Há saudades, é inevitável.
Saudades do corpo, do cheiro, do toque, de risos, de abraços... Uma infinidade de saudades neste momento.
Do sol, que brilha lá fora, num ameno morno típico de Primavera.
Do amarelo vivo dos narcisos, do vermelho das rosas, das pequeninas pétalas brancas das macieiras.
Do cheiro das frésias e da suavidade das tulipas.
Saudades do Mundo. Saudades de vida.
E as saudades podem tornar-nos amorfos, fazendo-nos definhar aos poucos, sem nos darmos conta. Lentamente como o passar dos dias: todos iguais mas a não deixarem de passar. Pior, a acumularem. Uns atrás dos outros. E o tempo passa e deixa marcas, umas menos profundas que outras. "Faz parte", dizemos nós.
Mas as saudades entranham-se mais que qualquer passar de tempo. Afundam no nosso coração e na nossa Alma mais profundamente que qualquer ruga no rosto. E estas, as rugas, são passíveis de serem amenizadas. As saudades, na maioria das vezes não.
Porque nem tudo o tempo cura.
E o tempo não cura a ausência de quem já nos fez feliz ou nos fez chorar. De quem nos acompanhou ao longo de anos, de quem fez dos nossos dias um dia diferente do anterior e do que veio depois.
A vida é um ciclo constante de vida e morte, de renascer e de voltar a cair.
Um ciclo que, cá dentro, do meu coração, se perdeu na dor das ausências. Um ciclo que ainda não passou desse momento que fala de ultrapassar. Um momento preso, num espaço cada vez maior de mim. Um espaço de vazio, de ausência e ao mesmo tempo, de saudades.
Porque há saudades que não se permitem esquecer.
Há saudades sim, é inevitável...
Cat.
2020.05.19