quarta-feira, 3 de março de 2021

Fosse minha


 

Lá fora a chuva cai num compasso escrito por notas de água, sem qualquer preocupação com o ritmo e a velocidade a que caiem na minha janela.
O vento acompanha-a, como guia numa viagem e abraça de forma desordenada e estontante as folhas das árvores por ela molhadas.
Cá dentro nada mais que essa paisagem, de verde igual ao de ontem, mas com esse movimento que me hipnotiza e me deixa, no sofá, de olhar vago, mergulhada nesse momento que parece parar.
Não penso em nada, a mente está vazia, sem qualquer pensar...
Mas os meus olhos acompanham o que vai acontecendo lá fora e, nesse emaranhado de chuva e vento, caiem, pelo rosto, lágrimas salgadas.
Não me perguntem porquê: não sei, não há motivo e não há razão lógica.
É uma sintonia.
É uma parceria.
É uma companhia.
É uma empatia.
É como se eu fosse um nada, despido de um irracional despojado de sentir. E, no entanto, sinto tanto como o Mundo que, lá fora, chora.
Choro por um aperto no peito que não é meu.
Choro porque a Alma não se acalma com tudo o que é meu.
É mais que este corpo que tem tudo o que sonhou. É como se eu fosse o Mundo que com ele sente o que nunca pensou: sentir as dores dos outros, sem as saber distinguir. São minhas, são tuas, são de todos os que se estão a redimir.
A chuva cai, o vento guia.
A minha Alma chora, como se toda essa dor fosse minha...


Cat.
2021.02.02

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Entrego(me)

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, toque, closeup e interiores

Sentir
O calor do teu abraço,
Acolhendo-me no teu corpo.
O sabor dos teus lábios,
Molhados e dos meus
Sedentos.

Sentir
O chão a fugir,
A pele a arrepiar
A vontade,
O desejo,
A me invadir.

Aperto(te),
Toco(te),
Saboreio(te),
Por inteiro!

Luxúria que me tenta,
Prazer que me alimenta,
O meu corpo (te) entrego...
No (teu) corpo me perco e me encontro!

Cat.
2019.10.17

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Entregar(me)

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e interiores

Saber que me queres,
Assim,
Sem subterfúgios vulgares.
A mim,
Sem o cliché dos mesmos lugares,
Num sem fim
De toques e suaves deslizares.

Sentir,
Que o desejo te invade,
Num deixar ir
Que o agora já é tarde,
E eu quero-te a invadir
O meu corpo não pela metade,
Inteiro, no teu ir e vir.

Perder,
A razão, o pensar.
Ser apenas prazer,
Neste tão nosso, nos entregar.

Cat.
2019.09.26

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Caminhar


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e pessoas sentadas

Caminhar.
Segura de que o dia vai, a dado momento, terminar.
E aí, descansar.
Deixar para trás a rigidez do corpo e do formatado pensar.
Desligar. Se possível for.
Permitir fluir, sem obrigar, sem orientar e apenas ser. Apenas deixar voar, vaguear.
Até adormecer. E aí não mais recordar, não mais sentir e suspender o viver.
Até acordar. E voltar a ter que caminhar.
E esperar que o hoje seja melhor que o anterior. Que o amanhã tenha mais para me dar, para (me) permitir, para sonhar e acreditar. Para que eu tenha vontade de (realmente) caminhar...

Cat.
2019.09.16