terça-feira, 14 de agosto de 2018

Ele(s) VII


Ela.
Aguarda-o com a ansiedade típica de quem se encontra pela primeira vez.
Chegou antes da hora marcada, não fosse o trânsito ou algum telefonema ou o calor (!) atrasá-la.
Deambula pela rua, ora para cima, ora para baixo, no passeio contrário ao do café onde se vão encontrar. Olha as montras mas o que vê é apenas o seu reflexo e atenta em mais um pormenor no vestido e alinha o decote. Ou limpa o canto da boca marcado pelo batom. Ou afasta os cabelos do rosto e os prende atrás da orelha. Ora verifica uma vez mais o telemóvel com o receio de uma mensagem que a desiludiria por completo: “Não posso ir.”, “estou preso numa reunião”, “a minha...” e trava o pensamento e pensa em outra qualquer palavra que a fizesse sentir mal por ter concordado com este encontro.
Decide entrar, sentar-se e pedir um café. Ou uma água. Algo que ajudasse o tempo a passar um pouco mais depressa. Algo que a fizesse abrandar o turbilhão de pensamentos que emergiam na sua mente. De todos os “ses” que surgiam no seu pensar e que a faziam quase desesperar.
Não era a primeira vez que passava por isto. Um encontro, quase às cegas, com ele.
Com aquele homem que a fez, em tempos, suspirar de amor, de desejo, como hoje.
Ainda ponderou a sua presença neste encontro: o receio de o voltar a perder sem nunca, efectivamente, o ter tido.
Sem nunca ter sentido o sabor da sua boca, o toque da sua pele, o odor do seu corpo. E como havia sonhado com isso. Antes e hoje.
Compreendeu que o facto de ser casado e de na altura ele considerar que ainda amava a esposa, o tivesse feito recuar naquele dia. Naquele encontro onde afirmariam o que os unia.
Compreendeu que há laços difíceis de quebrar por uma paixão incerta como a deles seria; que não é para todos largar o seguro mesmo que pouco feliz, pelo incerto.
Compreendeu-o na altura e compreende-o agora que já não é casado, que já não tem laços difíceis de quebrar.
Compreendeu-o no dia em que voltou ao seu contacto e lhe disse que tinha a vida resolvida para ficar com ela. Assim, de chofre, sem avisos prévios, sem saber nada dela.
Assim, hoje está no mesmo filme que há uns anos atrás: apaixonada e desejosa pelo encontro.
Pergunta-se como podem querer olhar-se de novo nos olhos. Pergunta-se incrédula, como é possível estar de novo assim, por aquele mesmo homem.
E, por entre os bebericos de café, sorri a pensar no seu sorriso, no seu olhar intenso, quando os seus olhos focam uma sombra, à porta.
“Parado, ele ficou parado à porta...” – pensa. O medo, esse, volta ao seu rosto.
Mas tudo passa quando aquele homem entra e se dirige a ela com o sorriso que sempre lhe conheceu. Sorriso esse, apenas ausente no dia em que o ia ter...

Ele
 
Não dormiu toda a noite e o dia demorou horas a mais a passar: a ansiedade de voltar a revê-la tomou conta de si. E não é habitual perder o domínio de qualquer situação e muito menos do seu pensamento. Mas ela, ela sempre o fez perder-se.
Mais que o corpo e as formas voluptuosas era o sorriso e o humor sarcástico que o cativou nela. Era uma mistura de menina desprotegida que vira leoa, que sabe o que quer. E ele não sabe explicar como se apaixonou assim, de forma tão perdida por aquela mulher.
O pensamento fluía de forma desconexa e sem qualquer sentido: ora pensava no que tinha sido, ora imaginava o que poderá ser. Mas de uma coisa estava certo: quere-a, como jamais quis alguém, como jamais voltará a querer. Hoje sabe que não há como ela e que não vale a pena fugir ao destino.
E ele é dela. E quere-a com toda a certeza que alguma vez poderá ter.
Sabe que ela é especial e que já perdeu demasiado tempo. Mas tempo necessário para que tomasse as decisões certas e forma consciente.
Sabe que correu riscos demasiadamente grandes ao deixá-la, anos atrás, numa mesa de café, destruindo todas as promessas de amor que trocaram. O medo de trocar o certo pelo incerto dominaram-no.
A verdade é que não teve coragem de deixar um casamento, que apesar de morno não era mau. Era um porto seguro, com uma mulher constante e serena. Mas infinitamente menos interessante. E não, não se tratava de sexo pois nunca chegaram a isso. E esse é um dos seus maiores arrependimentos: podia tê-la f@dido e não pensava mais nisso! Não precisava de ter-se agarrado à imagem daquela mulher e do quanto ela o fazia sentir. Um misto de tesão, de a querer de forma intensa e de protecção, de um carinho imenso ao mesmo tempo. E foi isto que o assustou.
Agora, passados estes anos, está ali, no lugar combinado, à porta do café, a pensar se ela ainda o deseja como antes. Mas ao vê-la, sentada, com a silhueta marcada pelo vestido e o seu batom preferido, percebeu que jamais a deveria ter deixado.
E avança com a certeza que é este o seu futuro. Pelo menos por hoje.

Cat.
2018.08.11

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Ele (s) VI



Ela.

Ela ama com toda a intensidade.
Não sabe ser mais ou menos, comedida, morna.
Ama com toda a sua paixão. Num extremo que poucos entendem. Num dar-se que não é vulgar.
Não teme não ser amada: sabe que quando ama, ninguém a "desama".
Quando não está para amar é que a deixam de amar.
É quando mostra que pode ser pior que os piores.
Sarcástica e acutilante no auge.
O epítome da (quase) crueldade... Não, cruel não é.
E má também não.
Apenas gosta de obter reações intempestivas. Como ela.
Que lhe mostrem o que sentem: gritem ou beijem, amem ou odeiem, mas com tudo o que têm dentro. Com tudo o que são.
Como ela é: de extremos. Complexa.
Mas de sentires.
De sentires como forma de viver.
Porque só sentindo se está vivo e se pode viver.
Seja bom, ou seja mau.
Viver, sentir, doer, amar, chorar e sorrir.
Ela é assim: cheia de intensidades. À flor da pele.



Ele.

Ele ama-a a assim: intempestiva.
Porque os beijos são únicos e porque o desejo é de ardor que quase queima a pele.
A luxúria faz parte do nome dela.
E ela, ela f@de-o como ninguém.
É única a entrega. É sempre diferente: ora domina, ora é dominada.
Nunca sabe o que dali esperar.
Mas é mais que isso.
É mais do que o toque na pele. Do que o sabor da boca. Do que o maravilhoso sexo.
É o sorriso. É o abraço. É a companhia. É o seu mau feitio, que é de (quase) arrancar os cabelos.
Ela é uma montanha-russa: nunca sabe o que esperar dali.
E isso tanto atormenta como encanta.
Ela é uma surpresa diária.
Um sorriso de anjo que esconde um diabrete.
Mas ama-a assim, num rodopio constante de sentires.
É o que faz com que o sangue lhe corra nas veias com essa força vital que é desejar viver! Desejar amar e ser amado desta forma única!


Cat.
2018.08.08

Soletrar(te)

Vou soletrar-te cada palavra
Escrita para ti.
Será como um livro,
Escrito em todo o teu corpo.
Em cada poro
O descrever de um toque,
Na tua boca
Uma ode aos sentidos
E no teu sexo,
Ai no teu sexo,
Um compêndio do que é
Luxúria e prazer.
Descrever-te
Cada orgasmo partilhado,
Cada espasmo do meu corpo
Com o teu abraçado,
Cada detalhe do teu sabor
Para sempre guardado
No meu paladar.
Inebriar-te com o som lânguido
De quem se quer deixar
Aventurar no teu tomar,
No teu apoderar,
No teu penetrar...
E assim,
No culminar do prazer,
Dentro de mim,
Te fazer jorrar.

Cat.

2018.07.31

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Inundar-te

“Inundar-te uma e outra vez” -
Sussurras-me ao ouvido.
A face ruboriza, num misto de vergonha e de excitação.
E o olhar fixa-se nos teus olhos,
Na tua boca entreaberta
E o teu hálito chega até mim,
Quente e húmido.
Na minha mente, nada mais do que
O quanto desejo provar a tua língua.
O respirar torna-se desritmado,
Fazendo-se sentir mais forte.
O deslizar dos teus dedos na pele
Arrepia-me e,
Sob a blusa os mamilos tomam forma,
Prenúncio do quanto te desejo.
Já não me interessam os preliminares,
Já não fazem qualquer sentido...
Já só te desejo perceber
O sabor,
O toque,
O quanto de mim podes obter...
E eu quero dar-me. Toda. Por inteiro.
E eu quero receber-te. Todo. Por inteiro.
E de ti inundar-me.
Uma e outra vez...

Cat.
2018.07.31