terça-feira, 11 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XXII


 

Trago no peito
Todas as dores do Mundo:
Não há dia em que me deite,
Sem chorar e secar o poço das lágrimas, até ao fundo.
É a imensidão de um mar,
Que me inunda o ser,
De uma água putrefacta no cheirar,
Suja, onde não há forma de ver.
Lavo, com lágrimas de sal,
Todo esse nojo que sinto,
Que não sendo meu, me faz mal,
Como se fosse por mim cumprido.
Sulco no rosto
A dor dos outros vivida,
Sinto o medo, a revolta, a tacanhez,
De forma tão veemente, que me suga a vida.
Tento, de alguma forma,
O limpar da podridão,
De todos os que são gente,
De modo a obter perdão.
Água podre e parada,
De lamentos e pecados cheia,
Peço que dela não sobre nada,
Depois do meu tormento,
Que não seja, que venha uma nova hora,
Para percebermos
Que a todos tocamos,
Que não somos, mas podemos,
A cada dia, ser mais perfeitos.


Cat.
2021.02.02

Adeus (à) Vida XXI


 

Quando eu me for,
Será porque chegou a hora,
Não será apenas por
Capricho dessa, Morte, senhora.
Serei uma Alma livre,
Que em mim sou eu quem manda,
Andarei por aí fora,
A olhar por quem ainda me ama.
Não gastes lágrimas comigo,
Vê-me antes de outra forma:
Sou pássaro que voa sem rumo,
Sou flor numa jarra.
Não penses que estarei morta,
Estarei sempre viva:
Nos cheiros da Primavera
E na chuva, de Inverno, fria,
Viverei em cada pormenor
De cada coisa viva!


Cat.
2021.02.02

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XX

 


Prometo que te vou amar
Por toda a eternidade,
Jamais me vou deixar
De relembrar esta verdade.
És vida que me enche o peito,
O sangue vermelho vivo,
És saudade quando me deito,
És ar que respiro.
Não haverá momento
Em que o teu cheiro,
O teu sabor, na boca
Não o sentirei:
És parte do que sinto,
Do meu corpo e Alma
E sem ti, de novo, morrerei.
Lembra-te apenas:
A eternidade pode ser efémera,
Durar o tempo de um beijo,
Um momento de pura entrega
E não uma vida inteira.
Mas nunca me perderás,
Jamais te esquecerei,
Permiti que em mim vivesses
E, durante os meus dias,
Aí permanecerás.


Cat.
2021.01.30

Deliciar


Vou entregar-me,
De corpo e alma
Dar-me,
Largar-me,
Deixar-me,
Afundar-me
Em ti como
Quem perde o norte,
Ou, se entrega à morte.
Vou mergulhar
Nas águas do teu amar,
Sem medo de me molhar,
Sem receio do teu me dominar,
Tomar,
Provar ou devorar.
Quero esse nosso inundar
De um no outro entrar,
De dois, em um unificar
E, assim, no teu néctar
Me deliciar.


Cat.
2021.01.30