quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Tudo porque...



O dia avança no seu peculiar passar de minutos, hoje gélidos e demasiado molhados.
Não há pessoas na rua e o silêncio é o já interiorizado som das gotas de chuva no vidro da janela e apenas interrompido pelo passar de um carro, rápido e sem apreciar a paisagem.
Hoje não há fotografias às pontes, não há barcos a riscar as águas revoltas de um rio que corre mais veloz para o encontro com o mar e as gaivotas planam baixinho nos céus cinzentos escuro.
Aqui, a pele também sente o frio, o sorriso também se esconde e a vontade de não estar aqui é maior que nunca. É demais, quase insuportável.
A alma também escurece ao ritmo do passar das núvens e do chegar do anoitecer.
Salva-me pensar que ao fim das horas lentas terminarem, chegarei a casa e tudo será diferente.
Terei o calor de um aconchego que cobre o corpo e inunda o coração. E este bombeará mais fortemente esse sangue quente que nos faz viver.
Porque te tenho.
Porque me esperas.
Porque me amas.
Mesmo eu sendo perfeitamente imperfeita.
Porque te amo.
Porque te anseio nos meus braços.
Porque te tenho sempre presente no pensamento.
Mesmo que não te apercebas.
Mesmo que passe um dia sem to dizer. Ou um momento sem to demonstrar.
Porque me és alimento.
Porque te dou alento.
Porque somos o que ambos esperamos do outro. E não esperamos nada mais que tudo.
Tudo que nos faça feliz.
Tudo que nos apeteça fazer e dizer.
Tudo que não nos prenda em rotinas que nos acabam por definhar.
E o calor entre nós nunca morrer!

17.Fev.2016

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Ele(s) III


ELA:
Podia ser diferente e não se contentar em apenas se entregar de corpo e alma. Raio de mania essa de se dar por inteiro. De querer ser tudo o que ele deseja: a amiga, confidente, mulher, mãe, amante... Mas não é possível e aos poucos, a cada falha, a cada nova tarefa incumprida como deseja, apercebe-se da sua impotência em consegui-lo ser.
E isso mata-a. A pouco e pouco, aos bocados e demoradamente. E martiriza-se pensando na sua enorme incapacidade em ser perfeita. E frustra-se a cada pensamento. E os olhos não brilham, os lábios não sorriem e o corpo não deseja. E ele, na cabeça dela, vai deixando de a amar. A pouco e pouco, aos bocados e demoradamente.


ELE:
Podia ser diferente mas gosta dela assim, tal como é. Com as suas pequenas imperfeições: faz dela uma mulher real, que a ele se equipara. Sim, ele não é perfeito mas também não tenta ser. Sabe que podia ser melhor mas é feliz assim porque ela o aceita. Como ele a ela. E não importa que não seja a melhor cozinheira, a perfeição a passar a ferro ou que não aspire a cada poeira no chão da sala.
Ele ama-a pelo sorriso, pelo olhar sedutor e apaixonado, pelas curvas de um corpo que se sabe mover e o excita. Pelos beijos. Pelo sexo. Pela companhia. Pelo sexo que é (quase sempre) fenomenal. Sim, o sexo é importante para ele. E ela preenche todos os seus requisitos.
Sente que a rotina das tarefas diárias são um peso demasiado grande na forma como ela reage e quer mostrar-lhe que nada, mas mesmo nada é mais importante que estarem juntos. Verdadeiramente juntos, abraçados, enroscados ou apenas, um ao lado do outro, sentados. E mesmo que a ausência de palavras impere, não é constrangedor ou mau ou sinal que algo não está bem ou que ele esteja saturado dela ou mais um milhão de outras coisas que passam pela cabeça dela! Não, é apenas porque não há necessidade de encher o silêncio. É porque é confortável. E não há nada melhor que saber apreciar momentos a dois, em silêncio.

17.02.2016

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Ele(s) II



ELES:

A cada dia se importa menos com o tanto com que se importa. Vai-se esvaziando das preocupações.
O que ele não sabe é que a diminuição do importar é equivalente ao aumento da indiferença, à diminuição do amor.
Do amor não, que ela continua a amar com a mesma intensidade, ou talvez mais. É mais consciente o sentimento. Como o é a importância que dá às coisas.
Ela sabe que não basta amar.
Ele pensa que só isso importa. Que tudo o resto é secundário, de menor dimensão no que significa amar.
Ela cansa-se das rotinas massacrantes de a cada dia tentar que o amor prevaleça.
Exausta deixa de se interessar pelo que ele faz pois ele sente que é pressão.
Deixa de dizer que o ama pois dizia-o vezes demais e, para ele, perde a verdadeira essência do sentimento.
Deixa de o seduzir com mensagens onde demonstra o quanto o deseja, de uma forma tão explícita que ele lhe pede para parar pois está a trabalhar.
Deixa de o procurar com a intensidade e a vontade de quem quase morre de fome ou sede porque os corpos, mais imperfeitos por culpa do passar do tempo e do aumento do típico desleixo, já não respondem da mesma forma e para ele é ponto fulcral que ambos estejam bem. Mesmo que ele não esteja. Mesmo que ele falhe mais que ela. Mesmo que ela sempre tenha estado bem com o corpo que tem.
Desistir de se importar é o que ela acabará por fazer.
Não por já não o amar, apenas por sentir que não vale a pena lutar. Porque um dia, pouco se importará com o que ele possa fazer... E aí será tarde, já não haverá volta a dar.
E o amor acabará por ceder à rotina do não se importar, à sensação que, por ele, já não vale a pena lutar.



13.Fev.2016

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Escrever(te)



Pergunto-me porque escrevo e a resposta não surge fácil na ponta dos dedos. Nem na ponta da língua ou em pensamentos coordenados. Não! Aparece de forma disforme, confusa e desordenada.
Vários pensamentos vão-se formando na mente. Pensamentos não, são mais palavras que se unem a outras palavras e formam uma frase. E tenho que a escrever.
E o restante é uma catadupa de palavras chave que se vão encadeando umas nas outras. E nas quais não penso. É uma espécie de acto reflexo que muitas vezes, quando as palavras realmente se marcam presença na mente, tudo parece confuso, chegando a parecer ilógico.
Não sei porque escrevo.
Nem tão pouco sei se escrevo.
Debito palavras que fazem mais ou menos sentido.
Não é para outros. Não tenho a pretensão de ser lida e, muito menos, compreendida.
Não é para mim. Conscientemente não o é. Nunca releio as frases que se vão formando e firmando em linhas de coerência dúbia.
E há a sensação de repetição. De monotonia demasiado enfadonha e descolorida de novos sons e compassos.
Tudo sempre igual, semelhante ao anterior. A culpa? Das palavras! Dessas palavras que ecoam de forma permanente na minha mente. Palavras que me são fiéis e não me abandonam jamais. Palavras sempre presentes e constantes.
Houve tempos em que escrevia para ti. Em que te respondia ou te dizia o que de mais profundo sentia, desejava, ansiava.
Houve alturas, muitas e durante muito tempo em que todas as frases te faziam sentido.
Agora, nada o faz. Agora que já não me lês, todo o sentido se torna (im)possível.


11.Fev.2016