terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Prometi




Prometi escrever-te todos os dias, mas os dias passaram a ter outras prioridades.

Não que sejam conscientes ou que não te escreva de forma deliberada. Não, não é isso. Ou é. Talvez seja. Talvez eu sinta que já não há mais palavras para ti. Já não há nada que já não te tenha dito anteriormente.

Talvez.

Os dias correm na sua acelerada pressa e já não há tempo para te escrever, sabes? E o que ia dizer hoje posso sempre dizer amanhã. Ou depois de amanhã. Ou depois de depois de amanhã. E depois já não tem importância e já não há o que dizer, entendes?

Porque a dado momento, dizer que te amo parece insuficiente ou banal.

Porque a dada altura as palavras soam a rotina e não é isso que se quer.

Prometi escrever-te todos os dias, mas não há vontade.

Há apenas a necessidade de, por uns raros segundos, olhar-te nos olhos e deixar o silêncio falar nessa sua imensa intensidade e que tu ouças e percebas na mesma medida, o quanto eu tenho dentro de mim para ti. Que me ouças o sentir...

E que me abraces. Me acolhas no teu peito e me deixes respirar na segurança deste meu porto de abrigo.

Prometi escrever-te todos os dias, mas hoje não há sons que saiam de mim, não há articulação de palavras ou construção de frases. Há apenas e somente o que os meus olhos dizem e o que daí quiseres sentir...



Cat.
2018.08.28

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Diário



Nunca tive um diário. Nunca guardei memórias escritas do que já fui. Acho que nunca tive muita coisa para contar. Ou só teria memórias menos boas para guardar...
Lembro-me que escrevi pela primeira vez quando me apaixonei, também, pela primeira vez. Não, quando amei pela primeira vez. Um amor proibido. Mais que proibido era quase indecente. Eu uma jovem, ele com o dobro da minha idade. Eu mais velha quatro anos que a sua filha, ele mais novo dois que o meu pai. Um amor que não se conta às amigas e muito menos à família. E tinha necessidade de colocar por escrito muito do que sentia. O amor, as dúvidas, as certezas e o medo. Escrevia sobretudo sobre o medo: de ser descoberta, de não ser compreendida, de não ser verdadeiramente, ou pelo menos, tão amada como amava.
Sinto que deveria ter escrito sobre o quanto fui amada.
Sinto que deveria ter perpetuado esses momentos de forma quase eterna.
Mas eu não sabia nada da vida e não percebia que era, não uma diversão para ele, mas mais um tormento. Hoje relembro as imensas vezes em que me convidou para viver com ele, as inúmeras vezes que, depois de me amar, me olhava de forma apaixonada e dizia baixinho "não posso fazer isto, ainda tens tanta vida à tua frente". E eu fingia que dormia para não ter que me decidir por ele. E eu jamais decidiria por ele.
Encontrei há dias as seis ou sete páginas que dediquei a esta tão importante parte da minha vida...
Não há fotografias, nem mensagens, nem emails, Facebook ou Instagram que me traga à lembrança estas memórias. Só umas míseras páginas que falam apenas dos meus receios.
O que foi bom, está guardado dentro de mim, hoje, com um olhar tão diferente do que senti. Tão mais apaziguador, tão mais adulto e crescido.
Devia ter feito um diário de todos os beijos, de todos os toques de mão por baixo da mesa, de todos os olhares que me faziam sentir uma princesa.
Apenas para olhar para o que já passou por mim e relembrar que nem tudo foram medos, receios, dúvidas, (in)certezas ou espinhos.
Há muito mais rosas que espinhos.
Há muitos mais risos que lágrimas.
Há muito mais amor que dor em mim! Muito mais!



Cat.
18/08/2018

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Dicionário de coisas simples XXIX

E o que foi?
Um olhar que me penetrou,
Um sorriso que me seduziu
e
Um abraço que me conquistou.


E o que é?
É um sentir que não se explica,
Que me faz sorrir
e
Viver como nunca, a cada novo dia!


E o que será?
Um sentimento que nos faz ser um só e que durará...
Até um dia,
Durante um mês,
Mais que um ano...
Mas que desejo,
Seja para toda a vida!


Cat.
2018.08.13

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Silêncios XIII




Hoje preciso de silêncio...
Daquele silêncio que nos invade por completo, como se mergulhássemos no mar, num lago, numa núvem – nunca mergulhei numa núvem, mas imagino que o silêncio será idêntico.
Não quero fechar os olhos. Apenas quero silêncio.
Não quero o burburinho da cidade, com os passos das pessoas que correm ou se passeiam olhando o rio.
Não quero ouvir o passar das águas deste rio que me acompanha há anos. Quero o seu silêncio, a sua serena companhia, na revés da maré.
Não quero ouvir chamar o meu nome. Não quero o telefone a receber mensagens. Não quero o frenezim dos carros a passar.
 

Apenas preciso de silêncio. De estar comigo. De sentir que o peso da vida, das responsabilidades, dos (des)acertos, do corpo desapareçam por momentos.
 

Quero sentir-me leve. De corpo e alma.
Quero deixar-me ir, fluir sem pensar, descansar de tudo e de todos.
 

Preciso de me encontrar no meio de todo este barulho que me afasta do que sou, do que quero. Já nem consigo saber o que sou, ou sequer o que quero.
Preciso apagar este ruídos de todos os limites que me são impostos. De fechar este fluxo doentio de (parecer) fazer, (parecer) ser o que querem que sejamos. Do politicamente correcto. Do socialmente aceitável. Do que somos à frente dos outros e do que somos no nosso íntimo.
 

Fugir da hipocrisia, das falsas moralidades, dos (pre)conceitos, das mentiras, do egoísmo, mas sobretudo, dos egos de gente que não é mais gente que eu.
 

Preciso de silêncio para que no meio destes gritos consiga chegar ao meu eu. E voltar a acreditar que, em algum momento, todos temos algo de bom cá dentro...


Cat.
2018.08.13