terça-feira, 31 de maio de 2016
Eu vivo!
O dia ainda não se faz sentir e é apenas uma claridade ténue e sem expressão na linha do horizonte.
Neste lusco-fusco quebrado por pontos de luz brilhantes e que iluminam as ruas, a vida vai acordando e começa a acontecer.
O silêncio vai sendo derrotado por pequenos ruídos do dia-a-dia que só aqui, neste momento, conseguem reinar na sua plenitude: o chilrear de um melro na beira do jardim, os passos isolados de uma solitária madrugadora ou, de uma igualmente só, noctívaga na calçada humedecida pelo orvalho e pelo trabalhar dos automóveis que vão aumentado a frequência da sua passagem até se tornar banal e ser um ruído de fundo, imperceptível e sem significado.
Aqui, dentro do meu quarto, a vida ainda não começou: tu ainda dormes. E eu, por inerência e apesar de ter os olhos abertos, também não acordei ainda. Inspira-se e expira-se mas não se respira; o sangue que o coração bombeia corre nas veias mas não se sente nem é quente; a pele é de um morno demasiado fraco para que se arrepie ou apeteça tocar; os lábios cerrados e sem expressão não se desejam beijar.
Porque eu só acordo depois do teu olhar; porque o sangue só aquece depois do teu tocar; porque os lábios só se abrem depois do teu sorrir; porque o coração só bate forte e vibrante depois do teu beijar.
E depois do teu me amar, do teu corpo se unir ao meu, do teu odor se mesclar com o meu, de eu ser, completa e absolutamente, tua e tu meu, eu desperto e abraço o dia e respiro e sinto e arrepio e, aí sim, de forma plena e vibrante, eu vivo!
31.Mai.2016
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