sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Ignorar

 
 
Ignorar,
Ela tem apenas que ignorar.
Tudo o que lhe faz mal,
Todos os que lhe fazem menos bem.
Seguir a vida sem parar...
A pensar se será normal
Viver com tudo o que a vida tem.
E a vida, essa,
Passa demasiado depressa,
Para se preocupar
Com o que pensa o mundo
Da sua forma de estar
Nos dias que correm
E nas horas que passam.
Que lhe importa o que pensam?
Que diferença lhe faz a opinião de gente
Que passa, na maior parte das vezes,
Indiferente
Ao sentir que lhe vai na alma?
Que importância têm os olhares,
De soslaio,
De pessoas que não conhece?
Que lhe importa se o corpo,
Cansado e gasto, já não obedece,
Já não responde com a mesma rapidez,
Embora no íntimo do seu ser,
Continua a viver e a aprender com a mesma avidez?
O que ela quer,
Mesmo que com o rosto marcado
Por lágrimas escorridas,
Sorrisos ao vento atirados,
Beijos tocados mesmo que (não) apaixonados,
É viver de cabeça erguida,
É olhar em frente
E seguir o dia-a-dia,
Com a clareza de que não é perfeita,
E a certeza que a alma dormirá tranquila.
 
 
 
27.Agosto.2015

Hoje, aqui


Hoje, não há pensar.
Hoje, aqui, não há a rapariga que se assusta com as vicissitudes da vida.
Hoje, aqui, há uma mulher que sente na pele o desassossego das vontades que a carne anseia.
Os lábios que se molham, na ânsia de um beijo de língua.
Os dedos que deslizam desenhando a mais imprópria fantasia. Desprovida de sentimentos superiores de carinho e de amor. Amor, hoje, só ao corpo, à pele e ...ao sexo sem conta, peso e medida.
Sexo puro.
Sexo pelo prazer, mais do que (te) dar, de ter prazer.
Hoje, aqui, não há a frágil menina, a amada esposa.
Hoje, aqui, há a descarada e libertina, a mulher que seduz ao limite, a que te alimenta as fantasias, a que (quase) só imaginas poder existir.
E tudo que imaginas, hoje, há aqui, neste corpo que adora(s) sentir!
Hoje, aqui, há a (tua) puta que apenas (te) quer foder!
 
 
 
25.Agosto.2015

Quase


A tarde avança no seu correr habitual, com as horas a durarem o mesmo de sempre e os minutos a dominarem o tempo sem que passe ou avance mais ou menos devagar.

Não é Verão e o rio está da mesma cor do céu: um cinza sem vida, sem brilho, sem luz, sem chuva. Apenas se vislumbra vida quando as embarcações dão um ar da sua graça, movimentando, agitando e criando abstractos desenhos ondulantes nas sua...s águas.

Não há cheiros no ar, que o vento hoje está adormecido.

Não há pássaros a chilrear, que o sol não os convida a cantar.

Não há fotografias nas margens, que as cores das paredes das casas empalidecem.

Há contudo, uma letargia que se entranha em tudo. Como se fosse uma névoa, escurecendo, adormecendo, fazendo perder a vida em tudo quanto toca no seu quase imperceptível avanço.

Uma letargia que também me conquista, me desanima, me conquista numa guerra surda que não se faz sentir.

E o corpo apenas reage ao que olhos vão desvendando por entre o cinza, por entre os baços brancos e azuis quase mortos. E parece que pouco há para ver, que pouco há para sentir, que muito pouco há para viver... E o coração quase pára. Quase desiste de bater. Quase se deixa levar pela vontade de não resistir, de não querer vencer.

Quase.

Quase. Porque o (sobre)viver depende sempre de nós. Depende sempre do que há cá dentro do peito. E se há dias em que parece vazio, apertado e estreito, caregado de solidão ou tristeza infinita, outros há em que a vida mais alto grita, em que a vontade se agita e o sangue fervilha!

Não importa o dia lá fora.

Não importam as presenças ou as ausências, o brilho ou a escuridão, a felicidade ou a solidão. Importa o que sou e o que dou. Importa a diferença que faço no meu (tão pequeno e ínfimo) Mundo, na pessoas que amo.

E eu amo! Tanto que eu amo! Com todos os poros do meu corpo, com toda a força do meu ser, com todo o amor que a Alma pode conter!

E eu amo! Tanto que eu amo! E isto, por si só, é suficiente para querer voltar a viver.



11.Agosto.2015

O que custa é o vazio


O que custa é o vazio.

Não é o passar das horas, longas, demoradas, imensas.
Não é o recordar dos sorrisos, das palavras, dos abraços trocados.
Não é a memória que se recheou de cheiros, beijos, brisas no cabelo.

O que custa é o vazio.

Que inunda todo o corpo. De dentro para fora, de baixo para cima.
Que envolve sem piedade a Alma. Como um novelo que se enrola, enrola, enrola e nunca se desfia.
Que aperta num sufoco que a garganta não liberta.

O que custa é o vazio.

Do tempo que quase pára.
Da ausência da cor dos teus olhos.
Da falta do toque que me alimenta.

O que custa é o vazio.

O vazio de te ter e não parar de querer.
O vazio de me faltares mesmo quando me abraças.

O que custa é o vazio do medo de te perder...


23.Jul.2015