quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Na curva do tempo

Na curva do tempo
Há memórias que se prendem,
Há sabores que se relembram,
Há toques que se gravam.

Na curva do tempo
Há alguém que já não importa,
Há quem ficasse para trás,
Há quem já não se recorde.

Na curva do tempo
Há uma vida que se esquece,
Há um querer que já não apetece,
Há um adeus que se impõe.

Na curva do tempo
Não há vontade
Que acompanhe o presente,
Que se deseje
Ou se acomode.

Na curva do tempo
Há uma história que
Se esfuma,
Que perde pormenores,
Há um passado que,
Em mim,
Morre.
 
 
02.Jan.2014
 

Perco-me

 
Perco-me,
No lugar onde
O corpo se abandona,
Sem receio
Da luz que não ofusca
E deste escuro que se apaga,...
Neste leito que,
Mesmo quente,
Não me torna a pele
Amena.
Réstias de lembranças
Marcadas no corpo,
Incendiado pelo
Teu toque
De amante pleno,
De quem sabe o desejo
Mais profundo,
Escondido nos recônditos
De um olhar que
Escandalosamente o expressa.
Resquícios do sabor
Do teu beijo no paladar
Que a boca não esquece,
De um corpo que
Sente, tão,
Tão presente,
O ardor da tua vontade,
No contorno do abraço
Que me envolve por inteiro,
O explodir do teu prazer.
Perco-me,
Perco-me em tudo o que sinto
De ti
Em mim.
 
 
30.Dez.13

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Amar




Não há um dia em que não pense naquele sentimento.
Surge como do nada, acompanhado de uma brisa com aroma a mar. Ou com as folhas de cor âmbar caídas no passeio, à porta de casa. Ou com a imagem da cidade no espelho que o rio reflecte naqueles instantes em que a água não procura o seu chegar.
E pensa naquele homem, de olhar doce e profundo, de sorriso franco e libertador, carregado de uma esperança que trazia felicidade no andar.
E naquele sentimento.
E atrás dele, um turbilhão de outros mais.

Sentimentos que não descreve de forma fácil, descontraída ou levianamente.
Pelo contrário: guarda-os.
Prende-os na garganta e empurra-os para baixo. 
Engole-os. 
Mas antes mastiga-os, tritura-os muito bem,  por entre os dentes cerrados, sob os lábios de rubro pintados.
E os seus olhos brilham perante tamanho sufocante esforço. Brilham, primeiro de raiva. E trinca, tritura. Depois de desilusão. E engole, sôfrega, toda a infelicidade. Por fim, a pena. De si e do que não foi. Ou do que foram. E tenta saborear cada mínimo pedaço que ficou na sua boca, por deglutir. Tenta reconstruir os sonhos que teve, em cenários que nunca existiram.
E o olhar, de um instante para o outro, deixou de brilhar, tornou-se vibrante, e o corpo, assumiu, respirando profundamente, as rédeas daquele instante.
E partiu. Resolvida a não pensar, a não voltar a viver aquele sentir que a faz perceber que, muitas vezes,  amar também é partir.
18.Dez.13

Arrepio




Sinto um arrepio,
Feito do sopro de um sussurro
De palavras ditas
Em segredo,
Junto ao ouvido.

Sinto a pele
Que se entrega,
Sem demora,
Ao delírio
De um querer
Que não se conta,
Que é segredo.

Sinto-te o corpo
Quente, vibrante,
Poderoso no tomar,
Intransigente no tocar,
Indulgente no prazer
De me fazer te pertencer,
E tão ardentemente,
Te desejar.
 
17.Dez.13