Hoje parei e olhei(me) no espelho.
O rosto pálido, com marcas de cansaço, que o dia foi longo e difícil.
Mas olhei(me) para além do óbvio. Olhei(me) e vi as marcas de todos os dias que já vivi. Inclusive das horas em que apenas deixei que passassem por mim.
Sim, houve uma altura da minha vida em que os dias apenas passaram. Sem nada de relevante, sem qualquer marca que pudesse fazer deles algo diferente, que se destacasse. Não fui feliz nem infeliz. Apenas (sobre)vivi.
Não criei, não cresci, não mudei. Apenas (sobre)vivi.
Um estado de dormência contínuo apesar de acordada.
Uma inércia perante um passar de dias sempre iguais, sem mudanças.
Mas ninguém vive assim durante muito tempo e a dada altura, há a premente necessidade de olhar para (dentro) de nós. Um vazio. Um vácuo que quase se toca. Uma série de anos sem nada a destacar.
E, sem dúvida, a ruptura a chegar.
A ruptura da Alma, da nossa essência, do que perdemos, do que não vivemos.
Não somos uma parede que, apesar de de algumas rachadelas, se mantém firme, sem mostrar o passar do tempo. Nós somos folhas de papel, onde todos com que lidamos nos marcam com palavras. Folhas de papel em que o passar do tempo vai amarelecendo o branco. Como folhas de papel marcadas, pelo bom e pelo menos bom, na pele, no coração e na alma. Folhas de papel onde as nossas histórias, as nossas vivências, as nossas lágrimas e os nossos sorrisos podem ser lidos, tocados. Como um livro que se descobre.
No meu rosto já há marcas de choro, de riso, de sofrimento e de alegria.
Mas, felizmente, há espaço para muitas mais.
Para mais vida.
Para mais crescimento.
Para mais momentos que valham a pena.
Para mais pessoas a ensinar-me.
Para mais, muito mais. Porque ainda é cedo para parar e eu já estive de vida suspensa demasiado tempo.
Cat.
2020.01.06