Há no vento um estranho aconchego.
Um abraço que m' envolve a pele, que me trespassa a carne e chega à Alma.
Abraça-a sem medo do que é, só que vai ver ou sentir.
E ela, docemente, deixa-se ir. Deixa-se mostrar.
Não há nada que o vento não exponha, não traga cá para fora.
E o corpo cai, dormente no chão.
Há o húmido do orvalho na erva e nas flores o cheiro a um Outono quase a acabar.
Na terra onde as mãos se ficam há a ligação mais pura, mais simples e mais inocente de sempre.
Um ser que respira, vive e pulsa, no meio de um mundo perfeito de ciclos correndo entre a vida e a morte. Sem medos, sem receios, sem culpas. Apenas cumprindo o seu papel neste teatro que é a vida.
E o vento mostra o meu interior, o meu íntimo, o meu Eu mais sincero e verdadeiro.
Com todos os defeitos.
Com todos os erros.
Com todas as virtudes.
Com todos os sentimentos.
E eu senti-me, ali, deitada, com o sol no rosto, de alma lavada porque sou apenas e somente humana.
E, assim, como que fora do corpo, olhei-me e vi luz ao meu redor, não negrume. Vi cor e sorrisos, não dor e desesperos.
Vi que ser feliz vem de dentro e não do que os outros nos dão.
Cat.
2020.10.26