sábado, 24 de abril de 2021

De dentro


 

Há no vento um estranho aconchego.
Um abraço que m' envolve a pele, que me trespassa a carne e chega à Alma.
Abraça-a sem medo do que é, só que vai ver ou sentir.
E ela, docemente, deixa-se ir. Deixa-se mostrar.
Não há nada que o vento não exponha, não traga cá para fora.
E o corpo cai, dormente no chão.
Há o húmido do orvalho na erva e nas flores o cheiro a um Outono quase a acabar.
Na terra onde as mãos se ficam há a ligação mais pura, mais simples e mais inocente de sempre.
Um ser que respira, vive e pulsa, no meio de um mundo perfeito de ciclos correndo entre a vida e a morte. Sem medos, sem receios, sem culpas. Apenas cumprindo o seu papel neste teatro que é a vida.
E o vento mostra o meu interior, o meu íntimo, o meu Eu mais sincero e verdadeiro.
Com todos os defeitos.
Com todos os erros.
Com todas as virtudes.
Com todos os sentimentos.
E eu senti-me, ali, deitada, com o sol no rosto, de alma lavada porque sou apenas e somente humana.
E, assim, como que fora do corpo, olhei-me e vi luz ao meu redor, não negrume. Vi cor e sorrisos, não dor e desesperos.
Vi que ser feliz vem de dentro e não do que os outros nos dão.


Cat.
2020.10.26

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Palavras, tantas


 

Doces palavras
Sussurradas ao vento.
Onde chegarão?
Não sei.
Importa? Também não.
Tenho-as aqui,
No peito,
A subir pela garganta,
Pelos lábios a sair,
Como quem canta.

Delicadas palavras
Soltas no tempo.
Imortais,
Intemporais,
Impossíveis de desdizer.
Importa? Nada.
Não há sentimento
Mais puro cá dentro,
Agora partilhado e dito.

Minhas palavras,
Sentir que é meu,
Exposto,
Dito sem desdém,
Sem medo,
O meu eu mais profundo,
A minha Alma,
À mostra,
Despida de pudor ou tormento.
Apenas Eu.
Apenas o meu Ser.
Apenas o meu Sentir.
Com virtudes e defeitos.

Palavras de Amor,
Palavras de dor,
Palavras de sentir
Palavras de (quase) inexistir.
Palavras de entrega,
Palavras de perda,
Palavras de vitórias
E palavras de (muitas) histórias.
As minhas.
As que fazem de mim o que sou.
As que me permitem ser o que sou.
Com tudo de bom ou não.
Mas sempre eu.

Palavras soltas
Ao vento ou numa folha branca,
Se a ti chegarem
E as quiseres ler,
Não me julgues,
Nem me me tentes compreender:
Sou apenas uma Alma perdida,
Num corpo de mulher,
A aprender como fazer
Entre o ser e o viver...

Cat.
2020.10.21

Renascer


 



O sangue corre,
Sincronizado e lento
A cada batimento
Deste coração que vive.

Vermelho carmim,
Cor carne, viva
Como a vida,
Cá dentro de mim.

Percorre este corpo,
Por esta pele
Branca tapado,
Como uma veste
Que nunca se destapa,
Que, apenas, às vezes,
Se rasga,
Fica dilacerada,
Ferida,
Marcada.

Mas o sangue corre
E como o tempo,
Tudo sara,
E a vida renasce
De cores vivas,
Rosa e carmim,
Nesta pele, carne e Alma
Dentro de mim.


Cat.
2020.10.20

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Turbilhão


 

Há um turbilhão
Dentro de mim,
Que quer sair-me
Boca fora.

Palavras, um milhão,
Que não e que sim,
Que sei vão trair-me
Apenas porque se vão embora.

Vão deixar de serem de mim
E passar a serem de quem as ler,
Em qualquer lugar
E a qualquer hora.

Pessoas que (não) conheço,
Que me dizem muito ou nada,
Que fazem (não) parte de mim
Que vão ter caminho aberto
Para por mim,
Pela minha mente e Alma,
Poderem seguir adentro.

Mas há um turbilhão
De palavras
Que dentro deste corpo
Já não aguento...

Adentre-se quem quiser,
Pois eu já não me escondo
E entenda quem puder
Pois eu já desisti, faz tempo.


Cat.
2020.10.20