terça-feira, 19 de julho de 2016

Como um pássaro

O dia aparece devagar, tímido e o sol esconde-se por trás de um nevoeiro pouco habitual para um dia de julho e o calor apenas se sente dentro de casa.
Sente-se no ar o odor do orvalho fresco nas folhas das árvores, na relva do jardim e as flores já não emanam perfumes intensos.
Lá fora o chilrear constante dos pássaros é quebrado por espaçadas passagem de veículos, interrompendo, de forma abrupta, a sua melodia que me acalma e solta o pensar.
Como seria bom ser pássaro, cantar e com isso encantar, embelezando com sons a vida de quem me ouvisse.
Ser livre e voar para longe ou perto ao sabor do vento.
De aparência frágil e ser forte.
Como seria bom...
Mas não nasci ave.
Mas não nasci com a capacidade de (en)cantar.
Mas não nasci livre.
Nasci mulher, esse ser que pensa e sente.
Talvez de mais.
Por vezes penso que deveria ser mais como um pássaro e deixar-me levar pelos momentos, apenas permitir-me viver. Sentir mais e pensar menos. Não me retrair com eventuais consequências da treta e deixar fluir o que sou.
O que verdadeiramente sou.
Não me preocupar em ser adulta quando cá dentro há um ser frágil, à procura de protecção.
Não ter de sorrir quando cá dentro há uma tempestade prestes a explodir.
E não ter receio de me mostrar: as fragilidades e as certezas, as convicções e as fraquezas, o sorriso e as lágrimas, as rugas e as imperfeições no corpo...
Ser Mulher sem as pressões que nos limitam a aparência, a postura e, muitas vezes, a essência. Formatadas à imagem de um modelo irreal, impossível de alcançar.
Somos o que somos e esta mulher aqui, é como um dia de Verão, em que o sol e o calor se escondem por entre as gotas de orvalho, mas nunca deixam de se fazer sentir com todo o seu esplendor. Mesmo que queime, mesmo que provoque alguma dor...


19.Jul.2016

terça-feira, 5 de julho de 2016

Hoje viajo ao som de...



Now as he sits on the back of this grey caravan
Tomorrow he will probably be
Jumping Parisian metro barriers with
A bottle in his hands

Sparkling, sparkling water mixed with
Peaches and rhum
Honestly I don’t drink but if I did this will
Be my favorite punch, he said

Walk out the door with her
And he could see everyone
Dressed in black a class
That seems too far too fetched

She said, “Look at you, look at you, the game is over
The cup is full, your cup is full, stop praying for more exposure”

“It is obvious that you are trying
Dubious stop or you will die here
You’re pretending but no one is buying”

London, London, London is calling you, what are you waiting for
What you searching for?
London, London, London is all in you, why are you denying the truth?
“I might, I might, I might be boring you” he said
“Although it’s not clear as the morning due
When my preferred ways are not happening
I won’t underestimate whom I am capable of becoming”

History will be made to day is written
Boldly on his face
So clear you could hardly miss it
You could hardly miss it

For transcending the barriers of
Yesterday was and is the dream
On a road where Cleopatra comes and goes
Like fishes caught in ponds then thrown back for fun

She said, “look at you, look at you, just pick a fleet
Your cup is full, your cup is full, what have you not yet achieved?”

“It is obvious that you are trying
Dubious stop or you will die here
You’re pretending but no one is buying”

London, London, London is calling you, what are you waiting for
What you searching for?
London, London, London is all in you, why are you in denial of the truth?
“I might, I might, I might be boring you”, he said
“Although it’s not clear as the morning due
When my preferred ways are not happening
I won’t underestimate who I am capable of becoming”

terça-feira, 31 de maio de 2016

Eu vivo!



O dia ainda não se faz sentir e é apenas uma claridade ténue e sem expressão na linha do horizonte.
Neste lusco-fusco quebrado por pontos de luz brilhantes e que iluminam as ruas, a vida vai acordando e começa a acontecer.
O silêncio vai sendo derrotado por pequenos ruídos do dia-a-dia que só aqui, neste momento, conseguem reinar na sua plenitude: o chilrear de um melro na beira do jardim, os passos isolados de uma solitária madrugadora ou, de uma igualmente só, noctívaga na calçada humedecida pelo orvalho e pelo trabalhar dos automóveis que vão aumentado a frequência da sua passagem até se tornar banal e ser um ruído de fundo, imperceptível e sem significado.
Aqui, dentro do meu quarto, a vida ainda não começou: tu ainda dormes. E eu, por inerência e apesar de ter os olhos abertos, também não acordei ainda. Inspira-se e expira-se mas não se respira; o sangue que o coração bombeia corre nas veias mas não se sente nem é quente; a pele é de um morno demasiado fraco para que se arrepie ou apeteça tocar; os lábios cerrados e sem expressão não se desejam beijar.
Porque eu só acordo depois do teu olhar; porque o sangue só aquece depois do teu tocar; porque os lábios só se abrem depois do teu sorrir; porque o coração só bate forte e vibrante depois do teu beijar.
E depois do teu me amar, do teu corpo se unir ao meu, do teu odor se mesclar com o meu, de eu ser, completa e absolutamente, tua e tu meu, eu desperto e abraço o dia e respiro e sinto e arrepio e, aí sim, de forma plena e vibrante, eu vivo!




31.Mai.2016

domingo, 22 de maio de 2016

Cavaleiros andantes



Não há cavaleiros andantes, príncipes encantados ou o homem perfeito.
Como não há princesas, mulheres, mães e amantes imaculadas.
Somos seres imperfeitos. E nós, mulheres, somos inocentes, crédulas quando pensamos que há pessoas que nos vão colmatar as faltas, as necessidades, concretizar os sonhos e sermos felizes para sempre.
O para sempre não existe.
Os sonhos só nós os podemos realizar.
As necessidades são muitas e tantas vezes produto imposto.
As faltas só nós podemos ultrapassar.
Não há milagres. Não há magia que faça resultar o que não foi feito para resultar.
Batalhar por causas perdidas não é lutar, é desgastar o pouco que ainda há.
Nós mulheres sabemos quando algo termina. Quando já não há cura para as feridas e apenas as aprofundamos...
Porque, mesmo sabendo no nosso íntimo, continuamos a tentar?
Porque admitir que o sonho terminou, que não é eterno, dói.
Porque, no fundo, sentimos como um falhanço. E na verdade é apenas consequência do viver, do crescer e de outros objectivos querer alcançar e viver.
Chegar, dar, receber, partilhar e partir é facto indiscutível de quem vive.
E não podemos permitir-nos a ser apenas um ser que sobrevive. Estagnado, que acaba adormecido no irreal sonho do "para sempre"...




22.Mai.2016