quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
Tudo
O dia já acordou há algumas horas e chora compulsivamente, de forma quase constante. O céu está negro, sombrio por culpa de núvens escuras e tristes.
Não há pássaros a cantar, anunciando a Primavera.
Não há o cheiro de flores no ar, nem de jasmim, nem de laranjeira.
Há a chuva que cai e tudo invade. Numa cadência sem ritmo. Num musical que ninguém pára para ouvir, que não encanta e que ninguém quer sentir. Os passos na calçada são rápidos, apressados, desviando-se dos aglomerados dessa água que cai, desses lagos miniatura que formam na rua. Guarda-chuvas coloridos escondem os rostos de quem por ali passa. Não há olhares contemplativos ou enternecidos ou de espanto para o rio. Os barcos são raros e seguem quase vazios, sem risos, sem fotógrafos de momentos, sem grande vida.
Há a chuva que cai e tudo invade.
Até o rio se rende e, no seu correr, fica inerte, deixando apenas as gotas da chuva marcar a sua passagem, em círculos de ritmos constantes.
E eu, deste lado da janela, compreendo esta regra: há situações que não vale a pena contestar, contra elas lutar. Às vezes é preferível deixar andar, deixar a tempestade passar e, ao seu ritmo, bailar, sem muitas ondas levantar e apenas esperar, porque tudo, tudo acaba por passar....
Cat.
2019.04.15
quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
Rimas fáceis
(Brincadeira do dia)
Rimas fáceis.
Sobre amor
Ou alegria,
Sobre lágrimas
Ou dor,
Rimas fáceis
É o que tem valor.
Sobre o rir
Ou o amar,
Sobre o sentir
Ou o amorfar,
Rimas fáceis
É o que está a dar.
Sobre a vida
Ou a morte,
Se é sentida
Ou fingida,
Se há vontade
Ou sorte,
Rimas fáceis
É o (des)norte.
Sobre o desejo
De um amor verdadeiro,
Sobre o anseio
De um amor por inteiro,
Ou sobre o devaneio
Do corpo carnal,
Rimas fáceis
Porque nunca fica(m) mal.
Rimas fáceis
A ditar o que é normal,
A transcender o banal
Numa ilusão de fenomenal.
Rimas fáceis
A chegar todo o lado,
Num escrever martelado,
E por todos imitado!
Cat.
2019.04.23
terça-feira, 24 de dezembro de 2019
Perdas
Eu sei o que é passar pela perda de alguém. Sofrer, chorar, voltar a chorar, desesperar e chorar ainda mais. Até as lágrimas secarem.
Eu sei, eu sei como é.
É o mundo quase desabar. Fugir por debaixo dos pés. É perder o chão e nunca mais dar um passo firme.
Eu sei. Já perdi. Já sofri e acho que nunca mais regressei a mim, ao que era.
É um vazio que fica, aqui, bem no meio do peito. Que chega a doer, a sufocar, a sugar o ar e a transbordar de nada.
É uma dor que não se descreve porque tanto nos mata com a falta como nos esmaga de tão assoberbada.
E as saudades tudo menos indeléveis. São profundas e inesgotáveis como o amor que se sente.
E a certeza de que muito ficou por dizer, por fazer, por viver, por partilhar, por sorrir e chorar é, quase, arrependimento. Por não ter sido mais. Mais abraços, mais beijos, mais amo-te e mais, muito mais tempo apenas contemplando-te. Guardando em mim cada traço no rosto, cada cabelo desalinhado, cada respirar no meu ouvido no teu peito encostado.
Sim, eu sei o que é perder alguém. E também sei que a vida continua e nos atenua a dor. Devagar, bem mais devagar do que desejaríamos, mas atenua...
Cat.
2019.04.05
segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
Fugir
Hoje vou ler um livro.
Um qualquer, não importa o título, não importa o conteúdo, hoje vou ler um livro.
Um que me leve para outro lugar. Encantado ou maltratado. Brilhante, vibrante ou negro, sombrio.
Um livro que me dê vontade de não regressar à minha realidade. Que me envolva, me leve e não me devolva. Que me faça rir ou chorar, desde que desmedidamente.
Um livro que me ensine que não há limites para a imaginação ou para a dura verdade. Que me faça sonhar com o amor e a paixão e com a desilusão da perda e da dor.
Hoje vou ler um livro. Para não lidar comigo. Para não olhar para o que o dia traz. Para não pensar, não sentir e não chorar apenas por mim. Para que os meus dias sejam mais do este passar de horas, sem rumo, sem desejos ou ânsias. No fundo, sem futuro...
Cat.
2019.04.04
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