sábado, 8 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XVII


Corpo dormente,
Inerte,
Não mente:
É a quase morte.

Deixar o corpo
No leito,
Assim, morto,
Sem o bater do peito.

Largar a Alma,
Deixá-la ir,
Com toda a calma
Porque é hora de partir.

Vê-la desaparecer,
Num céu de cor incerta,
Atrás de uma nuvem qualquer
Mas sem a dor que aperta.

É levada pelo vento,
Arrastada sem destino:
É certo que é chegado o momento,
De para casa, refazer o caminho.


Cat.
2021.01.28

Sei que me esperas


 

Sei que me esperas,
No local habitual,
Sem olhares indiscretos,
Sem quem nos possa condenar.
Sei que anseias
Pelo momento em que
Os teus olhos
Encontrarão os meus
E a minha silhueta far-te-á,
Ainda mais,
Desejar poder tocar-me.
Chegarei dona de mim,
Segura da luxúria.
Chegarei quase despida,
De transparência atrevida.
Não te iludas:
Por muito que me possuas,
Por muito que seja tua,
És tu quem se rende,
És tu que depende
Da minha vontade
E da possibilidade,
De comigo,
Poderes de prazer
Quase morrer!


Cat.
2021.01.26

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Folhas que caem


 

A tarde avança, num místico nevoeiro e chuva miudinha, como num normal dia de Inverno.
A verdade é que não é um dia normal, há muito que não há dias normais.
Lá fora só se ouve a chuva e os pássaros. As folhas cor de mel das árvores encurraladas em cantos, amontoadas pela água que as empurra.
Aqui dentro, nada de normal se passa, estamos como as folhas: encurralados, obrigados a estar confinados, presos nas nossas próprias casas.
Nos poucos momentos em que saímos, não voamos como os pássaros, não sentimos o cheiro à terra molhada, nem o perfume das pessoas que passam.
Não, não é um dia de Inverno normal.
É um momento, já demasiado longo, em que a vida (quase) está em suspenso.
Pior, vive-se no medo, na incerteza do futuro, na dúvida do que vemos e ouvimos, na dualidade de querer ser livre e querer ser responsável.
Hoje sinto que são páginas do livro da minha vida que estou a queimar... A perder e a deixar de viver e de alguma coisa realizar.
Como folhas que caem no ar e morrem amontoadas, num canto qualquer.


Cat.
2021.01.26

Shhhhhh!


 

Shhhhhh!
Não quebres o silêncio,
A magia do momento
De te rever.
Shhhhhh!
Não percas tempo
Com palavras que
Há muito conheço:
Aproveita essa boca e
Enche-a da minha.
Preciso do (nosso) sabor,
Do teu corpo o (nosso) calor,
Do teu desejo o (nosso) ardor.
Dá-te-me com todo o teu vigor.
Toma-me como se fosse a primeira vez,
Ou a última, pois tanto me faz.
Shhhhhh!
Cala-te e prova-me
De forma intensa,
Sem pudores,
Quero contigo vibrar,
Dar-me,
Ser-te,
Receber-te
E, louca e insana,
Perder-me no (nosso) prazer!


Cat.
2021.01.25