É noite lá fora. Não sei se há lua ou estrelas ou nuvens. Sei que é noite, que já não há o canto dos pássaros ou o ruído dos poucos carros que por aqui passam. A rua estará deserta de gente. Porque está vazia e porque precisa de vida. Vida estranha neste último ano. Já lá vai um ano que a nossa liberdade está condicionada. Pela doença, pelas regras, pelo isolamento, pela solidão...
É noite cá dentro. De casa e em mim.
Hoje há noite em tudo o que me rodeia. Um negrume que não permite desvendar o futuro.
Mas o futuro nunca se desvenda. Nunca se adivinha. Nunca se sabe, é por si só um enigma, é verdade. Só que agora, neste momento nem nos permitimos a planear. É um viver cada dia, é um viver o amanhã só quando chegar, como se o futuro fosse algo ilusório, como se, de um momento para o outro, pudesse não chegar.
Na verdade não se vive o hoje, vive-se a (constante) ansiedade do amanhã. Ontem, hoje e amanhã. Sempre num desesperar pelo que está para chegar e nunca é amanhã.
Viver o presente com a incerteza do futuro imediato, presos em casa, afastados dos que amamos, das rotinas que são fundações basilares da nossa vida, não é viver... É ansiar que as horas passem na esperança de que após o adormecer e o acordar, o futuro seja diferente nesse novo dia.
É um ano deste viver que carregamos connosco.
É um ano a acumular ansiedade, incertezas, solidão. Tanta solidão...
É noite cá dentro e eu tenho saudades de sentir o vento, do cheiro das flores, das vozes das pessoas, de respirar livremente e... Do abraço do meu pai e da minha irmã. Dos abraços que tudo curam e fazem o futuro do amanhã melhor.
Cat.
2021.03.05



