segunda-feira, 29 de março de 2021

Singelo


 


Singelo
O cair do dia,
Desvendando, docemente,
O que guardo comigo.
A noite a surgir,
Devagar, no seu compasso,
A ansiedade a subir
Como o desejo de (te) possuir.
Suave calor
Que do ar se esvai,
Aumenta o ardor
Nos sítios que são teus.
Não demores meu amor,
Aguardo-te com todo
O meu ser,
O meu amor,
O meu querer,
O meu te pertencer.
Assim, sem rodeios,
Singelo.


Cat.
2021.01.22

sábado, 27 de março de 2021

Só quem fica


 

Dizem que a morte é negra, sombria, pesada e fria. Dizem.
Talvez a morte seja o contrário.
Talvez a morte seja alívio.
Talvez seja a liberdade na sua mais pura forma.
Talvez seja deixar as dores do corpo, da alma e do coração para trás.
Talvez seja ver com clareza e com optimismo o largar das penas.
Talvez a morte não seja assim tão má.
Excepto para quem cá fica.
Para quem, eventualmente, possa chorar por nós.
Para quem se vai privar de nós e sentir a nossa falta.
Para quem, nos mais ínfimos detalhes se recorde de nós. Do nosso sorriso, do nosso abraço, do nosso cheiro, do nosso amor...
Para quem fica com a saudade, a ausência e o vazio.

Talvez, para esses, a morte seja negra, sombria, pesada e fria.
E só quem fica pode dizer o que é a morte...

Cat.
2020.01.03

sexta-feira, 26 de março de 2021

Pensamentos meus


 

Há dias em que me apetece isolar, deitar na cama, sentir o silêncio à minha volta e fechar-me.

Fechar-me por completo. Do mundo, dos sons, dos meus sentires e dos meus pensamentos.

Enrolar o corpo sobre mim mesma e apenas ficar assim, inerte, quase sem vida, não fosse o respirar controlado e obrigado. Sim, há dias em que até respirar me custa. Em que a vontade de o deixar de fazer é quase irresistível. E no entanto, tudo no peito parece que vai explodir. O coração acelerado, o peito cheio e a imensa vontade de gritar abafada na garganta...

Mas não, vou guardar tudo cá dentro. Fechar a sete, não, a mil chaves e engolir tudo.

Fechar-me e ao que sinto. Fechar a desilusão, a falta de empatia, a arrogância, a superioridade de uns para com os outros. Fechar-me para não sentir. Para não sofrer. Para aprender apenas a viver, um dia a seguir ao outro, horas infindáveis e minutos que param no tempo. Como a minha respiração, o meu grito contido e o bater do coração...

Cat.
2020.01.03

quinta-feira, 25 de março de 2021

Aqui...


O dia já vai quase no final da manhã e lá fora está o frio típico de um dia de Inverno, em que o sol não tem força para aquecer o corpo.
As poucas pessoas que passam na rua não têm pressa, não sentem o corropio de um qualquer dia de semana. Há um estranho silêncio a nada para um início de semana. Há uma estranha calmaria no passar do tempo, como se as horas aumentassem em minutos e houvesse tempo para se viver sem pressa. O Natal já passou e é quase véspera de ano novo. Talvez por isso, tudo pareça demasiado parado.
Aqui dentro, não é diferente. Tudo parece suspenso: o tempo, a vida, o pensamento...
Pensei em escrever sobre o Natal. Abandonei a ideia por falta de palavras. De palavras certeiras, concretas e indubitáveis. Porque o Natal é sentimento, é viver, é dar e receber muito do que não nos é possível tocar, materializar.
O Natal é uma época em que permitimos que as horas dos dias deuxem de nos impor compromissos e em que nos centramos na família, nos amigos, em quem nos aquece o coração.
Não há palavras para descrever tudo isto.
Muito menos, para descrever quem nos faz falta, quem não está presente.
O Natal é para ser vivido. É para esquecer o menos bom e pensar no que há de melhor. Em nós e nos outros.
E de parar para pensar que, estupidamente, não é preciso que seja Natal para agirmos assim, que deveria ser exactamente assim, todos os dias de todo o ano.
Talvez por isso seja uma época, junto com a transição de ano, em que se traçam novos objectivos, em que se esquecem as diferenças e se valorizam e fortificam as relações.
Em que o sentimento de amar e ser amado nos faça querer fazer mais por nós e pelos outros.
Em que a empatia nos faça sentir que todos somos humanos e, por inerência, falhos.
Em que perdoar, perdoar verdadeiramente, nos faça ser melhor. Por nós e pelos outros.
Aqui, não há resoluções de Ano Novo.
Aqui, há o cliché da certeza que o Natal deveria ser todo o ano. Por nós e pelos outros.
Talvez o Natal exista para nos fazer parar, pensar e crescer. Como pessoas, como seres humanos. Por nós e pelos outros.
Aqui... Aqui faltam as palavras mais acertadas para falar sobre o (meu) Natal.



Cat.
2019.12.30