sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Regressos

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Há muito que não voltava aqui, ao meu lugar, ao meu canto, ao meu porto de abrigo.
Há muito que não actualizo o que vou sentindo. O meu diário quase parece um anuário, dada as ausências prolongadas.

A verdade é que a vida acaba por nos "engolir" nos seus caminhos (in)certos.
Não que seja mau. Não que seja bom. Apenas é. Assim, sem rodeios na certeza de que nada é certo. Nem o que pensamos garantido e muitas vezes o que nem imaginamos.

Sim, a vida é uma certa incerteza.
Onde o sentir é um tormento e, ao mesmo tempo, uma bênção.
Nunca sei.
Nunca saberei.
Apenas sinto. Demais. Demasiadamente.
Tão profundamente que me esqueço de mim, do que sou, do que pretendo, do que sonho e desejo.
E perco-me.
De mim. Do meu rumo. Do meu crescer.
E assim perdida, fico sem me perceber. Fico sem me (re)conhecer. Sem (me) escrever e e deixar sair todo o meu sentir. Com ou sem sentido. Mas meu. Apenas meu.

Hoje, sinto que me falta esta catarse, de me expurgar de tanto sentir, de tanto querer, de tanto amar, de tanto chorar e de tanto rir.

Cat.
2019.12.06

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Simples



A noite avança ao ritmo a que já nos habituou para um dia de Inverno: antecipa-se na chegada e arrasta-se na partida. Passa pois, lenta e demoradamente.

Está frio lá fora e os pingos de chuva já não se fazem sentir no chão da calçada nem nos vidros da janela. Há uma pequena lembrança da sua presença nas ervas e nas folhas dos trevos, carregadas de bolhas de água de vários tamanhos, juntas mas não unidas, com as bordas pintadas de um branco cor de neve. As árvores ao longe agitam-se levemente, apenas o suficiente para fazerem as luzes das estradas bricarem, aparecendo e desaparecendo, ora aqui, ora acolá.

E eu vou-me perdendo nesse jogo de brilhos na noite escura, inebriada com a simplicidade de tal beleza.

Dou por mim a pensar que, às vezes, é tudo tão... Simplesmente belo. Sem confusão, sem ruídos que nos toldam as decisões, sem grandes desenvolvimentos ou consequências. Simplesmente belo.

Simples, como o baloiçar ao sabor do vento. Belo como as luzes que brincam por entre as folhas.

Simples, como o bater das ondas na areia. Belo como as cores das flores na Primavera.

Simples como o teu abraço no meu corpo. Belo como o teu olhar cor de mar me sorri e me alimenta de esperança quando os dias não são simples.

Simples como o teu calmo respirar no meu ouvido. Belo como o amor que nos tem, assim e sempre, unido...


Cat.
2018.12.21

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Gritar



Ahhhhhhhhhhhhhhh!

Gritar!
De boca bem aberta.
Até a garganta doer, até a saliva secar!
Expulsar o que me atormenta, o que não me deixa acalmar.
Só(mente) e apenas para a mente parar, deixar de pensar.

Sozinha.
Apenas eu e a minha companhia, os meus fantasmas do passado e do futuro.
Sem ouvinte, sem frases faladas, de apenas palavras balbuciadas sem sentido e sem razão.
Largadas neste ar que volto a respirar.

E chorar.
Compulsivamente.
Até os olhos fecharem de tantas lágrimas soltarem.
Purgar todas as dores, receios e anseios.
Lavar a alma nesse sal que vem de dentro, impuro, intenso e (sempre) libertador.

E (finalmente) poder descansar.
Dormir e sonhar com a esperança de que amanhã tudo irá melhorar.



Cat.
2018.12.15