sexta-feira, 26 de março de 2021

Pensamentos meus


 

Há dias em que me apetece isolar, deitar na cama, sentir o silêncio à minha volta e fechar-me.

Fechar-me por completo. Do mundo, dos sons, dos meus sentires e dos meus pensamentos.

Enrolar o corpo sobre mim mesma e apenas ficar assim, inerte, quase sem vida, não fosse o respirar controlado e obrigado. Sim, há dias em que até respirar me custa. Em que a vontade de o deixar de fazer é quase irresistível. E no entanto, tudo no peito parece que vai explodir. O coração acelerado, o peito cheio e a imensa vontade de gritar abafada na garganta...

Mas não, vou guardar tudo cá dentro. Fechar a sete, não, a mil chaves e engolir tudo.

Fechar-me e ao que sinto. Fechar a desilusão, a falta de empatia, a arrogância, a superioridade de uns para com os outros. Fechar-me para não sentir. Para não sofrer. Para aprender apenas a viver, um dia a seguir ao outro, horas infindáveis e minutos que param no tempo. Como a minha respiração, o meu grito contido e o bater do coração...

Cat.
2020.01.03

quinta-feira, 25 de março de 2021

Aqui...


O dia já vai quase no final da manhã e lá fora está o frio típico de um dia de Inverno, em que o sol não tem força para aquecer o corpo.
As poucas pessoas que passam na rua não têm pressa, não sentem o corropio de um qualquer dia de semana. Há um estranho silêncio a nada para um início de semana. Há uma estranha calmaria no passar do tempo, como se as horas aumentassem em minutos e houvesse tempo para se viver sem pressa. O Natal já passou e é quase véspera de ano novo. Talvez por isso, tudo pareça demasiado parado.
Aqui dentro, não é diferente. Tudo parece suspenso: o tempo, a vida, o pensamento...
Pensei em escrever sobre o Natal. Abandonei a ideia por falta de palavras. De palavras certeiras, concretas e indubitáveis. Porque o Natal é sentimento, é viver, é dar e receber muito do que não nos é possível tocar, materializar.
O Natal é uma época em que permitimos que as horas dos dias deuxem de nos impor compromissos e em que nos centramos na família, nos amigos, em quem nos aquece o coração.
Não há palavras para descrever tudo isto.
Muito menos, para descrever quem nos faz falta, quem não está presente.
O Natal é para ser vivido. É para esquecer o menos bom e pensar no que há de melhor. Em nós e nos outros.
E de parar para pensar que, estupidamente, não é preciso que seja Natal para agirmos assim, que deveria ser exactamente assim, todos os dias de todo o ano.
Talvez por isso seja uma época, junto com a transição de ano, em que se traçam novos objectivos, em que se esquecem as diferenças e se valorizam e fortificam as relações.
Em que o sentimento de amar e ser amado nos faça querer fazer mais por nós e pelos outros.
Em que a empatia nos faça sentir que todos somos humanos e, por inerência, falhos.
Em que perdoar, perdoar verdadeiramente, nos faça ser melhor. Por nós e pelos outros.
Aqui, não há resoluções de Ano Novo.
Aqui, há o cliché da certeza que o Natal deveria ser todo o ano. Por nós e pelos outros.
Talvez o Natal exista para nos fazer parar, pensar e crescer. Como pessoas, como seres humanos. Por nós e pelos outros.
Aqui... Aqui faltam as palavras mais acertadas para falar sobre o (meu) Natal.



Cat.
2019.12.30




terça-feira, 16 de março de 2021

Mulher


 

Há subtileza
No andar de uma mulher.
Há sedução
No olhar de uma mulher.
Há desejo
Na boca de uma mulher.

Mas numa Mulher
Também há quereres
Que vão além da imaginação.
Há barreiras que se transpõem
E não regresso possível.

É uma prisão,
Em que todos os sentidos se elevam
E em que a entrega louca,
Total,
Luxuriante,
é inevitável!


Cat.
2020.05.21

quarta-feira, 3 de março de 2021

Fosse minha


 

Lá fora a chuva cai num compasso escrito por notas de água, sem qualquer preocupação com o ritmo e a velocidade a que caiem na minha janela.
O vento acompanha-a, como guia numa viagem e abraça de forma desordenada e estontante as folhas das árvores por ela molhadas.
Cá dentro nada mais que essa paisagem, de verde igual ao de ontem, mas com esse movimento que me hipnotiza e me deixa, no sofá, de olhar vago, mergulhada nesse momento que parece parar.
Não penso em nada, a mente está vazia, sem qualquer pensar...
Mas os meus olhos acompanham o que vai acontecendo lá fora e, nesse emaranhado de chuva e vento, caiem, pelo rosto, lágrimas salgadas.
Não me perguntem porquê: não sei, não há motivo e não há razão lógica.
É uma sintonia.
É uma parceria.
É uma companhia.
É uma empatia.
É como se eu fosse um nada, despido de um irracional despojado de sentir. E, no entanto, sinto tanto como o Mundo que, lá fora, chora.
Choro por um aperto no peito que não é meu.
Choro porque a Alma não se acalma com tudo o que é meu.
É mais que este corpo que tem tudo o que sonhou. É como se eu fosse o Mundo que com ele sente o que nunca pensou: sentir as dores dos outros, sem as saber distinguir. São minhas, são tuas, são de todos os que se estão a redimir.
A chuva cai, o vento guia.
A minha Alma chora, como se toda essa dor fosse minha...


Cat.
2021.02.02