quarta-feira, 9 de março de 2022

Adeus (à) Vida XXXVI





Penso na hora derradeira:
Será branda ou uma tormenta,
Fecharei os olhos suavemente
Ou sentirei a dor de um coração a parar?

Não sei o que me espera,
É uma incógnita, uma incerteza...
Viverá, depois, a minha Alma
Ou serei nada mais que poeira?

Perderei noção de quem sou,
De tudo o que vivi,
Ou pensarei apenas
No que deixarei aqui?

Não quero pesos em mim:
Nem no corpo, nem na Alma,
Gostaria de me ir assim,
Dormindo como quem sonha.



Cat.
2021.04.30

terça-feira, 8 de março de 2022

Adeus (à) vida XXXV


Pergunto-me quantas vezes
Terei de viver
Para que a vida
Deixe a minha Alma morrer?

Quantas vezes terei
De me transformar,
De noutra me tornar
Para poder descansar?

Serei merecedora de tamanha tormenta,
De na pele do rosto carregar
Sulcos de lágrimas salgadas,
De o corpo já não ter força para lutar?

Que terei feito,
Nesta ou noutra vida,
Para tal me acontecer,
Para a morte (ainda) não merecer?



Cat.
2021.04.30

quarta-feira, 19 de maio de 2021

(Novos) Começos


 



A vida nunca é como idealizamos. Raramente corre como planeado e raras são as vezes em que nada falhe.
A verdade é que quase sempre vamos (re)fazendo a vida conforme nos é permitido.
Há (quase) sempre um imprevisto, um elemento, uma variável que não conseguimos controlar.
E é frustrante. Mesmo muito frustrante.
As desilusões com as (grandes) expectativas que fazemos sobre um acontecimento para o qual trabalhamos são devastadoras para a nossa mente. Fazem cair por terra todos os esforços, todos os sonhos... Fazem tábua rasa, polida e infértil ao ponto de nos questionarmos se vale a pena o esforço de sonhar.
Sim, sonhar parece, perante as vicissitudes da vida, um esforço vão.
No entanto, a vida gira, como os ponteiros de um relógio mudando as horas, como o sol dá vida à lua, como a maré dos rios varia num constante e sempre diferente ritmo.
A vida é um mistério pois ninguém sabe o futuro.
A vida é cruel por não nos permitir construir esse (in)certo futuro.
Estes dias têm sido quase assim. Uma (des)ilusão.
Criei expectativas, altas, demasiado altas e caí por terra.
Destruída.
De coração partido.
De culpa por ter acreditado.
De vergonha por ter sido rejeitada.
A rejeição, seja a que nível for, é destruidora, a nossa auto-estima é abalada, a nossa crença em nós, no que somos é abalada.
A rejeição é um tremor de terra que, não só abana, como abre brechas, mais ou menos profundas nos alicerces de quem somos.
E eu caí por terra. Destruída. Verdadeiramente desiludida.
Mas algo dentro de nós, raramente, nos deixa cair numa letargia de comiseração. Levantamos o corpo, a cabeça e voltamos a acreditar.
Quase sempre noutro sonho.
Eu, esta semana, deixei de sonhar. Sonhar no sentido de planear.
Deixei nas mãos do tempo, dos dias e de algo cá dentro, que não sei o que chamar, e deixar acontecer. Como se... Como se tivesse a certeza que o deveria fazer, que tudo se iria compor, que "as coisas" iriam acontecer. Mais cedo ou mais tarde. E isso cá dentro deu-me ânimo. Confiança em mim. E vivi estes dias, não à espera, mas vivendo o meu ser mais verdadeiro, vivendo-me, sorrindo e chorando com algo que me fizesse sentir. Vivi sem expectativas. Verdadeiramente deixando acontecer.
E aconteceu!
E fui invadida por um sentimento de felicidade! Verdadeira felicidade. Por mim, pelo que sou, pelo que mereço.
Pode parecer estranho, uma parvoíce, uma estupidez, mas a desilusão foi perfeita para o meu futuro. E acredito que serei mais feliz no que não planeei do que no idealizei e sonhei.
"Já não era para ser" ou "é porque algo melhor vem aí" deixaram de ser frases cliché, usadas para nos fazerem sentir bem: às vezes é pura verdade! Basta deixar de tentar controlar e viver com o que nos aparece à frente.
O destino, o fado, o futuro são coisas que não controlamos. Podemos ajudar fazendo por nós, crescendo intelectual e moralmente, mas não se controla o que está escrito para nós...


Cat.
2021.03.27

Luz dentro de mim






É noite, novamente a lua domina o céu negro. Há no ar o cheiro a orvalho e das primeiras flores da Primavera que se anuncia.
A vida tem sido um emaranhado estranho. Ainda mais estranho que o habitual.
Falam que são tempos difíceis, que há que ter esperança e acreditar que tudo vai correr bem.
A verdade é que não correm. Há muito que não correm bem. Há muito que a esperança se vai esbatendo com o passar dos dias, das semanas e meses. Há muito que tenho dias em que sinto que tudo vai desmoronar, principalmente eu.
Eu.
Eu, que nem sei o que significa "ser eu".
Há muito que me sinto perdida de mim, há demasiado tempo. E no entanto, sempre que me perco, reencontro-me.
Mergulho no meu eu mais profundo, mais verdadeiro, mais real e mais simples e puro.
Descubro muitas falhas, muitas imperfeições e, devagar, muito devagar, vou aceitando que não sou perfeita... Longe de o ser.
Descubro muitas coisas boas também.
Acabo por chorar tanto pelo que tenho de bom, como pelo de menos bom.
É bom mergulhar em nós e olharmos para o que somos, para o que sentimos, para o que acreditamos e aceitar o que vemos. E não é fácil olhar ao espelho de nós.
Esta introspecção tão profunda está a mudar-me.
Já não tento controlar tudo à minha volta: descobri que não controlo.
Olho para os dias que vivi até agora e, não sei porquê, tudo faz sentido. Tudo surge na hora certa. Tudo acontece pela ordem certa. Há situações que só se sabem gerir depois de passar por uma outra que nos preparou.
Olho e vejo que sempre fui privilegiada: sempre tudo vem ter comigo. Principalmente as pessoas que preciso naquele momento. Como se me guiassem e olhassem por mim.
E a cada meu desmoronar, aceito o que vier, acredito que será pelo meu melhor, confio no futuro e que tudo será como tem de ser. E tem sido muito mais positivo que menos bom.
É noite, mas hoje há brilho e uma luz dentro de mim.


Cat.
2021.03.07