segunda-feira, 14 de maio de 2012

Calor...


Calor que se sente na rua, que invade a noite, flores que se abrem e libertam a este quente ar os seus intensos odores.
Calor que se sente nos corpos, que se libertam de roupas pesadas, que agora são leves, curtas e esvoaçam na suave brisa de cheiro a laranjeira.
E o meu corpo não arrefece, mesmo liberto de tudo o que o cobre, mesmo desnudo quase por inteiro o calor me invade. Cresce em mim a medida que penso em ti. Aumenta, sobe, quase explode de tanto te querer. De tanto te querer sentir, provar e ter.
Calor imenso este que me percorre a pele, que a faz gotejar desse intenso desejo de te poder amar. Calor que me queima por baixo da pele, que me percorre as veias e me faz sentir-te quase o sabor, o teu calor, o teu suor, o teu prazer...
Louco calor que me endoidece, que me desperta os sentidos num torpor descontrolado, desejo insano...
Calor em corpo meu que é teu, para te deliciar...


2012.05.13

Apeteces-me...


Apeteces-me!
Como nunca até hoje! Apeteces-me como jamais alguma vez me apeteceu algo ou alguém. Aquela urgência de te saber, de te ter e sentir. Um apetite de ti, uma vontade de nos, espelhado neste apetecer em mim.
Apeteces-me!
Se fosse possível ver-te agora, seria impossível não me atirar nos teus braços, não mergulhar a minha língua na tua boca num salto simples de quem deseja desta forma intensa, louca e imensa, e beijar-te sofregamente até que o ar acabasse e tivesse de parar para respirar. Seria inevitável o disparar do coração, o abraçar com mão na mão, o apertar-te e sentir-te real.
Apeteces-me!
Não para me cobrires o corpo de beijos, de suaves ou mais intensos toques dependendo da vontade, de te dares e seres meu, de fazeres cumprir os teus mais ínfimos e íntimos desejos, nessa cama onde nos daremos, nos entregaremos ao pecado de saber o que é entrega sem receios.
Nao!
Apeteces-me por inteiro! Completo! Com virtudes e todos os teus defeitos que ainda vou descobrir porque ninguem e perfeito! E eu nao te quero senao como es, sem mascaras, sem medos, sem qualquer tipo de segredos!
Apeteces-me tanto, tanto! Porque demoras?

2012.05.12

Já começou

Gosto quando acordo e o dia já começou, já se sente o reboliço dos catraios a correr atrás de uma qualquer velha e esfarrapada bola de futebol. Quando as mães lhes fazem as últimas recomendações antes de entrarem no portão da escola e os obrigarem a largar o entusiasmo temporário dos 10 minutos de louca correria, imaginando-se os Ronaldos e Messis de amanhã, apenas para lhes entregarem o lanche da manhã. Gosto de ouvir os bons dias de quem passa na rua e reconhece o vizinho que foi à mercearia ao fundo da rua e fala das alfaces que algum outro, lá mais no fundo da rua vende e são as melhores. Passos, ruídos, conversas paralelas de vidas que se preenchem em dias aparentemente desiguais e tão superficialmente iguais.
Mas gosto de vidas que correm, que não estagnam, que fluem mesmo que pareçam paradas.
Gosto de "bons dias"! Da tão intensa fé do desejo que um "bom dia" nos tráz à alma! Gosto do bom dia cantado em sons dobrados do travesso do vizinho na janela do lado! Gosto dos bons dias dos outros que tentam seduzir as fêmeas empolando-se e empoleirando-se em topos de copas de cedros, perfeitamente podados e desenhados, soltando longos cânticos de chilrear que me despertam os sentidos.
Gosto de acordar quando já estás desperto ao meu lado, com o teu doce toque a deslizar-me na pele, o  teu dedilhar no local que sabes, vai despertar antes mesmo de eu acordar.
Gosto de acordar e sentir o corpo desperto nesse automático desejar que me activa e faz viva, sem pensar, sem olhar. Esse calor que me invade ao sabor dos teus dedos em mim, que me obriga a procurar-te sem sequer pensar que não ou que sim.
Apenas corpo acordado, tocado, beijado, dedilhado, tomado, lâmbido, molhado e suado de todo o prazer sentido e deitar de olhos fechados e ouvir no ouvido: acorda, o dia já começou! Bom dia...

2012.05.12

Sede...


A noite cai lá fora. Do outro lado da janela, destas paredes, um turbilhão de vidas corre sob o ameno calor de uma quase noite de Verão. Ouço as vozes de quem sorri aos doces e efémeros amigos de uma qualquer mesa de esplanada. Os copos sucedem-se em sumos que borbulham, mudando as cores que nos alimentam a sede e as vontades.
E eu tenho dessa sede de querer refrescar a boca.
Dessa sede que me faz desejar mais, um vício que não consigo que me largue, uma dependência independente das vontades.
Uma sede inexplicável, sentida a cada dia que passa, a cada hora mais intensa, mas que nunca cessa, pelo contrário! Quanto mais a tento matar, mais ela aumenta. Quanto mais a tento saborear, prolongar o seu sabor em mim, para recordar e me saciar quando não o puder ter em mim, mais me aumenta a vontade!

E deste lado da janela, destas paredes, mato a minha sede de ti, em tragos longos e demorados ou sorvendo-te aos poucos...

2012.05.12