segunda-feira, 19 de abril de 2021

Certezas






Não, não há um fio condutor nos dias que são percorridos por horas, por vezes, infindas.
São dias. Uns seguidos de outros. Uns bonitos, outros nem tanto. Todos diferentes.
Não, não há um caminho que traces e consigas seguir em linha recta.
Há sempre uma curva, uma pedra, um contratempo e quase nunca corre vomo planeado.
Então, para quê planear?
Então, para quê pensar no dia de hoje e no de amanhã?
No de ontem não vale mesmo nada: já tudo foi, aconteceu, passou é irreparável. Pode ser remediável, como um remendo na nossa peça de roupa preferida. Mas que não deixa de ser, de existir, de lá estar. A estragar.
Às vezes não estraga, às vezes torna-os, aos momentos e às horas, apenas únicas.
Não, não há um fio condutor.
Excepto a certeza de que as horas se seguem uma atrás da outra.
Excepto a certeza de que os eventos irão sempre existir e acontecer, planeados ou não.
Excepto a certeza de que não há certeza.
Não. Há sempre um fio condutor.
Olhar para trás e ver que, apesar de tudo, de todos o planos (in)concluídos, de todos os amores (in)correspondidos, de todos os medos e receios, a vida continua.
Sempre.
Dia após dia.
E que sempre, sempre, de alguma forma, a nossa dor se alívia.
Eu acho que é Amor.
Sim, o fio condutor é o Amor. Não os planos, os projectos, os desejos...
É o Amor. É o único sentimento que nos faz levantar depois de cair, perdoar depois de magoados, acreditar depois de enganados, aceitar depois de rejeitados. Há quem diga que há outros nomes para isto... Talvez. Mas sem Amor, o verdadeiro Amor por nós, como seres falhos que somos, não há próximo dia e toda e qualquer desventura ou alegria.
Sim, há um fio condutor que nos faz acreditar que vale a pena viver: o Amor. Em todas e qualquer uma das suas formas.


Cat.
2020.09.16

Juízo


 

Há dias em que o corpo se ressente, não aguenta e (quase) cai.
Sentes-te mal, desconfortável e só queres dormir. Um cansaço extremo que não sabes de onde surge, o que o originou.
Não, não é mental ou assintomático. É no corpo, com oscilações de capacidade física, de mobilidade, quase um estado febril.
Nada aparente para tal.
Nada que ingerisses ou um resfriado, pois nem de casa saíste.
Há dias em que o corpo reflecte o que já não consegues expressar. Em que o que sentes já extravasa a alma, o coração, a mente...
Há dias em que mais que desistir, tudo te obriga a parar. O corpo e a mente: pára de pensar, pára de conjecturar, pára de antecipar ou sofrer por erros cometidos pois só pioras.
Sim, há dias em que quase tens de parar.
Quase...
E há sempre um quase que te leva ao (quase) total quebrar do corpo.
Mas há que continuar. Com ou sem erros, com ou sem medos, com ou sem forças.
E se nada do escrito fizer sentido, perdoem-me: é porque já me afecta o juízo...


Cat.
2020.09.09

sábado, 17 de abril de 2021

Sentir


 

Sentir
A tua presença
E sorrir no rosto
E no corpo por inteiro,
Necessitado do teu abraço.

Sentir
O ar a fluir,
O teu perfume a inebriar
E a pele a arrepiar,
Necessitada de toque.

Sentir
O sabor da tua boca
Prolongadamente
Na minha,
Necessitada do teu ardor.

Sentir
A tua húmida língua
No corpo a percorrer
Recantos adormecidos,
Necessitados de (re)viverem.

Sentir
O teu corpo
No meu unido,
Num infindável acto
De entrega,
De querer,
De luxúria,
Necessitado do meu prazer.
E eu do teu,
No meu corpo
Suados,
Molhados,
Cansados,
Abraçados,
Sem necessidade alguma,
Pois assim
Somos plenos,
Perfeitos.

Cat.
2020.09.04

Palavras chegarão


 

Haverá um dia em que as palavras sairão de forma fluída, sem pressão, sem nelas pensar afincadamente.
Serão palavras de amor, de prazer, de gratidão, de sorrisos e de alegrias.
As palavras, as minhas palavras, são neste momento pensadas antes de escritas.
Não porque não tenho o que dizer ou sentimentos dignos de ficarem registados e, até, partilhados.
Eu tenho palavras e sentimentos. Muitos. Complexos. Dúbios. Difíceis de transcrever para a folha de papel (que hoje em dia é um qualquer gadget).
Tenho saudades da era do papel e da imensidão de possibilidades que o branco de uma simples folha dava. E da leveza e beleza das palavras que de mim saíam.
Palavras de esperança.
Palavras de crer.
Palavras carregadas de amor, de alegria de querer o tanto que havia para viver.
Hoje, ainda tenho esperança.
Hoje, ainda creio, acredito. Em mim, nas pessoas e Mundo.
Mas estão perdidos, num emaranhado sem fio condutor, sem um caminho certo para percorrer.
Sem uma folha branca de papel onde fluir levemente.
Há outras palavras, outras folhas, talvez cinzentas, onde o preto das letras se torna, por vezes, impercetível, incompreensível, impossível de escrever de forma coerente.
Pois há um rodopio, uma montanha russa de sentires que as palavras deixam de fazer sentido.
Talvez, no cinzento da folha, tenha apenas que carregar no preto de certas palavras: as palavras que realmente interessam. E vê-las, lê-las vezes sem conta, sem contextualizar e perceber que significado têm para mim. Separar, como se diz, o trigo do joio e, ficar apenas, com as que me fazem jus.
Sim, haverá um dia em que as palavras voltarão a sair de mim, numa clareza e certeza, como preto no branco.


Cat.
2020.08.28