E ela parou.
Ficou ali, sentada, inerte. Olhando.
Olhando o mundo que a rodeava.
Olhando as pessoas no compassado correr dos passos de quem tem onde chegar. Depressa, que o tempo urge.
Para elas, para essas pessoas.
Olhando o ondular do cabelo sob os ombros, tapando-lhe o rosto e fechando-lhe, inadvertidamente, os olhos. Num piscar demorado, lento, quase sem vontade de voltar a abri-los.
E não abriu.
Durante algum tempo ficou assim, sentada, inerte, de olhos fechados a sentir esse vento. E o sol do fim de tarde, quente e suave, como uma carícia no rosto.
E abraçou-se.
Sim, abraçou os joelhos dobrados junto ao peito, ficando fechada em si mesma.
Como uma concha. Como uma carapaça onde só se sente o que ela quer sentir. Onde não há lugar para os outros e as suas opiniões e os seus conselhos e lições de vida.
Ali, parada, sentada, inerte e fechada sobre si mesma, só existe ela.
Aquele ser que apenas deseja sentir paz. Uma Alma que luta contra a sua natureza porque é o melhor para ela.
Uma luta interna. Uma luta surda que às vezes se solta num grito de desespero. Uma luta que não se explica, pois nem ela sabe como.
Apenas um ser em transformação. Numa profunda transformação interior que não se sabe o resultado.
Mas há uma luta ali dentro, do peito e nos olhos que querem soltar as lágrimas presas a uma força quase inexistente.
Mudar não é fácil, mas é muitas vezes necessário.
É como nascer de novo, a cada dia, de um conflito constante entre o racional e o emocional.
Entre aprender que saber dizer que não aos outros é dizer sim a ela. À sua dignidade. À sua estima e ao valor que tem.
Eu sei. Eu sou ela.
Parada, sentada, inerte. Olhando e esperando que um dia esta dualidade em mim existente, se equilibre e eu, em vez de duas, dois extremos, me possa tornar apenas uma.
A que eu verdadeiramente sou.
Cat.
2020.08.03