sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

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Dias
Ausentes de alegria,
Em que as lágrimas são a companhia,
Em que as saudades são agonia
E apenas há a tua ausência.

Dias
Demorados no seu passar,
Horas longas a arrastar
Um tormento de pesar,
Sem nada para apaziguar.

Dias
Vazios e imperfeitos no seu ser,
Incompletos no ter,
Carregados de sofrer,
Apenas num sobreviver.

Dias
Que ninguém quer sentir,
De onde se quer fugir,
Correndo, chorando, até cair,
Mas sem força para daí sair.

Dias
Sem ti são assim,
Uma demora sem fim,
Que só termina assim:
Quando o teu beijar,
O teu abraçar,
O teu respirar e o teu (me) amar,
Regressam para mim!

Cat.
2019.04.19

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Tudo

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas em pé e closeup

O dia já acordou há algumas horas e chora compulsivamente, de forma quase constante. O céu está negro, sombrio por culpa de núvens escuras e tristes.

Não há pássaros a cantar, anunciando a Primavera.

Não há o cheiro de flores no ar, nem de jasmim, nem de laranjeira.

Há a chuva que cai e tudo invade. Numa cadência sem ritmo. Num musical que ninguém pára para ouvir, que não encanta e que ninguém quer sentir. Os passos na calçada são rápidos, apressados, desviando-se dos aglomerados dessa água que cai, desses lagos miniatura que formam na rua. Guarda-chuvas coloridos escondem os rostos de quem por ali passa. Não há olhares contemplativos ou enternecidos ou de espanto para o rio. Os barcos são raros e seguem quase vazios, sem risos, sem fotógrafos de momentos, sem grande vida.

Há a chuva que cai e tudo invade.

Até o rio se rende e, no seu correr, fica inerte, deixando apenas as gotas da chuva marcar a sua passagem, em círculos de ritmos constantes.

E eu, deste lado da janela, compreendo esta regra: há situações que não vale a pena contestar, contra elas lutar. Às vezes é preferível deixar andar, deixar a tempestade passar e, ao seu ritmo, bailar, sem muitas ondas levantar e apenas esperar, porque tudo, tudo acaba por passar....

Cat.
2019.04.15

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Rimas fáceis





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Rimas fáceis.

Sobre amor
Ou alegria,
Sobre lágrimas
Ou dor,
Rimas fáceis
É o que tem valor.

Sobre o rir
Ou o amar,
Sobre o sentir
Ou o amorfar,
Rimas fáceis
É o que está a dar.

Sobre a vida
Ou a morte,
Se é sentida
Ou fingida,
Se há vontade
Ou sorte,
Rimas fáceis
É o (des)norte.

Sobre o desejo
De um amor verdadeiro,
Sobre o anseio
De um amor por inteiro,
Ou sobre o devaneio
Do corpo carnal,
Rimas fáceis
Porque nunca fica(m) mal.

Rimas fáceis
A ditar o que é normal,
A transcender o banal
Numa ilusão de fenomenal.

Rimas fáceis
A chegar todo o lado,
Num escrever martelado,
E por todos imitado!

Cat.
2019.04.23

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Perdas


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Eu sei o que é passar pela perda de alguém. Sofrer, chorar, voltar a chorar, desesperar e chorar ainda mais. Até as lágrimas secarem.
Eu sei, eu sei como é.
É o mundo quase desabar. Fugir por debaixo dos pés. É perder o chão e nunca mais dar um passo firme.
Eu sei. Já perdi. Já sofri e acho que nunca mais regressei a mim, ao que era.
É um vazio que fica, aqui, bem no meio do peito. Que chega a doer, a sufocar, a sugar o ar e a transbordar de nada.
É uma dor que não se descreve porque tanto nos mata com a falta como nos esmaga de tão assoberbada.
E as saudades tudo menos indeléveis. São profundas e inesgotáveis como o amor que se sente.
E a certeza de que muito ficou por dizer, por fazer, por viver, por partilhar, por sorrir e chorar é, quase, arrependimento. Por não ter sido mais. Mais abraços, mais beijos, mais amo-te e mais, muito mais tempo apenas contemplando-te. Guardando em mim cada traço no rosto, cada cabelo desalinhado, cada respirar no meu ouvido no teu peito encostado.
Sim, eu sei o que é perder alguém. E também sei que a vida continua e nos atenua a dor. Devagar, bem mais devagar do que desejaríamos, mas atenua...

Cat.
2019.04.05