sexta-feira, 16 de abril de 2021

Parada


 

E ela parou.
Ficou ali, sentada, inerte. Olhando.
Olhando o mundo que a rodeava.
Olhando as pessoas no compassado correr dos passos de quem tem onde chegar. Depressa, que o tempo urge.
Para elas, para essas pessoas.
Olhando o ondular do cabelo sob os ombros, tapando-lhe o rosto e fechando-lhe, inadvertidamente, os olhos. Num piscar demorado, lento, quase sem vontade de voltar a abri-los.
E não abriu.
Durante algum tempo ficou assim, sentada, inerte, de olhos fechados a sentir esse vento. E o sol do fim de tarde, quente e suave, como uma carícia no rosto.
E abraçou-se.
Sim, abraçou os joelhos dobrados junto ao peito, ficando fechada em si mesma.
Como uma concha. Como uma carapaça onde só se sente o que ela quer sentir. Onde não há lugar para os outros e as suas opiniões e os seus conselhos e lições de vida.
Ali, parada, sentada, inerte e fechada sobre si mesma, só existe ela.
Aquele ser que apenas deseja sentir paz. Uma Alma que luta contra a sua natureza porque é o melhor para ela.
Uma luta interna. Uma luta surda que às vezes se solta num grito de desespero. Uma luta que não se explica, pois nem ela sabe como.
Apenas um ser em transformação. Numa profunda transformação interior que não se sabe o resultado.
Mas há uma luta ali dentro, do peito e nos olhos que querem soltar as lágrimas presas a uma força quase inexistente.
Mudar não é fácil, mas é muitas vezes necessário.
É como nascer de novo, a cada dia, de um conflito constante entre o racional e o emocional.
Entre aprender que saber dizer que não aos outros é dizer sim a ela. À sua dignidade. À sua estima e ao valor que tem.
Eu sei. Eu sou ela.
Parada, sentada, inerte. Olhando e esperando que um dia esta dualidade em mim existente, se equilibre e eu, em vez de duas, dois extremos, me possa tornar apenas uma.
A que eu verdadeiramente sou.

Cat.
2020.08.03

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Voltar a sentir


 

Quero voltar a sentir.
A ser. A dar. A receber.
O corpo pede e ainda há a sede de (te) beber.
Sinto-te o perfume.
O odor do corpo, ali, deitado ao meu lado.
E há o desejo!
E há a vontade!
Eu quero beijar-te,
Abraçar-te,
Dar-me e receber-te,
Dentro de mim sentir-te.
Entregar-me-te.
Sentir as tuas mãos na minha pele.
Sentir a tua língua descobrir-me novos recantos.
Sentir no teu beijo todo o teu imenso desejo.
Quero em ti perder-me:
Os pensamentos,
Os actos controlados,
Os quereres exacerbados,
Exagerados,
Ilimitados,
Numa entrega sem consequências.
Ser tua,
Entregue ao teu querer,
Submissa à tua vontade.
Ser tua,
De corpo e alma nua,
De forma dura e crua,
De pele, carne, suor e prazer.
Sou tua,
Toma-me o corpo,
Faz-me estremecer,
Faz-me vibrar,
Faz-me sentir que sou,
Sem duvidar,
A tua Mulher.


Cat.
2020.07.30

Fechar os olhos


 

Fechar os olhos.
Sentir o vento brincar por entre os meus cabelos.
O sol, já na hora de dizer adeus ao dia e a mergulhar no mar, aquecendo-me o rosto.
Fechar os olhos.
Trazer à memória recordações de momentos em que o sorriso viveu nos meus lábios.
Pessoas e almas que fizeram de mim o que sou. Quem sou.
Fechar os olhos.
Sentir que apesar do que já há em mim, há muito mais para (re)viver.
Saber, neste momento, que ainda cabe tanto em mim!
Que ainda posso ser mais.
Melhor. Tão melhor do que sou.
Fechar os olhos e enquanto o dia dá lugar à noite, num ciclo infindável, também eu, na minha pequenez, no meu pequeno mundo, posso, a cada dia, crescer.
Fechar os olhos e saber, ser tão certo como o meu respirar.

Cat.
2020.06.30

quarta-feira, 14 de abril de 2021

No nosso amar


 

Sentir
O corpo estremecer
Com o toque da tua mão.
Sentir
A pele arrepiar
Com o toque dos teus lábios.
Sentir
O desejo a aumentar
Com a tua língua, em mim,
A deslizar.
Sentir
O querer(te)
Ter,
Pertencer,
Tua ser,
Nos teus braços, abraços, penetrar,
Deixar-me perder.
Sentir
No nosso amar
A plenitude de
Mulher ser!


Cat.
2020.07.04