quinta-feira, 22 de abril de 2021

Turbilhão


 

Há um turbilhão
Dentro de mim,
Que quer sair-me
Boca fora.

Palavras, um milhão,
Que não e que sim,
Que sei vão trair-me
Apenas porque se vão embora.

Vão deixar de serem de mim
E passar a serem de quem as ler,
Em qualquer lugar
E a qualquer hora.

Pessoas que (não) conheço,
Que me dizem muito ou nada,
Que fazem (não) parte de mim
Que vão ter caminho aberto
Para por mim,
Pela minha mente e Alma,
Poderem seguir adentro.

Mas há um turbilhão
De palavras
Que dentro deste corpo
Já não aguento...

Adentre-se quem quiser,
Pois eu já não me escondo
E entenda quem puder
Pois eu já desisti, faz tempo.


Cat.
2020.10.20

Melhor de mim


 

A noite já vai longa no seu reinado e a lua brilha, envergonhada, por entre núvens quase transparentes.
Há orvalho no ar e nas folhas amarelo e vermelhas dos carvalhos que cintilam ao sabor da brisa e se deixam deslizar até morrerem no chão.
Há silêncio.
Um estranho silêncio. Sem ruídos longínquos de vozes ou passos na calçada, nem sequer de carros na estrada.
Há silêncio na noite, lá fora. Apesar das luzes e dos brilhos, há silêncio.
Aqui, o relógio marca o passar compassado dos segundos e dos minutos e das horas. Num ritmo cadenciado, certo, dormente, previsível.
Ao contrário do que eu sinto.
Eu sinto vida cá dentro. Como nunca senti.
Eu sinto esperança, como nunca senti.
Eu sinto que faço parte deste mundo, desta Terra, desta Vida.
Eu sinto um amor como nunca senti.
Um amor pelo outro. Um amor infinito por todos os seres.
Tudo me encanta. Tudo.
Tudo me fascina. Tudo.
Tudo o que é bom me surge na vida. E tudo que não é necessário é limpo, deixado para trás. Sem culpas, sem receios, sem mágoas.
É como se estivesse a aprender e, sobretudo a aceitar, ser feliz.
Porque eu mereço ser feliz.
Eu mereço. E é para isso que cá estou, para ser feliz.
Para sorrir. Para vibrar com paladares e cores e odores. Para abraçar e beijar e amar, como quero ser abraçada, beijada e amada. Para ter e dar amor. Mesmo que de outras pessoas. Para respeitar, ouvir e aprender. Para poder, também dar de mim, o melhor de mim.
É como diz a música: "Sei que o melhor de mim está para chegar".
Hoje. Amanhã. Depois. A cada dia melhor.
Porque não há que ter medo de ser feliz.
Não há que ter medo de Amar incondicionalmente. Sem reservas. É o nosso melhor.
E eu, eu quero dar e ser o melhor de mim. Sempre que me for permitido e possível.


Cat.
2020.10.15

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Vidas paralelas


 

Vidas paralelas.
Há vidas paralelas. Há quem seja duas pessoas. Há quem viva duas vidas. Há quem as viva de verdade, com todas as pessoas, em carne e osso; e as que as vivem apenas por mensagens e fotografias que excitam as mentes e despertam a líbido.
Nada contra. Jamais poderia julgar, muito menos condenar. Já vivi assim. Ambas.
Duas vidas. Uma cheia de vida, cor, sexo e, como se fossemos uma lâmpada cheia de luz, borboletas voando à nossa volta.
Mas tudo o resto é noite. É negro. É sem vida. Sem cor. Morto.
Mas há quem viva isto dentro de si.
Dentro do seu corpo. Da sua alma. Do seu coração.
Vidas sem vida. Rotineiras. Demasiado simples. Demasiado desbotadas. Demasiado mortas...
E há, porque há, a necessidade de mostrar que somos mais. Que temos mais. Que fazemos mais. Pessoalmente. Profissionalmente. Perante todos: amigos, família, conhecidos, chefes, e, até, desconhecidos. Mais, mais, mais...
No fundo, aparências.
No fundo falta de essência.
Algures na vida todos passamos por isto, faz parte.
O que é necessário é sair do registo.
Assumir que podemos ter menos cor. Mas, sem dúvida, teremos mais brilho. Um brilho genuíno, que vem de dentro.
Mas somos o que somos e o que escolhemos.
Vidas paralelas.
Sim, há vidas paralelas.
Carregadas de cores cinzas, coloridas de tons desbotados.


Cat.
2020.09.29

Tão mais fácil


 


Há na brisa uma mescla de Verão e Outono. Há o calor e as cores avermelhadas das folhas das videiras. As uvas são gentilmente debicadas por pardais e os gaios andam no chão.
Na água, as andorinhas bebericam, em pleno voo, sem medo de molharem as penas. E as flores continuam a serem beijadas por abelhas de uma qualquer colmeia vizinha.
Aqui, nesta cadeira, neste canto do jardim, sinto e vejo toda esta vida que não pára. Que se recicla. Que se adapta. Que vive apenas o dia.
Pergunto-me porque não posso eu fazer o mesmo: deixar ser, deixar fluir.
Deixar-me flutuar na água de fundo azul que oscila ao sabor do vento doce e quente.
Ficar ali, olhando o azul do céu com o azul da água por baixo.
Sentir o oscilar da vida e viver com isso.
Sentir o frio da água e a sua profundidade e não sentir medo.
Olhar o céu e saber que a noite chegará e mesmo assim, ali, deitada, oscilando ao sabor das situações, deixar-me estar, à espera do que virá e... Aceitar. Apenas aceitar.
Porque tenho que pensar e não apenas viver e aceitar o que vier?
Seria tão mais fácil...


Cat.
2020.09.14