Sente-se no ar o odor do orvalho fresco nas folhas das árvores, na relva do jardim e as flores já não emanam perfumes intensos.
Lá fora o chilrear constante dos pássaros é quebrado por espaçadas passagem de veículos, interrompendo, de forma abrupta, a sua melodia que me acalma e solta o pensar.
Como seria bom ser pássaro, cantar e com isso encantar, embelezando com sons a vida de quem me ouvisse.
Ser livre e voar para longe ou perto ao sabor do vento.
De aparência frágil e ser forte.
Como seria bom...
Mas não nasci ave.
Mas não nasci com a capacidade de (en)cantar.
Mas não nasci livre.
Nasci mulher, esse ser que pensa e sente.
Talvez de mais.
Por vezes penso que deveria ser mais como um pássaro e deixar-me levar pelos momentos, apenas permitir-me viver. Sentir mais e pensar menos. Não me retrair com eventuais consequências da treta e deixar fluir o que sou.
O que verdadeiramente sou.
Não me preocupar em ser adulta quando cá dentro há um ser frágil, à procura de protecção.
Não ter de sorrir quando cá dentro há uma tempestade prestes a explodir.
E não ter receio de me mostrar: as fragilidades e as certezas, as convicções e as fraquezas, o sorriso e as lágrimas, as rugas e as imperfeições no corpo...
Ser Mulher sem as pressões que nos limitam a aparência, a postura e, muitas vezes, a essência. Formatadas à imagem de um modelo irreal, impossível de alcançar.
Somos o que somos e esta mulher aqui, é como um dia de Verão, em que o sol e o calor se escondem por entre as gotas de orvalho, mas nunca deixam de se fazer sentir com todo o seu esplendor. Mesmo que queime, mesmo que provoque alguma dor...
19.Jul.2016