quarta-feira, 21 de abril de 2021

Tão mais fácil


 


Há na brisa uma mescla de Verão e Outono. Há o calor e as cores avermelhadas das folhas das videiras. As uvas são gentilmente debicadas por pardais e os gaios andam no chão.
Na água, as andorinhas bebericam, em pleno voo, sem medo de molharem as penas. E as flores continuam a serem beijadas por abelhas de uma qualquer colmeia vizinha.
Aqui, nesta cadeira, neste canto do jardim, sinto e vejo toda esta vida que não pára. Que se recicla. Que se adapta. Que vive apenas o dia.
Pergunto-me porque não posso eu fazer o mesmo: deixar ser, deixar fluir.
Deixar-me flutuar na água de fundo azul que oscila ao sabor do vento doce e quente.
Ficar ali, olhando o azul do céu com o azul da água por baixo.
Sentir o oscilar da vida e viver com isso.
Sentir o frio da água e a sua profundidade e não sentir medo.
Olhar o céu e saber que a noite chegará e mesmo assim, ali, deitada, oscilando ao sabor das situações, deixar-me estar, à espera do que virá e... Aceitar. Apenas aceitar.
Porque tenho que pensar e não apenas viver e aceitar o que vier?
Seria tão mais fácil...


Cat.
2020.09.14

terça-feira, 20 de abril de 2021

Duas. Frente a frente


 

Duas. Frente a frente.
Não em confronto, mais numa tentativa de se compreenderem. Uma à outra, ambas.
Duas. Frente a frente.
Diferentes em tanto e iguais em outro tanto.
Dores idênticas. Sorrisos iguais. Lágrimas pelas razões.
Apenas formas diferentes de olhar.
Apenas formas diferentes de lidar, de viver, de ultrapassar.
Duas. Frente a frente.
Questionando porque a outra não sente igual. E a outra desejando sentir como essa.
Deixar a dor.
Deixar o peso do passado.
Deixar as pessoas que já não nos trazem nada e, principalmente, a quem já nada temos para dar.
Deixar que as lágrimas de tristeza sejam apenas de alegria. Sejam pelo bem que se faz, que se recebe.
Que o amanhecer seja uma bênção e que a cada dia o sol brilhe e o sorriso ilumine o rosto, nem que seja apenas por um minuto.
Duas. Frente a frente.
Numa luta sem palavras, em que a forma de sentir, de olhar, de aprender ou não é que vence.
Numa tentativa de se equilibrarem e de se tornarem apenas numa. Uma única, sem dualidades, sem receios, sem medo de viver e de apenas ser.
A desejar conciliar a mente, o coração e a alma neste corpo que é só um.
Duas. Frente a frente.
Num espelho tão iguais e tão diferentes. E como só desejo conciliar-me e aprender a viver com ambas.
Talvez só o consiga criando uma terceira: a do equilíbrio e a que não se compara constantemente ao espelho à espera de resposta que nunca surgirá...


Cat.
2020.09.12

Olhar-te


 

Olhar-te,
Mergulhar nos teus
Olhos cor de mar,
Sentir-me protegida,
Amada,
Desejada.

Olhar-te,
No teu corpo me enroscar
E o mundo,
Ali, naquele instante,
Desaparecer.

Olhar-te,
Deitar a cabeça no teu peito
E sentir
O meu e o teu
Uníssono respirar.

Olhar-te,
Perceber que
Sem ti este
Mundo meu teria
Sentido algum.

Olhar-te,
Saber que te sou
Na mesma medida que me és:
Parte de mim.
Deste corpo em cada beijo,
Deste coração em cada abraço,
Desta Alma em cada momento
Que contigo passo.

Olhar-te
E dizer-te sem palavras
Que te amo,
Que te pertenço
Sem amarras,
Sem exigências
Por todo e
Qualquer tempo.


Cat.
2020.09.12

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Certezas






Não, não há um fio condutor nos dias que são percorridos por horas, por vezes, infindas.
São dias. Uns seguidos de outros. Uns bonitos, outros nem tanto. Todos diferentes.
Não, não há um caminho que traces e consigas seguir em linha recta.
Há sempre uma curva, uma pedra, um contratempo e quase nunca corre vomo planeado.
Então, para quê planear?
Então, para quê pensar no dia de hoje e no de amanhã?
No de ontem não vale mesmo nada: já tudo foi, aconteceu, passou é irreparável. Pode ser remediável, como um remendo na nossa peça de roupa preferida. Mas que não deixa de ser, de existir, de lá estar. A estragar.
Às vezes não estraga, às vezes torna-os, aos momentos e às horas, apenas únicas.
Não, não há um fio condutor.
Excepto a certeza de que as horas se seguem uma atrás da outra.
Excepto a certeza de que os eventos irão sempre existir e acontecer, planeados ou não.
Excepto a certeza de que não há certeza.
Não. Há sempre um fio condutor.
Olhar para trás e ver que, apesar de tudo, de todos o planos (in)concluídos, de todos os amores (in)correspondidos, de todos os medos e receios, a vida continua.
Sempre.
Dia após dia.
E que sempre, sempre, de alguma forma, a nossa dor se alívia.
Eu acho que é Amor.
Sim, o fio condutor é o Amor. Não os planos, os projectos, os desejos...
É o Amor. É o único sentimento que nos faz levantar depois de cair, perdoar depois de magoados, acreditar depois de enganados, aceitar depois de rejeitados. Há quem diga que há outros nomes para isto... Talvez. Mas sem Amor, o verdadeiro Amor por nós, como seres falhos que somos, não há próximo dia e toda e qualquer desventura ou alegria.
Sim, há um fio condutor que nos faz acreditar que vale a pena viver: o Amor. Em todas e qualquer uma das suas formas.


Cat.
2020.09.16