sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Hoje, aqui


Hoje, não há pensar.
Hoje, aqui, não há a rapariga que se assusta com as vicissitudes da vida.
Hoje, aqui, há uma mulher que sente na pele o desassossego das vontades que a carne anseia.
Os lábios que se molham, na ânsia de um beijo de língua.
Os dedos que deslizam desenhando a mais imprópria fantasia. Desprovida de sentimentos superiores de carinho e de amor. Amor, hoje, só ao corpo, à pele e ...ao sexo sem conta, peso e medida.
Sexo puro.
Sexo pelo prazer, mais do que (te) dar, de ter prazer.
Hoje, aqui, não há a frágil menina, a amada esposa.
Hoje, aqui, há a descarada e libertina, a mulher que seduz ao limite, a que te alimenta as fantasias, a que (quase) só imaginas poder existir.
E tudo que imaginas, hoje, há aqui, neste corpo que adora(s) sentir!
Hoje, aqui, há a (tua) puta que apenas (te) quer foder!
 
 
 
25.Agosto.2015

Quase


A tarde avança no seu correr habitual, com as horas a durarem o mesmo de sempre e os minutos a dominarem o tempo sem que passe ou avance mais ou menos devagar.

Não é Verão e o rio está da mesma cor do céu: um cinza sem vida, sem brilho, sem luz, sem chuva. Apenas se vislumbra vida quando as embarcações dão um ar da sua graça, movimentando, agitando e criando abstractos desenhos ondulantes nas sua...s águas.

Não há cheiros no ar, que o vento hoje está adormecido.

Não há pássaros a chilrear, que o sol não os convida a cantar.

Não há fotografias nas margens, que as cores das paredes das casas empalidecem.

Há contudo, uma letargia que se entranha em tudo. Como se fosse uma névoa, escurecendo, adormecendo, fazendo perder a vida em tudo quanto toca no seu quase imperceptível avanço.

Uma letargia que também me conquista, me desanima, me conquista numa guerra surda que não se faz sentir.

E o corpo apenas reage ao que olhos vão desvendando por entre o cinza, por entre os baços brancos e azuis quase mortos. E parece que pouco há para ver, que pouco há para sentir, que muito pouco há para viver... E o coração quase pára. Quase desiste de bater. Quase se deixa levar pela vontade de não resistir, de não querer vencer.

Quase.

Quase. Porque o (sobre)viver depende sempre de nós. Depende sempre do que há cá dentro do peito. E se há dias em que parece vazio, apertado e estreito, caregado de solidão ou tristeza infinita, outros há em que a vida mais alto grita, em que a vontade se agita e o sangue fervilha!

Não importa o dia lá fora.

Não importam as presenças ou as ausências, o brilho ou a escuridão, a felicidade ou a solidão. Importa o que sou e o que dou. Importa a diferença que faço no meu (tão pequeno e ínfimo) Mundo, na pessoas que amo.

E eu amo! Tanto que eu amo! Com todos os poros do meu corpo, com toda a força do meu ser, com todo o amor que a Alma pode conter!

E eu amo! Tanto que eu amo! E isto, por si só, é suficiente para querer voltar a viver.



11.Agosto.2015

O que custa é o vazio


O que custa é o vazio.

Não é o passar das horas, longas, demoradas, imensas.
Não é o recordar dos sorrisos, das palavras, dos abraços trocados.
Não é a memória que se recheou de cheiros, beijos, brisas no cabelo.

O que custa é o vazio.

Que inunda todo o corpo. De dentro para fora, de baixo para cima.
Que envolve sem piedade a Alma. Como um novelo que se enrola, enrola, enrola e nunca se desfia.
Que aperta num sufoco que a garganta não liberta.

O que custa é o vazio.

Do tempo que quase pára.
Da ausência da cor dos teus olhos.
Da falta do toque que me alimenta.

O que custa é o vazio.

O vazio de te ter e não parar de querer.
O vazio de me faltares mesmo quando me abraças.

O que custa é o vazio do medo de te perder...


23.Jul.2015

Estúpida



Estúpida, sinto-me estúpida.
Mas muito estúpida mesmo. Assim no nível mais alto da estupidez humana, tipo mestre da estupidez. É isso, é assim que me sinto.
Estúpida porque tento,uma e outra e outra e outra vez. Sempre, mesmo quando não há retorno.
Estúpida porque falo, primeiro o que sinto, depois o que não sinto - e é neste momento que alcanço o topo da estupidez. Falo o que não sinto para magoar, para atingir, para obter algum tipo de reacção, para te sentir vivo e não amorfo, fechado nos teus pensamentos que não conheço.
Estúpida porque exagero, no que é bom, mas extrapolo no menos bom.
Estúpida porque me arrependo de perder o norte.
Estúpida porque peço desculpa por ser tão estúpida e sinto-me estúpida por não ter qualquer retorno.
 
Estúpido ou não.
Estúpida porque mesmo com razão cedo sempre na tentativa da reconciliação. Cedo sempre ao sentir que em mim habita por ti. Cedo à vontade de sentir o teu abraço, o teu corpo a acalmar o meu, o teu me amar a unir-se ao meu.
Estúpida porque sofro mais do que devia. Porque me preocupo mais do que devia. Porque ninguém é perfeito e eu, eu tenho a estúpida da mania que tenho de o ser.
Estúpida porque ninguém consegue ser.
Estúpida porque tento,uma e outra e outra e outra vez. Sempre, mesmo quando não há retorno.
Talvez não seja estúpida o que me sinto... Talvez seja só frustrada. E cansada. E desanimada. E perdida. E estúpida por não ver que tudo isto vale, o equivalente, a nada...



09.Jul.2015