terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Fugir(me) III


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É verdade que ando fugida.
É verdade que ando com um humor que nem eu sei descrever. Ora acutilante a roçar o azedo, ora apenas sarcástico.
As mudanças na vida estão a acontecer a um ritmo alucinante e as incertezas, o receio do que aí vem estão a dominar-me a mente mais do que o desejável.
As inseguranças nas minhas capacidades são mais que muitas.
E não sei porquê.
Sei que sou inteligente. Sim, sei e sem qualquer modéstia.
Sei que sou capaz de ultrapassar desconhecimento. Abençoada internet que facilita o acesso à informação.
Sei que tenho uma capacidade de compreensão e apreensão acima da média. Tenho provas disso em toda e qualquer tarefa a que me proponha.
Tenho provas disso quando prevejo situações e as evito antecipadamente.
Tenho tudo e, cá dentro, nesta mente que não pára, acho que não tenho nada.
Sinto que há mais pelo que falhar do que pelo acertar.
Sinto que... Sei lá o que sinto!
Sinto medo. Sim, um medo irracional de não cumprir, de falhar, de não corresponder às expectativas.
E o eu racional sabe que nunca aconteceu. Sabe que hei-de sempre suplantar-me e resolver tudo e qualquer coisa que esteja ao meu alcance.
E o eu emocional, como um bichinho na cabeça, está sempre com o "e se...?" em background, tipo mensagem subliminar a plantar dúvidas.
Às vezes penso que não sou normal. Que se sei não devia duvidar.
E há dias em que tento perceber o que me leva a pensar que falharei, se nunca falhei.
E a única certeza que acabo por ter é que a nossa mente é um complexo mundo, dividido entre o que sabemos e o sentimos. O racional e o emocional.
Enquanto andar perdida nesta estóica necessidade de (auto) compreensão andarei fugida dos outros, tentando encontrar a Mim.

Cat.
2019.06.26

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Fugir(me) II

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Vida que de mim foges,
Lenta e não veloz.
Abandonas cada pedaço de mim,
Cada célula, cada veia
A cada bater de coração.
Vida que me deixas,
Sozinha e inerte,
Neste corpo que quase não se mexe,
Que vai acabar de existir.
Vida,
Tem pena de mim e parte,
Deixa-me acabar com a minha má sorte,
Com todo o sofrer,
Com toda a dor,
Que este corpo está cansado,
Farto de correr,
Vazio de chama e ardor.
Vida que ainda estás em mim
Solta-te,
Afasta-te daqui,
Que esta carne já só padece,
Apodrecida pelo passar de cada dia,
Mortificada,
E só desejo, de ti, ficar vazia.

Cat.
2019.05.25

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Fugir(me) I

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Sinto a vida fugir-me
A cada respiro,
Sugada para fora de mim.
Estou a ruir-me,
A cada batida de coração
E a cair sobre mim.
Esvair-me
Como sangue que corre,
Que sai de dentro de mim.
Perder-me
Fora do que é sentido
Num sentir que chega ao fim.
Esquecer-me
De respirar,
Sufocar-me
Com a falta desse ar,
Tranquila,
Com a certeza de que não quero resistir,
Que a esta sina não quero fugir,
Nunca mais padecer
E deixar-me,
Simplesmente,
Morrer...

Cat.
2019.05.25

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Dentro de mim


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A noite há muito que se impôs. No céu não há lua e as estrelas brilham, longínquas e num ténue cintilar. Há uma névoa no ar que impede que se vejam com a clareza necessária.

Tal como aqui, dentro de mim.

Há coisas que não se vêem e no entanto passam por nós, dão-nos sinais. Mas às vezes estamos como a noite de hoje: com a visão turva. A visão da mente, do pensamento, do raciocínio e das decisões. Turva. Nebulada. Sem perspectivas. Como se uma cortina tapasse o futuro.

Mas o futuro é sempre uma incógnita.

Mas umas vezes mais incerto que outras.

Mas a vida é isto: um caminho que se faz a cada passo no incerto.

Não depende só de nós. E nós não temos todas as cartas na mão para, mediante a necessidade de decisão, podermos escolher avançar ou recuar ou apenas esperar sem se mover.

Vamos tendo sinais, dicas, reais ou instintivas, de que caminho seguir, como as guias brancas numa estrada que nos permitem avançar sem sair do caminho. Lenta e num misto de receio e confiança.

Sim, a noite está envolvida em névoa feita mistério. E a minha mente, está cega, sem conseguir prever o dia que o amanhã vai trazer. E as decisões que me vai obrigar a fazer.

Cat.
2019.05.24