sexta-feira, 2 de abril de 2021

Cansada


 

Cansaço, é isso. Há um cansaço enorme em mim.
De tudo. De todos.
Isolar-me e deixar-me estar com os meus pensamentos. Não. Nem isso. Não quero pensar.
Quero que o vazio me inunde. Me encha e preencha.
E viver assim.
Sem nada. Sem ninguém.
Ficar parada a ver quem passa. A ver o dia mudar de cor consoante as horas passam. Ver chegar e ver partir.
Todos. Tudo.
Sem julgar. Sem imaginar. Sem sentir.
Não pensar. Não agir. Não reagir.
Não esperar.
Não me surpreender ou desiludir.
Cansaço, é isso que há em mim.
De tentar perceber os outros.
De tentar justificar actos alheios.
De fazer mais do que desejam.
De pensar além e antever o que aí vem.
De alertar.
De ajudar.
De ser e dar mais do que de mim esperam.
De ser e dar menos do que de mim esperam.
Cansada de quando dás mais e te acusam de o fazer...
Cansada de quando não dás e te acusam de não o fazer...
Cansada de tentar perceber esta gente que não se percebe.
Cansada.
Cansada desta gente que não vê além.
Cansada desta gente que só pede.
Cansada desta gente que se acha superior, inteligente e melhor.
Cansada da indiferença desta gente para com os outros.
Cansada.
Cansada desta gente que nos suga o que de melhor temos e nos deixa, assim, cansada.
De tudo. De todos.

2020.01.21

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Este sentir


 

Trazer no peito
Um amor prendido
Sem palavras de aceito,
Como que arrependido.

O medo de dar,
De ser,
De mostrar
E de tudo perder.

Preso no ser,
De alguém (im)perfeito,
Este tanto (te) querer,
Que é quase (meu) defeito.

Dias sem rumo,
Num passar de horas
É qualquer não destino
Se calo o que sinto,
Cá dentro do peito.

Morrer neste compasso
De tanto receio,
Incerta do que faço,
Do que falo e não digo.

Querer(te),
Amar(te),
Ser(te),
É tudo o que tenho de certo.

Mas calo,
Este sentir que me avassala,
Que preso na garganta
Não (me) magoa,
Mas é verdade que (me) mata.


Cat.
2020.01.11

Gota numa janela


 

Tento escrever qualquer coisa, o que quer que seja e nada.

Não há palavras.

Não há memórias.

Não há sentires.

Nada.

Há uma mesa de café, pessoas reunidas a falar de uma qualquer banalidade do dia.

Ao fundo joga-se bilhar e há um casal que fala baixinho no meio de tanto ruído. Ela sorri enquanto ouve o que ele diz. Não são novos, não estão apaixonados, mas têm entre si aquela cumplicidade de quem se conhece, de quem ainda ouve com interesse o outro.

Lá fora chove. Numa cadência sem ritmo, cria uma melodia que me deixa ausente deste local.

As gotas na janela, escorrendo pelo vidro, fazem desenhos que parecem caminhos. Ora unindo-se a outras, ora afastando-se de novo. E neste (des)cruzar encontro um paralelismo, para mim evidente, com a vida.

Como se o caminho fosse apenas um. Num único sentido, sem possibilidade de voltar atrás. Por vezes rico, transbordante, carregado de vida e rápido. Ou solitário e parecendo parado no tempo. Unindo-se e separando-se de outras gotas, aumentando e diminuindo o frenesim de o percorrer.

A vida é uma janela carregada de gotas de chuva. E eu sou uma dessas gotas, às vezes parada, às vezes correndo. Às vezes num rumo cheio de curvas, isolada. Outras acompanhada e percorrendo o mesmo caminho.

Gota numa janela. Criando o seu percurso, deixando a sua marca, crescendo, perdendo e ganhando outras gotas pelo caminho.

Gota numa janela. Tão visível e, no entanto, tão transparente e insignificante...


Cat.
2020.01.17

quarta-feira, 31 de março de 2021

Abraço apenas


Há dias em que só queres um abraço.

Um abraço em que apoias a cabeça no peito e não há mais nada. Excepto aquele bater de coração para saberes que ainda há vida em ti.

Um abraço sem palavras, sem perguntas ou dúvidas. Apenas um abraço.

Um abraço que, apesar do silêncio, te acalma a angústia, te leva os medos. Apenas um abraço.

Um abraço que te faz respirar fundo e abrandar os frenesim da mente. Apenas um abraço.

Um abraço de carinho, de amor, de confiança em ti e no futuro. Um abraço renovador. Um abraço de alento... Apenas um abraço.

Há dias em não tens coragem de o pedir apesar da enorme necessidade. E há dias em que pedes. E há dias em que recebes. E há dias em que não. Em que pedir um abraço é sinal de fraqueza. É sinal de falta de amor próprio. É sinal de mendigar pois porque carinho e amor não se pede...

Pede. E não devia ser vergonha ou sinal de fraqueza. É uma necessidade de quem sente, de quem tem vida cá dentro, de quem não pode ser forte a toda a hora. De quem é humano e também quebra. Também precisa de um momento.

Há dias em que só queres um abraço. Apenas um abraço.


Cat.

2020.01.07