sexta-feira, 14 de maio de 2021
Tenho dias em que me sinto assim, perdida neste emaranhado espaço-temporal sem sentido.
Talvez o tenha, mas sinto que perco, a dada altura, o fio à meada. Como um nó sobreposto noutro nó e noutro e noutro noutro...
Hoje sinto-me assim.
Hoje é um desses dias.
Custou levantar, a vontade de sair do quente da cama era quase nula. Na minha cabeça apenas surgia a pergunta: para quê? Para ires para o sofá, ver as horas passarem no ecrã da tv, num filme que não acrescenta nada ao que és? Não te iludas: não irás passar a ferro a roupa amontoada no quarto que não usas; nem tampouco arrumar a loiça da máquina ou tratar da roupa. Vais vegetar, deixando mais um dia passar sem nada fazer.
E assim foi. É verdade. Tudo aconteceu como descrito: horas vazias, cheia de nada, num dia feio de Inverno, cinzento, sem luz. E sem pessoas, sem pássaros, só o cinzento de quase chuva, acompanhada de vento.
Hoje sinto-me assoberbada com tudo na vida.
Hoje já senti medo pelo futuro. Já senti ingratidão. Já senti desânimo e vontade de desistir. Já senti a mente vazia de tudo.
De cada vez que senti estas emoções, tentei contrariar. Tentei mudar o chip e focar na esperança, na fé (seja lá o que for), no aceitar o que vier e em agradecer e acreditar que o dia de amanhã será melhor. Bem melhor.
Eu sei que há retorno para as nossas acções e pensamentos.
Eu acredito que o futuro vai ser melhor.
Eu sei que algo está para chegar e que tudo vai mudar e a vida será bela, cheia de luz.
Eu sei. Eu sinto.
Mas hoje, hoje preciso de mais que um acreditar.
Hoje preciso chorar e os meus receios libertar. Não é isto que quero sentir. Não, definitivamente não é o que quero. Mas é o que sinto e a luta hoje parece impossível de vencer.
Choro. Limpo a Alma enquanto debito o que sinto, nestas palavras que só para mim fazem sentido.
Choro. Peço que as lágrimas salgadas levem esta angústia do peito, esta inércia do corpo e o vazio da mente.
Estou cansada deste momento da vida. Hoje, hoje estou cansada.
Choro e quero adormecer para acordar com outro alento.
Choro pois preciso de força cá dentro.
Eu sei qual é o caminho, está ali, à minha frente, só que perdido nos nós da vida e da mente.
Hoje, estou assim, perdida na vida.
Cat.
2021.02.10
quinta-feira, 13 de maio de 2021
Escrever-te
Eu sei que fiquei de te escrever, de te dizer, de te dar a saber. Eu sei e tu sabes. E sei que relevas a minha falta de palavras.
Não há muito a contar pois os dias correm como sempre: o hoje igual ao e o amanhã idêntico ao hoje.
Horas que passam numa sequência sem significado diverso ao do correr do tempo.
Não há histórias. Não há conversas. Não há visitas ou saídas porque sim.
Há um tempo estranho, que deixa estranha a mim e aos outros. Somos todos estranhos.
Em todos os sentidos.
Não nos reconhecemos, descaracterizados que fomos, parecendo que saímos de uma linha de montagem.
Não nos sentamos como habitualmente ao pequeno almoço ou no café após almoço ou mesmo no nosso posto de trabalho.
Não conversamos sobre o que quer que seja.
Não nos damos e não recebemos.
Não, não, não. Um punhado de nãos que nos impedem de viver.
E ficamos estranhos, eu pelo menos fico, nesta ausência de rotinas substituídas por algo que me deixam mais ausente que presente.
Mais ausente da vida, lá fora na rua e cá dentro de portas e na Alma.
Não há muito a dizer, pois não há muito que se faça.
Mentira: faço o premente esforço de pensar e de me obrigar a acreditar que isto vai mudar.
Mas no fundo, penso que o que vai mudar são as pessoas.
Este afastamento tão real e prolongado está a criar brechas demasiado profundas na personalidade humana.
Deveria tornar-nos melhores, fazer-nos sentir quão preciosa é a liberdade de poder viver, andar, falar e respirar. Mas não... Estamos cada vez mais estranhos, cada vez mais fechados, em nós, nos nossos medos, nos nossos mundos cada vez mais pequenos.
Por isso não te escrevo: não há nada de novo neste novo modo de viver.
Cat.
2021.02.09
Adeus (à) Vida XXVIII
Será a morte fria,
Escura,
Doentia?
Será húmida,
Desconfortável,
Quase apodrecida?
Ou será morrer,
Como na água entrar:
Devagar,
O deixar-se ambientar,
Ir perdendo o calor,
Adormecer a dor,
Entorpecer o sentir,
E depois,
Num instante, mergulhar,
Fechar os olhos e,
Nunca, nunca mais voltar?
Cat.
2021.02.09
Adeus (à) Vida XXVII
Ir-me-ei quando assim tiver de ser:
Ninguém foge ao destino,
Desde o nascer ao morrer
Está traçado o caminho.
Não há forma de fugir,
Tudo gira e faz sentido,
É um deixar ir,
Libertar-se do que está ferido.
Deixar o que não presta,
O que só faz lágrimas salgadas
Descer pelo rosto e nada resta,
Que as dores, no peito encarceradas.
Quando o corpo estiver pronto,
Ou a Alma com a tarefa cumprida,
Peço que não me chorem a partida:
Sou centelha ínfima dentro de um corpo
Agora podre, inerte, morto,
Que volta para casa, que regressa à verdadeira vida!
Cat.
2021.02.09
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