor.

Pessoas que já sofreram. Sofreram demasiado. E que se fecham.

Pessoas inteligentes e que, por tanto sofrer, se acham burras. Literalmente burras. Por acreditarem nos outros, por darem mais uma chance, por amarem e, como diz o ditado, serem cegas.

Hoje, cruzei-me com uma dessas pessoas.

Pessoas que se fecham. À vida e aos outros. Porque acham que não vale a pena. Porque, apesar de quererem um abraço, preferem afastar com medo de sofrer.

Hoje tive a certeza que todos temos medo de sofrer. De ser enganado. De ser usado.

Hoje tive a certeza que todos queremos ser amados. Queridos. Abraçados. Reconhecidos. Mas sobretudo, ouvidos. E que alguém veja o quanto de bom há em nós. Apesar das falhas. Apesar dos erros.

Hoje conheci uma pessoa fantástica mas cheia de culpas que não são dela. Uma pessoa que não se perdoa por não ter visto os sinais, por não ter decidido de outra forma. Uma pessoa de alma (quase) negra e que deveria brilhar. Porque somos humanos. Porque estamos a aprender. Porque estamos a crescer. Porque desistir é impensável. Porque não queremos desiludir. Os outros e os seus (pre)conceitos e a nós.

Somos, por trás de capas de super-heróis, seres tão frágeis.

Somos tão carentes de empatia, de amor, de carinho... E é tão fácil dar. É tão fácil mostrar a alguém que vale a pena. Basta ver o que há de bom dentro dos outros. Há sempre algo de bom nos outros.

Hoje choraram no meu ombro. No ombro de uma desconhecia.

E eu choro agora por ver tanta gente perdida...

Cat.
2019.09.03

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

A ti Mãe... V

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O dia caminha já para o seu fim, sem o calor típico de Verão, num Agosto morno.
Caídas das árvores, há já folhas no chão, anunciando um Outono antecipado.
Por vezes a brisa é mais forte e faz-me arrepiar a pele. E nesse instante, nesse preciso momento, instintivamente, abraço-me e aconchego-me.
E, de forma mais premente que o habitual, tu vens-me ao pensamento.
O teu abraço. A tua mão no meu rosto, no meu cabelo, deslizando e puxando-me para o teu peito. Para o teu abraço.
Não! Não tenho memórias assim, tuas. Não! De todas as vezes que me abraçaste, fui eu que pedi. Que quase mendiguei. Que empurrei o meu corpo contra o teu e te forcei a fechar-me dentro dos teus braços.
Mas não faz mal. Não importa. O resultado era o mesmo: sentir-me segura. Protegida. Querida. Amada...
E não há, havia, melhor lugar que esse: o do teu peito e dos teus abraços.
E faltas-me. Tanto. Para além do demasiado. Para além da saudade. Muito, mas muito mais para além da ausência.
Quase dói. Quase não, dói mesmo. Como um nó na garganta que te sufoca. Como a falta de ar que quase te mata. Como... Não há "como" suficiente para comparar, para tentar descrever.
E rendo-me à tua não presença.
À tua eterna não presença. Ao teu nunca mais.
E volto a morrer.
Mais um pouco.
A cada lembrança tua.

Cat.
2019.08.29