quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Espero



Espero
Que a vontade decresça em mim,
Que o corpo se renda ao cansaço
E tudo fique, por aqui, 
Sem início,meio ou fim.

Espero
Que a pele não se queira arrepiar
Quando a memória do toque da tua mão
Se sobrepor a qualquer outro pensar.

Espero
Que o corpo não se torne irrequieto
Perante o recordar do desassossego
Que é o teu cheiro, o teu sabor e o respirar, preso no peito.

Espero
Não me perder nas sensações
Outrora sentidas, vividas entre lençóis,
De horas (agora) ínfimas dos nossos corpos molhados,
Beijados,
Tocados,
Amados...

Espero
Que o desejo se perca,
Que o amor se deixe levar
Pela corrente dos dias que passam,
E que em mim,
Ass lembrança de ti, 
Teimam em deixar.



2.Julho.14

(Sobre)Viver


A noite já dorme no seu leito de estrelas cintilantes que quase passam despercebidas por entre as nuvens. O silêncio é seu companheiro de jornada deixando as ruas vazias de gente parecer um deserto de pedras escuras, polidas pelo calçado de quem percorre as vielas da vida.
O orvalho está prestes a cair, sente-se no ar o cheiro que o antecede, fazendo as pétalas dos agapantes brilhar de tanta sede por o tomar.
Aqui, não há orvalho que me faça brilhar ou desejar sentir na pele o seu suave toque refrescante e purificante.
Aqui, dentro de mim, há o desalento do (de novo) falhar. O enfrentar do nada para sempre durar. Do tudo, um dia, terminar. Do nada para além das memórias na pele gravadas, para além do sabor das recordações nos lábios guardados, do calor dos sentimentos partilhados na alma cravados, nela profundamente marcados e jamais esquecidos.
Momentos únicos, intensamente vividos agora perdidos, feitos nevoeiro sobre o rio que se desfazem em novelos de bocados partidos.
Pontas soltas de uma vida vivida, que tento remendar, colar, entrelaçar e, sobretudo, perpetuar em loop sem fim, em busca do motivo, da razão e do porquê de ter deixado de ser assim: perfeito.
Afinal, há gotas de água aqui: caiem de mim, por mim e, pelo meu rosto escorrem, sulcando marcas invisíveis na face. Água que verto sem pudor, sem receio de mostrar toda a dor, que vai aqui, no meu peito.
E, ao mesmo tempo, há nas lágrimas um poder que não entendo, que ao cair nos lábios, não resisto e sorvo, sentindo todo o seu gosto salgado como gotas de um mar não reclamado, apenas meu, privado. E dele me alimento. E dele renasço mais forte que ontem, mais frágil que amanhã.
Que a esperança de (sobre)viver é mais forte que por um amor morrer...



27.Junho.14