quinta-feira, 8 de abril de 2021

A ti Mãe...


A ti Mãe...

Entre o ontem e o amanhã há todas as memórias inesquecíveis. Todas as recordações. Todos os cheiros. Todos os sorrisos.

Entre o ontem e o amanhã há o constante te pensar. Nos conselhos que (não) segui. Nos caminhos que foram feitos em passo uníssono.

Entre o ontem e o amanhã há todas as batalhas que travamos. Todas as ideias contrárias. Todos os desgostos e desilusões.

Muitas vezes, entre o ontem e o amanhã, não havia diferença. Era o mesmo dia. Era o teu dia.

Como mãe e como celebração da vida. Em conjunto num único cenário de felicidade.

Entre o ontem e o amanhã já não há abraços, ou beijos, ou sequer o bater do teu coração. Já não há o que (me) eras.
E são dois dias que, juntos ou tão próximos, me fazem sentir, de forma tão mais profunda, a tua ausência.

Pudesse eu trocar o ontem e o amanhã por um momento contigo hoje.
Nem todos os dias foram fáceis.
Nem sempre nos ouvimos.
Nem sempre nos abraçámos ou beijámos ou rimos e brincámos.

E hoje, entre o ontem dia da Mãe e o amanhã dia do teu aniversário, há um vazio que me percorre.
Há um passar do tempo que se desfaz, como folhas perenes ou pétalas soltas da flor.

Há Primaveras que jamais terão a mesma cor.

Entre o ontem e o amanhã, há um hoje carregado de uma saudade que me deixa num estranho torpor...


Cat.
2020.05.04

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Ciclo


 

Há uma sensação de impotência quando olhámos a vida. Vida em todos os sentidos.

Como se fosse inevitável fugir a certas dores ou alegrias, à vida ou à morte.
E somos realmente impotentes, não depende de nós.

E há tantos caminhos que podemos seguir e tantas vezes esbarramos com as mesmas coisas, como se nos perseguissem, como se fossem inevitáveis.

Mas há em nós, no nosso âmago, uma força que nos move, que não nos deixa deixar ali, no nosso canto, com a vida suspensa de forma (quase) eterna.

É preciso viver.
É preciso amar, chorar, rir, odiar, provar, experimentar, beijar, abraçar, perder e ganhar.

A vida vida é um ciclo, como o passar das horas, dos dias; como a Primavera e o Inverno; como o céu agora azul, amanhã cinzento; como o mar agora quente e calmo, amanhã impiedoso e turbulento.

Fazemos escolhas, tomámos decisões, cumprimos o caminho a que nos propusemos, mas há sempre, a dado momento, essa sensação de impotência.

Momentos em que caímos no chão e Mundo e Vida não param...
Porque o ciclo não pára.
Porque nada pára.

Nem o céu de ser azul e cinzento, nem as árvores de crescer e morrer, nem o vento de ser doce ou devastador.

A vida é assim: um ciclo que apesar de repetido, é sempre diferente, é sempre impossível de controlar. E há tanto que pode, nesse entretanto, por nós passar...


Cat.
2020.05.01

O corpo quer ceder


 

O corpo quer ceder. Deixar de lutar, deixar de combater, deixar-se cair.
Há dias em que apetece deixar cair os braços e desistir.
Desistir da vida, das (des)ilusões, dos medos, dos sonhos, do sentir.
Mas o passar do tempo mostra-nos que não há possibilidade de suster o tempo, tal como a respiração. É momentâneo. E a qualquer momento, a dado momento, temos que nos erguer. Temos que caminhar, temos que avançar.
A vida é feita de muitas coisas, de muitas pessoas, de muitos momentos e de muitos sentires.
Mas há dias em que, só com muito esforço, só com uma força hercúlea o corpo avança.
Sim, há dias em que o coração está morto, emperdenido, negro e pesado. Morto. Quase morto.
Há dias em que a dor é em demasia.
Há dias em que a ausência é insuportável, indescritível, impossível de nos fazer querer viver.
Mas há que enxugar as lágrimas, cerrar os lábios e forçar a vida a acontecer.

Apesar da dor.
Apesar da (tua) ausência.
Apesar da falta de vida no (meu) coração.
E, com toda a força, (vou) tentar viver.
Tentar que as memórias se tornem menos pesadas, menos dolorosas.

Apesar de (quase) morta, o corpo vai lutar por viver e nunca (te) esquecer...


Cat.
2020.04

terça-feira, 6 de abril de 2021

Arde-me o peito


 

Arde-me o peito, queima.
A dor é mais que muita e o coração (quase) não aguenta.
É uma certeza de que foi o certo.
É uma certeza de que te queria, aqui, de mim perto.
As memórias vou guardá-las para sempre comigo. No melhor lugar do meu mundo, da minha Alma.
Temos tudo pelo certo. Pelo garantido. Pelo sempre do tempo, que achámos é infindo.
E a dada altura, a vida ou Deus ou o destino ou o raio que o parta, muda tudo.
E o tudo passa a nada.
Mentira! Passa a um vazio maior que o nada.
Um fim esperado (nada dura para sempre) mas que quando anunciado é como a morte.
Morte. Fim. Vazio. Ausência.
E arde-me o peito, queima.
Num fogo que não tem nada para queimar. Apenas o que fomos, o que sentimos, o que passamos.
E dói a perda.
E arde-me o peito, queima, da forma mais violenta.


Cat.
2020.04.23