terça-feira, 4 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XII


O dia há-de chegar,
Devagar,
E nada há a lamentar:
Será a tormenta a terminar.
As minhas culpas,
Nas dores durante
A vida sentidas,
Acabarei de expiar.
Não quero que me chorem,
Não há razão para tal:
A Alma estará pronta,
Limpa e sem mágoa,
Liberta do peso da carne d'uma mortal.
Voarei,
Com a habitual pressa
De quem deseja,
Chegar a casa depressa.
Não quero que me chorem:
Há luz na minha Alma,
Porque há coisas que não morrem,
Que não desaparecem,
Desvanecem deste mundo,
Docemente, com calma.


Cat.

2021.01.12

Adeus (à) Vida XI

 


Ao partir
Quero ver-me nos
Teus olhos cor de
Mar.
Como um veleiro,
Ao sabor do vento,
Do tempo e sem
Receio.
Quero cerrar os olhos,
Lentamente,
Como se não houvesse tempo,
Hora para partir.
E quando o veleiro
Levar a minha Alma,
Sei que me vou libertar,
Como o sal na tua lágrima.
Mas não me chores demais,
Não quero lágrimas em ondas:
Não quero que seques o mar
Desses olhos teus,
Onde me verei,
Para sempre,
A navegar.


Cat.
2021.01.12

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Adeus (à) Vida X

 


Nada tem fim,
Pois tudo se transforma.
Basta olhar para mim
E ver como sou agora.

Há um início,
Tudo o resto é recomeço
Um mero indício
De que tudo é esforço.

Prender o ar e não respirar um dia
Ou outra qualquer forma para ficar sem vida,
Mas apenas o corpo morreria
E de nada valeria a minha partida.

Estoica, feita heroína,
Ficarei e aprenderei
Com vivências nesta inda e vinda,
De fins e recomeços viverei.

Mas quando chegar o dia
Em que o corpo, cansado,
Perder a vida,
Será a liberdade para esta Alma sofrida...


Cat.
2020.12.16

Dormência


 

A noite é de um normal Dezembro, com chuva que vem e se fica pelo céu, tornando as nuvens mais negras que o habitual.

... Comecei a escrever, no meu habitual e monótono registo e... Nada. Nada. Um vazio.
Não um vazio vulgar, acostumado e igual a tantos outros.
Não um vazio de palavras presas na garganta ou na ponta dos dedos.
Não.
Apenas um vazio diferente, como se não houvessem palavras para expressar o que sinto.
Não há urgência em tirar de mim o sentimento, não há urgência em transformar em frases tangíveis e compreensíveis. Apenas porque é impossível.
Não há desespero em mim, mas há um nervoso miudinho.
Há esperança na minha Alma, mas também uma certa ansiedade.
Não há angústia cá dentro, mas há um pensar o futuro.
Há amor no coração, transbordante e infinito e por tudo e todos. Mas também há uma não necessidade de o dizer ou demonstrar.
São tempos estranhos e já se demoram a desaparecer, a deixar-nos voltar a tentar viver o normal.
Talvez as palavras certas sejam esperança e medo.
É difícil descortinar os dias que nos esperam que, talvez, seja tão simples quanto isto: um misto de esperança e medo.
Medo não é. Tenho agora a certeza disso.
Há algo, cá dentro, bem no fundo do meu ser, que vê um futuro brilhante, cheio de luz, esperança e empatia. E tudo o que daí advém.
Sim, é isso que sinto no âmago do meu ser.
Este momento anormal é, para mim, uma espécie de dormência... Uma dormência superficial, pois há o que sinto tão forte dentro de mim, como uma certeza concretizada.
Eu sei... Não faz sentido.
Porque as palavras que tenho para dizer não são palavras, são sentimentos, é algo que só o sentir pode compreender...


Cat.
2020.12.15